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3.3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.3.3 Impactos da MA no Modelo de Negócio

3.3.3.1 Painel de Especialistas

Esta subseção traz o processo de aplicação do método painel de especialistas (SILVEIRA et al., 2013, 2017), o qual teve a finalidade de atingir os seguintes objetivos: Categorizar os impactos da adoção da manufatura aditiva (MA) nos blocos de construção do modelo de negócio (MN) Canvas. Com a RSL foi possível identificar esses impactos e, a partir do painel de especialistas, será possível classificar nos pilares e blocos de construção do modelo de negócio Canvas. A Figura 3.9 mostra a relação entre os conceitos e os métodos de pesquisa utilizados para relacioná-los.

Figura 3.9 - Relação entre os conceitos e os métodos de pesquisa

Fonte: Proposta pela autora.

Para realizar esse esforço de sistematização, foi realizada anteriormente uma revisão sistemática da literatura (RSL) para derivar os impactos da adoção da MA nas empresas. No entanto, o conjunto original de impactos precisa ser categorizado e agrupado por meio de uma abordagem mais empírica, à luz de uma perspectiva acadêmica externa trazida por especialistas, para que possa ser considerada robusta o suficiente para funcionar como princípios orientadores geralmente aplicáveis.

Esta subseção mostra, assim, o processo de categorização e agrupamento dos impactos da adoção da MA nos blocos de construção do modelo de negócio (MN) Canvas, resultando em um conjunto de impactos cuidadosamente examinados. Para isso, utilizou-se o conceito de Modelo de Negócio Canvas como base, proposto por Osterwalder, Pigneur e Tucci (2005), em que considera-se quatro pilares e nove blocos de construção: produto – proposta de valor; interface do cliente - segmento dos clientes, canal de distribuição e relacionamento; gestão de infraestrutura - atividades-chave, recursos-chave e parceiros estratégicos; e aspectos financeiros - estrutura de custos e modelo de receita. O modelo de negócio engloba a visão baseada em recursos (resource

causalidade (PORTER, 2001). É consistente com a teoria RBV, em que a empresa é vista como um conjunto de recursos e capacidades (BARNEY; WRIGHT; KETCHEN, 2001).

Para alcançar robustez suficiente, a categorização e o agrupamento foram realizados através de um processo de entrevista estruturado aplicado a um grupo de especialistas acadêmicos em MN Canvas, inovação, MA e gestão de operações. O resultado é um modelo refinado que aborda os impactos da adoção da MA nos blocos de construção do MN Canvas de maneira que possa ser aplicável a diferentes situações.

O modelo refinado também tenta alcançar uma linguagem autoexplicativa e um equilíbrio adequado entre abrangência e especificidade em cada um dos impactos da adoção da MA, que são expressos no formato de expressões e abrangem todos os impactos identificados na RSL. Este trabalho pode ajudar pesquisadores, profissionais e organizações interessados em gerenciar a implementação, planejamento de operações e questões de gerenciamento de desempenho da MA. Pode ser útil não apenas para aqueles envolvidos com a implementação da tecnologia, mas, em um sentido amplo, para aqueles preocupados com a relação entre a MA e as operações diárias de uma empresa que está formatada em um modelo de negócio.

O desenho desta pesquisa incluiu a participação de especialistas para categorizar e agrupar os impactos da adoção da MA nos blocos de construção do MN Canvas, por meio de uma perspectiva empírica. Dois requisitos de pesquisa foram definidos para gerar um significado e conjunto de diretrizes: (i) uma seleção adequada de especialistas experientes; (ii) um procedimento sistemático para coletar, analisar e sintetizar os dados das entrevistas.

O estudo consistiu em uma rodada de refinamento com especialistas, todas conduzidas por um entrevistador/pesquisador, através de entrevistas individuais com oito especialistas. As entrevistas foram realizadas a partir de questionário estruturado, baseadas em uma estratégia de refinamento individual. Os especialistas participantes e um resumo dos seus tempos de experiência e áreas de atuação são apresentadas no Quadro 3.4.

Quadro 3.4 - Resumo do perfil dos especialistas participantes do estudo

Fonte: Dados da pesquisa.

A última etapa trabalhou como uma consolidação dos resultados obtidos nas etapas anteriores, e foi realizada através da realização de uma análise quantitativa simples, a fim de se chegar a um acordo sobre a versão final do modelo. Esta foi considerada uma abordagem adequada para consolidar a versão final dos impactos, visando o desenvolvimento de consenso. Também com o intuito de avaliar possíveis vieses dos entrevistados e evitá-los na versão final do modelo.

