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3 As Marmorarias da Atualidade: Contexto Geral

3.1 Panorama do setor de rochas ornamentais no Brasil

O comércio de rochas ornamentais e para revestimento insere-se, em grande parte, no mercado da construção civil. Em escala mundial, os negócios da indústria de pedras naturais movimentam próximo de US$ 50 bilhões anuais, consideradas as transações nos mercados internos dos países produtores, as vendas internacionais e o comércio de máquinas e equipamentos. O Brasil alinha-se entre os grandes produtores mundiais de granitos e ardósias, tendo ocupado, em 2002, o 6o lugar em volume físico produzido de blocos, o qual correspondeu a 4,1% da produção global. Foi também o 6o exportador, responsável por 5,6% do volume físico das exportações mundiais e, destas, o 2o como exportador de blocos de granitos. O País foi também o 2o em vendas de ardósias, o 7o exportador de chapas de granitos e mármores e o 21o como exportador de mármores brutos (MELLO, 2004).

Segundo o geólogo Chiodi Filho (2004), a indústria brasileira de rochas ornamentais possui, aproximadamente, 600 variedades comerciais de rochas ornamentais, derivadas de 1.500 frentes ativas de lavra. O mesmo autor aponta, para o ano de 2003, a existência de 11.500 empresas do setorde rochas atuantes no Brasil, responsáveis pela geraçãode 120.000

empregos diretos e por um parque de beneficiamento com capacidade de serragem e

polimento de 40-50 milhões metros quadrados por ano, para chapas demármores, granitos e

outras rochas extraídas comoblocos. As transações comerciais do setor nos mercadosinterno

e externo, incluindo-se negócios com máquinas, equipamentos e insumos, movimentaram

cerca deUS$ 2,5 bilhões em 2003 (CHIODI FILHO, 2004).

A produção brasileira de rochas ornamentais foi estimada em 6,9 milhões de toneladas, no ano de 2005. Desta produção, aproximadamente 60% das rochas foram consumidas no mercado interno, enquanto 40% foram destinadas ao mercado externo. Também em valores aproximados, transformando-se a produção para o mercado interno em metros quadrados equivalentes de chapas, com 2 cm de espessura, o consumo aparente

Considerando-se, no entanto, que os produtos convencionais de ardósias, quartzitos foliados e outras rochas de processamento simples têm no geral espessura inferior a 2 cm, pode-se dizer que o consumo interno real somou cerca de 65 milhões de m2 em 2005. Do ponto de vista dos principais usos e aplicações, cerca de 80% dos produtos comerciais referem-se a chapas para revestimentos, incluindo-se pavimentos (pisos) externos e internos, superfícies verticais externas (fachadas) e internas (paredes), degraus (base e espelho) e tampos em geral (pias, mesas, balcões, etc.). Os demais 20% envolvem peças estruturais (por exemplo, colunas), arte funerária (lápides e adornos) e trabalhos especiais (esculturas e peças usinadas) (CHIODI FILHO, 2006).

Alencar (1996) identifica três etapas do ciclo produtivo das rochas ornamentais:

extração, beneficiamento primário e beneficiamento final. A extração consiste na atividade de

remoção do material dos maciços rochosos ou matacões, resultando em blocos de arestas retangulares. Nas palavras do autor:

A Extração consiste em uma atividade cujo objetivo é a remoção de material útil ou economicamente aproveitável dos maciços rochosos ou dos matacões. O produto da etapa de extração é o bloco de arestas aproximadamente retangulares, de dimensões variadas, que procuram obedecer ou aproximar-se tanto quanto possível daquelas que proporcionem o melhor aproveitamento do material e a maior utilização da capacidade produtiva dos equipamentos nas etapas de beneficiamento (Alencar, 1996, p.12).

O Estado de São Paulo possui reduzido desempenho na lavra de rochas ornamentais, sendo que a produção minerária de blocos paulista equivale a menos de 1% do volume físico da produção nacional, envolvendo a extração de blocos em dez pedreiras de muito pequeno a pequeno porte (MELLO, 2004). Os principais Estados brasileiros produtores encontram-se na Região Sudeste, destacando-se o Espírito Santo (3 milhões de toneladas/ano) e Minas Gerais (1,9 milhão de toneladas/ano). A produção do Espírito Santo é centrada em granitos (80%) e

mármores (20%), enquanto a de Minas Gerais abrange maior variedade de rochas (granitos, ardósias, quartzitos maciços e foliados, pedra-sabão, serpentinitos, basaltos, mármores, calcários laminados, itabiritos, entre outros). Na região Nordeste, a Bahia destaca-se não somente pela produção de granitos e metaconglomerados, mas principalmente de quartzitos maciços e travertinos (Bege Bahia) (CHIODI FILHO, 2006).

