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A paisagem na perspectiva socioambiental

Contudo, a abordagem da Geografia Socioambiental ainda está em formação, dependendo de métodos e procedimentos que a utilizem para seu melhor desenvolvimento. Sobre isso, Mendonça (2001) afirma que a corrente ainda não está com suas características definidas. Trata-se, portanto, de um novo pensamento, certamente desencadeador de mudanças, que para se consolidar necessita de diálogo, sobretudo, sem resistências, no intuito de aperfeiçoar e proporcionar projeções a ciência geográfica contemporânea no que tange a abordagem socioambiental que é relação sociedade/natureza.

atualmente, é acrescida de relações e conjunções de elementos naturais e tecnificados, socioeconômicos e culturais.

A mais simples das paisagens é ao mesmo tempo social e natural, subjetiva e objetiva, espacial e temporal, produção material e cultural, real e simbólica. A complexidade da paisagem é ao mesmo tempo morfológica (forma), constitucional (estrutura) e funcional.

Com efeito, a paisagem aparece cada vez mais como um produto social historizado que permite interpretar o espaço geográfico nos limites de um sistema de produção econômico e cultural. Sendo posta como mediadora entre a sociedade e a natureza, ou seja, uma interpretação social da natureza e, talvez, mais adiante, uma interpretação natural da sociedade (BERTRAND, 1982).

Assim, os estudos da paisagem não se restringem como outrora à mera descrição dos fenômenos que a constituem. Buscam-se relações entre a sociedade e a natureza que aí se encontram, situando-as em diferentes escalas espaciais e temporais, comparando-as, conferindo-lhes significados, compreendendo-as. Desse modo: “Estudar a paisagem é aprender a observar e a reconhecer os fenômenos que a definem e suas características; descrever, representar, comparar e construir explicações, mesmo que aproximadas e subjetivas, das relações que aí se encontram impressas e expressas”. (BRASIL, 2000, p. 116).

A paisagem conjuga o passado, o presente e aponta o futuro, em uma convivência de diferentes temporalidades que faz de cada uma delas única. Entendida como um produto social e histórico, a paisagem retrata as sociedades que a construíram e a constroem (BRASIL, 2000).

Paisagem é, portanto, visível e material, mas o processo de sua transformação revela conflitos socioambientais. Portanto, ela não é estática, está em constante transformação (SANTOS, 2002).

É fato que a paisagem é uma categoria muito utilizada pelos Geógrafos e, para alguns, até se constitui como objeto de estudo em que a observação empírica se torna ferramenta indispensável para o desenvolvimento da análise da mesma, pois esta se baseia, sobretudo, na observação. Nessa perspectiva podem-se considerar vários conceitos de paisagem de acordo com o seu observador e também de acordo com o seu interesse (MOREIRA, 2010).

Segundo Santos (2002), paisagem se constitui como um conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais; é formada por frações de ambas, seja quanto ao tamanho, volume, cor, utilidade, ou por qualquer outro critério. Para esse autor, a paisagem é sempre heterogênea.

A vida em sociedade supõe uma multiplicidade de funções e quanto maior o número destas, maior a diversidade de formas e de atores. Quanto mais complexa a vida social, tanto mais se distancia de um mundo natural e se dirige a um mundo artificial (SANTOS, 2002, p. 65).

Assim, paisagem alterada é um espaço produzido, no qual a natureza serve de suporte físico ou recurso, em que as diferentes formas de ocupação refletem o momento histórico, econômico, social, político e cultural. No caso do relevo seu modelado atual é o resultado concreto derivado da dinamicidade entre os processos físicos (morfoestruturais e morfoesculturais) e os agentes sociais atuantes, que ocorrem de modo contraditório e dialético a partir da análise integrada das relações processuais de uma escala de tempo geológica para a escala histórica ou humana (NUNES, 2002).

A paisagem seria, dessa forma, a ação da sociedade em um espaço escolhido por esta.

Ação que, ao longo de um período de tempo, atingiria outra paisagem social, cultural ou natural presente naquele espaço. Este (o espaço) estaria modificado e o resultado dessa alteração é visto nas paisagens. “A paisagem no seu todo é o registro das tensões, sucessos e fracassos da história de uma sociedade” (MOREIRA, 2010, p. 50). Nela se encontram as marcas da evolução histórica de um povo, fazendo, assim, do espaço, segundo Milton Santos, uma soma de tempos desiguais.

