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3 O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA LEITORA:

3.4 PANORAMA DOS RESULTADOS DA COMPETÊNCIA LEITORA DOS

Com relação à avaliação da competência leitora no estado do Ceará, os processos avaliativos são vinculados às ações do Programa Alfabetização na Idade Certa (PAIC)10.

Há dois processos distintos em natureza e finalidades que necessitam ser mencionados. Um deles é realizado em larga escala por meio do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (SPAECE), cuja vertente que interessa é a avaliação denominada SPAECE-Alfa, a qual verifica o nível de alfabetização das crianças ao final do 2º ano do Ensino Fundamental, por meio da aplicação de um teste que avalia as habilidades em leitura. O procedimento de aplicação é totalmente externo11 e os resultados são vinculados a uma política de premiação: a Escola Nota Dez12. O outro processo avaliativo é um conjunto de ações orientado pela Seduc e pela SME. Esses processos serão detalhados mais à frente.

10 O PAIC, instituído pela Lei estadual nº 14.026/2007 (CEARÁ, 2007), é um programa de cooperação entre

Governo do Estado e municípios cearenses com a finalidade de apoiar os municípios para alfabetizar os alunos da rede pública de ensino até o final do 2º ano do Ensino Fundamental.

11 A aplicação e a sistematização dos resultados do SPAECE-Alfa são realizadas pelo Centro de Políticas

Públicas e Avaliação da Educação (CAEd), vinculado à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

12 O prêmio Escola Nota Dez foi instituído pela Lei nº 14.371/2009 (CEARÁ, 2009). Visa à premiação das

escolas públicas que tenham obtido os melhores resultados de alfabetização, expressos pelo Índice de Desempenho Escolar - Alfabetização (IDE-Alfa).

A elaboração dos testes do SPAECE-Alfa é orientada por uma matriz de referência composta por elementos denominados descritores, os quais descrevem as habilidades ou direitos de aprendizagem dos alunos do 2º ano. No componente curricular Língua Portuguesa, a matriz divide-se em dois grandes eixos, quais sejam: apropriação do sistema de escrita e leitura. Esses, por sua vez, subdividem-se em tópicos e os já mencionados descritores.

No eixo referente à leitura (Eixo 2: Leitura - habilidades relacionadas à leitura de palavras, de frases e de textos) são avaliados descritores, conforme explicitado no quadro 5.

Quadro 5 ─ Descritores avaliados no eixo 2 - Leitura

Tópicos Descritores

2.1 - Quanto à leitura de palavras.

D10 - Ler palavras no padrão canônico (consoante/vogal).

D11 - Ler palavras no padrão não canônico (vogal, consoante/vogal).

2.2 - Quanto à leitura de frases. D12 - Ler frases.

2.3 - Quanto à leitura de textos:

2.3.1 - Quanto à

informação do texto verbal e/ou não verbal

D13 - Localizar informação explícita em textos.

D14 - Inferir informação em texto verbal. D16 - Interpretar textos não verbais e textos que articulam elementos verbais e não verbais. D17 - Reconhecer o tema ou assunto de um texto ouvido.

D18 - Reconhecer o tema ou assunto de um texto lido.

2.3.2 - Quanto aos gêneros associados às sequências discursivas básicas.

D22 - Identificar o propósito comunicativo em diferentes gêneros.

Fonte: Ceará (2010, p. 18-19).

O teste tem aplicação censitária a todas as crianças matriculadas no 2º ano do Ensino Fundamental das escolas públicas dos 184 municípios cearenses. Os resultados são analisados por meio da Teoria de Resposta ao Item (TRI)13 e são sistematizados em relatórios que trazem o panorama do desempenho das crianças avaliadas. Dos resultados é gerado o

13 Essa metodologia tem o objetivo de alcançar uma avaliação mais próxima do conhecimento real do avaliado,

adotando uma abordagem em que se investigam individualmente as propriedades de cada item e possibilita construir vários exames constituídos por alguns itens exclusivos e alguns itens compartilhados, e assegurar que o nível de dificuldade de todos os exames seja aproximadamente igual.

Índice de Desempenho Escolar - Alfabetização (IDE-Alfa) para cada escola, o que constitui dado importante para o repasse do Prêmio Escola Nota Dez. Cada município do estado do Ceará tem acesso aos resultados sobre o desempenho dos alunos por escola.

A aprendizagem é expressa nos relatórios tomando como base os padrões de desempenho estabelecidos pelo programa. Conforme o Boletim Pedagógico de Língua Portuguesa do 2º ano do Ensino Fundamental de 2014 (CEARÁ, 2014, p. 31), “Os Padrões de Desempenho são categorias definidas a partir de cortes numéricos que agrupam os níveis da Escala de Proficiência14”, com base nas metas educacionais estabelecidas pelo SPAECE-Alfa. O corte numérico origina cinco padrões, os quais apresentam o perfil dos alunos e são identificados por nomes e cores segundo a descrição:

a) não alfabetizado – vermelho – correspondendo até 75 pontos; b) alfabetização incompleta – Laranja – de 75 a 100 pontos; c) intermediário – Amarelo – de 100 a 125 pontos;

d) suficiente – Verde Claro – de 125 a 150 pontos e e) desejável – Verde escuro – acima de 150 pontos.

No quadro a seguir, constam os resultados de Fortaleza referentes aos anos de 2013 e 2014.

