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Quatro dos entrevistados elegem a falta de tempo para planejamento coletivo como principal entrave à prática interdisciplinar. Para Betina e Fernanda, os professores deveriam ter um tempo destinado pela escola para planejarem em conjunto. Fernanda explica que o diálogo entre os professores é a única maneira de melhorar o processo educativo, conforme afirma: “Então eu acredito que a gente precisa achar tempo para conversar, acho que não tem outra maneira de melhorar, precisa achar tempo para trabalhar no aluno, precisa achar tempo para considerar esse aluno como indivíduo.”. Betina concorda com Fernanda e entende que a escola não proporciona momentos para que os professores interajam, como relata:

E a gente tem muito pouco tempo para sentar junto e conversar como a gente está desenvolvendo isso, às vezes daí empobrece, poderia ser muito mais rico, essa troca, se os professores tivessem mais tempo para sentar junto, preparar juntos projetos, fazer bons projetos, não precisam ser muitos na escola, fosse um projeto por ano onde a gente tivesse conhecimento o que o professor de Matemática, o de Português está trabalhando, onde eu posso entrar nisso tudo, essa troca eu acho que é muito pobre nas escolas.

Para Betina, o tempo escasso do professor pode ser melhor aproveitado se a escola oferecer um momento de troca entre os docentes. Ela entende que “Para que a gente pudesse saber o que o fulano está trabalhando em Matemática, em Física, em Química e onde é que eu entro aí, eu acho que isso a escola teria que proporcionar, porque ela não pode esperar que a gente vá fazer isso no corredor, porque não dá tempo.”. De forma análoga, Carlos afirma:

Nós, no Ensino Médio, não temos assim, eu acho uma preparação para isso, não temos um horário de reunião para prepararmos algo juntos, se pudesse ter daqui a pouco reuniões ou conversas mais frequentes, claro que está todo mundo sem tempo, não é um tempo que a gente põe junto no tempo de preparação.

Para os entrevistados, a falta de tempo seria facilmente resolvida pela escola por meio da convocação dos professores a reuniões remuneradas. Desse modo, os professores seriam obrigados a permanecerem na escola para dialogar sobre suas práticas. Embora concordemos com Rocha Filho, Basso e Borges quando afirmam que

A atitude das direções e coordenações – favorável, neutra ou reticente – em relação à integração iniciada, pode ter influência importante nesse processo, pois alguns professores dependem psicologicamente da aprovação das instâncias hierárquicas institucionais superiores para agirem. (2007, p. 53)

Também entendemos que a ação interdisciplinar não pode ser imposta pelo núcleo pedagógico da escola. Os professores precisam acreditar nos benefícios da educação interdisciplinar para que ocorra a interdisciplinaridade de fato. Acreditamos que, ao mostrarem-se receptivos ao diálogo e reclamarem por momentos de troca de experiências, os professores estão indicando que reconhecem a necessidade de um trabalho conjunto.

Betina e Davi afirmam que as reuniões administrativo-pedagógicas realizadas pela escola são oportunidades de interação mal aproveitadas. Eles entendem que muitos dos assuntos tratados nesses momentos poderiam ser comunicados por e-mail ou por meio de murais informativos. Betina acredita que “Eu acho que a escola, essas coisa de agenda, de datas, etc, isso pode ser feito por e-mail, não precisa a gente ficar discutindo lá, se tem que usar uniforme ou não tem que usar o uniforme, então vamos discutir o conteúdo, que é o que enriquece realmente.”. Compartilhando das ideias da Betina, Davi acredita que “[...] as nossas reuniões são altamente burocráticas, tu vê, é um momento que é pago pra gente, e tão mal aproveitado, eu acho que esses eram os momentos de troca entre os professores, pra que a gente pudesse tornar isso mais evidente.”. Davi ainda comenta quais são suas aspirações quanto aos momentos de reunião de professores:

Que as nossas reuniões fossem produtivas, em que a gente trocasse experiências, conversasse sobre o que está fazendo, elencasse alguns problemas que acontecem em tal e tal turma de como a gente podia vencer junto, para eu soubesse onde tu andas e onde eu ando, para tu pudesse achar na minha fala e eu na tua um exemplo em que eu pudesse citar um acontecimento de matemática que ele possa entender lá na genética, né?

Em contrapartida às ideias de Betina e Davi, Adriana relata que acredita nas reuniões como momentos de combinações entre professores, conforme afirma: “As nossas reuniões servem pra isso. Que a gente, que nem hoje, fizemos combinações nos básicos. Nós vamos levar adiante, então. Né? Isso eles veem que os professores têm uma atitude, uma linha em comum.”. Nesse sentido, Adriana mostra-se mais otimista em relação aos momentos oportunizados pela escola e ao profissionalismo de seus colegas. Acreditamos que a complexidade do grupo de professores gera diferentes visões a partir de uma mesma realidade.

A escola influencia o processo de ensino e aprendizagem não somente por meio da determinação de reuniões pedagógicas, mas também a partir da imposição de um currículo que elege quais conteúdos devem ser ministrados. Nesse sentido, a estrutura curricular e as exigências da escola podem aumentar ou diminuir a fragmentação dos saberes. O modo como

os entrevistados percebem a influência da estrutura curricular e das exigências da escola será tratado no subcapítulo que segue.