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Palco PIEF – Análise de um caso prático.

No documento Prática de Ensino Supervisionada (páginas 74-77)

Construtivismo no ensino

I.3. Breve história dos aspetos do Happening, Body Art, Performance, Vídeo-Instalação, Vídeo-Performance que

I.4.3. Palco PIEF – Análise de um caso prático.

A presente análise pretende focar a importância de novas formas de atuação no ensino, em concreto, com o recurso ao Teatro como ferramenta de intervenção no processo educativo do aluno. Esta análise faz todo o sentido, atendendo à temática da investigação, a educação pelo Teatro, e à forma como o projeto se implementou – Palco PIEF, no sentido de registar e avaliar projetos ímpares que se criam num contexto de correntes pedagógicas contemporâneas, onde a inserção do Teatro, em contexto escolar, se evidencia como uma mais-valia.

Tendo por base um projeto – Palco PIEF, implementado na Escola EB 2,3 do Teixoso13 em

2010, num contexto particular, uma turma PIEF14, foi desenvolvido um trabalho de formação

em teatro e cidadania, para jovens em risco de trabalho infantil, abandono escolar e/ou situações de exclusão social, sendo estes jovens provenientes de meios socioeconómicos desfavorecidos e com famílias disfuncionais, o que cria uma mistura explosiva que desemboca com frequência em formas mais ou menos graves de criminalidade juvenil. O projeto foi desenvolvido com o objetivo de, através da arte – o Teatro, a) desenvolver atividades extracurriculares como exercícios de coesão de grupo e apreensão de regras de convivência social; b) erradicar comportamentos de “guetização”; c) criar papéis sociais (role play) com a finalidade de interpretar comportamentos desajustados socialmente; d) fomentar a autoestima e o sentimento de pertença; e, e) demonstrar à comunidade envolvente a capacidade criativa e de inserção dos jovens envolvidos.

Foi levado a cabo pela ASTA, em conjunto com um grupo variado de parceiros (instituições locais e regionais do interior do país e outras instituições nacionais), e constituiu uma estratégia de educação para a cidadania, através das artes. A ação resultou do trabalho de

uma equipa, da qual se destaca a ASTA, o grupo de professores da Escola, além das instituições que se associaram ao projeto. Contudo, cabe destacar a relação entre a Companhia e os professores responsáveis da Turma, atendendo a que este projeto foi desenvolvido de forma interdisciplinar, correlacionando os aspetos a desenvolver na formação e criação do espetáculo, com as respetivas disciplinas que faziam parte do plano curricular da Turma. A ação constituiu-se em formação em várias áreas, e como resultado final da formação, a montagem de um espetáculo final – “Passagem_de_Nível”.

Foram lecionadas formações nos seguintes campos: exposições gerais e teóricas sobre Teatro; integração do indivíduo no grupo; jogos de confiança; relaxamento; concentração; aquecimento físico e emotivo; movimento expressivo e artístico; expressão cinética; respiração; técnicas de voz, projeção e dicção; corporalidade; presença e postura; criação de personagem; improvisação; criação de texto; contracena; intenções do olhar e corpo; sonoplastia e luminotécnica; entre outros…

O projeto implementou-se em 4 fases:

 1ª Fase – abril/junho: iniciou-se o projeto com conteúdos teóricos de “Texto Dramático” bem como noções de História do Teatro (disciplina de Português); visita guiada ao Teatro Cine da Covilhã (Teatro municipal da Covilhã); início da formação teatral; construção do texto;

 2ª Fase – setembro/outubro: continuação das formações; formação específica direcionada para o espetáculo final; desenvolvimento da imagem e pacote gráfico;  3ª Fase – outubro: dedicada a ensaios e montagem do espetáculo.

 4ª Fase – início a 22 de outubro: estreia e itinerância do espetáculo – “Passagem_de_Nível”, e foi dirigido a um público com características semelhantes às dos intervenientes, isto é, junto de outras turmas PIEF nacionais e respetivas comunidades a funcionar em vários pontos do País, além de outras apresentações, em contexto de festivais, tanto em Portugal como em Espanha.

Este projeto foi reconhecido e financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e, alvo de distinção pela Segurança Social (Coordenação Nacional do PIEC – Programa para a Integração e Cidadania), pela ESE de Castelo Branco, como exemplo de boas práticas educativas, pela MITEU- Mostra Internacional de Teatro Universitário de Ourense (foi atribuída uma menção honrosa) e pela CASES – Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (foi atribuída uma menção honrosa).

Face à caraterização resumida do projeto, compete neste momento passarmos para a análise do mesmo, pelo que o aspeto mais significativo é de destacar o facto de ser um projeto interdisciplinar, o qual foi extremamente bem acolhido pela turma PIEF (docentes e

comportamentos desviantes, formando alunos para a vida ativa em sociedade. Do ponto de vista pedagógico, os alunos adquiriram os conhecimentos programáticos das unidades didáticas que deram origem ao projeto, bem como de outras que estiveram diretamente envolvidas, de forma mais motivadora e estimulante que o habitual, tendo em conta que estes alunos não gostam do contexto escolar, nem sabem o que é estudar.

