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PAPEL DO/A COORDENADOR/A (UNIVERSO DE RESPOSTAS) Pontos Positivos da

Os papéis da coordenação pedagógica no drama educacional

PAPEL DO/A COORDENADOR/A (UNIVERSO DE RESPOSTAS) Pontos Positivos da

experiência

Desafios Capacidades necessárias

Aprender a ouvir Saber ouvir/não julgar Continência Aprender a inter-relacionar

saberes e disciplinas. Estar sempre estudando, atualizar conhecimento, escrever, pesquisar sempre.

Ampliar o desejo de saber.

Vencer barreiras disciplinares/ ampliar o escopo do

conhecimento.

Perder o medo de escrever/ produzir textos.

Gosto pelo estudo.

Flexibilidade, abertura para produzir coletivamente.

Crescimento como pessoa ao exercer a atividade profissional.

Vencer preconceitos de idade/geração, de raça, de hierarquia.

Estar disponível para um trabalho de auto-conhecimento (rever posturas, perceber as próprias resistências).

Aprender gerenciar grupos de professores e construção dialógica de liderança.

Vencer a timidez/conseguir falar em público

Saber escutar e saber colocar-se através da fala (em atendimentos individualizados e em reuniões grupais).

Quanto ao segundo quadro, parece que há duas atitudes básicas que compõem o papel de coordenador pedagógico dentro deste universo de respostas, que retrata a experiência destes profissionais. Uma diz respeito a um exercício do coordenador consigo mesmo e outro na direção de um outro, o professor ou os pais. Do primeiro fariam parte o ouvir, não julgar, vencer preconceitos, implicar-se, perceber-se. Do segundo faria parte o colocar-se diante do outro, a busca da dialogia, a pesquisa e coordenação de grupos e de estudos.

E será que esses dois grupos de ação são distintos, de modo a construírem-se dois papéis ou trata-se de um único personagem e sua trama, seu drama?

Retomemos Zaratustra de Nietzsche em seu processo de tornar-se mestre. Parece que ele pode nos ajudar a responder essa pergunta.

173 Olhando pelos olhos de Heidegger (2001), Zaratustra queria ensinar duas coisas: o eterno retorno e o super-homem.

Primeiramente, antes de tornar-se mestre, ele fala do super-homem, ou seja, sobre o homem que vai além do homem vigente, sobre a possibilidade de trazer o humano para sua essência ainda pendente ou por vir. Trata-se de uma ultrapassagem, mas também de um retorno a si. Um eterno retorno à inesgotável plenitude da vida na sua alegria e na sua dor. Uma grande esperança que o pensamento possa afastar- se de toda mera conciliação e de todo “tão-só querer punir”. De um superar-se, ir além e de um voltar-se a si, que liberta o sim do eterno retorno (o nome para o ser daquilo que é).

Mas, como a ultrapassagem do ultrapassante pode reconhecer o tempo, seu passar, sua transitoriedade, contra o que a vontade nada pode e insistentemente se choca? Correspondendo a este ser, como a criança do discurso das três metamorfoses. Permitindo-se habitar, ser-com-o-mundo, ser-em-aberto.

Parece-nos que o mestre aprendiz e seu exercício de aprender a aprender é parte de uma mesma cena de ensinar a aprender a aprender. Aproximamos assim, o Zaratustra de Nietzsche, ora solitário ora acompanhado por seus discípulos; ora com humanos, ora com animais; ora falante ora silencioso, do papel do coordenador pedagógico, unindo a sua ação educativa de hoje ao seu permanente devir, a possibilidade de afirmar o processo de aprender como o mesmo do com-viver, a lição a ser apreendida pelo professor àquela a ser ensinada a seus alunos.

Aproximamos as respostas das coordenadoras e as duas atitudes que vimos considerando como fundamentais por eles, num mesmo posicionamento profissional.

Longe de nós, considerarmos tal conquista como algo sem conflitos. Pelo contrário. Zaratustra mesmo, diante de seus animais, que o instigam para saber se ele já é aquele que realmente é, retrai-se cheio de pavor, sufocando um Zaratustra todo segurança e todo arrogância.

