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PADRÕES DE USO DE ELEMENTOS DA MATRIZ POR PRIMATAS NA PAISAGEM FRAGMENTADA DE GOIÂNIA, GOIÁS, BRASIL

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CAPÍTULO II

RESUMO

A fragmentação e perda de área de florestas resultam no isolamento, redução do tamanho e empobrecimento de manchas florestais habitadas por primatas. Estas conseqüências negativas podem ser amenizadas pelo movimento dos animais entre os fragmentos, por meio do uso da matriz, algo pouco conhecido. Neste trabalho investigamos os padrões gerais do uso de elementos da matriz pelos primatas do Cerrado (Alouatta caraya, Sapajus libidinosus e

Callithrix penicillata) em uma paisagem urbana fragmentada. Buscamos saber se o uso da

matriz é relacionado com o tipo de matriz disponível e com o grau de distúrbio do fragmento. Com entrevistas semi-estruturadas, entrevistamos pessoas situadas nas adjacências dos fragmentos florestais habitados pelos primatas em Goiânia-GO. Encontramos que a espécie mais visualizada utilizando a matriz foi C. penicillata, seguida por S. libidinosus e A. caraya. Os tipos de matriz mais utilizados foram o ambiente urbano e pasto. As principais atividades desempenhadas na matriz foram o forrageio (com consumo predominante de manga) e o deslocamento. Em geral, o uso dos tipos de matriz não esteve correlacionado com sua disponibilidade na paisagem. O uso da matriz esteve negativamente relacionado com a conectividade entre as manchas florestais. Nossos resultados segurem que as três espécies utilizam os elementos da matriz, refletindo sua plasticidade em superar os limites impostos pela paisagem fragmentada. Isto indica a necessidade da inclusão da permeabilidade da matriz em abordagens para o manejo do ambiente para os primatas.

Palavras-chave: Cerrado; fragmentação; urbanização; matriz; dispersão; primata

ABSTRACT

Forest fragmentation and area loss results in isolation, reduced size and impoverishment of forest patches inhabited by primates. These negative consequences can be mitigated by the animal movement between fragments through the matrix, but this is poorly known. Here we investigated the general patterns of matrix use by Brazilian Savanna primates (Alouatta

caraya, Sapajus libidinosus and Callithrix penicillata) in a fragmented forest urbanized

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the landscape and if is conditioning to the fragment disturbance degree. Using semi-structured we interviewed local informants at the vicinity of forest fragments inhabited by primates in Goiânia-GO. We found that the most common matrix visualized species was C. penicillata, followed by S. libidinosus and A. caraya. The matrix sorts most used was the urban formations and pasture. The mains activities performed in the matrix were foraging (consumption predominant of mango) and travel. In general the matrices sort use was not correlated with their availability in the landscape. The matrix use was negatively correlated with connectivity between forest patches. Our findings suggest that the three species use the surrounding matrix, reflecting its plasticity to overcome the limitations imposed by the fragmented landscape. This indicates the importance to include the matrix permeability in approaches to Brazilian Savanna primate’s habitat management.

Keywords: fragmentation; urbanization; matrices; dispersion; sympatry; Brazilian Savanna

INTRODUÇÃO

A destruição de formações florestais, seja por redução de sua área, seu empobrecimento (Tabarelli et al. 2004) ou sua fragmentação (Fahrig 2003), configura-se como a principal ameaça às populações de primatas em todo mundo (Marsh 2003). Diante da iminente necessidade da preservação da fauna de primatas remanescente e da acelerada e extensiva conversão das formações florestais neotropicais em paisagens fragmentadas, preenchidas por diversos elementos resultantes da atividade humana (McKinney 2002), torna-se imperativo determinar como as diferentes espécies de primatas respondem às mudanças na paisagem em que estão localizados (Arroyo-Rodríguez e Mandujano 2009; Marsh et al. 2003). Informações a respeito das respostas das espécies são valiosas no entendimento da sua flexibilidade ecológica e fundamentais para o delineamento de cenários de conservação para a manutenção de populações em longo prazo (Chapman e Peres 2001).

