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3 AS TRANSFORMAÇOES SOCIOESPACIAIS DO LIMPOPO

3.4 IMPLICAÇOES DO PARQUE NA COMUNIDADE

3.4.4 Pagamento do Pedagio

Com a institucionalizaçao PNGL, o parque passou a albergar três portões de entrada. Sendo o primeiro o portão de Massingir, localizado em Moçambique, na parte sul do Parque. O segundo, Portão do Posto Fronteiriço de Giriyondo, é um portão que inclui um Posto Fronteiriço formal ligando o PNL e o PNK; e o terceiro, Portão do Posto Fronteiriço do Pafúri é também um portão de um Posto Fronteiriço formal, situado no norte do PNL e PNK e o Gonarezhou no Zimbabwe. Estes portões funcionam das 8 às 16 horas, caso o morador chegue depois das 16 horas, é obrigado a dormir na entrada.

30Mahala na língua local usa-se quando o preço foi muito abaixo da média, ou quando saiu de borla, sem nenhum

pagamento de caução.

31 Cambio extraido em 16 de Fevereiro ao cambio de 1MT a 15R$ 32 Nome fictício, usado para salvaguardar a identidade do fiscal. 33 Nome fictício

Do portao de Massingir ao Giriyondo (Moçambique-Africa do sul) a distância é de 63Km, e da aldeia de Mavodze, locus deste trabalho, para o portao de Giriyondo a distancia é de 53Km. Para atravessar o portão de Giriyondo é cobrado o valor de 450MT [representa R$3334] de pedágio por pessoa, e também são cobrados valores referentes ao próprio transporte usado, viatura e as pessoas pagam valores diferentes, conforme informações expressas na Figura 07 e no Anexo 12 .

No inicio do projeto os moradores da aldeia não pagavam para usufruir do portão. O lider da aldeia passava um documento chamado “Permit” para os moradores, e com este documento podiam se indentificar nos três portões e entrar sem pagar o pedagio. Todavia, os familiares, amigos de fora que quisessem visitá-los eram obrigados a pagar o pedagio para entrar na aldeia.

No dia 05 de Dezembro de 2020 a decisão do parque de não cobrar dos moradores foi alterada atraves do ofício visualizado na Figura 07.

Figura 11-Comunicado do Parque referente ao pedagio

Fonte: PNL (2020).

Este comunicado menciona que os moradores da aldeia também passam a ser abrangidos pelas taxas de pedagio para passar pelo portão de Giriyondo. Assim sendo, os moradores que estiverem do lado da Africa do sul e quiserem cruzar a fronteira para acessar sua casas são obrigados a pagar a taxa de pedágio.

De acordo com o administrador do parque, “essa taxa vem de cima, o parque nada tem a ver ”(Pariela, Janeiro de 2020). Ainda segundo o administrador, o conselho de Ministros decidiu adotar a taxa alegando que havia na região excesso “Permit” falsos circulando nas fronteiras, e para resolver o problema definiu que todos os usuários da via pagassem a taxa. O administrador reconhece o erro pelo fato de não terem consultado a comunidade, mas em nome da boa convivência com moradores pretende estudar possibilidades de novas ideias para que a comunidade não seja afetada com as taxas que são aprovadas fora de parque.

Durante a reuniao do conselho35, um ancião levantou-se para expressar sua percepção com relação ao pedágio e disse: “um criador, tem suas galinhas e vem um ladrão e rouba os ovos todos. O criador deve punir a todos por causa de um ladrão, ou deve punir ao ladrão responsável pelo roubo dos ovos?”. Os moradores da comunidade responderam, então, que o criador devia punir apenas as pessoas que roubaram os ovos. Então, o ancião encerrou sua frase questionando os funcionários do parque sobre as razõees que fizeram o parque tomar a decisão radical de cobrar aos moradores e não responsabilizar as pessoas que usavam o “Permit” falsificado para se movimentar nos portões do parque.

O administrador do parque, na tentativa de responder as respostas do questionamento do ancião, afirmou que não tinham conseguido identificar os infratores, porque os passes se pareciam muitos com os originais. Além disso, segundo o administrador, há indícios de que o líder da aldeia dava os passes as pessoas que não faziam parte da aldeia dos grupos abrangidos pelo não pagamento do passe, o que resultou na decisão do conselho de Ministros de cobrar de todos.

