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TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL ANOS

2 ACESSO À JUSTIÇA E FORTALECIMENTO DA CIDADANIA.

2.4 Panorama da Justiça Itinerante

Há muito sabemos que é um anseio da sociedade brasileira ter um Poder Judiciário que promova uma Justiça mais célere, mais eficiente e mais democrática.

A Justiça Itinerante de maneira implícita encontrava-se prevista nas regras do art. 94, da Lei nº 9.099/1995, para os juizados especiais. Tornou-se forçosa a sua criação em âmbito nacional pela previsão expressa do termo Justiça Itinerante na Emenda Constitucional nº 45 da reforma do Poder Judiciário promulgada em 09 de dezembro de 2004, nos seus artigos, a saber:

Art. 107 Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo:

[...]

§ 2º Os Tribunais Regionais Federais instalarão a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários.

Art. 125 § 7º O Tribunal de Justiça instalará a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários. (BRASIL, 2004)

Anteriormente não existia previsão expressa, na Lei Constitucional, do termo Justiça Itinerante, mas passou a existir, experimentalmente, nos Estados, por atos administrativos baixados pelos Presidentes dos Tribunais de Justiça, nos termos do art. 94 da Lei nº 9.099/1995, in verbis: “os serviços de cartório poderão ser prestados, e as audiências realizadas fora da sede da comarca, em bairros ou cidades a ela pertencentes, ocupando instalações de prédios públicos, de acordo com audiências previamente anunciadas”.(BRASIL, 1995).

Ressalta-se que a Justiça Itinerante foi aperfeiçoada pela Emenda Constitucional nº 45 ao permitir a sua extensão na prestação jurisdicional em geral e dos seus serviços auxiliares cartoriais, ocupando não apenas prédios públicos como previa a Lei nº. 9.099/1995.

Relata Azkoul (2006), acerca do surgimento dos Juizados de Pequenas Causas e da Justiça Itinerante que:

A Constituição Federal de 1967/1969 previa a criação dos Juizados de Pequenas Causas e que só foram regulamentados com a Lei n. 7.244/1984 (...) Os Juizados Itinerantes, mesmo sem previsão expressa constitucionalmente foram criados experimentalmente nos Estados com base nos Juizados Especiais para a conciliação, instrução, transação e julgamentos das causas de menor complexidade e delitos de menor potencial ofensivo com a participação da sociedade civil, uma vez que os princípios e critérios informadores do Juizado Especial de celeridade, simplicidade, oralidade contribuíram sensivelmente para o acesso de toda a população local, principalmente os mais pobres que anteriormente ficavam desassistidos da prestação jurisdicional nestas causas, pois não tinham um acolhimento sistêmico conveniente para ingressar com uma ação cível comum, quer pelo seu valor econômico, sem direito a recurso, quer pelos seus rígidos pressupostos processuais, condições de procedibilidade, prosseguibilidade, capacidade postulatória, dentre outros ônus para o acesso da parte interessada na busca de uma prestação jurisdicional cara, morosa, complexa e de duvidosa eficácia material. ( AZKOUL, 2006, p.125)

A Justiça Itinerante vem se tornando uma prática em vários Estados brasileiros e visa, primordialmente, ampliar o direito de acesso à Justiça a todos os cidadãos brasileiros. Os juizados especiais federais itinerantes são uma inovação instituída pela Lei 10.259, de 12 de julho de 2001, constituindo-se num meio de garantir que as populações das regiões mais distantes das sedes das Seções Judiciárias tenham que se deslocar até essas cidades para poderem entrar com suas ações.

A implantação da Justiça Itinerante surge como um novo paradigma de realização da prestação jurisdicional, segundo o qual os magistrados não mais permanecem inertes aguardando que os cidadãos se desloquem até o foro para requerer-lhes o exercício da jurisdição, mas, ao contrário, e de forma renovadora, vão ao encontro das comunidades para promover a paz social através da solução dos conflitos de interesses.

Afirma Azkoul (2006) a respeito do tema que:

A Justiça Itinerante que preconizamos, a exemplo dos Juizados Especiais, que mesmo nas suas unidades móveis, percorrem diversos locais, além de colher as provas, os pedidos iniciais e realizar audiências, o Juiz retornará ao local do pleito ou da demanda, isto é, fora do fórum ou tribunal, para proferir a sentença nos casos litigiosos ou para a prestação da jurisdição verdadeira, ou naquelas funções objetivas de tutela jurisdicional da existência ou inexistência de relação jurídica, autenticidade ou falsidade de documento, ocorrendo ou não violação de direito, funções essas essenciais do Estado exercidas pelo Poder Judiciário com exclusividade. (AZKOUL, 2006, p.93)

Prossegue abordando a sua perspectiva a propósito do traço marcante na justiça itinerante:

Nas outras jurisdições, mesmo nos seus primórdios, os juizes ou árbitros possuíam um lugar fixo ou determinado a ser procurado pelas partes para a instrução e julgamento dos litígios e nos seus primórdios o monopólio da justiça ainda era privado, insípido e instável, visto que não existia a figura moderna do Estado (sociedade politicamente organizada), criador da norma jurídica e detentor exclusivo da função jurisdicional para a aplicação, nos casos concretos, das normas jurídicas resistidas ou violadas contra quem quer que seja: ricos ou pobres, governados ou governantes, grupos ou indivíduos, pessoas físicas ou jurídicas com total imparcialidade.

O conceito asilado por Azkoul traduz que a justiça itinerante se resume à prestação de serviço da tutela jurisdicional do Estado, que se efetiva juridicamente com a sentença ou acórdão, ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa em outros espaços que não os fóruns, ou seja, unidades móveis, em colégios, estádios de futebol, locais comunitários e em repartições públicas em geral, devidamente equipadas, preferivelmente, com sistema informatizado e de telecomunicações.

Cumpre anotar o comentário de Bezerra ( 2001) sobre as experiências das justiças itinerantes:

Se por um lado as chamadas “justiças itinerantes” aproximam do povo os aparelhos judiciários, solucionando conflitos nas fontes de onde surgem no seio social, por outro lado, fortalecem a idéia equivocada que a via judicial é a mais segura, mais rápida e mais eficaz, para a solução desses mesmos conflitos. (BEZERRA, 2001, p. 156-157)

Relevante anotar que com a Emenda Constitucional nº 45 a Justiça Itinerante não se restringe mais aos Juizados Especiais previstos no art. 98 da Constituição Federal, estendendo-se a critério dos Tribunais Regionais Federais, Tribunais Regionais do Trabalho e dos Tribunais de Justiça dos Estados a toda organização judiciária para a realização de audiências e demais funções de atividade jurisdicional, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários.

Sobre a competência da justiça itinerante é importante destacar que de acordo com a Lei nº 9.099/1995, art. 3º e seu § 2º, são afastadas da competência do Juizado Especial dos Estados e do Distrito Federal as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, bem como as

relativas a acidente de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de caráter patrimonial. As causas trabalhistas, relativas a vínculo empregatício, também estão excluídas da competência do Juizado Especial, nos termos do art. 114 da Constituição Federal, pois as causas trabalhistas são solucionadas pela sua justiça especializada federal, denominada Justiça do Trabalho.

Já as causas excluídas da competência dos Juizados Federais são aquelas previstas no art. 3º, § 1º, da Lei nº 10.259/2001:

a) as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e município ou pessoa domiciliada ou residente no Brasil;

b) as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional;

c) a disputa sobre direitos indígenas;

d) as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, ações populares, execuções fiscais e ações fundadas em improbidade administrativa;

e) as demandas sobre diretos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos;

f) as ações sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais;

g) as ações para anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal;

h) as demandas sobre sanção disciplinar a servidor civil ou militar que tenha como objetivo a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos civis ou de sanções disciplinares aplicadas a militares (estes nem sequer são objeto de habeas corpus no sistema comum, ex vi art. 142, § 2º, da CF).

Com o advento da Emenda Constitucional nº 45, promulgada em 08 de dezembro de 2004 - art. 107, § 2º, referente à instalação da justiça itinerante pelos Tribunais Regionais Federais; art. 115, § 1º, referente à instalação da justiça itinerante pelos Tribunais Regionais do Trabalho e o art. 125, § 7º, referente à instalação da justiça itinerante pelos Tribunais de Justiça dos Estados -, conclui-se que a regra de competência, para o funcionamento destes juizados itinerantes, vai depender de atos normativos dos próprios tribunais, os quais poderão conferir

competência plena ou relativa para realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional nos limites territoriais de suas jurisdições, por estarem vinculados diretamente a eles.

3 MODELOS DE AÇÕES ITINERANTES: UMA NOVA EXPERIÊNCIA DA