A fragmentação e consequente empobrecimento das áreas podem limitar significativamente a disponibilidade de fontes de alimento e água de regiões utilizadas por muitos primatas (Estrada e Coates-Estrada 1996). Isto pode provocar mudanças nos padrões de atividades e forrageamento, estimulando-os a utilizar a matriz localizada entre fragmentos isolados (Mandujano et al. 2004). Trabalhos demonstram que a matriz presente nas paisagens pode influenciar profundamente a dinâmica que ocorre no interior dos fragmentos (Umetsu et

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al. 2008). As distintas naturezas da matriz (e.g. áreas desmatadas, agricultura, pastagem, ambiente urbano) podem afetar de diferentes maneiras a disponibilidade de recursos dentro dos fragmentos e a movimentação de organismos, como polinizadores, dispersores de sementes e herbívoros (Jules e Shahani 2003). A escassez na quantidade e qualidade dos recursos dentro de fragmentos florestais pode, então, ser amenizada pelos movimentos dos animais entre os fragmentos adjacentes (Brito e Grelle 2004; Pardini et al. 2005).

A natureza e composição da matriz, além de influenciarem as dinâmicas no interior dos fragmentos florestais, podem relativizar a efetividade do papel dos mesmos como corredores e “trampolins ecológicos” na conectividade de populações na paisagem fragmentada (Pardini et al. 2005). A distância entre fragmentos torna-se mais fácil de ser superada quando existe no trajeto uma matriz mais permeável, indicando que o manejo da matriz pode ser uma oportunidade de reduzir o isolamento de fragmentos e diminuir o risco de extinção de populações locais (Ricketts 2001). Assim, torna-se importante o entendimento da percepção da matriz pelos grupos, especificamente em cada contexto, e considerar sua permeabilidade juntamente à conectividade estrutural entre fragmentos (Metzger e Décamps 1997). Estas informações são fundamentais quando se destina aumentar a dispersão entre as populações isoladas (Baum et al. 2004).

Vemos, então, que o potencial de sobrevivência das populações na paisagem fragmentada está intimamente relacionado com a capacidade dos animais de usarem a matriz para a obtenção de algum tipo de recurso (Pires et al. 2002). Espécies que evitam a matriz tendem a declinar ou desaparecer em fragmentos, enquanto que aquelas que toleram ou exploram a matriz permanecem frequentemente estáveis ou aumentam em tamanho (Laurence 1991). Estes estudos destacam a importância da matriz na dinâmica e estrutura das comunidades de vertebrados em remanescentes florestais tropicais e têm implicações importantes para a gestão de paisagens fragmentadas (Gascon et al. 1999).

No Cerrado, existem três espécies simpátricas de primatas: Alouatta caraya Humboldt, 1912 (bugio-preto), Sapajus libidinosus Spix, 1823 (macaco-prego) e Callithrix penicillata E. Geoffroy, 1812 (sagui-de-tufos-pretos) (Queiroz 1991; Vilela 2007). A simpatria entre elas é possível, entre outros motivos, pelo fato dos animais destes gêneros usarem nichos ecológicos diferentes, como por meio do uso diferencial de recursos alimentares, de estratos na floresta (Cunha et al. 2006) e da matriz (Gascon et al. 1999). Sabendo que a habilidade de utilização da matriz em ambientes modificados afeta a vulnerabilidade dos organismos na paisagem fragmentada (Ricketts 2001), o entendimento da flexibilidade ecológica de espécies com

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relação ao uso de recursos exteriores aos dos fragmentos e de suas limitações na dispersão, preenche uma parcela imprescindível da compreensão da estruturação das comunidades (Beaudrot e Marshall 2011). Mesmo sob a classificação de status de conservação pouco preocupante, os primatas do Cerrado (com exceção de C. penicillata) apresentam tendência ao declínio populacional (Fernandez-Duque et al. 2008; Rylands e Kierulff 2008), indicando a importância da implementação de planos de manejo que vislumbrem a conservação futura, uma vez que o avanço a favor da destruição das florestas tende a continuar.

Ademais, importante também é a compreensão do padrão particular de uso da matriz pelos primatas em uma dada região, uma vez que a composição da matriz é específica a cada local, e este conhecimento é relevante às estratégias de manejo regionais. A coleta de informações a respeito das atividades de primatas na matriz pode ser difícil (Pozo-Montuy et al. 2011), dado o espaçamento temporal ou raridade dos eventos, e necessita de alternativas que ultrapassem os meros relatos anedóticos (Anderson et al. 2007). Assim, o uso do conhecimento de pessoas que estão constantemente em contato com os espaços adjacentes aos fragmentos florestais mostra-se uma rica fonte de informações. Não existem dados sistemáticos a respeito da dinâmica de uso da matriz pelas espécies que co-habitam o bioma Cerrado, especialmente no contexto urbanizado, como na região metropolitana de Goiânia. Logo, torna-se necessária a investigação dos padrões de uso da matriz por estes animais, em resposta aos efeitos da fragmentação, perda de área e avanço antrópico (Pozo-Montuy et al. 2011).

