• Nenhum resultado encontrado

Parte III – As dimensões culturais e a sua influência na cultura organizacional: o

4. As Core Cultural Dimensions no Volkswagen Bank

4.4 Padrões de tempo e trabalho

A dimensão relacionada com os padrões de tempo e trabalho afere a forma como uma determinada sociedade organiza o tempo que é despendido no trabalho e o tempo que é despendido noutras atividades que não a sua vida profissional. Esta dimensão afeta o ambiente organizacional de várias formas. A maneira como o tempo é encarado não só culturalmente mas também organizacionalmente altera automaticamente a forma como se organizam os padrões de trabalho. A pontualidade, o número de horas que se deve passar no escritório e a forma como o trabalho é encarado na vida pessoal de cada indivíduo é moldado em grande parte por esta dimensão. Os ambientes mais monocrónicos caracterizam-se por uma compreensão mais linear do tempo, onde as tarefas são desempenhadas sequencialmente e individualmente. Existe também um conceito mais preciso da noção de tempo e a pontualidade é respeitada. Há também uma separação clara entre vida profissional e vida pessoal. Por outro lado, nos ambientes mais policrónicos o tempo é encarado de forma não linear e por isso as tarefas são feitas muitas vezes simultaneamente com um planeamento e organização mais dinâmico e menos estruturado. O conceito de tempo é também mais flexível e por isso são ambientes também mais flexíveis no que à noção de pontualidade diz respeito. Por outro lado, a vida profissional e a vida pessoal estão interligadas e influenciam-se para lá das fronteiras do escritório. Steers, Nardon e Sanchez-Runde classificam os países do cluster germânico como sendo países moderadamente monocrónicos. Por outro lado, e mais uma vez, os países do cluster da Europa Latina são caracterizados por serem moderadamente policrónicos. Também John Mole fala acerca da questão e escreve em concordância com as autoras que na Alemanha existe uma «[…] clear demarcation between private and business life» (Mole, 1995: 41). Além disso, Mole refere também que na Alemanha «[I]t is very importante to be punctual, which means on the dot. […] It is also acceptable to leave work on time. There is a strong sense that the relationship between the company and the employee is contractual» (ibidem). Quanto a Portugal, Mole menciona que «[M]eetings, as with most appointments, are unlikely to start on time.» (ibidem, 1995: 143). Refere também que «[B]usiness and private life are intermingled. Evening meetings and telephone calls at home are common

84 and often necessary to compensate for missed appointments during the day» (ibidem: 1995: 145).

Depois do meu tempo como estagiária no Volkswagen Bank, é-me possível classificar esta organização como sendo tendencialmente policrónica no sentido em que a forma de trabalhar não é linear, o que quer dizer que na maioria das vezes cada colaborador está focado em duas atividades ou assuntos simultaneamente. O conceito de tempo é flexível. Não há horário de trabalho estipulado estando à consideração de cada colaborador gerir o seu tempo de maneira razoável, desde que o trabalho apresentado vá ao encontro daquilo que se tinha proposto inicialmente. Outra característica que também se coaduna com esta dimensão é a integração da vida profissional e da vida pessoal. A maioria dos colaboradores trabalha mais de 40 horas semanais, chegando ao escritório bem cedo, almoçando rapidamente e muitas vezes ficando no escritório até por volta das 19h, 19:30h, chegando, por vezes a levar trabalho do escritório para fazer em casa estando sempre disponíveis para responder a emails ou atender chamadas relacionadas com assuntos profissionais quando já estão na sua esfera privada.

Relativamente a estas observações feitas por mim, também Alf Gleissner e Carina Flack referiram as diferenças que sentem entre trabalhar em Portugal e na Alemanha ou em outras subsidiárias do Volkswagen Bank na Europa. Alf Gleissner refere que em Portugal o que mais lhe agrada na sua profissão é «[…] the bandwidth of different tasks we have to conduct here […] It’s not a stupid work, it’s not boring. Everyday is a new challenge and everything is new. There is no routine. […] ». Da mesma forma, Carina Flack quando interrogada acerca da sua perceção de tempo e organização do trabalho no Volkswagen Bank refere que considera que os colegas portugueses « […] spend so much time at work and they are […] always available when they are on holidays.» Carina menciona também que quando comparados com os colegas alemães, os portugueses têm um horário de trabalho mais extenso e ficam mais horas no trabalho, ultrapassando a sua hora de saída, comportamento altamente improvável na Alemanha onde exceder o horário de trabalho significa que se é um profissional desorganizado que não conseguiu completar todas as suas tarefas. João Rias, quando inquirido acerca das principais diferenças que encontra entre o ambiente de trabalho em Portugal e o ambiente de trabalho que encontra na Alemanha quando se desloca até lá refere «[…] existe um respeito grande pela

85 pontualidade também e eu isso penso que é um bocadinho diferente daquilo que nós também estamos habituados aqui em Portugal.»

Como já foi referido anteriormente, todos os anos o Volkswagen Bank participa no inquérito mundial lançado pelo grupo Volkswagen, o FS Pulse. Uma das variáveis medidas pelo FS Pulse é o índice de satisfação médio dos colaboradores. É uma das únicas variáveis relacionadas com a perceção individual de cada colaborador. Segundo a entrevista feita a Nuno Oliveira, o índice de satisfação médio dos colaboradores do Volkswagen Bank em Portugal foi de 86%, o melhor resultado do mundo (ex-aequo com a China). A variável onde o Volkswagen Bank teve resultados mais baixos foi exatamente na variável referente ao balanço entre vida profissional e vida pessoal. Tendo em conta estes resultados, uma das áreas na qual o Volkswagen Bank pretende atingir melhores resultados é exatamente o equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal. Na sua entrevista, Nuno Oliveira frisa também o conceito de Top Team, um conceito que faz parte da estratégia global do grupo Volkswagen Financial Services e que basicamente refere que o grupo tem como objetivo ter a melhor equipa de colaboradores do mundo. Para que isto aconteça é essencial ser o melhor empregador do mundo de forma a conseguir ter a Top Team, a melhor equipa do mundo. De forma a atingir esta meta, têm vindo a ser estudadas medidas que têm exatamente como objetivo promover o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Entre estas medidas, foi feita uma remodelação do escritório no sentido de operacionalizar a comunicação, isto é os departamentos que mais interagem entre si e que mais estão dependentes de outros departamentos encontram-se agora em open spaces ou em locais mais próximos dentro do próprio escritório, facilitando a troca de ideias e de informações relevantes para uma mais rápida e melhor progressão do trabalho.

Documentos relacionados