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Ao falar do papel do curso em relação a esses alunos queremos discutir aspectos e relações que hoje, no contexto contemporâneo, envolvem a escolha profissional.

Sabe-se que a escolha pela profissão é um momento muito difícil na vida do indivíduo. E, conforme Jesus (2004), atualmente, o projeto vocacional é considerado como uma construção contínua, resultado da relação entre o sujeito e as suas circunstâncias de vida, havendo múltiplos fatores que o levam a

reorientar frequentemente o seu projeto de vida, na busca de oportunidades que permitam a sua realização pessoal.

Embora os participantes da entrevista não estejam lecionando atualmente, uma das entrevistadas passou a maior parte da sua graduação, estagiando numa empresa financeira; no final do curso, porém, quando que seria o momento de ser efetivada, isso não ocorreu, pois a empresa passava por um momento de migração e não podia efetivar estagiários. Então, no primeiro ano de formada, buscou uma nova oportunidade de trabalho em outra empresa, mas essa era de contabilidade.

Neste instante questionei como se dera a transição entre seu trabalho em empresas e sua atuação no magistério, já que, inicialmente, seu foco em relação ao mercado de trabalho não era lecionar e, atualmente, está focada no magistério, dando aulas.

Um ano após concluir a graduação, e trabalhando fora de sua área de formação, essa participante da entrevista decidiu, então, por dar aulas, pois a empresa em que estava trabalhando tomava muito seu tempo e lecionar foi um meio de ficar mais tempo com a sua filha. Eis a sua fala:

Eu tive que pensar numa maneira, de ficar mais tempo com a Isabella2, por exemplo,sou professora e minha filha pode ir comigo à escola (...) Eu estava ficando muito tempo fora de casa, porque empresa é das 8h às 17h. (Angélica)

Como o processo de escolha da carreira é permeado por tensões e dilemas, alguns jovens, na busca pela identificação com alguma área, explicitaram o desejo de trabalhar em ramos diversificados à busca dessa identificação, segundo Gatti, Nunes, Almeida (2009, p. 159)

E, para compreender o papel do curso de Licenciatura em Matemática, perguntamos aos participantes da pesquisa o porquê de eles haverem escolhido o curso o que os formaria professor. E, fato curioso, o desejo por ser professor não estava presente na maioria das falas:

2 Todos os nomes são fictícios.

Na realidade eu queria fazer, estatística eu sempre gostei muito de matemática, fazer alguma coisa de estatística, só que estatística (...) em faculdade particular, estatística só na USP. Não passei na USP, aí eu falei assim: ah! Vou fazer alguma coisa na área de matemática aí na PUC tinha isso. Então eu prestei na realidade várias faculdades, prestei pra matemática, prestei estatística, prestei ciências a parte de computação, prestei um monte de coisa, aí eu falei: não! É matemática, eu vou fazer matemática é do lado da minha casa e vai assim mesmo, comodidade! (Lourdes)

Na época eu fazia cursinho, fazia cursinho lá na Poli e o meu objetivo quando eu comecei a fazer cursinho era fazer engenharia, engenharia elétrica eu gostava muito das aulas de matemática, a PUC surgiu assim: como o curso de matemática até esse momento que eu pensava ia surgir como um trampolim que o curso de engenharia tinha, muito cálculo e muita física (...) ia, sei lá, eliminar, muitas matérias da parte de engenharia, a parte da física e da matemática e eu podia cursar engenharia, mas depois eu comecei a cursar, comecei a gostar do curso, via a possibilidade de oportunidades que ele atendia, ai eu decidi que não ia trocar, não. Então vou continuar no curso. (Eduardo)

É possível observar que dos 21 egressos participantes, 11 descrevem a escolha pela PUC/SP por ser uma Universidade de credibilidade, com qualidade e conceito no mercado.

Como já tinha feito o bacharelado nesta instituição, tinha a opção de eliminar disciplinas, já que tinham sido cursadas anteriormente. Outro motivo importante é a familiaridade com a instituição e a boa formação que ela proporciona. (Isabella)

Queria estudar em uma Universidade com credibilidade. (Eduardo) Pelo conceito e respeito que a faculdade ocupa no território brasileiro. (Cláudia)

Pelo nome e conceito da instituição. (Felipe)

Outros participantes também destacam o gosto pela Matemática, mas não possuíam a mesma convicção em relação à vontade de lecionar, pois dos 21 egressos apenas 3 citam essa opção profissional como um fator responsável pela escolha do curso.