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5.4 - Temores e Desejos: qual o futuro da coordenação?

As coordenadoras pedagógicas entrevistadas durante o trabalho de pesquisa que dá suporte a esta dissertação compartilham as certezas e incertezas do tempo histórico que caracterizam o mundo que vivemos hoje. Quando perguntadas sobre o futuro da coordenação pedagógica, responderam articulando argumentos pessimistas e otimistas sobre futuro da sociedade, da escola e da função.

Temores

Coordenação burocrática Ser ativista em educação

Apenas reproduzir demandas da escola Ser apenas um fiscalizador do trabalho alheio Fazer demasiada pressão junto aos professores Ser consumido por muitas horas de trabalho

Ser útil apenas porque o professor não é bem formado Ser um quebra galho

Desejos:

Fazer pontes

Função intermediadora Ser um ponto de apoio

Partilhar de uma proposta geral da escola

Assumir um papel específico na equipe da escola

Contar com uma formação específica para exercer a coordenação Ser uma etapa da carreira docente (professor experiente)

175 Estamos falando de verdades construídas, que tem estrutura de ficção, por isso me proponho ao exercício de construir figuras/personagens, um pouco à moda weberiana, tipos ideais, para traduzir a junção das características apontadas pelas coordenadoras em seus desejos e temores. Qual seria o coordenador dos sonhos? Vejamos: Um diretor teatral de uma cidade mediana, porém bem ativa nas artes

e na educação, onde a vida não é tão corrida (como talvez Campinas em São Paulo ou Londrina no Paraná), que trabalha 20h por semana num projeto especial.

Um diretor que desenvolve um trabalho de preparação de atores/diretores juntamente com outros profissionais, organizados em uma rede associada a uma Universidade, que promove eventos regulares para orientação e atualização de sua equipe.

Um diretor que escolhe seus textos teatrais “a dedo”, que costuma construir espetáculos a longo prazo (montagens que levam um ano para serem concluídas). Cada dramatização/texto eleito significa o partilhar com os atores uma visão de mundo, uma reflexão sobre a existência, a construção de uma seqüência de representações, carregada de uma série de sentimentos.

O processo demanda, além dos ensaios, pesquisas, leituras, exercícios, em volta de um tema e de uma concepção cênica.

Um diretor que conta com outros profissionais, engajados parcialmente desde o início do processo: o figurinista, o iluminador que também é o cenotécnico e o técnico de som, os quais deve ir orientando. Antes que se chegue a uma proposta final, o diretor e sua equipe técnica podem experimentar a melhor maneira de construir certos cenários e adereços, uma certa iluminação, que garantam os ambientes e atmosferas desejáveis naquele trabalho.

Os recursos do teatro e para pagamento dos profissionais não são tantos, mas o suficiente para levar adiante uma experiência rica de aprendizados e realizações.

As temporadas de apresentações são a culminância esperada e a chance de mais um aprendizado fundamental: o contato com o público.

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Os grupos de atores/diretores conseguem aproximar-se bastante do universo teatral e alguns seguem profissionalizando-se.

Todos têm a oportunidade de descobrir se querem ou não tomar esta atividade como profissão.

Nosso diretor, assim como alguns outros, foi ator deste projeto, investiu em sua profissionalização, tornou-se diretor e depois professor/diretor.

Esse coordenador imaginário procura reunir características apontadas como fundamentais, pelas coordenadoras entrevistadas, ou seja, a possibilidade de preparar professores/atores para sua função de criar coletivamente, juntamente com eles e com outros técnicos/educadores da escola, de conquistar seu lugar de direção/coordenação a partir de um outro (ator/professor), de poder ter tempo para desenvolver projetos (não ter que estar tratando questões gerais todo o tempo), a possibilidade de ter condições razoáveis de trabalho e de remuneração na instituição/rede de profissionais.

Não havia referências diretas ao aspecto econômico, mas ele estava presente indiretamente, não apenas relacionado ao demandar mais tempo para dedicar-se a sua formação, a continuar desenvolvendo-se profissionalmente, como também, e principalmente, ao temor de ser consumido por muitas horas de trabalho.

