4.2 Ensaios Clínicos
4.2.5 Pacientes e recrutamento
Foram avaliados, inicialmente, 60 pacientes para o estudo, sendo 36 mulheres e 24 homens, com idade entre 57 e 73 anos, sem distinção de cor, no período de junho/2007 a junho/2008. Destes, 43 voluntários permaneceram até o final do experimento, sendo 28 do gênero feminino e 15 do gênero masculino (Figura 4). Duas pessoas foram excluídas do estudo por não estarem condizentes com a avaliação clínica e laboratorial. Os demais que não permaneceram até o término foi por desistência devido ao sabor residual forte da farinha e desconfortos abdominais.
Figura 4 - Organograma do estudo
Durante toda a pesquisa, 09 diabéticos estavam recebendo glibenclamida, outros 09 metformina, alguns estavam tomando associações glibenclamida e metformina (11); metformina e insulina (07); glibenclamida e insulina (01); 05 aplicando insulina, e 01 ainda não estava fazendo tratamento com hipoglicemiantes por ter sido recentemente diagnosticada. A posologia dos medicamentos utilizados não foi alterada durante o estudo.
Pacientes recrutados (n = 60) Mulheres (n = 36) Homens (n = 24) Aptas (n = 35) Aptos (n = 23) Desistência (n = 7) Concluíram (n = 28) Desistência (n = 8) Concluíram (n = 15)
4.2.6 Desenvolvimento do Estudo
Cada voluntário serviu como seu próprio controle. O protocolo do estudo seguiu três fases diferentes e em cada uma delas, foi realizado o acompanhamento na determinação da glicemia de jejum dos pacientes.
Primeira fase
Constituiu-se da análise do banco de dados do PROATENFAR com o intuito de compilar os valores da glicose em jejum dos pacientes em estudo referentes aos três meses que antecederam o uso da farinha da casca do maracujá amarelo (GA), quando os pacientes faziam uso apenas de medicamentos.
Segunda fase
Compreendeu um período de dois meses durante o qual foi utilizada a farinha como suplemento da dieta alimentar.
Para cada paciente, o período do estudo foi de 60 dias, sendo o acompanhamento laboratorial e clínico realizado a cada 30 dias. As coletas de sangue para os exames laboratoriais foram realizadas no período da manhã, após jejum de 12 horas, no Serviço Municipal de Saúde e encaminhadas devidamente ao laboratório de Análises Clínicas da UEPB para obtenção do soro, o qual foi acondicionado sob refrigeração e transportado em embalagens térmicas para o Laboratório de Análises Clínicas do HULW, onde foram realizadas as dosagens bioquímicas.
A primeira coleta foi feita antes da ingestão da farinha, denominada tempo basal (T0) ou pré-suplementação onde foram obedecidos todos os critérios de exclusão. As outras duas foram aos 30 (T30) e 60 (T60) dias de uso da casca da farinha do maracujá. Este último tempo também foi denominado de pós-suplementação.
Após a coleta sanguínea, foram realizados os seguintes exames físicos: verificação da PA, mensuração de peso, altura e CA. Todos estes procedimentos repetiram-se nos tempos T30 e T60, com exceção da altura.
A partir do segundo dia em diante, os pacientes submetidos ao estudo recebiam semanalmente sete embalagens plásticas contendo, cada uma, 30g da farinha da casca do maracujá amarelo, correspondendo a 17,4g de fibras totais, sendo 6,3g de fibras solúveis e 11,1g de fibras insolúveis, para ser ingerida ao longo do dia juntamente com os alimentos, os
quais poderiam ser, dentre outros, sucos, frutas e leite. Por a farinha ser rica em pectina, uma fibra solúvel em água, os pacientes foram orientados a ingerirem, no mínimo, dois litros de água por dia, uma vez que a baixa ingestão deste líquido poderia causar constipação (ÁLVAREZ; SANCHEZ, 2006).
Terceira fase
Consistiu na realização de novos exames, após três meses do término da suplementação, os quais incluíram a dosagem da glicose (GP). Nesta fase, os pacientes fizeram uso apenas de medicamentos.
4.3 Exame Físico
4.3.1 Antropometria
Antropometria é um método não-invasivo universalmente aplicável, de baixo custo e disponível para avaliar o tamanho, proporções e composição do corpo humano (ACUÑA; CRUZ, 2004).
Dentre os indicadores antropométricos, foram registrados: altura, peso, índice de massa corporal (IMC) e medida da CA.
• Altura
A altura foi verificada através de haste metálica, medindo dois metros e divididos em frações de 0,5 cm, existente na balança de marca Filizola onde foi verificado o peso. O paciente posicionou-se de pé, mantendo-se em posição ereta e olhando o infinito, descalço com os calcanhares juntos, costas retas e os braços estendidos ao lado do corpo.
• Peso
Para verificação do peso foi utilizada balança antropométrica de marca Filizola, com capacidade de 150kg e incremento de 100g. Os pacientes foram posicionados em pé,
descalços e de frente para a balança.
• Índice de Massa Corporal (IMC)
O IMC foi calculado dividindo-se o peso (kg) pela altura ao quadrado(m2), utilizando- se das faixas do IMC, adotadas pela OMS para classificação nutricional conforme Quadro 4.
