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Fonte: dados coletados no TRE-PI e TSE, com gráfico elaborado no Philcarto

A justificativa para tal diferença está em dois fatos que não podem deixar de ser relevados. O primeiro: Nazareno Fonteles assumiu como titular a vaga de Francisca Trindade, falecida em 2003, cumprindo quase três anos e meio de mandato na 52ª legislatura (2003- 2007); o segundo: diferentemente dos outros pleitos, em 2006 o PT ocupava o Governo do Estado, havendo fortes evidências de que tal situação trouxe benefícios na Arena Eleitoral para os parlamentares de tal partido.

Todos os deputados com padrão concentrado-compartilhado apresentaram forte votação no primeiro município, que foi a capital Teresina.

A tabela 8 demonstra na quarta coluna o percentual da votação do deputado em Teresina. A quinta coluna da tabela mostra a soma percentual dos votos nos primeiros 10 municípios dos deputados que tiveram perfil de votação concentrado-compartilhado, demonstrando considerável percentual de votos em poucos municípios do Estado do Piauí.

Tabela 8. Percentual de votação em Teresina e a soma nos 10 municípios onde o deputado federal foi mais votado

DEPUTADO Partido Eleição % sua votação em Teresina % Votação 10 Alberto Silva PMDB 1994 63,17% 84,22%

Wellington Dias PT 1998 58,09% 74,49% Afonso Gil PC do B 2002 77,66% 87,52% Francisca Trindade PT 2002 54,10% 71,73% Alberto Silva PMDB 2006 67,50% 90,93% Nazareno Fonteles PT 2006 48,74% 69,59%

Fonte própria elaborada com dados coletados no site do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí (TRE-PI) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

Nas três situações, percebemos uma identidade considerável nos padrões de votação dos candidatos, todos eles com votação concentrada, mas compartilhada, o que comprova a tese de Ames (2003) quanto a tal padrão de votação de tais candidatos, havendo convergência entre os resultados encontrados na nossa pesquisa com a literatura.

2. 4.3. Padrão disperso-dominante (D/D)

No que pertine ao padrão disperso-dominante, Ames (2003, p. 72) o observa em dois tipos de candidato: os que já ocuparam cargos na administração estadual como Secretários de Educação, por exemplo, e os que fazem acordo com líderes políticos locais.

Passamos à análise da primeira observação de Ames, centrada naqueles candidatos que já ocuparam cargos na administração, acrescentando, ainda, que a participação em órgãos da própria Câmara dos Deputados também é considerado um incentivo para tal padrão.

Carvalho afirma que tais deputados possuem carreira mais assentada no conjunto do estado do que no âmbito de um ou poucos municípios. O autor concorda com Ames quanto aos candidatos que ocuparam cargos estaduais, eis que nesses cargos os políticos “[...] dominam um conjunto disperso de municípios por intermédio da alocação de recursos desagregados para essas áreas, e as secretarias de estado são arenas privilegiadas de acesso a esses recursos” (2003, p.114-115).

Carvalho (2003) também identifica, nesse padrão, alto índice de deputados que já passaram pela Câmara dos Deputados, o que se reflete no estado do Piauí, cujo índice de deputados que reconquistam o mandato é bastante alto. Se considerarmos que em cada pleito o estado do Piauí teve 10 deputados federais, teríamos em quatro pleitos 40 deputados eleitos. Essas cadeiras, no entanto, foram ocupadas por 21 deputados diferentes, havendo um alto índice de retorno. Além desse dado, desses 21 deputados 10 tiveram mais de um mandato e 7

desses 10 deputados tiveram três mandatos (como titulares) no período, demonstrando um alto índice de reeleição.

Tal dado diverge do padrão nacional, eis que segundo Figueiredo e Limongi (2002, p. 312):

No Brasil, as taxas de reeleição estão muito distantes das verificadas nos Estados Unidos. A taxa média de reeleição nas três últimas eleições foi de 43,9%. A série histórica mostra uma tendência ao crescimento, mas ainda assim ela permanece relativamente baixa.