E agora, falando em temor, qual seria o coordenador do pesadelo dos coordenadores entrevistados?

Um disciplinador. Aquele funcionário que as escolas recentemente inventaram, que fica pelos corredores da escola, fiscalizando entradas e saídas e demais percursos dos alunos, qualquer atitude suspeita, agressiva ou excessiva (por exemplo: normalmente não se pode beijar o(a) namorado(a) nas escolas de primeiro e segundo grau), aquele funcionário que acaba presenciando também momentos constrangedores, quando os professores perdem completamente seu lugar e lhe pedem socorro.

Um disciplinador que tem papel burocrático em última instância, porque o que lhe é requisitado é que garanta as pessoas certas, nos lugares certos, nos momentos adequados, pelos processos oficiais. Nada mais. (É próximo da educação bancária de Freire.)

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Um disciplinador cujo único instrumento eficaz é fazer pressão insistente e eficientemente sobre os alunos. Deste modo, precisa contar com uma seqüência de avisos, alertas, sanções, advertências, dirigidas aos alunos e depois a seus pais.

Um disciplinador experiente, que já se relaciona com os pais de garotos e garotas da escola em que trabalha todos os dias, o dia inteiro, trocando com eles meias dúzias de palavras, porém bastante incisivas, “sem sombra de dúvidas” sobre a inadequação de determinadas atitudes de seus filhos. É bom lembrar que ele pode (e deve) ser educado, delicado e compreensivo com os pais, embora para isso, não tenha que abrir mão de nenhuma regra da escola. Um disciplinador atento às demandas da direção e coordenação da escola, atuante, mediador de situações difíceis, que sabe impor-se e que encontra-se exausto todo final do dia.

Esse coordenador imaginário, ativista, “tapa-buraco”, tem poucos recursos. Embora eles sejam absolutamente inflexíveis, pois não são buscados em acordos, mas em reprodução de demandas institucionais, funcionam como paliativos. O tempo todo há alunos/professores avançando além das linhas demarcadas, e não se pode ter situações mais relaxadas. O nível de tensão é alto e reproduzido no dia-a-dia e esse coordenador/disciplinador carrega o fardo da falência da escola enquanto espaço de pura adaptação, enquadramento a um sistema econômico e de pensamento.

O futuro do coordenador pedagógico, para este grupo de coordenadoras pedagógicas, compõe um intervalo entre uma grande dúvida associada a uma grande crise com relação à Escola no geral (duas das dez coordenadoras), passando pela consciência de seu papel essencial de apoio ao processo educacional no momento atual, a ser desenvolvido no futuro (duas das dez), assim como sua característica positiva de representar uma nova etapa na carreira do professor experiente (levantada por uma das coordenadoras) até o desafio de seu vir-a-ser, enquanto formador que precisa ser aprendente, aprendiz eterno, e assim favorecer uma nova atitude diante do conhecimento na escola, o que sinaliza (a

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duas das dez coordenadoras) novamente, a necessidade do supervisor, um terceiro

do terceiro, como um profissional um pouco mais distante, que tem um compromisso com a sinalização e orientação do caminho de aprender, composto e re-composto a cada processo/projeto/situação de aprendizagem na escola.

Penso que a resposta representante da posição majoritária positiva da função da coordenação (de quatro das dez coordenadoras) está na escritura poética de uma das coordenadoras, que reproduzo aqui:

A COORDENAÇÃO, A coord na ação! Eita lugar difícil, Exigido e exigente, De ritmo de estudos de confiança de ética de gente. Para quem

ela está a serviço? Do diretor,

dos pais, das crianças,

do social? Mas qual? Muitas serão as respostas... Mas é certo que com toda a crise civilizatória atual Seu maior compromisso é com a AÇÃO DE EDUCAR, produzir conhecimento

de evocar pensamentos expressar sentimentos

em tantas possíveis linguagens É de colaborar com processos de mudança!

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CONSIDERAÇÕES FINAIS: – A EXPERIÊNCIA ESTUDADA E OS NOVOS