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(P.2): O nível de conectividade em um contexto em rede influencia a

dinâmica de complementaridade de conhecimentos entre as empresas.

A observação dessa proposição no estudo empírico terá a finalidade de compreender como ocorre a conectividade em um contexto em rede e quais as implicações para a dinâmica de complementaridade de conhecimentos entre as empresas.

2.1.6.2 Coerência

O desempenho de uma determinada rede está relacionado ao aspecto da coerência, isto é, a medida em que há interesses compartilhados entre os objetivos da rede com os objetivos de seus atores (Castells, 1999). A existência de interesses comuns facilita a emergência de um ambiente de cooperação que é fundamental para a complementaridade de conhecimentos entre empresas.

As ações de cooperar, de agir conjuntamente, de compartilhar conhecimento, enfim, as diversas ações que dão sentido e viabilizam à existência das redes interorganizacionais são também influenciadas por aspectos culturais, ou seja, o conjunto de valores, de crenças e de símbolos que influenciam o comportamento dos indivíduos. A dimensão cultural tem sido objeto de amplos interesses no estudo sobre inter-relações organizacionais. Por exemplo, as variáveis culturais como individualismo e coletivismo, estudados por Hofstede (1984), podem estar diretamente relacionadas aos níveis de confiança e de cooperação existentes entre os atores.

Outra dimensão que deve ser observada na predisposição em cooperar é a da confiança. Segundo Gambetta (2000, p. 215), para ocorrer cooperação, deverá existir um certo nível de confiança mútua. Caso a desconfiança seja completa ou unilateral, a cooperação certamente falhará. O autor ainda acrescenta:

(...) nós dizemos que confiamos em alguém ou que alguém é fidedigno, quando a probabilidade do outro executar uma ação em nosso benefício, ou pelo menos não prejudicial, é alta o suficiente para nós considerarmos o engajamento em alguma forma de cooperação com ele.

Jarillo (1988), em seu estudo sobre estratégia em rede, demonstrou a importância da confiança nas inter-relações informacionais como fator que reduz os custos de transação e torna a existência das redes economicamente viáveis. Para Boss (1978), em uma “atmosfera” de confiança os problemas são resolvidos mais eficientemente, porque a informação e o know-how são trocados mais livremente. Conforme essas orientações, a atmosfera da confiança é fundamental para a socialização de conhecimentos e eficiente coordenação das ações entre as empresas.

Proposição 3 (P.3): A coerência, ou seja, a existência de interesses comuns

compartilhados em um contexto em rede influencia a dinâmica de complementaridade de conhecimentos entre as empresas.

O nível de coerência também poderá ser influenciado pelas pressões contingenciais que levaram à formação de uma rede. Dessa maneira, uma rede formada sob a contingência de reciprocidade e de necessidade provavelmente terá uma tendência maior para a cooperação em relação à rede formada sob a contingência da legitimidade. Outra dimensão que poderá ter um papel relevante nos níveis de coerência são os mecanismos de coordenação implicados na governança das relações entre os atores, aprofundados no próximo item.

2.1.6.3 Mecanismos de coordenação

Entende-se como mecanismos de coordenação as formas de governança entre os interesses da rede e os interesses de seus atores, por meio de uma variedade de mecanismos que tentam governar o comportamento, estruturando informações relevantes e estabelecendo regras de conduta (Caglio, 1998). Para melhor entender o papel da coordenação nas redes, Grandori e Soda (1995) compilaram uma série de mecanismos utilizados por diferentes tipologias de redes interorganizacionais, conforme Quadro 4.

Quadro 4. Mecanismos de coordenação e suas principais finalidades

Mecanismos Finalidades

Controle e coordenação

social

Proporcionar relacionamentos profundos e estáveis, fundamentados em normas de grupo e reputação. Seu entendimento é necessário, pois toda forma de relação de cooperação estável tem um aspecto social.

Relações de autoridade e

hierarquia

Estabelecer relações de hierarquia e de controle por meio de contratos complexos.

Sistema de controle e planejamento

Garantir que a seqüência do trabalho, do planejamento e dos resultados seja amplamente monitorada.

Sistemas de incentivos

Estimular, através de incentivos, a formação e a manutenção de redes interorganizacionais.

Sistemas de seleção

Selecionar, com base em pré-requisitos, aqueles atores que tenham o perfil de acordo com os objetivos da rede.

Suporte público

Financiar e incentivar a cooperação para atividades inovadoras nas quais a apropriabilidade dos benefícios demanda um longo período de tempo.

Negociação e comunicação

Manter a cooperação a longo prazo por meio de um amplo processo de negociação e comunicação entre os atores envolvidos na rede.

Tecnologias de informação e comunicação

(TIC)

Facilitar a interação entre os atores através de sistemas de informações eficientes, reduzindo o custo e aumentando a velocidade no processo de comunicação nas redes interorganizacionais.

Fonte: compilado pelo autor a partir das orientações de Grandori e Soda (1995).

Esses diferentes mecanismos poderão ser utilizados em vários graus de combinações no processo de coordenação de uma rede. Casson e Cox (1997) salientam a importância do fluxo de informação na coordenação do fluxo de atividades e recursos da rede. Já para Miles e Snow (1986), para que as redes possam funcionar adequadamente, é necessário um processo de comunicação eficiente entre os atores. A argumentação desses autores indica que em uma rede na qual a informação não circula adequadamente ocorrerão dificuldades para estabelecer a cooperação e outras atividades conjuntas para o alcance de objetivos comuns.

Child (1987) evidenciou, em seu estudo, que as TIC oferecem às redes interorganizacionais uma contribuição significativa em direção à eficiência e à efetividade nas transações externas, aumentando, assim, a capacidade das atividades de coordenação em âmbito regional, nacional e global. Essas tecnologias também facilitam a velocidade na

comunicação e reduzem os custos de transmissão, armazenamento e processamento da informação.

Entretanto, deve-se destacar que alguns estudos, como os de Nohria e Eccles (1992), Rosenfeld (1997) e Hage e Hollingsworth (2000), relativizam o poder das TIC, evidenciando que em certos tipos de redes interorganizacionais a comunicação face a face tem um papel relevante na coordenação. Dessa forma, outros mecanismos, como reuniões e encontros informais, poderão auxiliar na coordenação de certos tipos de redes. As discussões referentes aos mecanismos de coordenação levam à seguinte proposição de pesquisa: