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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.5. ANGOLA

2.5.1. Panorama econômico e produtivo

Oficialmente, a República de Angola é um país situado na região ocidental da África Austral, com uma extensão territorial de 1.246.700 km² (23.º), uma dimensão de fronteira marítima de 1.650 km, e de fronteira terrestre de 4.837 km, estando no Norte com a República Democrática do Congo e a República do Congo, no Leste a Zâmbia, a Sul Namíbia, e Oeste o imenso Oceano Atlântico. Inclui também o enclave de Cabinda, através do qual faz fronteira com a República do Congo, a norte. É o sexto país Africano de maior dimensão, sua divisão administrativa compreende 18 Províncias de norte a sul do país, 164 municípios divididos em 532 comunas. A divisão administrativa do território menor é o bairro na cidade, enquanto que nos meios rurais é a povoação (Portal Oficial da Republica de Angola, 2015).

Os resultados definitivos do Censo 2014 mostraram que em 16 de Maio de 2014, a população residente em Angola era de 25.789.024 de habitantes, dos quais 12.499.041 do sexo masculino (48%) e 13.289.983 do sexo feminino (52%) (INE, 2016).

Atualmente nas áreas rurais vivem somente 37,4 % dos angolanos, contra 85 % registados no Censo de 1970 quando a população total era de 5,6 milhões habitantes (CEIC, 2016). A população deverá crescer para mais de 47 milhões de pessoas até 2060 (INE, 2016). Destes números, tem-se ainda por considerar que maior parte da população (aproximadamente 7 milhões de pessoas correspondentes a 28 % da população total) vive em torno de Luanda, que é tida como a província mais populosa do país.

Os valores da importação trazem um conjunto amplo de problemas em todos os setores e estágios, desde o fornecimento de suprimento, até no serviço ao consumidor. Para Pacheco (2009), o petróleo domina o quadro econômico do país e apresenta-se como o principal inimigo da aposta em outros setores da diversificação da economia como agricultura. O volume das importações dos principais cereais consumidos no ano 2014 foi de 279.212 toneladas para o arroz e 16.305 toneladas para o milho respectivamente (GEPE-MINAGRI, 2016). A figura abaixo apresenta um gráfico que ilustra o comportamento das importações de bens e serviços para os últimos treze anos (2002-2015).

FIGURA 6 - COMPORTAMENTO DAS IMPORTAÇÕES EM ANGOLA (MILHÕES DE USD). FONTE: CEIC (2016)

Como é possível observar no gráfico acima, em 2015 houve uma redução de 30% nas importações em relação a 2014, passando de USD 53,5 mil milhões para

USD 37,2 mil milhões. Segundo CEIC (2016) essa redução deveu-se essencialmente a pelo menos dois fatores: (i) o agravamento da pauta aduaneira e (ii) as dificuldades no acesso às divisas.

A seguir é apresentando outra figura que específica as categorias dos bens importados, sendo bens de consumo corrente (satisfazem diretamente as necessidades das pessoas, como alimentos, roupas, eletrodomésticos, etc.), bens de consumo intermediário (insumos e matérias-primas usados no processo de fabrico de bens de consumo final) e os bens de capital (equipamentos, máquinas e maquinarias).

FIGURA 7 – VALORES DAS IMPORTAÇÕES DE BENS (2002-2014). FONTE: CEIC (2016)

Observa-se no gráfico que o país importa mais bens de consumo final do que bens de consumo intermédio e bens de capital juntos. Isso se justifica pela fraca estrutura da cadeia industrial, sendo que não se importa quase nada como matéria prima, apenas é importada já como produto final acabado e pronto para consumo. Observa-se ainda que ao longo de treze anos, apesar do aumento na importação de bens de consumo intermédio (686%, média anual de 53%) e de capital (em 644%, média anual de 50%), os bens de consumo corrente ao invés de diminuírem, aumentaram quase na mesma proporção (663%, uma média anual de 50%), tudo porque tal como cresce a população, cresce também a demanda por esses produtos, nomeadamente alimentação, vestuário, etc.

Os principais alimentos consumidos por essa população são o milho, arroz, a mandioca, feijão (HENRIQUE et al., 2010). Assim não restam dúvidas sobre a importância do milho no peso do consumo de produtos alimentares em Angola. As importações, especificamente do milho e arroz como os principais cereais consumidos, segundo relatórios do CEIC (2016), para os três últimos anos (2013- 2015) andaram em torno de 382.556,86 toneladas/ano (2013) 474.749,78 toneladas/ano (2014) e 250.594,91 toneladas/ano (2015) para o arroz e 22.938,12 toneladas/ano (2013) 40.771,10 toneladas/ano (2014) e 21.997,45 toneladas/ano (2015) para o milho respetivamente.

Referente à produção, dizer que antes da independência Angola foi um país autossuficiente em quase todos os principais cultivos. O setor agrícola angolano satisfazia a maior parte das necessidades alimentares do mercado nacional, chegando a ser um dos maiores exportadores mundiais de café e outras commodities do ramo (HENRIQUE et al., 2010). Após a independência (1975), começou a diminuição acentuada e vertiginosa da produção de bens alimentares (HENRIQUE et al., 2010). Esta diminuição foi influenciada pela guerra civil e pelas graves deficiências na transformação da estrutura agrária capitalista colonial. Hoje a agricultura é caracterizada por produções de valores muito baixos, sendo predominantemente de subsistência (Figura 8).

FIGURA 8 - ÁREAS SEMEADAS EM ANGOLA REFERENTE AOS SETORES FAMILIAR E EMPRESARIAL.

FONTE: CEIC (2016)

Os agricultores empresariais e familiares angolanos, estimados em dois milhões e 500 mil, produziram na campanha agrícola 2006/2007 cerca de 1.037.000 toneladas de milho, contra as 800.000 toneladas do produto colhidas na safra de 2005/2006 (ANGOP, 2010; HENRIQUE et al., 2010).

Ainda de acordo com HENRIQUE et al. (2010), e segundo os relatórios da FAO (2006) e do MINADER (2005), a província do Huambo é a que aparece com produtividade unitária mais alta, sendo ela estimada em 0,70 toneladas/hectare para a época 2004/05. Para o ano 2007/08, indicava a produção de milho, nesta província, de 0,98 tonelada/hectare.

Portanto, na apresentação dos relatórios, para a época 2012/2013, foram semeados na campanha agrícola a nível nacional 1.942.772 hectares dos quais se obteve uma produção de 1.548.750 toneladas de grãos. As EAF (Explorações Agrícolas Familiares) produziram 1.223.636 toneladas com uma produtividade média de 0,833 tonelada/hectare enquanto as EAE (Explorações Agrícolas Empresariais) registaram uma produção de 325.114 toneladas, donde se obtém uma produtividade média de 1,78 toneladas/hectare. Na época 2013-2014 teve uma produtividade

avaliada em 0,9 kg/há para as famílias agrícolas e 2,37 toneladas/hectares para a agricultura familiar (GEPE-MINAGRI, 2016).

A figura 9 ilustra um mapa representativo da disponibilidade de cereais para alimentação nas províncias como resultado da produção da campanha agrícola 2014/2015 (Kg/per Capita).

FIGURA 9 – DISPONIBILIDADE PER CAPITA DE CEREAIS POR PROVÍNCIA. FONTE: GEPE-MINAGRI (2016)

Como é possível observar nas tabelas apresentadas, para o período analisado repartido em 2 subperíodos, quanto à produtividade da cultura do milho, o Planalto Central é constatado como mais predominante. Se considerarmos que 92% é o valor representativo da área cultivada com tecnologia extremamente rudimentar (familiar), sendo os outros desprezíveis 8% representarem a setor empresarial da agricultura nacional. Então é imprescindível um esforço para melhorar a tecnologia de modo a permitir uma maior produtividade do trabalho e da terra, e, consequentemente, um aumento da produção.

Portanto, muito ainda resta por fazer para atingir os níveis de produção necessários. Hoje apesar dos resultados de produção apresentados, ainda cerca de 70% do PIB angolano depende do setor industrial petrolífero e este se estima ser

responsável por 17% do total de empregos (AICEP-Portugal Global, 2013; CEIC, 2016).

Os valores para o setor primário são certamente baixos se consideradas as necessidades, por ser o setor prioritário para o desenvolvimento da economia angolana, e pelas potencialidades do país. A grande maioria da população angolana é de tradição camponesa: a agricultura é vista como instrumento central para a luta contra o desemprego, sobretudo nas áreas rurais mais pobres. O setor também é estratégico para a necessária e inadiável diversificação da economia angolana, dependente de modo excessivamente desequilibrado do setor petrolífero.

A meta prevista do governo de Angola, no Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) para produção de 3,5 milhões de toneladas de milho em 2017 ficou muito longe de ser alcançada, pois o total da produção de 2014 havia sido de 1,6 milhões de toneladas, em 2015 não ultrapassou os 1,8 milhões de toneladas (51% do previsto), das quais as explorações familiares foram responsáveis por 1,3 milhões (81%) (CEIC, 2016). Essa situação representa um insucesso notável da política agrícola nacional, sobretudo numa cultura, onde de longe se investiu mais do que em qualquer outra em termos de dinheiro público.