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Panorama da formação arquivística no Brasil: elementos históricos

No Brasil, na década de 1970, despontam no cenário brasileiro os cursos de formação em Arquivologia e, na opinião de alguns especialistas, o momento era propício à criação dos cursos de Arquivologia40. No entanto, Jardim (1995, p. 65) discorda desse favoritismo e acredita, inclusive, que foi um posicionamento precipitado em virtude da fragilidade do desenvolvimento cognitivo da época em matéria de arquivo. Esse fato, na percepção do autor, pode ter ocasionado, inclusive, os problemas de “ensino e pesquisa em Arquivologia nas universidades brasileiras” (JARDIM, 1995, p. 61).

No entanto, originalmente a formação dos arquivistas não teve vínculo universitário. “Os arquivistas eram formados pelo Curso Permanente de Arquivos (CPA), ministrado no Arquivo Nacional, desde 1960. O CPA era um curso de nível superior, reconhecido pelo então Ministério da Educação e Cultura (MEC) e, teve, inicialmente, o intuito de formar funcionários para suprir as necessidades da própria instituição” (OLIVEIRA, 2010, p. 38).

A profissão de arquivista não foi reconhecida imediatamente e os primeiros cursos foram fortemente influenciados pela tradição europeia, ou seja, estavam voltados para os arquivos permanentes. Mas, na atualidade “[…] as funções dos arquivos se expandiram, com as atuações mais dinâmicas e proativas”41 (SOUZA, 2010, p. 111, tradução nossa).

40 Ver maiores detalhes dessa perspectiva nacional em Marques (2007) e Souza (2010).

No Brasil, a profissão surge devido à carência de qualificação dos funcionários do Arquivo Nacional, que forçou a criação de um curso técnico, o qual contou com a participação do eminente Prof. Boullier de Branche, diretor dos Arquivos de La Sarthe, da França (MARQUES; RODRIGUES, 2010, p. 6).

[...] os cursos do AN começam a funcionar em abril de 1959, com o

Curso de Preparação do Pessoal Auxiliar de Arquivo, o qual tem uma duração de quatro meses e volta-se para o pessoal das repartições públicas dos institutos educacionais da época. Em setembro do mesmo ano, já com a presença do professor francês Henri Boullier de Branche, acontece o Curso de Aperfeiçoamento de Arquivo, “destinado não só aos servidores do Arquivo Nacional, como aos que terminaram o curso anterior e a todos os servidores lotados em setores de Documentação”. Aproveitando a presença desse professor, o AN ainda realiza dois cursos: um de treinamento intensivo, no primeiro semestre de 1960 e outro, no segundo semestre daquele mesmo ano, nos moldes do primeiro curso de 1959.

Com o passar dos anos, como resultado de muitos esforços e do amadurecimento da comunidade, a ideia de criação de um curso superior na área foi finalmente consolidada. Maia (2010, p. 16-17) relata que foi a partir do I Congresso Brasileiro de Arquivologia, realizado em 1972 que

Novas vozes se ergueram em prol da concretização do sonho de implantação de cursos de nível superior e técnico para o profissional de arquivo. Dentre os ferrenhos defensores, podemos citar o Professor José Pedro Pinto Esposel, Presidente da Associação dos Arquivistas Brasileiros, nas palavras proferidas na sessão solene de abertura do Congresso, realizada nas dependências do plenário do Palácio Tiradentes, em 15 de outubro e Raul Lima, Diretor do Arquivo Nacional, no mesmo evento.

Destaque há que se dar para a Professora Astréa de Moraes e Castro, com a apresentação de seu trabalho na segunda sessão, realizada em 17 de outubro, no Palácio Tiradentes, sob o título “A Formação e a Profissão do Arquivista no Brasil”, quando faz considerações sobre sua experiência em países europeus e apresenta projeto que ofereceu ao Conselho Federal de Educação, propondo a criação do Curso Superior de Arquivos. Sugere o “curriculum” para o referido curso e os respectivos programas, fatos e procedimentos ocorridos e adotados em outros países e ressaltando os conhecimentos que o arquivista deve possuir tendo, por fim, anexado o parecer do Relator do projeto, Professor Vicente Sobriño Porto, na Câmara do Ensino Superior, aprovado sob o nº. 212/72, de 07 de março de 1972.

