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P ROCESSO DE FORMULAÇÃO E SELEÇÃO DAS QUESTÕES

4.2. C ONCEÇÃO DO QUESTIONÁRIO

4.2.2. P ROCESSO DE FORMULAÇÃO E SELEÇÃO DAS QUESTÕES

A conceção do presente inquérito envolveu um processo efetuado por iterações sucessivas, partindo de um conjunto de perguntas, as quais foram sendo selecionadas e ajustadas ao propósito do projeto. O inquérito foi apresentado aos participantes com uma introdução, que tinha como objetivo informar o inquirido sobre o pretendido e introduzir-lhe o inquérito, recorrendo à utilização de noções positivas em alternância com noções menos positivas, como se ilustra na Figura 28.

Figura 28 - Painel inicial do inquérito socioacústico.

Posteriormente, o formulário aborda um conjunto de temáticas abrangente, dividido em cinco secções principais que se enunciam na Figura 29, sucintamente descritas em pontos seguintes da dissertação. As temáticas definidas foram desenvolvidas de encontro aos objetivos traçados nesta dissertação

projeto, por forma a possibilitar uma avaliação adequada da resposta subjetiva ao ruído urbano. A Figura 29apresenta o mapa do inquérito, expondo a dinâmica dos conteúdos abordados.

I. Dados sociodemográficos

A primeira secção compreende um painel composto pelos campos de identificação do indivíduo, nomeadamente género, idade, nacionalidade, nível de escolaridade, situação profissional e área profissional. Com a recolha destes dados pretende-se conhecer as características gerais do inquirido, bem como a sua formação e área de conhecimento.

II. Perceção do ruído em função da relação do inquirido com a cidade

Nesta secção é abordada a perceção do ruído na cidade do Porto em diferentes contextos, nomeadamente, residencial, laboral e recreativo. Além de se pretender obter informações sobre o ambiente sonoro da cidade em realidades distintas, a inclusão desta secção prende-se com o facto de diferentes relações com a cidade corresponderem a vivências e experiências também diferentes. Deste modo, torna-se possível analisar se a perceção do ruído nos diferentes espaços urbanos se mantém entre nativos, visitantes da cidade e entre inquiridos com motivações distintas para frequentar esses espaços. Assim, através de um conjunto de questões (“Reside no concelho do Porto?”, “Trabalha no concelho do Porto?” e “Porque motivo se encontra na cidade do Porto?”) identificaram-se os tipos de relação do inquirido com a cidade e definiram-se três grupos de questões específicas destinados a residentes, trabalhadores e turistas.

Os residentes, além da localização e tempo de residência, foram questionados sobre quão agradável é viver na sua zona, se consideram que o ruído aumentou na cidade desde então [79] e em que medida é que o ruído que ouvem dentro de casa os incomoda. Os inquiridos tinham ainda de identificar as principais fontes de ruído exterior, avaliando eventuais efeitos no seu descanso. Questionou-se ainda se, enquanto residentes, já apresentaram alguma queixa sobre ruído e qual o motivo que suscitou essa queixa.

Relativamente aos trabalhadores, colocaram-se questões gerais sobre o local de trabalho (como a localização, há quanto tempo trabalha nesse local e o tipo de espaço) e sobre o ambiente sonoro do mesmo, nomeadamente em que medida é que desagrada, prejudica o desempenho e dificulta a comunicação com as outras pessoas. Questionou-se também sobre a frequência com que costumam ter música ou televisão ligada durante o horário de laboração, por forma a recolher mais informações sobre o ruído de fundo do local de trabalho, nomeadamente sobre o recurso a sons de mascaramento. No que respeita aos turistas, questionou-se sobre a duração da estadia e local de hospedagem, bem como se o ruído desse local impede de dormir ou descansar.

III. Satisfação com a cidade e com o local

A terceira secção visa a satisfação do inquirido com a cidade e com o local, tendo como fundamento a bibliografia existente, que evidencia a influência das características da envolvente na incomodidade causada pelo ruído, bem como na perceção das fontes sonoras [80] [57] [59] [17] [12].

Assim, os participantes responderam a duas perguntas fechadas, nas quais selecionaram as três características que mais agradam no Porto e as três características que, genericamente, mais valorizam numa cidade. As opções incluíam características físicas (aspeto visual, limpeza, ruído, odores e qualidade do ar) e funcionais (segurança, acessibilidades e espaços verdes) [6].

Relativamente ao local, os inquiridos indicaram, através de uma escala de 5 estrelas, a satisfação em relação ao aspeto visual, limpeza, segurança, ruído, acessibilidades, odores, espaços verdes e qualidade do ar.

IV. Ruído e caracterização do ambiente sonoro do local

Esta é a secção principal em que é abordada a temática do ruído, compreendendo a caracterização do ambiente sonoro do local em estudo.

Nesta secção estão incluídas as questões “Considera o Porto uma cidade barulhenta?” e “Em geral, considera-se sensível ao ruído?”, ambas com uma escala em forma de slide com 5 pontos em que 1 é “Absolutamente nada” e 5 é “Extremamente”. Com a primeira questão pretende-se obter uma avaliação global da cidade em matéria de ruído. A inclusão da segunda questão prende-se com a importância da sensibilidade ao ruído como um forte indicador da incomodidade [53] [13] [81], podendo ser mais preponderante do que a intensidade do ruído, tal como reportado por diversos autores [82] [83] [84]. Além da incomodidade, a sensibilidade está também associada a outros fatores psicossociais, de entre os quais a diminuição da qualidade de vida, perturbações no sono, distúrbios psiquiátricos e interferência no desempenho profissional [85] [86] [87] [88].Na presente dissertação, considera-se como “sensibilidade” a suscetibilidade geral ao ruído [89], sendo um fator independente dos níveis de exposição ao mesmo e, portanto, invariante em ambientes sonoros distintos [83] [90]. Apresentando-se como um traço de personalidade que abrange as atitudes em relação ao ruído [91], a sensibilidade é normalmente avaliada através da obtenção de respostas para um item [92] [15] [93, 94], como é o caso do presente estudo, ou escalas de itens múltiplos como o Weinstein’s Noise Sensitivity Scale ou Zimmer and Ellermeier’s Noise Sensitivity Questionnaire [95] [83] [90] [96] [97]. Relativamente ao local, os inquiridos caracterizaram o ambiente sonoro avaliando o nível de ruído/intensidade do ruído que consideravam existir no espaço urbano e a incomodidade causada pelo mesmo. O nível de ruído/intensidade do ruído foi descrito pela questão “Como avalia o ruído deste local?” [79], através de uma escala em forma de slide com 5 pontos de “Baixo” a “Muito alto”. Por sua vez, a incomodidade foi avaliada adotando as questões de 5 pontos de escala verbal e de 11 pontos de escala numérica recomendadas pela Norma NP 4476 2008, já descrita neste capítulo [76]. Ainda em relação ao local, os participantes identificaram as fontes sonoras presentes, tendo avaliado o incómodo causado por cada fonte selecionada de 1 (“Absolutamente nada”) a 5 (“Extremamente”). Como opções de fontes sonoras constavam no inquérito: “Carros”, “Motas”, “Camiões”, “Autocarros”, “Metro/comboio”, “Barcos”, “Aviões”, “Vozes”, “Música”, “Animais domésticos”, “Pássaros/Aves”, “Obras”, “Sirenes/Alarmes/Buzinas” e “Outro”, sendo que os participantes podiam selecionar um número indefinido de fontes, de maneira a evitar limitações na caracterização acústica dos espaços analisados. A escolha desta lista de fontes sonoras teve como fundamento o estudo prévio desenvolvido para cada local, bem como os mais diversos estudos socioacústicos existentes [79] [6].

V. Efeitos do ruído

A quinta e última secção abrange os efeitos do ruído no bem-estar do ser humano. Assim, os inquiridos foram questionados sobre se consideram que o ruído afeta a saúde de “Absolutamente nada” a “Extremamente” numa escala de cinco pontos em slide, por forma a analisar a perceção da influência do ruído no bem-estar da população inquirida.

Relativamente aos efeitos do ruído, realizou-se uma questão de resposta múltipla com os itens “Irritabilidade”, “Dificuldade em se concentrar”, “Problemas em dormir ou descansar”, “Dores de

cabeça”, “Zumbido/Incómodo nos ouvidos”, “Mal-estar geral”, “Stress ou ansiedade”, “Nada” e “Outro”, na qual os intervenientes puderam selecionar, dentro destas hipóteses, os efeitos que habitualmente o ruído lhes causa. Esta lista baseou-se na extensa bibliografia sobre a temática [87] [79]. Por fim, o inquérito apresentava uma questão sobre a atitude perante o ruído, na qual os participantes tinham de selecionar a postura com que se identificam mais dentro das seguintes opções: “Ignora/Tenta não prestar atenção”, “Procura sons agradáveis”, “Aborda quem causa o ruído”, “Muda de ambiente”, “Apresenta queixa” e “Outro” [6]. Esta questão pode ser um complemento ao item de avaliação da sensibilidade, permitindo obter mais informações sobre a forma como cada participante lida com o ruído e a sua influência na perceção do mesmo.