Os residentes da aldeia possuem familiares que moram do outro lado da fronteira e quando chegam no portão não é permitida sua entrada sem o pagamento da taxa. Outro fato é que mesmo para quem mora na vila de Massingir, isto é, fora da aldeia, também é exigido o pagamento de pedagio. Os moradores vivem presos na aldeia, porque os vinculos com pesssoas de fora são dificeis de serem estabelecidos sem o pagamento do pedagio que não é compativel com o nivel de vida dos residentes.

Os residentes sentiram a chegada do pedagio, pois o mês de dezembro é um mês de muito transito, o que resultou em diversos conflitos, visto que a comunidade já não olhava com bons olhos o fato dos amigos e familiares pagarem para visitá-los. Para os residentes locais presentes na reunião do conselho, não faz sentido cobrar aos moradores do interior do parque para transitar nas fronteiras, pois este foi o objetivo de ligação dos parques, para facilitar o livre transito.

Na opinião de um ancião presente na reunião “o parque não pode exigir que o dono do espaço pague para transitar nele” (Chauque, entrevista realizada em janeiro 2020).

Apesar de o administrador do parque ter esclarecido aos membros da comunidade que a iniciativa de cobrança de pedágio não havia sido do parque, várias controvérsias foram levantadas apontado que o parque estabeleceu a taxa propositasitalmente, de modo a tirar dinheiro dos moradores e em contarapartida reverter o mesmo valor do pedagio em forma dos 20% do turismo. Essa é a percepçao dos membros presentes na reunião.

A necessidade de adequação da taxa já vinha sendo estudada pelo parque, em paralelo a um processo em curso desde 2015 de mudança do modus operandi. Em 2015, passou a exigir que todos que usassem a fronteira deviam passar a pernoitar em um estabelecimento hoteleiro no interior do parque. Na prática, esses portões foram criados para o consumo dos turistas e não para a comunidade, conforme afirma a Folha36 Informativa do parque:

Giriyondo foi aberto para promover o desenvolvimento do turismo no PTGL. O relaxamento nos procedimentos fronteiriços levou a que este posto fronteiriço fosse utilizado fora do objetivo [sic] para que fora criado, passando a ser utilizado para outros fins, entre eles fins comerciais. Daqui resultou a violação sistemática das regras do Parque, como a quebra dos limites de velocidade, lixos, movimento ilegal de pessoas e veículos que não se encontram em estado de circular. Disto resultou um ambiente negativo para o desenvolvimento do turismo, ao longo das estradas de acesso e o aumento do risco para a população e fauna bravia. Com o objetivo de se reestabelecer a função de Giriyondo como promotor do turismo e conservação dentro do PTGL, há a obrigatoriedade de uma estadia de uma noite no PNK ou no PNL. Para utilizarem o Portão de Giriyondo, os viajantes deverão apresentar ou o recibo de uma estadia na noite anterior, num acampamento ou chalé, ou a confirmação de uma reserva para a noite correspondente ao dia de passagem pelo portão de Giriyondo (PPF, 2015, p. 03).

Estas exigências do parque servem para reiterar seu compromisso com o turismo. Quanto às possibilidades de uso pela comunidade, este compromisso é relegado ao esquecimento, constitui apenas um discurso politico.

36 Disponivel em http://www.biofund.org.mz/biblioteca_virtual/parque-nacional-do-limpopo-folha-informativa/.

Segundo um senhor residente, os 20% do turismo não podem sair do bolso da comunidade. Este valor deve ser retirado das receitas do turismo no parque, como é estabelecido na Lei de Florestas (Sitoé, realizado em janeiro de 2020).

A verba do turismo vem caindo nos ultimos anos, devido às altas taxas cobradas pelo parque. Em outras fronteiras Moçambicanas a taxa é menor, cobrada por viatura, independente de quantas pessoas estejam dentro. Por conta dessa situação, muitos preferem não usar a fronteira do Giriyondo para acessar o parque e o país vizinho. Do mesmo modo, os moradores preferem percorer 400Km em busca de outros portões fronteiriços a ter que pagar as taxas cobradas pelo parque.

Durante a reunião, os moradores pediam ao parque para reduzir as taxas, de modo a tornar esse lugar atraente para os turistas e outros usuários. Contudo, a direção do parque defendia que não dependia direção dela reduzir as taxas, mas sim do conselho de Ministros.

4 O TURISMO NO PARQUE NACIONAL DO LIMPOPO: DA UTOPIA À