A tabela abaixo nos mostra os deputados que foram reeleitos em eleições seguidas ou não, bem como os deputados que só trabalharam em apenas um mandato nas quatro Legislaturas pesquisadas (50ª a 53ª). Na primeira coluna temos o número de eleições em que o parlamentar foi eleito deputado federal, pleitos esses seguidos ou não. Dos 10 deputados, três foram eleitos nos quatro pleitos pesquisados e 7 deputados tiveram três mandatos dos quatro pesquisados:

Tabela 9. Deputados federais eleitos por Legislatura e número de eleições

PLEITOS 50ª(1995-1999) 51ª(1999-2003) 52ª(2003-2007) 53ª(2003-2007) 4 eleições Ciro Nogueira Ciro Nogueira Ciro Nogueira Ciro Nogueira

Paes Landim Paes Landim Paes Landim Paes Landim Mussa Demes Mussa Demes Mussa Demes Mussa Demes 3 eleições B.Sá B.Sá B.Sá ---

--- Átila Lira Átila Lira Átila Lira Júlio César --- Júlio César Júlio César --- Marcelo Castro Marcelo Castro Marcelo Castro 2 eleições Alberto Silva --- --- Alberto Silva

Heráclito Fortes Heráclito Fortes --- --- João Henrique João Henrique --- --- 1 eleição Ari Magalhães Wellington Dias Afonso Gil Ant. Medeiros

Felipe Mendes Themístocles Moraes Souza Nazareno --- --- Trindade Osmar Júnior

TOTAL 10 10 10 10

Fonte própria elaborada com dados coletados no site do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí (TRE-PI) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

Da tabela acima, grande parte dos deputados eleitos em mais de uma eleição teve padrão de votação disperso-dominante.

Nas eleições de 1994, de oito deputados com 2 a 4 mandatos, somente Ciro Nogueira, Alberto Silva e João Henrique tiveram padrão distinto. Os demais (quatro deputados) tiveram o padrão disperso-dominante.

No pleito de 1998 a situação se repete. Dos deputados que figuram com 2 ou mais eleições no período, quatro tiveram padrão disperso-dominante (Paes Landim, Mussa Demes, B. Sá e Heráclito Fortes).

Em 2002, observamos que o padrão disperso-dominante é visto para todos os deputados que figuram com três ou quatro eleições, sem exceção.

Por fim, em 2006, dos deputados com dois ou mais pleitos, somente Alberto Silva teve padrão distinto. Os demais,tiveram padrão disperso-dominante.

Tal resultado se amolda ao trabalho de Leoni et al (2003, p. 62), que pesquisando sobre a escolha de carreira pelos deputados federais, dentro do que chamam de “estratégias para sobreviver politicamente”, concluem que as carreiras dentro da Câmara dos Deputados são muito atraentes, eis que o fato de deter posições de poder na Câmara está claramente relacionado com ambição intra-Câmara, pois é um incentivo a permanecer na casa.

Nesse mesmo estudo, tratando-se da variável “comissões”, os autores encontraram resultados que demonstram que a participação em comissões permanentes da Câmara é uma indicação de poder intra-Câmara, o que leva o deputado federal a buscar a manutenção desse poder mediante a reeleição (Leoni et al., 2003, p. 62). Equipara-se, nesse ponto, a participação do parlamentar na Mesa Diretora da Câmara, eis que a mesma traz benefícios ao parlamentar para com seus pares, o que aumenta seu poder intra-Câmara.

A tabela abaixo mostra a trajetória dos deputados pesquisados nos cargos internos da Câmara dos Deputados, seja em comissões importantes, seja na Mesa Diretora. Tomamos os deputados que foram eleitos entre duas e quatro vezes, consoante tabela anterior.

Tabela 10. Quadro de funções exercidas na Câmara por deputados mais reeleitos

DEPUTADO CARGOS NA MESE E/OU EM COMISSÕES PERMANENTES Ciro Nogueira MESA: Quarto Secretário da Mesa (2001-2003); Quarto Secretário

da Mesa (2003-2005); Corregedor (2005-2007); Segundo Secretário da Mesa (2007-2009)

COMISSÕES PERMANENTES: Constituição e Justiça e de Cidadania: Titular, 4/3/2009-1/2/2010; Constituição e Justiça e de Redação: Titular e Suplente; Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias: Titular e Suplente; Relações Exteriores: Titular; Relações Exteriores e de Defesa Nacional: Titular.

