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3. RESULTADOS

4.2. PADRÕES SAZONAIS E LONGITUDINAIS

Apesar da variação observada, um padrão universal que caracteriza a ecologia dos “marmosets” é o consumo de goma como uma provisão alternativa, explorada de forma sistemática através da perfuração de plantas gomíferas. A sua exploração varia de acordo com a disponibilidade de outros recursos vegetais de maior qualidade, ou seja, frutos e néctar (Richard, 1985; Garber, 1993; Power & Oftedal, 1996). É importante lembrar, entretanto, que a exploração de gomas implica também em certos custos, relacionados principalmente à atividade de roer.

Tipicamente, os “marmosets” consomem mais frutos quando estes estão mais disponíveis, usualmente em períodos mais chuvosos. Geralmente, a variação sazonal na exploração deste recurso (ou de uma maneira mais ampla, de partes reprodutivas de plantas) é o inverso daquela de gomas (Rylands & Faria, 1993; Tavares, 1999). Isto ficou novamente claro neste estudo, reforçado pela relação positiva entre a disponibilidade de frutos e seu consumo.

Com relação à presa animal, alguns estudos (Ferrari, 1988; Corrêa, 1995) registraram uma variação de consumo em função de sua disponibilidade, especialmente uma diminuição em períodos mais secos. Tavares (1999) mostrou em seu estudo com M. argentatus que durante os meses de menor disponibilidade de invertebrados, ocorreu uma intensificação do comportamento de forrageio. Já o grupo de C. geoffroyi explorou uma área maior na estação seca, como maneira a forragear em áreas novas, especificamente de borda (Passamani, 1996).

No presente estudo, não houve aumento significativo de tamanho de área em períodos de escassez, como também não houve uma correlação significativa entre o tempo alocado no forrageio e tamanho de área utilizada. A relação entre o consumo e a disponibilidade de invertebrados também não foi clara, indicando que outros fatores, e não somente a disponibilidade de presas, influenciaram no seu consumo. No caso específico de Cm1, o acesso a outro tipo de presa, vertebrado, pode ter sido decisivo.

Uma estratégia comum aos dois grupos de estudo foi a dedicação de mais tempo ao comportamento de forrageio na medida em que os recursos não gomíferos se tornavam mais escassos (Tabela 36). Com exceção da categoria “Outros”, o padrão de variação observado entre o final da estação chuvosa e a seca foi muito semelhante nos dois grupos de estudo, principalmente em relação ao forrageio e à dieta. Apesar das muitas diferenças nas características comportamentais dos dois grupos, a estratégia geral de forrageio foi muito semelhante, o que parece refletir um padrão específico, talvez característico do gênero.

Tabela 36: Padrão de variação sazonal (baseada em valores de z) em categorias de comportamento e itens dietéticos. Um padrão estável foi registrado quando o valor de z foi menor do que o valor crítico (p > 0,01)

Grupo/relação entre estações:

Cm1 Cm2 Categoria Chuvosa-Início x Seca Chuvosa-Início x Chuvosa-Final Chuvosa- Final x Seca Chuvosa-Final x Seca Forrageio Aumenta Aumenta Aumenta Aumenta

Locomoção Diminui Estável Diminui Estável

Descanso Aumenta Aumenta Estável Estável

Outros Diminui Diminui Aumenta Diminui

Alimentação Estável Aumenta Diminui Diminui

Fruto Diminui Diminui Aumenta Aumenta

Gomas Diminui Aumenta Diminui Diminui

Néctar Aumenta Estável Aumenta Aumenta

Invertebrados Diminui Diminui Aumenta Estável

Vertebrados Aumenta Aumenta Estável Aumenta

Já a análise longitudinal apresenta um cenário mais complexo (Tabela 37). A diferença primária entre anos foi uma redução de 30% na precipitação em 2001 em comparação com 2000, com suas implicações para a disponibilidade de recursos alimentares (Seção 3.1 acima). Uma diferença secundária foi a mudança considerável na composição e distribuição espacial dos dois grupos. Assim, diferentes aspectos da comparação entre grupos (Tabela 37) parecem refletir a influência destes diferentes fatores.

No caso da locomoção, por exemplo, a redução em Cm1 é consistente com aquela no tamanho da área de vida e o padrão “ponto central” de utilização da mesma. Já Cm2 apresentou um padrão oposto, que reflete a respectiva mudança em sua ocupação de espaço. Associado a esta mudança na ocupação de espaço foi observado um aumento no consumo de néctar em Cm1, e a redução na exploração do mesmo recurso em Cm2. O comportamento de forrageio parece ter seguido um padrão complementar, principalmente em setembro, quando o néctar foi um recurso importante, este comportamento diminuiu para Cm1, mas aumentou para Cm2. Este aumento de forrageio para Cm2 pode estar relacionado à redução tanto na disponibilidade de presas como no consumo de néctar.

Tabela 37: Padrão de variação longitudinal (baseada em valores de z) em categorias de comportamento e itens dietéticos. Um padrão estável foi registrado quando o valor de z foi menor do que o valor crítico (p > 0,01)

Relação julho 2000-2001 em: Relação setembro 2000-2001 em:

Categoria Cm1 Cm2 Cm1 Cm2

Forrageio Estável Aumenta Diminui Aumenta

Locomoção Diminui Aumenta Diminui Estável

Descanso Diminui Estável Aumenta Aumenta

Outros Aumenta Estável Aumenta Diminui

Alimentação Aumenta Diminui Diminui Diminui

Fruto Diminui Estável Diminui Aumenta

Gomas Aumenta Estável Estável Aumenta

Néctar - - Aumenta Diminui

Invertebrados Diminui Estável Estável Diminui

Vertebrados Estável - Diminui Estável

Outros padrões parecem ser mais consistentes com a diferença longitudinal na disponibilidade de recursos, principalmente de invertebrados. Assim, enquanto o consumo relativo de presas foi estável nos dois grupos em julho, caiu significativamente para ambos os grupos em setembro, mês da estação seca, que seguiu um período maior de estiagem em 2001. Assim, ambos os grupos pareciam enfrentar uma escassez maior de presas em 2001, embora seguiram estratégias diferentes em relação ao comportamento de forrageio. A estratégia adotada por Cm2 foi semelhante àquela identificada na análise sazonal acima, ou seja, um aumentono tempo gasto na procura por presas. Já no caso de Cm1, o padrão oposto, de uma redução no tempo dedicado ao forrageio, pode ter sido uma modificação relacionada principalmente à disponibilidade de néctar.

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