A paisagem é uma maneira de ver, uma maneira de compor e homogeneizar o mundo externo, ou seja, a paisagem está intimamente ligada ao olhar, às imagens que são subjetivas.

Sobre isso, Moreira explica que:

A imagem bem pode ser assim a externalização dessa sensibilidade interna longamente subjetivada pela própria história acumulativa das criações culturais do homem, que a lógica reflexa de estímulos externos ou revelada por uma substância metafísica emergindo do seu esconderijo oculto (MOREIRA, 2010, p. 48).

É por meio dessa categoria geográfica que o homem relê o mundo, relê porque a paisagem é movimento. É uma conversa que o homem estabelece com o mundo externo por meio de uma linguagem simbólica. Nessa conversa, ele percebe o mundo em constante construção, e a dialética das imagens passa como se fossem flashbacks (SCHIER, 2003).

Quando o homem toma contato com a paisagem ele retira dela seus significados e significantes através do seu olhar, das suas sensações. Esta paisagem vai impor ao homem um discurso que irá se fazer presente no seu cotidiano e ele (o homem) pode impor a ela (a paisagem) um novo discurso. “[...] o estudo da paisagem exige um enfoque do qual se pretende fazer uma

avaliação definindo o conjunto de elementos envolvidos, a escala a ser considerada e a temporalidade.” (SCHIER, 2003, p. 80).

Sauer analisa o significado da paisagem como uma forma da Terra na qual o processo de modelagem não é de modo algum imaginado como simplesmente físico. Ela pode ser, segundo o autor, definida como uma área composta por uma associação distinta de formas, ao mesmo tempo físicas e culturais. Toda paisagem tem uma individualidade, bem como uma relação com outras e isso também é verdadeiro com relação às formas que a compõem (SAUER, 1998).

Segundo Guimarães (1998), o estudo da paisagem envolve essencialmente sociedade/natureza, as comunidades humanas e seus ambientes, sejam eles naturais ou construídos. A autora afirma que a paisagem vivida tem como elementos chave a percepção, a experiência e a valoração das dimensões objetivas intrínsecas à vida.

A partir destas definições é que se verificam os conceitos associados à degradação, aos efeitos negativos decorrentes das ações humanas na natureza, mas, além deles, há também os fenômenos, processos naturais que alteram a paisagem.

De acordo com Bitar (1997), a degradação de uma área ocorre quando a vegetação nativa e a fauna são destruídas; a camada fértil do solo é perdida ou removida; e a qualidade e o regime de vazão do sistema hídrico são alterados. A degradação ambiental ocorre quando há perda de adaptação às características físicas, químicas e biológicas e é inviabilizado o desenvolvimento socioeconômico.

A exploração mineral inevitavelmente transforma, altera a paisagem, proporciona outro aspecto visual e sonoro, que pode comprometer às edificações próximas, para minerar é necessário que áreas sejam desmatadas, e que em outras controle o surgimento de erosões e relacionados à paisagem.

Em geral, a mineração provoca efeitos que podem ser denominados de externalidades.

Algumas dessas externalidades são alterações ambientais, conflitos de uso do solo, depreciação de imóveis circunvizinhos, geração de áreas degradadas e transtornos ao tráfego urbano. Estas externalidades geram conflitos com a comunidade, e normalmente têm origem quando ocorre a implantação do empreendimento, pois a mineradora não se informa sobre as expectativas, anseios e preocupações da comunidade que vive nas proximidades da mineração (BITAR, 1997).

Um aspecto preocupante que emerge deste contexto se relaciona a três de suas principais características: a escala de implicações ambientais, a transformação da paisagem e a preocupação

em apenas recompor o ambiente em conformidade com a legislação (SÁNCHEZ, 2008).

Considerando a escala de suas implicações, o resultado em relação às paisagens inclui aspectos de poluição, seja no processo exploratório das minas, na lavra ou fechamento. A recuperação ambiental e a recomposição da paisagem não implicam o retorno à sua configuração original.

Para tanto, é possível considerar, que a paisagem pode ser concebida como o local onde as pessoas vivem e se identificam, onde está seu patrimônio, sua identidade e suas histórias. Ao mesmo tempo a construção da paisagem é realizada a partir da relação histórica–dialética, em que ocorrem continuidades e descontinuidades no processo de estruturação do território, onde ocorre a interpenetração das dinâmicas da natureza e da sociedade elemento do qual a paisagem pode se constituir como mediadora.