Eu sempre gostei de exatas, principalmente matemática. (Pedro) Por gostar muito de Matemática. (Benjamim)

Quando eu fiz a opção pelo curso não pensava em lecionar, gostaria de trabalhar em banco, logística, estatística, ou algo que utilizasse a matemática. (Fernanda)

Eu sempre gostei muito de matemática, era apaixonada por essa área. desde pequena sempre dava aula para meus colegas de classe, e gostaria de ser professora no futuro. a paixão pela matemática me fez escolher por esse curso. (Lourdes)

Fiquei sem estudar por mais de 20 anos e sempre gostei de matemática. Quando pude retornar, soube que a PUC oferecia o curso de Licenciatura em Matemática. (Flávia)

Paixão pela matemática e por lecionar. (Beatriz)

Bom a minha ideia era, sempre foi ser professora eu não sabia qual a matéria em qual área especifica eu ia seguir, eu decidi mesmo eu decidi pela matemática no último ano do ensino médio, por incentivo de um professor Também. (Angélica)

Jesus (2004, p. 195) afirma que um fator que vem contribuindo para a perda de prestígio da profissão docente diz respeito às profundas alterações nos valores sociais. Recorda que, no passado, predominavam valores ditos intelectuais e humanistas, com a valorização do conhecimento, da reflexão, da profundidade na análise dos problemas, bem como a vocação e o espírito de missão. A sobrevalorização do aspecto econômico contribui para a desvalorização de profissões mal pagas, como é o caso da docência. Muitos nela ingressam apenas por falta de alternativas.

Neste contexto, o que se observa nas respostas tanto dos questionários quanto das entrevistas é certo interesse em cursar o Bacharelado, e não a Licenciatura em Matemática.

Na verdade eu não escolhi o curso de Licenciatura, eu procurei entre os cursos de Matemática disponíveis no período noturno. E o da PUC era o único que era noturno e de fácil acesso. Não foi o curso de Licenciatura que eu escolhi eu escolhi o curso de Matemática. Eu queria fazer Matemática e não necessariamente seria Licenciatura. (Sidnei)

Olha, sinceramente? A minha intenção nunca foi Licenciatura. Era Bacharelado eu não consegui entrar em nenhum lugar em Bacharelado e eu queria estudar e mais. (...) Prestei a USP e prestei mais um além da PUC. Mas USP até eu fui para segunda fase, mas não deu muito certo. (Benjamim)

Carência de profissionais no mercado (acho) e por ter facilidades em aprender Matemática (sempre gostei). Gostaria de fato, fazer bacharel, porem a PUC não ofereceu. (Davi)

Eu escolhi Licenciatura em Matemática porque não tinha só matemática, não tinha Bacharel em matemática na época só tinha Licenciatura e eu gostei de fato até porque depois eu dei aula no último ano como estagiário lá no grupo Foco e eu até tenho interesse em dar aula, tanto que eu quero dar aula no ano que vem. Eu vou dar aula ano que vem! (Flávio)

(...) com eu trabalho com estatística eu acho assim que falta um pouco mais de atividades com estatística por conta do trabalho né? É só que como eu sempre gostei do assunto sempre quis continuar os estudos relacionados à matemática eu acho eu sinto a necessidade de complementar com o Bacharelado para ter um aprofundamento matemático da coisa. (Pedro)

Porém, tais preocupações e questões já fazem parte do cenário de pesquisas há algum tempo. O registro de um debate sobre Bacharelado e Licenciatura ocorrido na década de 1980, na Faculdade de Ciências e Letras da UNESP de Araraquara (DIAS-DA-SILVA et al., 2008) permite constatar que os desafios enfrentados naquele momento, ainda permanecem presentes nas discussões sobre as fragilidades enfrentadas pelos cursos de formação de professores. Os “velhos desafios” incluem a falta de clareza sobre o perfil profissional desejado, a desintegração entre os eixos de formação (bacharelado e licenciatura), o isolamento e desprestígio das disciplinas pedagógicas e a dicotomia entre teoria e prática. Um dos pontos destacados apontava, também, naquele momento, a desmotivação dos graduandos para a profissão do magistério, sua precariedade no domínio de conteúdos essenciais ao ensino e a ausência da realidade social nas reflexões acadêmicas que norteavam os cursos. Entre os pontos positivos em relação ao curso de Licenciatura em Matemática da PUC/SP, os participantes destacam como relevantes para a sua atuação profissional atual fatores como:

 Práticas e influências dos professores;  Propostas das disciplinas;

 Prática de ensino e estágio supervisionado;  Concepção, organização e andamento das aulas;  Propostas das atividades acadêmicas complementares

Figura 20: Pontos Altos do Curso de Licenciatura em Matemática

Fonte: Questionário de pesquisa de campo aplicado aos estudantes concluintes

do curso de Matemática da PUC/SP – 2005/2010

Especificamente nas falas dos egressos entrevistados foi possível constatar a presença dos pontos positivos, e negativos em relação ao curso de Licenciatura em Matemática da PUC/SP.

Eu acho que os pontos mais positivos que a PUC tinha ela perdeu no caminho durante o nosso curso, os pontos mais positivos é que nos éramos rodeados de pessoas muito gabaritadas né? Nos não falávamos com qualquer um, nos falávamos com Doutores né? E não só título de doutores né? Tinham postura e conhecimento dê. Eu acho que a PUC perdeu muito, não vou entrar muito no mérito político da coisa, mas ela perdeu muito em qualidade quando saíram esses professores, porque não tem problema sair, mas eu notei que a troca não foi do mesmo nível definitivamente não foi. (...) Os pontos positivos para mim são os professores mesmo, os pontos negativos do curso foi essa troca que pra gente foi muito ruim, mudou muito, eu acho que a estrutura da nossa faculdade em si, sei lá, a gente tudo bem, tinha um laboratório, computadores, tinha os softwares, a gente tinha tem a biblioteca, a gente tinha também aquela salinha que tínhamos aulas de geometria mas assim pra você pensar numa grandeza de sair de lá um professor (...) o curso eu acho que ele tem um ponto negativo que ele, tudo bem você tem que saber pra você ensinar, mas assim eu acho que tem que dar um pouquinho mais de foco na didática de, ok! Você sabe isso. Mas como você vai transmitir isso, então faltava assim, às vezes à gente tinha aula mas tinha muito pouco foco de como ia transmitir aquilo ao aluno. (Fernando)

O que me ajudou o curso foi que assim, eu desenvolvi mais a minha mente eu vi coisas que durante o curso, no ensino base e o ensino

médio eu vi, eu só via fórmulas e quando eu ingressei que eu comecei eu vi, eu descobri muitas coisas que a matemática não é só fórmula tem um porque e que é, isso se você levar para uma sala de aula hoje no ensino médio e no ensino de base, talvez os adolescentes não tenha tanto medo ou terror da sala de aula ou da matemática, eu acredito que assim, (...) eu acredito são aspectos positivos e assim é a gente trabalhou e manuseou muito, principalmente da parte da geometria a gente foi descobrindo, construindo e isso foi positivo. (Davi)

A quantidade do número de alunos, a proximidade dos professores, a quantidade reduzida favorecia isso, o perfil dos professores pelo menos naquela época eu acho que isso foi o que mais ajudou, a proximidade deles eu pude entender a matéria, a gente tinha uma relação de parceria muito mais do que de professor e aluno. Negativo eu achei que foi um curso, que como eu minha opção primeira era o curso de Bacharel eu achei que foi um curso muito pouco técnico, faltou base matemática e aplicação. (Flávio)

Acrescentou bastante o estágio, eu acho que a prática de ensino foi legal (...) Eu também. Acho que até mudou essa visão, nessa parte de professor de educar tudo, essas matérias apesar de algumas deficiências, as matérias de educação a parte do estágio prático. (Flávia)

A qualidade do corpo docente foi considerada, pela maioria, como o ponto positivo, a quantidade de alunos por turma também recebeu destaque, porém nenhum professor específico exerceu influência em relação à carreira dos participantes entrevistados. Pelas falas, é possível compreender que os professores foram presentes nas aulas, demonstrando conhecimento e domínio dos conteúdos, tinham postura e dedicação e, assim, despertavam o interesse dos alunos e sua admiração, com poucas exceções.

É eu acho que, teve um (...) no sentido de profissional mesmo de conhecer os assuntos de ser um cara sério, de saber o que ele está falando, na hora certa e ser um bom profissional de sala de aula, no meu ponto de vista, ele segue o cronograma dele passa, tira as dúvidas das atividades conforme o planejado, então ele é uma pessoa assim que eu admiro muitoo, não como: Ah! Eu quero ser igual, nada disso! (Pedro) Olha eu tenho uma admiração muito grande por duas professoras: uma, que hoje não está mais na instituição, eu tenho uma admiração muito grande (...) ela nos ensinou Cálculo e eu sempre achei ela muito inteligente e ela sabia mesmo lecionar, dar aula transmitir o conhecimento pra gente. (Davi)

Sim. Professores eu acho que a (...) de estatística também era muito boa, assim tecnicamente os assuntos, é uma das que mais conhecem de estatística e (...) eu gostava muito dele porque ele não era um cara muito de entregar matéria sabe? Cheque list de matéria disso ou aquilo, mas

ele tinha uma proposta diferente, ele era uma espécie de aula bate-papo e nesse bate-papo você aprendia, muitos conceitos de educação matemática hoje eu lembro e tenho fixo na minha cabeça por conta dele. (Flávio)

(...), mas por postura, ela pegava muito no meu pé! Ela via alguma coisa em mim que eu não sei o que era, mas pegava bastante no meu pé, era assim me fazia, é (...), estudar mais, buscar mais as coisas, eu só praticamente fiz isso nas matérias dela. Mais afinco mesmo, com mais vontade, ela não fazia nada especial não falava nada de especial mas o jeito com que ela lidava comigo me fazia querer fazer mais coisa. (Benjamim)

Ainda em relação à visão que o egresso tem do curso de Licenciatura em Matemática da PUC/SP, se fossem começar hoje o curso, eles realizariam modificações em relação à sua participação e ao seu envolvimento na vida acadêmica, considerando sua carreira hoje.

Se tivesse mais tempo disponível, gostaria de ter feito estágios em outras escolas (para vivenciar diferentes realidades) e feito iniciação científica. (Flávia)

Eu gostaria de fazer algum projeto com matemática pura. Infelizmente a PUC não foi capaz de me oferecer suporte neste ponto. Eu sempre quis trabalhar para entrar no mestrado e não tive muitas oportunidades por conta da política! Acredito que mudaria apenas a minha forma de envolvimento para tentar alcançar uma posição na pós-graduação (Pedro)

Em relação a minha participação não mudaria nada, pois sempre fui aplicada e disciplinada com os estudos. O meu envolvimento foi muito bom aproveitando o máximo que eu pude. Apenas faria um esforço maior para ingressar na iniciação científica, pois infelizmente não pude por motivos de trabalho. (Maiara)

Nada seria modificado. Explorei ao máximo os 4 anos que estive na instituição e ampliei os conhecimentos. Não me limitei à grade curricular e sempre procurei por em prática o que era ensinado. (Júlia)

Bom. Principalmente o curso de geometria, porque não me interessava nenhum pouco e teve nos quatro anos, teria mais cálculo que é o que eu procurava, mais estatística e mais álgebra que era exatamente os três pontos que eu queria ter aperfeiçoado. (Sidnei)

Sem pensar muito eu acho que é, matérias ligadas à programação alguma coisa ligada à estrutura computacional, então quando por exemplo: meu trabalho é analisar dados, mas não são três, quatro dados ou cinco dados são milhares, então eu preciso ter rotina de programação, programação científica, se tivesse alguma coisa ligada à programação científica. (Pedro)

O que de certa forma podemos identificar é uma deficiência do atual processo pedagógico desses cursos que não conseguem um mínimo de efetiva integração e de interdisciplinaridade que garantam a inter-relação das disciplinas metodológicas entre si e com as demais disciplinas de conteúdo. A grade curricular acaba fragmentária e dicotômica, e esse processo não garante uma duração suficiente para maturação das atividades formadoras da docência. A permanência do futuro profissional no contato com as disciplinas pedagógicas, particularmente no caso das licenciaturas, é tão passageira que ele não pode mesmo desenvolver aí uma vivência formativa. (BARBOSA, 2003)

E, segundo o relatório da OCDE (2006), embora haja algumas variações no currículo, a maioria dos programas de formação de professores oferece uma combinação de níveis de formação em relação às disciplinas específicas, métodos e materiais de ensino, desenvolvimento de crianças/adolescentes e outros cursos de educação, tais como Psicologia, História e Filosofia da educação, além de Prática de Ensino. Variações também podem ser identificadas em relação à ênfase dada por programas de formação de professores em diferentes aspectos, como conhecimentos sobre disciplina específica, conhecimentos pedagógicos, ciências da educação, psicologia da educação e experiência escolar prática. Com o objetivo de capacitar professores a utilizar pesquisas para aprimorar sua prática profissional, alguns países empregaram esforços especiais para desenvolver as habilidades de pesquisador durante sua educação pré-serviço, como por exemplo; Austrália, Dinamarca, Finlândia, Irlanda, Israel, Noruega e Suécia.

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