• Nenhum resultado encontrado

O papel das TIC no ensino das ciências

II. REVISÃO DE LITERATURA

2.3. O papel das TIC no ensino das ciências

No relatório de um estudo centrado na análise da investigação sobre o uso das TIC no processo de ensino-aprendizagem da ciência, publicado em 2003 pela

6 http://www.abed.org.br/congresso2005/por/pdf/011tcc3.pdf . Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/Blogs_educativos.

30

BECTA evidenciam-se como resultados os benefícios do uso destas tecnologias para o professor e para os alunos. No que diz respeito ao professor o uso das TIC aumenta a motivação e o envolvimento dos alunos, o acesso a dados autênticos com recurso à Internet, a possibilidade de realizar experiências inacessíveis em contexto de sala de aula utilizando simulações, a melhoria das actividades experimentais devido à eficiência e rigor dos sistemas automáticos de aquisição e tratamento de dados, propiciando mais tempo para a análise e discussão dos dados. Quanto aos alunos o uso das TIC facilita a visualização de fenómenos e conceitos através de diferentes formas de representação (animação, gráficos, diagramas, vídeos), ajudando à compreensão de conceitos e processos, liberta os alunos dos procedimentos meramente mecânicos das actividades experimentais, deixando livre mais tempo para a análise e interpretação dos dados. Devido ao rápido feedback que podem proporcionar dão informações pertinentes para o melhoramento das experiências e das hipóteses e geram ambientes centrados nos alunos em que são abordados tópicos do seu interesse e ao seu ritmo. A Internet e as redes de computadores nas escolas tornam possível o acesso a recursos para o estudo fora das horas de funcionamento das escolas e permitem que os alunos integrem comunidades de aprendizagem e colaborem com colegas e cientistas (BECTA, 2003).

Estas qualidades e potencialidades das TIC nas disciplinas de ciências quando viabilizadas pela escola e adequadamente exploradas e orientadas pelos professores constituem uma parceria forte nos esforços em actualizar as práticas de ensino em ciências centradas nas actividades dos alunos, conduzindo à operacionalização de experiências que proporcionem um maior desenvolvimento cognitivo (Sprinthall, 1993). Ponte, Oliveira e Varandas (2002) afirmam que o avanço da ciência e principalmente da tecnologia não tem sido acompanhado por uma evolução de práticas de sala de aula que levem os alunos a apropriar-se de uma concepção mais aproximada dos contextos de construção do conhecimento científico, continuando a persistir um ensino essencialmente expositivo e divorciado da natureza da ciência. Isto reforça a ideia de que a formação na área das TIC é indispensável para os professores.

31

Chagas (1999) acrescenta que os efeitos positivos das TIC dependem de uma combinação de factores. Observa-se maior envolvimento e responsabilização dos alunos, os professores demoram mais tempo com alunos que necessitam de mais ajuda, o professor centra a avaliação no esforço, progresso e produtos dos alunos, é criada uma estrutura social cooperativa, o processo de ensino-aprendizagem torna-se heterogéneo, diferenciado e há maior ênfase na integração do “pensamento” visual e verbal.

Os resultados de investigações desenvolvidas em Portugal têm sido consistentes com os resultados apresentados no relatório da BECTA. Santos (2006), refere que a inserção do computador na escola visa um ensino mais experimental, um ensino que leve os alunos a empenharem-se nos temas que mais os motivam, podendo aprofundar os assuntos tanto quanto desejem.

Os alunos precisam de estar motivados para aprender ciências. Para isso o professor de ciências precisa de proporcionar actividades interessantes e motivadoras recorrendo a meios não formais como a televisão, museus e todas as formas atraentes que contribuam para que os alunos gostem e queiram aprender ciência (Valente, 1996). Neste sentido, as TIC têm a possibilidade de despertar nos alunos o interesse pela aprendizagem da ciência, através da Internet, realizando visitas aos museus virtuais e outras actividades atraentes por serem interactivas e encorajar a tomada de decisão do aluno. Nestas circunstâncias é necessário dar a devida atenção ao enquadramento das TIC, planeando com cuidado as actividades em que são utilizadas. Por exemplo, a procura de informação, através da navegação na Internet, deve ser estruturada e orientada pelo professor, pois o facto de o aluno possuir a informação não significa que ele a tenha integrado na sua estrutura cognitiva. Assim, a orientação do professor passa por determinar os objectivos da respectiva navegação e enquadrá-los em situações de aprendizagem significativas e contextualizadas (Ramos, 2007). Entende-se neste contexto que a informação difere do conhecimento. Enquanto o conhecimento se constrói como produto do processamento, interpretação e compreensão da informação, a informação corresponde aos dados disponíveis na

32

Internet, nas publicações e no que os indivíduos trocam entre si (Valente 2005).

O uso do computador também é valorizado por Miguéns (1998) ao salientar que, no contexto de trabalho laboratorial, o computador traz múltiplas vantagens ao permitir a familiarização dos jovens com a cultura tecnológica, facilitando a manipulação de dados, de variáveis e de informação. Para Ramos (2007) o uso regular e extensivo do computador poderá facilitar a descoberta progressiva das funções operativas e desenvolver nos jovens a consciência das suas potencialidades nos domínios da informação, comunicação e colaboração.

Fazendeiro (1998) considera como actuações essenciais que devem ser privilegiadas para a disseminação das TIC nas escolas o apetrechamento com computadores, a ligação à Internet, a conectividade (articulação em redes de escolas) e integração nos conteúdos disciplinares. Numa aula de ciências, particularmente no ensino de Biologia, o professor pode utilizar as TIC para apresentar experiências laboratoriais, em vídeo ou em fotografias, expondo os procedimentos e respectivos resultados. Pensando numa escola onde não existem condições laboratoriais que permitam aulas de microscopia, por exemplo, o professor pode efectuar a ligação entre uma câmara de vídeo, um microscópio, o computador e um projector multimédia de modo a permitir a observação de objectos (células, tecidos) por todos os alunos da turma simultaneamente, encorajando a discussão e o levantamento de questões e explicações pelos alunos. A utilização de multimédia em contexto educativo é defendida por Sousa (2005) ao afirmar que a sua grande vantagem é a de estar baseada nas habilidades naturais humanas de processamento de informação. Os olhos e os ouvidos, em conjunto com o cérebro, transformam dados sem sentido em informação com significado.

Com o recurso à Internet, nessa escola sem condições laboratoriais, o professor pode seleccionar diferentes tipos de experiências já realizadas por outros indivíduos, desde que se enquadrem na temática em estudo e propiciem uma discussão com os seus alunos. Lunetta (1991) defende que no contexto do

33

bom ensino de ciência, as actividades práticas/laboratóriais envolvem os alunos nas actividades de questionamento, de resolução de problemas e promovem a compreensão da ciência como um conjunto de conceitos e de princípios teóricos num processo activo de construção de conhecimentos pelos alunos. Assim, é importante explorar devidamente as TIC de forma a contornar a situação da falta de condições para as aulas laboratoriais. Dando mais um exemplo, o uso de simulações de processos e fenómenos pode auxiliar a compreensão de conteúdos curriculares tais como o processo de duplicação da molécula de ADN, o processo de Fotossíntese, o funcionamento de sistemas do corpo humano, etc.

Para a devida utilização das tecnologias, Amante (2007) considera que as TIC na escola devem ser entendidas como um instrumento cultural ao serviço de experiências de aprendizagem educacional relevante e que servem objectivos concretos.