Paes Landim COMISSÕES PERMANENTES: Ciência e Tecnologia; Comunicação e Informática; Constituição e Justiça e de Cidadania: 3/2005, 3/2005-3/2006, 3/2006, 14/2/2007-6/2/2008, 28/2/2008- 2/2/2009, 4/3/2009-1/2/2010; Constituição e Justiça e de Redação; Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias; Defesa

Nacional; Desenvolvimento Urbano e Interior; Direitos Humanos; Educação, Cultura e Desporto; Finanças e Tributação; Viação e Transportes: Titular e Suplente.

Mussa Demes COMISSÕES PERMANENTES: Constituição e Justiça e de Redação; Defesa do Consumidor; Finanças e Tributação; Fiscalização e Controle; Serviço Público: Titular; Trabalho, Administração e Serviço Público: Suplente; Viação e Transportes: Suplente; Viação e Transportes, Desenvolvimento Urbano e Interior: Suplente.

B.Sá MESA: Quarto-Secretário, 1993-1994.

COMISSÕES PERMANENTES: Agricultura e Política Rural; Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; Constituição e Justiça e de Redação; Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias; Desenvolvimento Urbano e Interior; Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável: Titular; Minas e Energia; Seguridade Social e Família; Trabalho, Administração e Serviço Público.

Júlio César COMISSÕES PERMANENTES: Agricultura e Política Rural; Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática; Finanças e Tributação.

Átila Lira COMISSÕES PERMANENTES: Amazônia e de Desenvolvimento Regional:; Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática; Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias; Direitos Humanos e Minorias; Educação e Cultura; Educação, Cultura e Desporto; Educação, Cultura, Esporte e Turismo; Trabalho, Administração e Serviço Público.

Marcelo Castro MESA: Quarto-Secretário.

COMISSÕES PERMANENTES: Agricultura e Política Rural; Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional; Finanças e Tributação; Legislação Participativa; Minas e Energia; Relações Exteriores e de Defesa Nacional; Seguridade Social e Família; Trabalho, Administração e Serviço Público; Viação e Transportes.

Alberto Silva COMISSÕES PERMANENTES: Viação e Transportes.

Heráclito Fortes MESA : Primeiro-Vice-Presidente, 1997-1999, 1999-2001; Terceiro- Secretário, 1987-1988.

COMISSÕES PERMANENTES: Suplente; Esporte e Turismo; Fiscalização Financeira e Controle; Interior; Relações Exteriores e de Defesa Nacional.

João Henrique MESA: Terceiro-Secretário, 1994 e Quarto-Secretário, 02/02/1995- 05/02/1997.

COMISSÕES PERMANENTES: Constituição e Justiça e de Redação; Educação, Cultura e Desporto; Finanças e Tributação; Viação e Transportes.

Fonte própria elaborada com dados coletados no site da Câmara dos Deputados.

Pela tabela acima notamos que grande parte dos deputados federais piauienses fez parte de comissões permanentes. Com exceção de Alberto Silva e de Júlio César, todos os demais participaram de mais de três comissões permanentes.

Participaram da Mesa Diretora quatro deputados federais, com destaque para o deputado Ciro Nogueira, que exerceu por vários anos cargo da Mesa, dentre os quais o de Corregedor, bem como foi candidato à Presidência da Casa em 2009, perdendo para o atual presidente, deputado Michel Temer – PMDB-SP.

Quanto à realização de acordos com líderes locais, outra hipótese aventada por Ames (2003) para tal padrão, há literatura que no mostra a existência de redes políticas locais em que os deputados federais trabalham em prol do atendimento de pedidos de sua “base eleitoral”, entendida esta, nas palavras de Bezerra (1999, p. 103): “A base eleitoral está associada ao desempenho de sua função parlamentar. Ela não é somente o local ao qual o parlamentar retorna, mas é para onde dirige sua atividade.”.

Mais adiante, o pesquisador menciona a importância do atendimento dos pleitos feitos pela base: “O atendimento desses pleitos é um elemento significativo na relação dos parlamentares com suas bases na medida em que contribui para a criação e consolidação de uma rede política do parlamentar na localidade” (BEZERRA, 1999, p. 103).