A segunda etapa do ciclo produtivo é, para Alencar (1996), o beneficiamento

primário, também denominado serragem ou desdobramento. O beneficiamento primário

corresponde ao corte dos blocos em chapas, tiras ou espessores, sendo a primeira etapa do processo de industrialização da pedra. Segundo o autor:

O Beneficiamento Primário, também conhecido como serragem ou desdobramento, constitui-se do corte dos blocos e é a primeira etapa do processo de industrialização de rochas ornamentais. No ciclo produtivo, os blocos obtidos na etapa de extração são cortados em chapas, tiras ou espessores, com espessuras bastante próximas daquelas que terão os produtos finais (Alencar, 1996, p. 13).

O beneficiamento primário (representado pelas serrarias) está concentrado no Estado do Espírito Santo, que responde por 60-70% da capacidade brasileira de serragem e polimento de granitos, mármores e outras rochas extraídas em blocos. O beneficiamento de ardósias e quartzitos foliados (tipo pedra São Tomé) concentra-se no Estado de Minas Gerais, respectivamente junto aos Arranjos Produtivos Locais de Papagaio e São Thomé das Letras (CHIODI FILHO, 2006).

No Estado de São Paulo, a atividade de serragem de pedras naturais encontra-se no eixo Grande São Paulo – Bragança Paulista – São João da Boa Vista, na região centro-leste e nordeste do Estado, embora unidades de desdobramento de blocos estejam também instaladas em Atibaia, Jaboticabal, Araraquara, Leme, Jaú, Taquaritinga e Ribeirão Preto. O destino da produção das serrarias paulistas é o mercado consumidor regional e o de exportação,

destacando-se, nas vendas ao exterior, o comércio com os EUA, Japão, Canadá, países do Oriente Médio e países da América do Sul (MELLO, 2004).

A terceira principal etapa do circuito produtivo das rochas ornamentais recebe a denominação de beneficiamento final, fase em que as peças tomam forma, dimensões e aparência final, gerando uma grande diversidade de produtos, como peças para construção e ornamentação de túmulos e mausoléus. O beneficiamento final subdivide-se em três fases principais, pelas quais passam as chapas resultantes da etapa de beneficiamento primário: o polimento ou outro tipo de acabamento superficial, o corte e o acabamento final. Na etapa do beneficiamento final, a maior diversidade de produtos exige, conseqüentemente, maior variedade de máquinas, equipamentos, ferramentas e insumos para a execução das atividades. A maioria dos produtos, que são gerados neste terceiro e último elo da cadeia de produção da indústria de rochas ornamentais, destinam-se a quatro campos de aplicação comercial: arte funerária; arquitetura e construção (edificações públicas e privadas); construção e revestimento de elementos urbanos (praças, parques, jardins, calçadas, entre outros); arte e decoração (estátuas, móveis e pequenos objetos decorativos) (ALENCAR, 1996).

O maior parque de beneficiamento final é o de São Paulo (CHIODI FILHO, 2006), sendo que marmoraria é o termo usualmente adotado para designar as empresas que atuam na etapa de beneficiamento final do mármore e do granito, produzindo peças a partir de chapas brutas ou semi-elaboradas fornecidas por pedreiras e serrarias do Estado de São Paulo e de outros Estados da Federação. Se os outros dois elos (extração e serragem) da cadeia produtiva paulista de rochas ornamentais são marcados pelo desempenho inferior em comparação com outros Estados brasileiros (como Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia), o mesmo não acontece com o segmento de beneficiamento final. São Paulo responde por aproximadamente 65% do consumo nacional de rochas ornamentais. E, no mercado produtor paulista de rochas ornamentais, as marmorarias destacam-se pelo número de empreendimentos envolvidos

(aproximadamente 3000, correspondendo a mais de 40% do total dessas empresas no Brasil); pelos indicadores econômicos relativos a essa atividade (produção anual estimada em R$ 1.02 bilhões); e pelos empregos gerados (MELLO, 2004).

O destaque do segmento marmorista, no cenário paulista de produção de pedras naturais, justifica o detalhamento das informações apresentadas nos capítulos seguintes, as quais se somam aos esforços de outros autores para ampliação da literatura científica especializada sobre as características das marmorarias paulistas e da mão-de-obra empregada na produção. Conhecer as características da mão-de-obra – empregada pelas empresas que atuam no último elo da cadeia produtiva da rocha ornamental – é potencialmente importante para a organização adequada do trabalho, fornecendo elementos que contribuam para a criação de práticas eficientes de gestão do trabalho, voltadas para a realidade específica dos trabalhadores marmoristas brasileiros, com ênfase na melhoria das condições de trabalho desses trabalhadores.