OBJETIVOS

Neste trabalho, temos como objetivos investigar 1) os padrões gerais do uso dos elementos da matriz pelas espécies S. libidinosus, A. caraya e C. penicillata na paisagem do município de Goiânia-GO; 2) se as espécies de primatas selecionam o tipo de matriz para o uso, por meio da verificação de correlações entre a utilização dos elementos da matriz pelos animais e a disponibilidade dos mesmos na paisagem; e 3) se o uso da matriz pelos primatas é influenciado pela condição em que se encontra o fragmento habitado por eles, por meio da identificação de atributos da heterogeneidade estrutural da vegetação e da composição da paisagem que determinam o uso da matriz pelo grupo. Neste trabalho, consideramos a matriz como o conjunto de unidades de habitat e não-habitats circundantes aos fragmentos florestais de estudo (fragmentos focais) (Metzger 2001, adaptado).

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MÉTODOS

Para este trabalho, utilizamos a mesma área de estudo descrita no capítulo 1, bem como os mesmos métodos para a amostragem dos fragmentos, o levantamento dos primatas, e a coleta dos dados dos atributos da estrutura da vegetação e da paisagem (vide capítulo 1).

Entrevistas

Com intuito de investigar a ocorrência e as atividades dos primatas na matriz, aplicamos um questionário semi-estruturado (composto por perguntas abertas e fechadas) (Anexo 1), devidamente aprovado pelo órgão competente (Anexo 2), aos moradores e/ou funcionários de estabelecimentos localizados nas adjacências dos fragmentos de estudo. Entrevistamos entre 3 e 11 (Mo = 10) pessoas por fragmento, desde que neste estivesse presente pelo menos uma espécie de primata. Como critérios para a escolha dos entrevistados, utilizamos a proximidade geográfica da pessoa ao fragmento e a idade mínima de 18 anos.

Os pesquisadores abordaram as pessoas em suas residências e/ou estabelecimentos e os convidaram a participar da pesquisa. O tema da pesquisa, o conteúdo da entrevista e o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (Anexo 3) foram apresentados, e o questionário aplicado após a concordância das pessoas em participar. Associadas ao questionário foram utilizadas pranchas coloridas com fotografias de espécies de primatas, tanto que ocorriam, quanto que não ocorriam no local de estudo, para testar a veracidade da identificação, por parte dos entrevistados, das espécies de primatas investigadas no estudo.

Análises estatísticas

Seleção dos questionários e estatística descritiva

Para a análise dos questionários, no que tange ao uso da matriz, calculamos as frequências brutas das respostas válidas (positivas) das questões oito, nove e dez. Consideramos tanto o uso da matriz em “sentido amplo” (sem distinção dos tipos de matriz), quanto o uso dos tipos de matriz separadamente. Para obter a frequência bruta do uso da matriz em sentido amplo pelos primatas, por fragmento, quantificamos as respostas positivas da questão oito do questionário. Para obter a frequência bruta do uso dos tipos de matriz por

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espécie, reagrupamos as respostas das questões 8.1 a 8.3 (local da matriz onde a espécie foi visualizada) em seis categorias de matriz: água, floresta, pasto, plantação, urbano e vegetação, tal como categorizado na análise dos atributos da paisagem (vida capítulo 1). A fim de mensurar os intervalos temporais entre as visualizações das espécies na matriz em sentido amplo pelas pessoas, reagrupamos as respostas da questão nove em 12 categorias mutuamente exclusivas: “diariamente”, “semanalmente”, “quinzenalmente”, “mensalmente”, “bimensalmente”, “trimensalmente”, “semestralmente”, “anualmente”, “na época seca”, “em época de frutificação” (de vegetais presentes na matriz), “esporadicamente” e “não avaliou”; durante a aplicação das entrevistas esta questão foi considerada aberta. Com relação às atividades dos primatas na matriz (questão 10), reagrupamos as respostas em quatro categorias de atividade: deslocamento, social, descanso e forrageio (busca e consumo de recursos como alimento e água).

Correlações de Spearman

Para verificar se as espécies selecionam os tipos de matriz para o uso, correlacionamos a frequência bruta do uso dos tipos de matriz por espécie com as porcentagens dos tipos de matriz dentro do buffer ao redor de cada fragmento, por meio de correlações de Spearman (rho). Consideramos a significância em um nível superior a 95% (p < 0,05).