Dessa forma, adaptou-se o método utilizado por Silveira et al. (2013, 2017), a fim de estabelecer um procedimento sistemático para coletar, analisar e sintetizar os dados das entrevistas. Esta abordagem poderia ser resumida pela observância de quatro principais características: ponto de entrada, procedimentos, gerenciamento de projetos e participação. O ponto de entrada é caracterizado pela concordância dos especialistas em participar das entrevistas e pela contextualização da pesquisa em cada entrevista individualmente. O gerenciamento de projetos foi uma parte interna do esforço de pesquisa, no qual o pesquisador manteve um cronograma para fazer as entrevistas e as análises. O procedimento será explicado a seguir e está ilustrado na Figura 3.10. A participação pode ser considerada como o compromisso que cada especialista teve para responder a todas as perguntas de acordo com sua melhor capacidade. Sendo assim, a participação neste estudo se refere, então, às intervenções individuais.

Figura 3.10 – Fluxograma do processo de categorização e agrupamento dos impactos

Fonte: Adaptado de Silveira et al. (2013, 2017).

Primeiro, o planejamento geral do estudo envolveu a seleção de especialistas a serem convidados para o estudo. A seleção foi baseada principalmente na experiência dos especialistas, assim oito especialistas foram selecionados, sendo eles divididos entre as áreas de gestão de operações, inovação, MA e modelo de negócios. A sequência de entrevistas foi aleatória baseada na disponibilidade dos especialistas, que, ao mesmo tempo, foi particularmente importante devido ao processo de refinamento realizado. Realizou-se um cronograma geral relacionado com a disponibilidade dos convidados, dessa forma, foram necessárias quatro semanas para fazer todas as entrevistas separadamente com cada um deles.

O projeto dos procedimentos para a realização do estudo compreendeu o procedimento para realização das entrevistas e coleta de dados, bem como o procedimento para análise e síntese dos dados coletados. Nessa fase, foi elaborado o questionário de entrevista, os relatórios e todo o material de apoio. Após cada entrevista, o material de apoio foi atualizado de acordo com os refinamentos promovidos pelo entrevistado. A análise dos impactos da adoção da MA nos blocos de construção do MN Canvas foi o núcleo de todo o estudo. Primeiramente, foi explicado ao especialista a lógica subjacente da análise a ser realizada. Para cada impacto, o entrevistado foi solicitado a responder (sem resposta prévia), apenas pelas definições do Quadro 2.4,

qual dos blocos de construção do MN Canvas ele se encaixava. A resposta para essa pergunta iniciaria uma discussão que levaria ou não à categorização, já que foi incluído o item “outros”, caso o entrevistado não concordasse com o encaixe do impacto nos blocos. Assim, caso houvesse algum impacto não contemplado no MN, este deveria ser categorizado no campo “outros”. Além disso, cada impacto poderia ser categorizado em mais de um bloco do MN Canvas, conforme o raciocínio do entrevistado, e também poderiam ser dados pesos (1 – menor relação ou 2 – maior relação), caso fosse identificado uma relação maior em um bloco.

É importante ressaltar que, de forma incremental, todos os especialistas tiveram acesso à uma versão sem respostas iniciais, que foi importante para manter a integridade estrutural ao longo do processo. Dessa forma, a espinha dorsal do processo foi mantida ao longo das entrevistas. Para facilitar o desenvolvimento do procedimento de coleta e utilização dos dados, nas entrevistas foram usados cartolina e notas auto-adesivas removíveis para facilitar a visualização dos conceitos a serem trabalhados. Na cartolina, os blocos de construção do MN Canvas foram escritos e divididos conforme a Figura 2.2. Além disso, foi incluído um campo “Outros” para caso algum impacto não se encaixasse em nenhum bloco de construção, como explicado anteriormente. Cada impacto da adoção da MA identificado na literatura foi escrito em cada nota auto- adesiva, assim o especialista identificou o campo que cada impacto se encaixava melhor conforme a descrição do bloco de construção disponível no Quadro 2.4.

Caso o especialista indicasse mais de um bloco de construção para o mesmo impacto, todos eram registrados. Apenas alguns especialistas sugeriram um possível novo bloco (outros), não porque considerassem o modelo incompleto, mas como uma sugestão para enriquecer o modelo. Os resultados com os impactos e os respectivos blocos de construção estão apresentados no Apêndice C, verifica-se, por exemplo, que o especialista 1 indicou dois blocos de construção (recursos-chave - RC e atividades- chave - AC) para os impactos “Qualificação dos trabalhadores” e 29 “Quantidade de trabalhadores/trabalho”, e para o impacto “Risco do negócio” foi atribuído a categoria de “Outros”. Apenas os especialistas 2, 4 e 5 indicaram pesos para a categorização. Caso o especialista confirmasse a completude do modelo, a entrevista era finalizada.