Quadro 6 ─ Resultados do SPAECE-Alfa de Fortaleza, 2013 e 2014, por Distrito Distrito de Fortaleza Edição Proficiência Média Indicação do Padrão de Desempenho % de alunos no Não alfabetizado Alfabetização

incompleta Intermediário Suficiente Desejável

I 2013 138,3 Suficiente 2,4 8,7 23,4 30,0 35,6 I 2014 150,9 Desejável 1,4 7,1 16,5 25,3 49,8 II 2013 136,4 Suficiente 2,5 11,0 25,2 27,8 33,5 II 2014 148,9 Suficiente 1,2 7,0 17,4 28,5 45,9 III 2013 137,2 Suficiente 2,3 10,6 23,6 29,8 33,7 III 2014 145,7 Suficiente 1,0 9,8 18,4 27,0 43,8 IV 2013 141,1 Suficiente 2,2 9,1 22,0 27,9 38,7 IV 2014 148,3 Suficiente 1,2 7,4 19,7 24,6 47,1 V 2013 132,7 Suficiente 3,9 12,1 25,5 28,3 30,1 V 2014 142,8 Suficiente 1,3 10,2 21,8 26,1 40,5 VI 2013 134,5 Suficiente 3,4 11,4 26,3 27,8 31,0 VI 2014 148,1 Suficiente 0,9 8,7 17,1 27,6 45,7 Fonte: Seduc ([2015], p. 1).

14 A Escala é um importante instrumento pedagógico para a interpretação dos resultados. As habilidades

avaliadas são ordenadas de acordo com a complexidade em uma escala nacional, que permite verificar o desenvolvimento dos alunos.

O quadro apresenta um panorama dos resultados expressos na escala de proficiência e aponta o crescimento no percentual de alunos no nível desejável, ao se comparar os resultados de 2013 aos de 2014. Consequentemente, revela a redução da quantidade de alunos não alfabetizados e com alfabetização incompleta. O que interessa é saber a qualidade desse aumento percentual e quais as práticas pedagógicas que contribuem para a efetivação desses resultados. Se esses resultados se sustentam de forma consistente e se permanecem, possibilitando a progressão escolar dos estudantes.

Por orientação da Seduc há também a aplicação da Provinha PAIC, que se constitui em uma avaliação de caráter diagnóstico aplicada às crianças do 2º ano, ao final do primeiro semestre letivo. Até 2014, a sistematização dos resultados dessa avaliação era de responsabilidade de uma equipe de pesquisadores da Linha de Pesquisa do Núcleo de Avaliação Educacional (NAVE), da Faculdade de Educação, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Os dados eram analisados por meio da Teoria Clássica dos Testes (TCT), e seus resultados saíam com maior celeridade a tempo de servirem para o planejamento das intervenções ainda durante o mesmo ano letivo da aplicação.

Como exemplo de um dado gerado pelo relatório, o gráfico a seguir mostra o percentual médio de acerto nos descritores de leitura no ano de 2014, do estado do Ceará.

Gráfico 1 ─ Percentual médio de acerto nos descritores de Leitura, 2014

Fonte: Relatório de resultado da Provinha PAIC - Acervo NAVE (2014, p. 5).

Ao observar o gráfico 1, é possível inferir onde se encontra a maior deficiência de leitura dos alunos. Localiza-se nos descritores 13 (Localizar informação explícita em textos), 14 (Inferir informação em texto verbal), 16 (Interpretar textos não verbais e textos que

articulam elementos verbais e não verbais), 17 (Reconhecer o tema ou assunto de um texto ouvido) e 18 (Reconhecer o tema ou assunto de um texto lido), os quais avaliam exatamente a compreensão e a interpretação, pontos essenciais da competência leitora. Os dados levam a crer que grande parte dos alunos avaliados ainda não alcançou o que se espera para a etapa de estudos na qual se encontram.

Esse resultado gera uma exigência não oficial para as turmas anteriores ao 2º ano do Ensino Fundamental ─ 1º ano e Infantil V ─, para desenvolver com as crianças atividades que venham a dotá-las de conhecimentos e habilidades, a fim de melhorar os índices no 2º ano. É fato que muitas habilidades são desenvolvidas nessas turmas, no entanto, ambas, em virtude das idades e peculiaridades das crianças, têm metodologias de trabalho diferenciadas, o que acarreta críticas ao trabalho dos professores por incompreensão das especificidades pedagógicas e da pressão sofrida pela cultura dos resultados.

Não por acaso observa-se nas turmas de 1º ano um trabalho com a leitura muito mais voltado ao ensinar a ler do que ao ler por prazer. Preocupados com a cobrança da aprendizagem da leitura, os professores, muitas vezes, recorrem a estratégias que priorizam a decodificação em detrimento da leitura no sentido interacional, defendido pelas teorias contemporâneas. Dessa forma, o momento da leitura deleite é desmerecido, causando, assim, a perda da oportunidade de estimular as crianças à aprendizagem.

Esse capítulo fez um apanhado sobre o desenvolvimento da competência leitora, abordando, sucintamente, as concepções, práticas e a avaliação, a fim de construir um quadro de compreensão inicial acerca do contexto educacional da investigação a que se propõe a pesquisadora. De posse dessas informações, foi possível adentrar no campo de pesquisa ciente do que se podia encontrar, confrontar as hipóteses levantadas e confirmá-las ou refutá-las no percurso investigado. O próximo ponto desse trabalho apresenta o percurso metodológico delineado, o qual possibilitou a consecução da pesquisa realizada.