Padronização e exclusão de multicolinearidade

Para testar quais atributos da estrutura da vegetação e da paisagem melhor predizem a frequência dos primatas na matriz em sentido amplo, primeiramente padronizamos as variáveis independentes para eliminar o efeito das diferentes escalas destas métricas, calculando seus escores padronizados (Y - Ymédia / SD, sendo Y a unidade amostral, Ymédia a média da amostra e SD o desvio padrão da amostra). Na intenção de identificar a multicolinearidade entre as variáveis independentes e excluir a redundância entre as mesmas, utilizamos o VIF (fator de inflação de variância), que examina o valor de R2 oriundo da regressão entre cada uma das variáveis independentes contra todas as outras. Durante a escolha das variáveis, retiramos, por vez, somente uma variável, aquela com maior VIF, até obter o maior número de variáveis restantes que tivessem o fator menor que 10. Acima deste valor sugere-se forte colinearidade (Quinn e Keough 2002).

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GLM, seleção de modelos e partição hierárquica

Utilizamos a regressão logística com modelos lineares gerais (GLM), considerando como variáveis independentes os atributos da estrutura da vegetação e da paisagem, e a frequência bruta do uso da matriz em sentido amplo pelos primatas como variável dependente. O GML possibilita a criação de modelos estatísticos análogos à regressão múltipla. A diferença é que na regressão múltipla a distribuição dos dados deve ser normal, enquanto com o GLM a distribuição dos erros é analisada por uma link-function (que pode ser normal, Poisson, gamma, binomial, gaussian, quasibinomail, etc.) (Chatterjee e Hadi 2006). Escolhemos a opção binomial e o modelo logit, considerando a proporção de visualização do grupo na matriz em seu sentido amplo como uma variável resposta ponderada como um

“two-vector” (ou seja, foi criado um vetor em que continha tanto o número total de respostas

“positivas” quanto o de respostas “negativas”) (Anderson et al. 2007).

Para determinar o conjunto de variáveis independentes com o maior poder de predição sobre a frequência de uso da matriz em sentido amplo pelos primatas, criamos quatro modelos: “global” (contendo todas as variáveis independentes), “heterogeneidade” (contendo as variáveis independentes da heterogeneidade estrutural da vegetação), “paisagem” (contendo as variáveis independentes da paisagem ao redor dos fragmentos) e “nulo” (contendo apenas o intercepto, sem variáveis independentes). Adotamos o Critério de Informação de Akaike de Segunda Ordem para Correção de Viés (Akaike Information

Criterion Second-Order Bias Correction – AICc) (Burnham e Anderson 2004) como

ferramenta de seleção do modelo mais parcimonioso, com a combinação de variáveis que melhor explicava a probabilidade de ocupação dos fragmentos pelas espécies. Esse critério é adequado quando o N amostral é reduzido (Burnham e Anderson 2004). Aceita-se que os melhores modelos possuem Δi entre 0 e 2; aqueles com Δi entre 4 e 7 têm suporte consideravelmente menor e aqueles com Δi > 10 são essencialmente sem suporte (Burnham e Anderson 2004). Além disso, usamos o peso do AICc (wAICc) para avaliar a incerteza da seleção dos modelos.

A fim de mensurar a importância específica de cada variável contida nos melhores modelos, fizemos uso da partição hierárquica, que quantifica a correlação independente de cada variável preditora com a variável resposta (Chevan e Sutherland 1991). As variáveis que, de modo independentemente, explicaram uma proporção maior da variância do que o

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esperado ao acaso foram identificadas por meio de randomizações. Consideramos a significância em um nível superior a 95% (Z-score = 1,65).

Amostras

Para a realização das análises de estatística descritiva, consideramos 31 fragmentos, uma vez que em um fragmento não foram aplicados os questionários por falta de acesso aos moradores. Já para a realização dos testes estatísticos, consideramos 28 fragmentos pela falta de informações do fragmento supracitado e pela exclusão de três outros fragmentos durante a análise de paisagem, que saíram da amostragem em função da correlação espacial com outros

buffers (sobreposição). O tamanho amostral dos dados para as correlações de Spearman

diferiu por espécie em função das diferenças de ocorrência das mesmas em cada fragmento.

Ferramentas estatísticas

Desempenhamos as análises descritivas e correlações de Spearman no programa Statistica v. 7.0, as padronizações no programa SAM v. 4.0 (Spatial Analyses in

Macroecology, Rangel et al. 2010), e o GLM e partições hierárquicas no programa R v. 2.14.0

(R Development Core Team 2011).