Do aspeto comportamental, registaram-se alguns problemas de comportamento ao longo do projeto, que diminuíram à medida que o mesmo foi avançando. Notou-se um aumento da concentração e da responsabilização por parte dos alunos no período de ensaios em comparação com o período de formação. A explicação tem a ver com o facto de estarem mais desinibidos (o vencer determinados medos), um maior domínio do corpo, um desenvolvimento na oralidade, bem como com o imediatismo dos objetivos, muito mais palpáveis e atingíveis durante os ensaios, que durante as formações, onde o resultado final já havia sido decidido com os mesmos.

De referir, que apesar do resultado final do projeto ter sido muito bom, houve alguma resistência por parte dos intervenientes no início do projeto. Contudo, essas resistências foram ultrapassadas, e pouco a pouco, foi extremamente interessante ver como os mesmos se iam envolvendo e ganhando outro tipo de interesses e aptidões, sem esquecer, a modificação a nível comportamental e do interesse pelo currículo letivo.

“O grupo foi paulatinamente ganhando consistência e responsabilidade individual, e posteriormente coletiva. Este sentimento de pertença a um grupo, com um objetivo comum, foi um dos maiores ganhos que estes jovens conseguiram e uma das maiores conquistas deste projeto, que nos permitiu trabalhar com estes jovens em sala de aula com um grau de cumplicidade muito maior e que, por via do respeito mútuo, eliminou praticamente atitudes de indiferença e indisciplina. As artes performativas trouxeram ainda a sensação de reconhecimento público e dos pares, não por via dos maus comportamentos, mas por serem capazes de demonstrar capacidade de fazer «algo bem». Convém ter em conta que estamos a falar de jovens que nem da família recebem estímulos positivos e, por isso, com uma autoestima muito baixa”15. (RUI ESPINHO, 2012).

Em relação à responsabilidade e cidadania, registou-se uma motivação crescente por parte de todos os participantes, que se traduziu na assunção das suas tarefas e responsabilidades de uma forma exemplar. Foi igualmente positiva a atitude assumida perante o público, perante a comunicação social, diante de espaços físicos específicos que exigem comportamentos específicos e de cidadania, sabendo reagir adequadamente com formalidade ou informalidade consoante a situação social e respeitando o/os interlocutores.

“…e olhar para cada um com maior tolerância, sensibilidade e respeito pelo espaço próprio de cada indivíduo, foram, também, atitudes ganhas. Observei, também, que as famílias dos alunos envolvidos, após começarem a ver o projeto a desenvolver-se, sentiram (alguns já tinham perdido) orgulho nos filhos e vontade em se envolverem, o que foi muito positivo.”16 (Maria do Carmo Teixeira, 2012).

Em termos de motivação foi inegável a importância deste projeto na promoção da autoestima destes jovens que sempre foram apontados por comportamentos desviantes ou inadequados. O Palco PIEF deu-lhes uma oportunidade de se fazerem notar pela positiva, por terem conseguido executar um trabalho artístico com elevado grau de profissionalismo e de receberem elogios pelo seu trabalho por parte de quem assistiu.

“… os quais na sua maioria não tinha autoestima, eram marginalizados, não sabiam o que era um afeto, tinham medo de demonstrar sentimentos, sistematicamente na defesa, para os quais a escola não “lhes dava nada” e que através de um projeto destes, conseguiu-se que eles se

recuperassem”17. (RUI PIRES, 2012).

Compete a nós, não só professores mas todo o ser humano, olhar para a educação e repensá- la. Não podemos separá-la da sociedade, pois a mesma faz parte da própria sociedade, e atendendo a isso, todas as ações desenvolvidas num contexto escolar, irão repercutir-se na vida ativa do aluo na sociedade em que se insere e, vice-versa, uma vez que a escola é também um espelho da sociedade “Não há educação fora das sociedades humanas e não há homem no vazio.” (FREIRE, 2008).

Neste sentido, o projeto Palco PIEF18 é um exemplo claro disso e uma demonstração prática

de como o ensino deveria ter como currículo obrigatório a disciplina de Teatro, desde o 1º Ciclo. É inegável o que essa área artística pode aportar aos alunos, a forma como pode contribuir para: o melhoramento da aprendizagem, de interagir com a comunidade local e inclusive com a sociedade. É fundamental a promoção do diálogo, como nos diz Paulo Freire, precursor das novas correntes pedagógicas contemporâneas: “O diálogo deve ser mediador. Deve ser horizontal, onde ninguém impõe as suas ideias, mas todos contribuem para a resolução da situação proposta”.

No documento Prática de Ensino Supervisionada (páginas 74-77)