A implantação e a consolidação dos cursos de nível superior no país, contou com o apoio do Arquivo Nacional, da Associação de Arquivistas Brasileiros e das Universidades, de modo geral. O primeiro curso superior no Brasil foi criado em 1977, no estado do Rio de Janeiro, fruto de um longo processo descrito por Maia (2010)

em detalhes, que culminou na autorização do Conselho Federal de Educação para seu funcionamento, em 1972, e posteriormente, na elaboração de um currículo mínimo, em 1974. Posteriormente, o currículo mínimo foi abolido e foram estabelecidas as diretrizes curriculares básicas por meio da Resolução CNE/CES 20, em 13 de março de 2002 (OLIVEIRA, 2010).

Nestes mais de 30 anos foram abertos 16 (dezesseis) cursos regulares de formação de arquivistas em nível de graduação, sendo que a maioria surgiu a partir da década de 1990, e outros, foram criados ainda na década de 1970 – os da Universidade do Rio de Janeiro – UNIRIO (1977), que fora criado pelo Arquivo Nacional e em suas dependências funcionou até o ano de 1979 quando então, passou a integrar essa Universidade, o da Universidade Federal de Santa Maria (1977) e o da Universidade Federal Fluminense (1978).

Muitas são as conquistas alcançadas no campo do ensino, o panorama nacional e internacional se caracteriza pelas discussões no campo teórico, em busca de conhecimento, que é a base essencial na formação profissional. A Arquivística brasileira vem se fortalecendo a cada dia, fruto do investimento de muitos profissionais que acreditaram na relevância da área. A trajetória desse campo do saber foi contada na obra de Castro (2008), uma das pessoas que muito contribuiu com a consolidação da arquivística no Brasil.

Grande parte da literatura arquivística nacional apresenta estudos que retratam a trajetória dos cursos no Brasil, bem como a necessidade de harmonização dos conteúdos programáticos da arquivística com os demais cursos da Ciência da Informação e, mais recentemente, começam a surgir reflexões a respeito do impacto do mercado de trabalho sob a formação do arquivista (SOUZA, 2010).

Cabe ressaltar, no entanto, que mesmo com a criação de vários cursos de nível superior, a demanda não chega a ser plenamente atendida, ou seja, não é possível oferecer tudo aquilo que o profissional necessitaria saber para fazer frente às exigências da sociedade contemporânea. Com relação às habilidades e o papel dos arquivistas como uma categoria inserida no universo dos profissionais da informação, Oliveira (2010, p. 46) apresenta em seu estudo um ranking que demonstra uma “combinação de conhecimentos técnicos multidisciplinares e habilidades pessoais” que dificilmente serão obtidos apenas cursando a graduação.

Não se trata apenas de quantidade de profissionais colocados no mercado de trabalho. A questão fundamental é discutir, principalmente, a qualidade do ensino

oferecido e, em relação a este aspecto, temos ainda algumas dificuldades. Em relação a essa questão gostaríamos de fazer uma análise parcial e, para tanto, seguimos os parâmetros delineados por Couture, Martineau, Ducharme (1999), especialmente, no que diz respeito aos elementos de organização e pedagógicos. Partimos do princípio que as dificuldades relatadas pelos autores acerca da formação do arquivista, no Brasil, não são muito diferentes das enfrentadas por outros países. Os problemas se repetem, vão desde a falta de recursos humanos especializados atuando na formação desse profissional, até a carência de um corpus teórico para sustentar o ensino e o desenvolvimento da disciplina arquivística com excelência.

No trabalho de doutorado de Souza (2010), foi elaborado um panorama do exercício profissional do arquivista no Brasil, que recebe uma formação diferenciada da europeia e da norte-americana. Nesse estudo foi observado que, no Brasil essa formação é caracterizada “por preparar um profissional dotado de conhecimentos teóricos e habilidades para atuar nas três fases do arquivo”42 (SOUZA, 2010, p. 113, tradução nossa). A autora fez um levantamento bastante minucioso acerca da formação dos arquivistas e para subsidiar nossa análise, pretendemos apresentar de forma resumida o que, a nosso ver, é essencial para entendermos melhor como os arquivistas estão sendo preparados para o mercado de trabalho.

Apresentaremos, na próxima seção, informações sobre as características dos cursos no Brasil, enfatizando elementos que dizem respeito ao sistema de ensino, tais como: o perfil do quadro docente, o conjunto de disciplinas que integram a proposta pedagógica, sobretudo aquelas que abordam os conceitos elementares para o desenvolvimento profissional de qualidade43.

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