RESULTADOS

Padrões gerais de uso da matriz pelas espécies de primatas

Do total de 278 pessoas entrevistadas, aproximadamente 10% (N = 30), 34% (N = 96) e 45% (N = 127) relataram ter visualizado, respectivamente, A. caraya, S. libidinosus e C.

penicillata utilizando a matriz em sentido amplo. As três espécies foram predominantemente

visualizadas no tipo “urbano” da matriz, tendo destaque a grande visualização da espécie C.

penicillata (aproximadamente 86%, N = 110). Nas categorias “pasto” e “floresta”, a espécie A. caraya foi predominantemente vista (30%, N = 9 e 10%, N = 3, respectivamente),

enquanto na categoria “plantação”, S. libidinosus foi a espécie mais visualizada (16%, N = 16) (Figura 1).

51 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 % d e vi su al iz ão n os t ip os d e m at ri z Tipos de matriz Callithrix penicillata Sapajus libidinosus Alouatta caraya

Figura 1. Porcentagem de visualização das espécies de primatas utilizando os tipos específicos de matriz.

Em relação aos intervalos temporais entre as visualizações das espécies na matriz em sentido amplo pelas pessoas, a espécie A. caraya foi predominantemente vista “em época de frutos” e “esporadicamente” (23%, N = 7; 23%, N = 7). Já a espécie S. libidinosus foi predominantemente vista “esporadicamente” (25%, N = 24), enquanto a espécie C. penicillata foi vista, na maioria das vezes, “diariamente” (24%, N = 30) (Figura 2).

52 4% 7% 3% 17% 3% 3% 23% 23% 17%

A

Diariamente Semanalmente Quinzenalmente Mensalmente Bimensalmente Semestralmente Em época de fruto Esporadicamente Não avaliou 6% 20% 1% 19% 2% 2% 4% 1% 12% 25% 8%

B

Diariamente Semanalmente Quinzenalmente Mensalmente Bimensalmente Trimensalmente Semestralmente Na estação seca Em época de fruto Esporadicamente Não avaliou 24% 12% 5% 12% 4% 1% 2% 1% 1% 16% 18% 4%

C

Diariamente Semanalmente Quinzenalmente Mensalmente Bimensalmente Trimensalmente Semestralmente Anualmente Na estação seca Em época de fruto Esporadicamente

Figura 2. Intervalos temporais entre as visualizações das espécies na matriz em sentido amplo. A – Alouatta caraya, B – Sapajus libidinosus, C – Callithrix penicillata.

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Quanto às atividades dos primatas na matriz em sentido amplo, nem todos os entrevistados que visualizaram os animais na matriz conseguiram descrever sua atividade, e as proporções a seguir foram calculadas com base quantidade de pessoas que souberam descrever a atividade do animal (N = 27 para A. caraya, N = 95 para S. libidinosus e N = 126 para C. penicillata). As três espécies foram visualizadas, predominantemente, forrageando e se deslocando, ocorrendo o predomínio da atividade de forrageio sobre a de deslocamento (Tabela 1).

Tabela 1. Frequência das atividades desempenhadas pelas espécies de primatas quando visualizados na matriz.

Espécie Atividade

Forrageio Deslocamento Social Descanso Alouatta caraya 18 (67%) 10 (37%) 2 (7%) 1 (4%) Callithrix penicillata 75 (60%) 64 (51%) 9 (7%) 7 (6%) Sapajus libidinosus 64 (67%) 41 (43%) 7 (7%) 4 (4%)

Quando os primatas foram vistos forrageando na matriz, foi relatado um total de 36 itens consumidos (Tabela 2). Os alimentos mais consumidos pelos primatas foram os frutos manga, banana e milho. A manga foi altamente consumida pelas três espécies (A. caraya - 19%; C. penicillata - 19%; S. libidinosus - 15%), enquanto a banana foi predominantemente consumida por C. penicillata (18%) e o milho por S. libidinosus (16%).

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Tabela 2. Frequência de visualização do consumo de itens alimentares pelos primatas na matriz em sentido amplo. ( – ) consumo do alimento não relatado para a espécie.

