• Nenhum resultado encontrado

5. C ARACTERIZAÇÃO E I DENTIFICAÇÃO DOS P ROBLEMAS

5.1. P ROBLEMAS NAS I NFRAESTRUTURAS DA R EDE DE D RENAGEM

69

5. C

ARACTERIZAÇÃO E

I

DENTIFICAÇÃO DOS

P

ROBLEMAS

Neste capítulo serão caracterizados e identificados os problemas causados pela afluência de água salgada do estuário do Rio Tejo na rede de drenagem e nas infraestruturas e processos da ETAR do Barreiro/Moita. Os principais problemas que se têm vindo a verificar na ETAR do Barreiro/Moita prendem-se com as diferentes características da água salgada afluente. O diferencial de densidades da água residual e da água salgada é reponsável por fenómenos de estratificação na decantação primária e no espessamento de lamas primárias. A variação de salinidade interfere com o bom funcionamento do tratamento biológico provocando a plasmólise celular dos microrganismos e aumentando as necessidades de oxigénio (O2) a fornecer ao tanque de arejamento, pois para elevados

teores de salinidade a concentração de saturação do oxigéno (O2) dissolvido diminuiu. A água salgada

é responsável pelo aumento do teor de sulfatos (SO42-) afluentes aos processos da ETAR. Parte dos

sulfatos (SO42-) ao ficar retida nas lamas primárias e biológicas gera problemas no processo de digestão

anaeróbia. Neste processo, em ambiente anaeróbio, os sulfatos (SO42-) são reduzidos pelas bactérias

redutoras de sulfatos (BRS) e é formado ácido sulfídrico (H2S) em solução que passa para o biogás

gerando elevados teores de sulfureto de hidrogénio (H2S). Elevados teores de sulfureto de hidrogénio

(H2S) levam a paragens frequentes no sistema de cogeração provocando perdas de calor para

aquecimento das lamas no digestor e perda de benefícios económicos da electricidade que não é produzida. Algumas soluções para atenuação do teor de sulfureto de hidrogénio (H2S) no biogás têm

sido postas em prática como o uso de cloreto férrico (FeCl3) na obra de entrada e nas afluências ao

digestor anaeróbio.

5.1. P

ROBLEMAS NAS

I

NFRAESTRUTURAS DA

R

EDE DE

D

RENAGEM

A ETAR do Barreiro/Moita tem registado alguns problemas no processo inerentes de afluências indevidas de água salgada do estuário do Rio Tejo ao longo da rede de drenagem. A intrusão de água salgada na rede de drenagem altera as propriedades típicas da água residual, como a densidade e a presença de sulfatos (SO42-), levando a alterações do comportamento da mesma. As redes de drenagem

do Barreiro e da Moita são mistas, sendo compostas por troços unitários, domésticos e pluviais, sendo alguns mais recentes e outros mais antigos com mais de 25 anos. A intrusão de água salgada pode

CARACTERIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS 5.1 |PROBLEMAS NAS INFRAESTRUTURAS DA REDE DE DRENAGEM

70 ocorrer em troços envelhecidos e danificados; pela inexistência ou mau funcionamento de válvulas de maré em descarregadores de tempestade ao longo da rede de drenagem ou mesmo em descarregadores de emergência de EE; pelas juntas de ligação entre troços e caixas de visita; em junções das caixas de visitas ou por ligações mal concebidas e/ou desconhecidas.

A intrusão de água salgada na rede de drenagem acompanha a variação da altura de maré no estuário do Rio Tejo. Ou seja, quando existe um ciclo de preias-mar acima de uma determinada altura de maré, a intrusão de água salgada na rede de drenagem é tanto maior, quanto maior for a altura de maré da preia-mar. Este é um factor indicativo que o problema é mais grave nas zonas litorais do Barreiro e da Moita. De modo a corrigir a situação será necessário realizar e/ou atualizar o cadastro das redes de drenagem e localizar as zonas prioritárias a intervenções. As zonas prioritárias de inspeção e atuação serão zonas onde a cota de soleira das infraestruturas da rede de drenagem se encontre geralmente a abaixo do nível freático passível de conter água salgada para ciclos de preias- mar com altura de maré elevadas.

A intrusão de água salgada na rede de drenagem promove a existência de danos em infraestruturas de betão, nomeadamente, nos troços da rede mais antigos ainda com este tipo de materiais. A presença de sulfatos (SO42-) em zonas anaeróbias da rede de drenagem promove o

crescimento de bactérias redutoras de sulfatos (BRS) que reduzem os sulfatos (SO42-), formando as

espécies químicas em solução H2S, HS- e S2-. A presença de ácido sulfídrico (H2S) em solução promove

a presença de sulfureto de hidrogénio (H2S) na fase gasosa da rede de drenagem. A presença de

sulfureto de hidrogénio (H2S) promove a existência de maus odores que podem ser incomodativos nas

zonas envolventes às EE. Na sua grande maioria, as EE destas redes de drenagem possuem um sistema de desodorização, mas com o aumento do teor em sulfureto de hidrogénio (H2S) na fase

gasosa, por vezes, o odor poderá ainda persistir após o tratamento. Um dos impactes do aumento do teor de sulfureto de hidrogénio (H2S) será o aumento de custos em reagentes para os sistemas de

tratamento da fase gasosa nas EE.

O aumento do teor de sulfureto de hidrogénio (H2S) na fase gasosa poderá causar danos aos

trabalhadores responsáveis pela manutenção e operação destas infraestruturas. Como já referido, em EE e na obra de entrada de ETAR são expectáveis valores de [1 – 9] ppm H2S na fase gasosa. Mas

com o aumento do seu teor estes valores poderão aumentar. No intervalo [30 – 100] ppm de sulfureto de hidrogénio (H2S) já são notáveis algumas irritações oculares no ser humano, para teores mais

elevados poderá deixar de ser detetável ao olfato e poderá levar à perda de consciência e, por último caso, ao óbito.

O aumento do teor de sulfureto de hidrogénio (H2S) na rede de drenagem e nas EE pode

provocar o ataque ácido ao betão através do ácido sulfúrico (H2SO4). O ácido sulfúrico (H2SO4) é gerado

através da oxidação do oxigénio (O2) pelas bactérias presentes no biofilme da rede de drenagem. A

presença de oxigénio (O2) pode ser na forma de oxigénio dissolvido na água residual ou presente na

fase gasosa. As bactérias ao gerarem ácido sulfúrico (H2SO4) provocam acidificação do biofilme e por

CARACTERIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS