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Pablo Neruda

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2. A REDE DE SOCIABILIDADE DE AMÁLIA HERMANO TEIXEIRA

2.1 REDE SOCIAL E INSTITUCIONAL A BASE DO GOVERNO

2.2.2 Pablo Neruda

A participação de Pablo Neruda na vida intelectual de Amália Hermano Teixeira esteve intercalada aos muitos conflitos institucionais que a mesma enfrentou. Pablo Neruda veio ao Brasil, especificamente a Goiânia, foi recepcionado por Amália Hermano Teixeira e seu esposo Maximiano, ao atender a um convite de Jorge Amado, (amigo de Maximiano da Mata de longa data) que juntamente com Amália Hermano Teixeira e Maximiano da Mata fazia parte da organização do Congresso Nacional de Intelectuais30, ocorrido em Goiânia de 14 a 21 de fevereiro de 1954.

O Congresso representava para os intelectuais goianos, um processo de amadurecimento, entretanto, ocorreu em um momento político de muitos conflitos no

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O I Congresso Nacional de Intelectuais, devido ter grande participação de intelectuais consagrados por seu posicionamento de esquerda, foi considerado por órgãos políticos como um congresso comunista, sendo alvo de críticas e perseguições. De acordo com reportagem em Jornal Opção cultural,(2014) muitos foram os famosos que deram apoio ao evento, e são citados: escritores João Cabral de Melo Neto, Aníbal Machado, Joaquim Cardoso, Jorge Amado e José Geraldo Vieira, maestros Camargo Guarnieri, Guerra Peixe e José Siqueira, atrizes Maria Della Costa, Eva Todor e Ruth de Souza, escritor e cientista Josué de Castro, editor Ênio Silveira, teatrólogos Juracy Ca- margo e Procópio Ferreira, artistas plásticos Portinari, José Oiticica, Santa Rosa, Alfredo Volpi, Bruno Giorgi, José Pancetti, Djanira da Mata e Silva, críticos literários Aurélio Buarque de Holanda e Sérgio Milliet; e o cineasta Lima Barreto. Do Estado de Goiás constata-se a participação da educadora Amália Hermano Teixeira, o escritor Bernardo Élis, o escritor Eli Brasiliense, o professor Joaquim Carvalho Ferreira (diretor da Faculdade de Direito de Goiás), os poetas José Décio Filho, José Godoy Garcia e Xavier Jr. (pres. da Academia Goiana de Letras), o engenheiro Geraldo Rodrigues dos Santos (pres. do Clube de Engenharia), o médico Luiz Rassi (pres. da Associação Médica de Goiás), o desembargador Maximiano da Mata Teixeira e o então jornalista Oscar Sabino (pres. do Sindicato dos Jornalistas de Goiás). Cf. https://www.jornalopcao.com.br/ opcao-cultural/amnesia-historica-mal-das-ditaduras-20090/

país, alterando o espaço de atuação intelectual de Amália Hermano Teixeira que, até então, era vista somente como governista.

Em depoimento, Bento Fleury Curado afirmou que Pablo Neruda foi convidado a vir a Goiânia para ministrar palestra no I Congresso de Intelectuais:

No Congresso de Intelectuais de Goiânia, Amália foi uma das percussoras junto com o Governo da época para fazer este Congresso, um Congresso Internacional- Goiânia, uma cidade com pouco mais de vinte (20) anos. Então, ela conseguiu que Pablo Neruda viesse dar uma palestra. Ela, Frei Confaloni, Regina Lacerda, eram os grandes mentores deste conjunto de intelectualidades. E como ele era visto como comunista, ela foi convocada a dar satisfações, devido o período ao qual o processo político se passava. Eles sabiam que ela não era comunista, na realidade suas explicações foram mais por questões técnicas, pois ela não se envolvia em questões SROtWLFDV (OD GL]LD ³(X QmR JRVWR GH SROtWLFD´ XPD VLPSOHV IXQFLRQiULD pública (CURADO, 2017, entrevista).

De acordo com Curado (2017), ao ser oficialmente indagada Amália Hermano Teixeira somente respondeu a questões técnicas e que todo questionamento ocorreu devido ao jogo político e às intencionalidades dos que julgavam que ela tivesse alguma participação contrária ao Estado. Ele afirma: ³(OHVVDELDPTXHHODQmRHUD FRPXQLVWD´ ,ELGHP 

Ainda assim, Rosinha Hermano (2017), confirma também em entrevista (Anexo II) que a situação tomou rumos mais preocupantes. O casal também recebeu um embaixador de Cuba e, na década de 1960, período em que se concretizou o novo regime, Amália Hermano Teixeira foi excluída da UFG, proibida de ministrar aulas, por ser considerada com ideais comunistas. E seu marido, Maximiano perdeu os direitos civis:

Neste local (a chácara), recebiam os amigos e intelectuais com os quais conviviam. Recebera inclusive Pablo Neruda, e em um outro momento o embaixador de Cuba, situação que segundo Rosinha Hermano causou um desafeto para o casal em tempos de regime militar. Esse fato custou a Amália situações que a mesma precisou depor (dar explicações) junto ao governo e Maximiano perdeu direitos políticos.

³_Isso é o que implicou quando Amália e Maci, (Rosinha assim retrata o cunhado) recebeu um embaixador de Cuba, Maxi fazia um churrasco que só ele fazia daquele jeito, uma maravilha. Eles receberam o embaixador e, logo após por causa do regime militar, Amália foi demitida da faculdade que trabalhava, foi ouvida pelo coronel, mas Amália era de fibra. E Maci só não foi demitido por que já tinha sido aposentado, mas também cortaram±lhe os direitos políticos. No entanto, com o fim do regime militar Amália foi readmitida no cargo de professora universitária da Universidade Federal de Goiás e a Maximiano foi-lhe devolvido seus direitos políticos.( HERMANO, 2017).

Foi alicerçado nestas acusações que Amália Hermano Teixeira, durante o período do Regime Militar, foi excluída das funções de professora na Universidade Federal de Goiás e seu marido Maximiano da Mata teve seus direitos civis caçados. Este episódio evidencia o equívoco das análises que reafirmavam uma ideia pronta e acabada em relação aos posicionamentos que caracterizavam Amália Hermano Teixeira, com base em uma única postura política.

Este equívoco, no registro da história da educação de Goiás reforça o necessário entendimento de que o intelectual é partícipe de um tempo histórico e, neste tempo assume uma diversidade de ações, de acordo com as posições ocupadas. Concorda-se com a crítica feita por Cândido (1979), registrada no prefácio do livro de Miceli (1979) ao acentuar o perigo das análises que ele denomina GH³LGHROyJLFDV´

Falo do perigo de misturar desde o começo do raciocínio a instância de verificação com a instância de avaliação. O papel social, a situação de classe, a dependência burocrática, a tonalidade política ± tudo entra de modo decisivo na constituição do ato e do texto de um intelectual. Mas nem por isso vale como critério absoluto para os avaliar. A avaliação é uma VHJXQGD HWDSD H QmR SRGH GHFRUUHU PHFDQLFDPHQWH GD SULPHLUD´ (CÂNDIDO, 1979, p. xi In: MICELI, 1979, p. xi).

Faz-se necessário ao historiador ultrapassar os aspectos externos dos acontecimentos, relacionando-os a eventos, contextos e nexos que os consolidam e revelam a verdadeira intencionalidade de seus autores.

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