Após cada entrevista, uma análise qualitativa do modelo com seus resultados foi realizada. Os dados coletados foram amplamente relatados em um documento padrão (cada entrevista resultou em um novo relatório no mesmo padrão), compreendendo informações coletadas nas três principais atividades do procedimento da entrevista. Em

relação à análise de impactos, o relatório incluiu: (i) a categorização e agrupamento dos impactos, conforme definido pelo especialista; (ii) informação sobre a análise e discussão realizada pelo especialista, ou seja, os critérios considerados para o refinamento; e (iii) uma reflexão crítica do pesquisador. Uma seção final do relatório foi uma reflexão crítica geral, bem como insights e reflexões sobre características estruturais e metodológicas. Este procedimento foi útil para aprofundar a análise qualitativa no estudo. Com o relatório da entrevista, uma avaliação qualitativa de cada uma pôde ser feita até a última entrevista ser realizada. Após, uma análise final foi feita com a participação de dois dos especialistas participantes.

Tendo decidido que o conjunto de refinamentos era conciso e suficientemente completo, o estudo poderia prosseguir para a segunda rodada. Foi feita, então, uma análise quantitativa simples para confirmar a versão final da categorização e agrupamento. No Quadro 3.5 estão resultados do painel de especialistas, assim apresenta um resumo dos impactos. Em alguns casos, a literatura apresenta direções diferentes (aumento ↑ ou redução ↓) em relação ao impacto. A posição das setas indica em quais pilares e blocos de construção do modelo de negócio Canvas os especialistas encaixaram impacto, por exemplo, o impacto “Apoio à manufatura enxuta” tem direção de aumento ↑, já que a adoção da MA aumenta o apoio à manufatura enxuta e pertence ao pilar Gestão de infraestrutura no bloco de construção Atividades-chave e ao pilar Aspectos financeiros no bloco de construção Estrutura de custos. A quantidade de estudos empíricos relacionados a cada impacto também é mostrada, baseada nos resultados da RSL. Assim, os impactos da adoção da MA que tiveram nenhuma, menos (*, de 1 a 9 artigos) ou mais (**, igual ou superior a 10 artigos) evidência empírica também são apresentados.

Quadro 3.5 - Impactos da adoção da MA identificados nos artigos

Impactos da adoção da MA

Pilares e Blocos de construção do modelo de negócio Canvas

Produto Gestão de infraestrutura Interface com o cliente Aspectos financeiros

PV PC AC RC SC CD RL EC FR

Apoio à manufatura enxuta ↑* ↑*

Capacidade de customização em massa

Ciclo de vida do produto ↓*

Colaboração com o fornecedor ↑*

Competitividade Complexidade da CS ↑ ↓* Complexidade da produção ↓** Confiabilidade da empresa ↑* ↑* ↓* ↓*

Controle da qualidade e Qualidade do produto ↑* ↑* ↓* ↓* Custos ↑** ↓** Democratização da produção ↑ ↑

Dependência com o fornecedor ↑*

Impactos da adoção da MA

Pilares e Blocos de construção do modelo de negócio Canvas

Produto Gestão de infraestrutura Interface com o cliente Aspectos financeiros

PV PC AC RC SC CD RL EC FR Descentralização da CS ↑* Digitalização do produto ↑* ↑* Flexibilidade da CS ↑* ↓* Flexibilidade da produção ↑* Fluxo de informação ↑* Eficiência da produção ↑** ↓* Eficiência de inventário ↑** ↑** ↓* ↓* Eficiência logística ↑* ↑* Impacto ambiental ↑ ↓**

Integração dos departamentos ↑*

Interação com o cliente/consumidor ↑*

Liberdade de design do produto ↑** ↑**

Peso do produto ↓*

Qualificação do trabalhador

↑* ↑*

Impactos da adoção da MA

Pilares e Blocos de construção do modelo de negócio Canvas

Produto Gestão de infraestrutura Interface com o cliente Aspectos financeiros

PV PC AC RC SC CD RL EC FR Quantidade trabalhadores/trabalho ↑* ↑* ↑* ↓* ↓* ↓* Responsividade ↑** ↓* Risco do negócio ↓* Saúde e segurança ↑* ↓* Servitização ↑* ↑* Tamanho da peça ↓* Terceirização ↓* Valor do produto/serviço ↑* Variedade do produto ↑** Vendas ↑* ↑*

Viabilidade de formatos complexos das peças

↑** Legenda:

↑ Aumenta o impacto da MA ↓ Reduz o impacto da MA

Sem asterisco - Sem evidência empírica * Menos evidência empírica

** Mais evidência empírica