Quadro 4 – Faixas do Índice de Massa Corporal (kg/m2), adotados para a classificação do estado nutricional Faixas de Classificação Estado Nutricional Homem Mulher Magreza < 20,1 < 18,7 Adequado 20,1 – 24,9 18,7 – 23,8 Sobrepeso 25,0 – 29,9 23,9 – 28,5 Obesidade ≥ 30 ≥ 28,6 Fonte: OMS, 1998.
• Circunferência Abdominal (CA)
Os métodos para avaliação da gordura visceral são complexos, sendo a CA um indicador mais simples e fiel da presença deste tipo de gordura (CASTRO; MATOS; GOMES, 2006). A circunferência indicativa de SM nas mulheres é maior ou igual a 88 cm e nos homens, 102 cm.
A cintura foi medida em centímetros (cm), com fita métrica inelástica, no ponto médio entre a crista ilíaca e a face externa da última costela, durante a expiração com o paciente em pé.
4.3.2 Outras medidas
• Pressão Arterial (PA)
A PA foi aferida por método auscultatório, utilizando-se um esfignomanômetro de coluna de mercúrio e adequação do manguito à circunferência braquial. A medida foi realizada no braço direito de cada paciente, com os mesmos na posição sentada e obedecendo- se pelo menos cinco minutos de repouso antes da primeira aferição. A pressão arterial
sistólica (PAS) correspondeu aos primeiros ruídos arteriais (fase I dos sons de Korotkoff) com a desinsuflação do manguito, e a pressão arterial diastólica (PAD) correspondeu ao seu desaparecimento (fase V dos sons de Korotkoff) (V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, 2006). Duas medidas consecutivas foram realizadas em cada paciente, com intervalo de cinco minutos entre uma medida e outra; o valor final foi a média aritmética das duas medidas.
O Quadro 5 a seguir, descreve a classificação da PA nos indivíduos adultos de acordo com a recomendação V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2006).
Quadro 5 – Classificação diagnóstica da hipertensão arterial (> 18 anos de idade) PAD (mmHg) PAS (mmHg) Classificação < 80 < 120 Ótima < 85 < 130 Normal 85 – 90 130 – 139 Normal limítrofe
90 – 99 140 – 159 Hipertensão leve (estágio 1)
100 – 109 160 – 179 Hipertensão moderada (estágio 2)
≥ 110 ≥ 180 Hipertensão Grave (estágio 3)
< 90 ≥ 140 Hipertensão Sistólica isolada
Fonte:V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2006).
4.4 Exames Laboratoriais
4.4.1 Determinações Bioquímicas
As concentrações séricas de Glicemia, TG, Colesterol Total e Colesterol HDL foram determinadas utilizando Kits comerciais da marca Biosystem® e analisador bioquímico automatizado A-25 Biosystem®.
O valor do colesterol LDL foi calculado pela fórmula de Friedewald, para valores de TG até 400mg/dL. Enquanto os valores acima deste foram dosados pelo método direto (colorimétrico enzimático).
Colesterol VLDL = triglicérides/5
No quadro 6 encontram-se os parâmetros de glicemia de jejum e frações lipídicas analisados neste estudo, juntamente com os métodos, material para o diagnóstico laboratorial e os respectivos valores de referência.
Quadro 6 – Métodos e valores de referência para parâmetros bioquímicos analisados
DOSAGEM
BIOQUÍMICA MÉTODO AMOSTRA
VALOR DE REFERÊNCIA
(mg/dL)
Glicose Enzimático Soro 70,0 – 110
Triglicerídeos Enzimático Soro ≤ 150
Colesterol Total Enzimático Soro < 200
Colesterol HDL Inibição seletiva Soro Feminino (> 50)
Masculino (> 40)
Colesterol LDL Fórmula de Friedewald Soro <130
4.4.2 Doseamento de insulina
A determinação da insulina basal foi realizada no analisador IMMULITE® (procedimento imunométrico) para avaliação da RI nos pacientes.
O padrão-ouro para a avaliação da RI é o clamp euglicêmico, mas o mesmo não está disponível para a maioria dos investigadores devido aos custos envolvidos em sua realização. Desta forma, Turner e colaboradores (MATTHEWS et al., 1985) desenvolveram um modelo matemático que foi denominado HOMA, do qual se extraem dois índices (HOMA RI e HOMA Beta), que avaliam a sensibilidade à insulina e função da célula beta, utilizando a medida da glicemia e insulina de jejum. Os referidos índices são calculados pelas fórmulas abaixo:
HOMA RI = Glicemia (mMol) x Insulina (uU/mL) ÷ 22,5 HOMA Beta = 20 x Insulina ÷ (Glicemia - 3,5)
Este modelo desenvolvido por estes autores encontrou uma correlação positiva e altamente significativa entre RI avaliada pelo HOMA e pelo clamp (p< 0,0001), assumindo que a RI seria a mesma no fígado e nos tecidos periféricos.
Valores de referência para o diagnóstico da RI - insulina basal: 2 a 27 UI/mL; HOMA RI: até 2,7; HOMA Beta: 150 a 380 (Valores de referência do laboratório – PRÓ- SANGUE Diagnóstico).
As variáveis insulina, HOMA RI e HOMA Beta foram realizadas em 32 pacientes de ambos os gêneros do mesmo grupo clínico estudado no mesmo período (19 feminino e 13 masculino). As perdas deveram-se ao volume insuficiente das amostras analisadas.