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2. A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA NA DÉCADA DE 90, NO

2.3. A Vulnerabilidade Externa da Economia Brasileira

2.3.2 Panorama dos Indicadores Internos de Vulnerabilidade do Brasil

Esta seção tem como objetivo traçar um panorama geral sobre a evolução dos fundamentos macroeconômicos da economia brasileira na década de 90, especialmente em sua segunda metade, a partir dos indicadores adaptados por Santos (2004):

a) Indicadores de Sustentabilidade da Dívida Externa

Os indicadores de sustentabilidade da dívida externa indicam se a economia brasileira possui uma trajetória de dívida externa consistente com a capacidade de geração interna de divisas, a fim de amortizá-la no decorrer do tempo. Neste sentido, a figura 1 apresenta o saldo em conta corrente do balanço de pagamentos do Brasil para o período compreendido entre 1990-2000. -40.000 -30.000 -20.000 -10.000 0 10.000 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Figura 1: Saldo em Conta Corrente do Balanço de Pagamentos do Brasil (1990-

2000)

Fonte: Banco Central do Brasil. Em US$ Milhões

Observando-se a figura 1, nota-se que no período 1990-1993, a conta corrente apresentou-se relativamente equilibrada. No entanto, a partir da implementação do Plano Real em1994, iniciou-se uma trajetória crescente de déficit em conta corrente ocasionada

pela sobrevalorização real da moeda brasileira até atingir seu pico em 1997-1998, quando das crises asiática e russa, respectivamente.

A partir de então, a trajetória de queda na conta corrente é interrompida em função da grave recessão experimentada pela economia brasileira e começa a ter um comportamento de recuperação em janeiro/1999 por ocasião da desvalorização da taxa de câmbio.

A figura 2 mostra a trajetória das reservas internacionais do Brasil, no período compreendido entre 1990-2000. Percebe-se que desde o início da década, a economia brasileira vem atraindo muitas divisas, em função da alta liquidez internacional e da maior abertura econômica. No entanto, a partir do final de 1995 e ao longo da segunda metade daquela década, a economia brasileira experimentou uma reversão do influxo de capitais, através de uma fuga maciça de divisas, por ocasião da posição de vulnerabilidade externa em que se encontrava. 0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 70.000 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Figura 2: Reservas internacionais do Brasil (1990-2000)

A figura 3 revela a dívida externa bruta do Brasil, no período compreendido entre 1990-2000. Desde o início da década, a dívida externa brasileira vem aumentando sistematicamente. Porém o aumento da dívida externa na primeira metade da década é compensado pelo ingresso de capitais no mesmo período. Na segunda metade da década, no entanto, observa-se uma aceleração do aumento da dívida, pois neste período os capitais externos fogem do país.

0,00 50000,00 100000,00 150000,00 200000,00 250000,00 300000,00 19901991 199219931994 1995199619971998 19992000

Figura 3: Dívida Externa Bruta Anual do Brasil (1990-2000)

Fonte: Banco Central do Brasil. Em US$ Milhões.

Desta forma, percebe-se uma clara tendência de não sustentabilidade da dívida externa brasileira, traduzida pela deterioração dos indicadores expostos anteriormente. O crescente déficit em conta corrente revela a falta de dinamismo das exportações brasileiras, as quais representam a fonte primária de acumulação de divisas, a fim de fazer face aos serviços da dívida externa. Por outro lado, a fuga de capitais dificulta o financiamento da conta corrente, aumentado a dependência do ingresso de capitais externos no país,

sobretudo, os de curto prazo. e, ao mesmo tempo, diminui o nível de reservas internacionais do país, colocando em dúvida a paridade cambial. O resultado foi a aceleração da dívida externa na segunda metade da década de 90, além do aumento da vulnerabilidade externa da economia brasileira.

b) Indicadores de Sustentabilidade da Dívida Pública

Os indicadores de sustentabilidade da dívida pública indicam se a economia brasileira possui uma trajetória de dívida interna consistente com a capacidade de pagamento pelo governo.

A figura 4 mostra a trajetória da razão da dívida total do setor público/PIB para o período 1990-2000. A partir de 1994, o gráfico apresenta uma tendência de alta, explicada, por um lado, pelo pequeno crescimento do produto brasileiro pós-Real e, por outro, pela expansão fiscal do período. A partir de 1997 e 1998, a tendência crescente da dívida é ainda mais intensificada, principalmente por causa do aumento substancial da taxa de juros doméstica (onerando muito a dívida pública), em função das crises asiática e russa, respectivamente (Ver tabela 2).

Na figura 5, onde é apresentado o déficit público no período 1995-1998, observa-se que a partir de meados de 1996, o déficit público brasileiro aumentou tanto em função do aumento dos gastos governamentais, quanto em função da baixa arrecadação tributária do período por causa da forte recessão doméstica.

0 10 20 30 40 50 60 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Figura 4:Razão da Dívida Total do Setor Público/PIB (1990-2000)

Fonte: Banco Central do Brasil. Em % PIB

Figura 5: Déficit Público do Brasil (1995-1998)

-80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 1995 1996 1997 1998

Fonte: Banco Central do Brasil. (TREUHERZ, 2000)

Os indicadores de sustentabilidade da dívida pública revelam uma incapacidade de compatibilizar os excessivos gastos governamentais com a insuficiente arrecadação tributária. Desta forma, a exemplo da não sustentabilidade da dívida externa, a dívida pública brasileira também se revelou insustentável, influenciando adversamente as expectativas dos investidores quanto à capacidade do governo em honrar seus compromissos.

c) Indicadores de Dinamismo e Estabilidade Econômica:

Os indicadores de dinamismo e estabilidade revelam a performance da economia, em termos de crescimento e estabilidade econômica.

A figura 6 mostra a trajetória da inflação anual brasileira compreendida entre 1995 e 1998. O gráfico revela uma persistente queda da taxa de inflação, o que demonstra o êxito do plano real, como plano de estabilização econômica.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 1995 1996 1997 1998

Figura 6:Taxa de Inflação Anual no Brasil (1995-1998)

Fonte: IPEA. Em % , medida pelo IGP-DI

A figura 7 apresenta a taxa de crescimento real do PIB Brasileiro no período 1990- 2000, o que reforça a existência de um baixo crescimento econômico, particularmente no período pós-real.

De acordo com esses três conjuntos de indicadores da economia brasileira na segunda metade da década de 90, percebe-se que a vulnerabilidade externa do Brasil aumentou consideravelmente em função da deterioração dos fundamentos macroeconômicos.

Figura 7:Taxa Real de Crescimento Anual do PIB Brasileiro (1990-2000) 0 20 40 60 80 100 120 140 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 1990 = 100 Fonte: IPEA

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