Não obstante, não é propósito do presente trabalho pesquisar a existência dessas redes locais no Piauí, nem muito menos se há “eleições casadas” entre deputados federais e deputados estaduais no estado. Tais indícios deverão ser motivo de análise noutra pesquisa que mostrará se há ou não um vínculo entre eleições de deputados federais e deputados estaduais, bem como se essas “redes locais” configuram a regra na política estadual piauiense. Ainda quanto ao padrão disperso-dominante, há a necessidade de verificarmos a trajetória dos deputados eleitos, quanto à ocupação de mandatos e/ou de cargos públicos. Quanto ao primeiro caso, grande parte dos eleitos já havia exercido um mandato de deputado federal. Passamos à análise de tais trajetórias.

A tabela abaixo relaciona o padrão geográfico disperso-dominante e as trajetórias de carreira política dos deputados com tal padrão, por eleição. Para sua elaboração, tomamos o quatriênio anterior ao do mandato. Ressaltamos que todos os deputados tiveram padrão disperso-dominante nas eleições indicadas.

Tabela 11. Trajetória da carreira política dos deputados com perfil disperso-dominante no quatriênio anterior ao do mandato exercido

DEPUTADO Eleição Governador/Senador / Deputado Federal/ Estadual/ Prefeito Secretário de Estado/ Ministro/Outro Cargo de Destaque B. Sá 1994 Sim Não

Felipe Mendes 1994 Sim17 Não

Heráclito Fortes 1994 Sim Não

Júlio César 1994 Sim Sim

Mussa Demes 1994 Sim Sim

Paes Landim 1994 Sim Não

Benedito Sá 1998 Sim Não

Heráclito Fortes 1998 Sim Não

Mussa Demes 1998 Sim Não

Themístocles Sampaio 1998 Não Não

Átila Lira 2002 Sim Sim

Benedito Sá 2002 Sim Não

Ciro Nogueira 2002 Sim Não

Júlio César 2002 Não Sim

Marcelo Castro 2002 Sim Sim

Mussa Demes 2002 Sim Não

Paes Landim 2002 Sim Não

Átila Lira 2006 Sim Não

Ciro Nogueira 2006 Sim Não

Júlio César 2006 Sim Não

Marcelo Castro 2006 Sim Não

Mussa Demes 2006 Sim Não

Paes Landim 2006 Sim Não

Fonte própria elaborada com dados coletados no site do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí (TRE-PI) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE), bem como do sítio da Câmara dos Deputados.

Da análise da tabela acima, somente um deputado, Themístocles Sampaio, não exerceu mandato na legislatura anterior, nem qualquer cargo/função de destaque, demonstrando que tal perfil é dado àqueles deputados que exerceram alguma atividade pública de abrangência nacional/estadual.

Observamos, assim, que no caso dos deputados federais piauienses, grande parte deles exerceu mandato eletivo anterior, mas poucos exerceram cargo no Executivo estadual ou, ainda, cargo de destaque na Administração da União Federal.

Quanto aos índices encontrados, Paes Landim e Mussa Demes mantiveram o perfil nas quatro eleições sucessivas, onde os dois foram eleitos. Deles, Paes Landim, que pertencia ao PFL, mas atualmente é filiado ao PTB, teve os maiores índices de dispersão e dominância.

Os mapas seguintes mostram a votação do deputado Paes Landim nos quatro pleitos. Utilizamos na confecção do mapa duas variáveis: a primeira, representada por cores, corresponde à relação “votos no município” por “votos do deputado em todo o Estado”, correspondendo ao percentual que a votação em determinado município representa (% de sua

votação); a segunda, representada por círculos com raios proporcionais, corresponde à relação “votos do deputado no município” por “votos válidos dados a todos os candidatos no mesmo município”, variável essa que melhor serve para mostrar a dominância do deputado (% votos válidos do município).

O mapa 5 demonstra a votação em 1994. Observamos que o deputado concentra sua votação na Região Sul, mas também há cidades onde o mesmo domina e que representam entre 5% a 15% de sua votação.

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