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2.5 A PAISAGEM SONORA EM ESPAÇOS PÚBLICOS ABERTOS

2.5.1 A Paisagem Sonora em Parques Urbanos

Como já reportado, devido ao crescimento das grandes cidades e ao aumento do fluxo de automotores, ambos aliados a falta de planejamento de uso do solo e ineficiente fiscalização, o ruído urbano já integra a realidade dos parques públicos. Considerando que as atividades realizadas nestas áreas resultam na melhoria da qualidade de vida, pode-se questionar o ruído enquanto um fator ambiental negativo para a realização de atividades nestes espaços. A poluição sonora emitida pelo tráfego de veículos, cujo incômodo é o seu principal efeito, pode tornar-se uma barreira tanto para adesão quanto para permanência de praticantes de atividade física e outros frequentadores nesses espaços ao ar livre. Assim como pode prejudicar os efeitos de reparação - até mesmo imediatos - que o contato com estes ambientes acarretam a saúde mental e a sensação de bem estar.

Deste modo, é muito importante estudar o ambiente desses locais, na busca de um planejamento também adequado em relação às suas funções de lazer. Com o pretexto de aplicar soluções para a criação de ambientes atrativos e adequados, algumas pesquisas investigaram o ambiente de parques com base no modelo de estudos da “paisagem sonora” (GE; HOKAO, 2004; NILSSON; BERGLUND, 2006; PAYNE, 2008; IRVINE et al, 2009; SZEREMETA; ZANNIN, 2009).

No Japão, por exemplo, foram executadas diferentes análises na paisagem sonora do parque Saga Forest, através das quais foram identificados os componentes e as estruturas da paisagem sonora nos parques urbanos, bem como a avaliação sobre as preferências e as congruências de cada componente através de entrevistas com os visitantes. Os entrevistados avaliaram o ambiente sonoro em vários pontos do parque (por exemplo, área de beisebol, floresta e Jardim Japonês) sendo possível analisar a formação espacial da paisagem sonora, através do zoneamento acústico da área, assim como o esclarecimento das características sonoras de cada zona. Avaliou-se também a importante relação dos componentes da paisagem sonora em relação aos residentes externos (vizinhos do parque) (GE; HOKAO, 2004).

A pesquisa de Irvine et al (2009) sugeriu que as decisões para aumentar a biodiversidade em um parque melhora a qualidade da paisagem sonora, podendo contribuir para o acesso das pessoas a lugares tranquilos e naturais em áreas

urbanas e, consequentemente, gerar benefícios ambientais e psicológicos. Constataram, após estudarem três parques de regiões distintas de uma grande cidade do Reino Unido (um no centro e os demais na periferia), diferenças entre a paisagem sonora destas áreas, devido em parte as suas qualidades ecológicas associadas à localização urbana.

O espaço verde localizado no centro da cidade, por exemplo, foi percebido pelos usuários como o mais ruidoso entre os espaços, comprovando o também verificado nas medições acústicas. Neste parque central, as pessoas declararam ouvir muitos sons mecânicos (exemplo: tráfego rodoviário, construção civil) e nenhum som natural (água, pássaros), enquanto nos outros dois locais mais distantes da aglomeração urbana e assim com melhores condições ambientais, os sons naturais foram frequentemente ouvidos. Observou-se que os níveis sonoros e tipo de sons percebidos pelos usuários dos parques apresentaram associação com os níveis sonoros (LAeq) medidos, resultado similar aos encontrados nos estudos de

Yang e Kang (2005b), Nilsson e Berglund (2006) e Payne, 2008.

Na cidade de Curitiba (Brasil), Szeremeta e Zannin (2009) avaliaram o ambiente sonoro de quatro parques ladeados e/ou muito próximos de vias de intenso fluxo de veículos. Verificaram que todas estas áreas apresentavam médias de níveis de pressão sonora equivalente (entre 56 e 64 dB[A]) superiores ao permitido pela legislação do município para áreas verdes, mesmo em período considerado mais tranquilo (entre 14 e 17 horas) que foram realizadas as medições acústicas. Entretanto, a maioria dos 335 usuários entrevistados nos quatro ambientes julgou o “volume do som ambiente” como normal (71%) e que não incomoda (81%). Por outro lado, quando as fontes sonoras foram avaliadas separadamente, o ruído de tráfego do entorno, julgado pela maioria dos inquiridos como desagradável (84,2%), foi o segundo tipo de som mais identificado pelos mesmos (28,5%,) precedido pelo canto de pássaros (32,6%).

Os autores também enfatizaram a importância de sempre associar dados objetivos (parâmetros acústicos) com dados subjetivos (percepção sonora) para o melhor entendimento da relação da paisagem sonora de parques urbanos com os visitantes, de modo a obter conhecimento para otimizar o projeto acústico e assim tornar o ambiente mais atrativo para o uso da comunidade.

Na Suécia, de acordo as diretrizes estabelecidas no país, pelo menos 80% dos usuários de áreas verdes urbanas devem perceber o ambiente sonoro como de ‘’boa’’ qualidade (NILSSON; BERGLUND, 2006). Uma pesquisa realizada neste país, sobre o comparativo da paisagem sonora de parques urbanos com suburbanos, revelou que para garantir a boa qualidade da paisagem sonora de áreas verdes urbanas, os níveis sonoros (LAeq), considerando todas as fontes, não

devem exceder 50dB(A). Nos parques da cidade (LAeq=15 minutos) os níveis de

pressão sonora variaram de 49 a 60 dBA e dentre os seus usuários entrevistados 53 a 65% avaliaram a qualidade da paisagem sonora como “boa” ou “muito boa”, não atingindo a meta estipulada de 80%. Mas em todas as áreas verdes suburbanas avaliadas, as quais apresentaram LAeq de 42 a 50 dB(A), a meta proposta foi

alcançada, uma vez que a grande maioria dos visitantes (84% a 100%) julgou positivamente (“boa” ou “muito boa”) a qualidade do ambiente sonoro.

Pelos estudos analisados na literatura, percebe-se a importância da conservação mais efetiva destas áreas verdes, uma vez que o ineficiente planejamento do entorno corrobora o constante aumento do fluxo de veículos e, por consequência, a degradação do ambiente, seja pelo aumento do ruído ou emissão de gases tóxicos. Atribui-se assim um impacto negativo aos recursos naturais e também a outros elementos do espaço considerados positivos, que como os estudos revelaram, seja pela percepção visual ou auditiva, são essenciais para garantir a boa qualidade do ambiente e assim atrair as pessoas a usá-lo por meio da garantia de tranquilidade, bem estar (PAYNE, 2008) ou pelas condições ideais para realizarem suas atividades associadas à qualidade de vida.

Payne (2008) constatou que a boa qualidade da paisagem sonora em parques urbanos, sendo percebida de forma ativa pode ajudar a restaurar a “fadiga de atenção” e “capacidade de reflexão” do visitante - daquela pessoa, por exemplo, que esgotou suas capacidades cognitivas após um exaustivo dia de trabalho. A pesquisa também encontrou associações significativas das atividades desenvolvidas na área, frequência de utilização e alguns motivos para visitar o parque com o nível de reparação cognitiva (capacidade de atenção e reflexão). O que reforça que a experiência e percepção que se tem em um lugar é importante para a melhoria da qualidade de vida.

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