Itens Espécie Alouatta caraya Callithrix penicillata Sapajus libidinosus Frutos Abacate (Persea americana Mill) 2 (7%) 4 (3%) 2 (2%)

Abóbora (Cucurbita spp.) - - 1 (1%)

Banana (Musa spp.) 1 (4%) 23 (18%) 7 (7%)

Baru (Dipteryx alata Vog.) - - 1 (1%)

Cajá (Spondias dulcis Forst.) 1 (4%) 2 (2%) -

Caju (Anacardium occidentale L.) - 1 (1%) -

Cereja (Prunus spp.) - 1 (1%) -

Frutas (geral) 2 (7%) 6 (5%) 5 (5%)

Goiaba (Psidium guajava L.) 1 (4%) 6 (5%) 5 (5%)

Ingá (Inga spp.) 1 (4%) 10 (8%) 5 (5%)

Jabuticaba (Myrciaria spp.) 1 (4%) 3 (2%) 1 (1%)

Jaca (Artocarpus spp.) - 1 (1%) 1 (1%)

Jamelão (Syzygium cumini L. Skeels) - 2 (2%) -

Jatobá (Hymenaea spp.) - - 2 (2%)

Jenipapo (Genipa americana L.) 2 (7%) 1 (1%)

Mamão (Carica spp.) 2 (7%) 4 (3%) -

Manga (Mangifera indica L.) 5 (19%) 24 (19%) 14 (15%)

Mexerica (Citrus spp.) - - 1 (1%)

Milho (Zea mays L.) 1 (4%) 7 (6%) 15 (16%)

Mutamba (Guazuma ulmifolia Lam.) - - 1 (1%)

Caule /fibra vegetal Broto de bambu (Bambusoideae) - - 1 (1%)

Cana de açúcar (Saccharum spp.) - - 2 (2%)

Casca de troncos 1 (4%) - -

Côco (Arecacea) 1 (4%) - 6 (6%)

Guariroba (palmito) (Syagrus oleracea Mart.)

1 (4%) 3 (2%) 2 (2%)

Estruturas vegetais Flores - - 1 (1%)

Folhas - 1 (1%) 1 (1%)

Resina (goma) - 2 (2%) -

Origem animal Ovos - 2 (2%) 4 (4%)

Origem humana Biscoito 1 (4%) 3 (2%) -

Resíduos humanos - - 1 (1%) Pão - 1 (1%) 1 (1%) Pão de queijo - 1 (1%) - Pipoca - 1 (1%) - Quirela - 1 (1%) - Ração de cão 1 (4%) - - Seleção da matriz

A relação entre a frequência de visualização das espécies utilizando os elementos da matriz e a disponibilidade dos mesmos na paisagem foi observada para S. libidinosus e C.

penicillata. Não observamos nenhuma relação significativa para A. caraya. Observamos, para S. libidinosus, que conforme a vegetação não-florestal predominou na matriz, menor foi sua

utilização (rho = -0,52, P = 0,014, N = 21) e a utilização de cursos d’água (rho = -0,57, P = 0,008, N = 21) pelos indivíduos; além disso, conforme as plantações predominaram na matriz,

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menor foi o uso da vegetação não-florestal pela espécie (rho = -0,49, P = 0,025, N = 21). Já no que diz respeito à C. penicillata, observamos que o uso de matriz do tipo urbano aumentou ao passo que este tipo de matriz predominou na paisagem (rho = 0,59, P = 0,001, N = 27), enquanto que com o aumento do pasto na paisagem, menor foi o uso do tipo urbano de matriz (rho = -0,462, P = 0,015, N = 27).

Seleção de variáveis independentes

A seleção de variáveis independentes culminou em um grupo de nove variáveis da heterogeneidade da estrutura da vegetação e um grupo de seis variáveis da paisagem, como listado na tabela 3.

Tabela 3. Listagem das variáveis independentes da heterogeneidade da estrutura da vegetação e da paisagem selecionada pelo VIF (fator de inflação de variância) para a construção dos modelos.

Heterogeneidade estrutural Paisagem

MAb Cm CVAb Prox CVAlt Veget FL Floresta FT Pasto CVArb Água FLx FTr MPx

Legenda: MAb = média da área basal das árvores; CVAb = coeficiente de variação da área basal das árvores; CVAlt = coeficiente de variação da altura das árvores; FL = frequência de lianas; FT = frequência de troncos caídos; CVArb = coeficiente de variação do n° de arbustos/herbáceas; FLx = frequência de lixo; FTr = frequência de trilhas; MPx = média da quantidade de pixels da área coberta do dossel; Cm = índice de conectividade entre as manchas da classe “floresta”; Prox = índice de proximidade do fragmento de estudo (focal) com relação às outras manchas da classe “floresta”; Veget = porcentagem da classe “vegetação”; Floresta

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