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I. Enquadramento teórico

1.5. Papel Educacional e Sistemas de Saúde

Actualmente, mais do que nunca, tem-se apostado na prevenção de comportamentos de risco, nomeadamente a sexualidade precoce, as infecções sexualmente transmissíveis e gravidez na adolescência.

O Plano Nacional de Saúde 2004-2010 preconiza que: os adolescentes são grupos de intervenção prioritária, no âmbito da saúde reprodutiva e da prevenção de ITS (Infecções Transmitidas Sexualmente); serão, portanto, reforçadas as iniciativas no sentido de adequar e melhorar as condições de acesso e atendimento dos adolescentes, nos Centros de Saúde e nos hospitais. (Dias & Pereira, 2009:11)

No entanto, para que o índice de cobertura a nível preventivo tenha sucesso, é necessário que as diversas instituições, como os Agrupamentos de Centros de Saúde,

Página 26 Setembro de 2012 UATLA Carlos Monteiro escolas, autarquias e comunidade, estejam em sinergismo, isto para uma abordagem mais directa junto da população juvenil visto que, nestes locais, torna-se mais fácil e mais cómodo difundir a mensagem e com isso, abranger um maior número de pessoas da população. Em conformidade com a legislação portuguesa (Decreto de lei n.º 259/2000 de 17 de Outubro),

... a educação sexual ajuda a prevenir riscos associados à vivência da sexualidade, nomeadamente as gravidezes não desejadas e o contágio de infecções sexualmente transmissíveis, cuja educação sexual informal e espontânea não é suficiente, esclarecedora, nem eficaz. (Dias & Pereira, 2009:12)

Como refere Mendes (2006) citado por Dias e Pereira (2009), a abordagem deve ser feita pedagogicamente em contexto curricular, disciplinar e não disciplinar e extracurricular, seguindo uma lógica interdisciplinar, contínua, privilegiando o espaço turma e as diferentes necessidades das crianças e jovens. É neste seguimento, que a Convenção dos Direitos da Criança e Jovens no direito à educação sexual orientada, sugere a criação da consulta de Planeamento Familiar ao jovem em cooperação com o meio escolar. Segundo a DGS (2010:1)

… a lei n.º60/2009, de 6 de Agosto, veio estabelecer o regime de aplicação da educação sexual em meio escolar. Nos termos do seu artigo 6.º “ ... a educação sexual é objecto de inclusão obrigatória nos projectos educativos dos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas ...” e da alínea 1 do artigo 9.º “... a educação para a saúde e a educação sexual deve ter o acompanhamento dos profissionais de saúde das unidades de saúde... .

Face à gravidez precoce, enquanto profissionais de saúde e membros integrantes de uma sociedade, não podemos negligenciar estas jovens mães, ou penalizá-las por não terem seguido um “caminho normal” do percurso social. Neste sentido a Convenção sobre os Direitos da Criança (Art.º24, n.º2,f) vem dizer-nos que cabe ao estado prosseguir com a educação sobre o planeamento familiar e garantir os respectivos serviços (Instituto de

Carlos Monteiro Setembro de 2012 UATLA Página 27 Apoio à Criança - IAC, 2002) e com isto, cabe aos profissionais de saúde informar e orientar estas mães, por forma a permitir-lhes viver a sua sexualidade de forma saudável e sem riscos, ajudando-as a tomar decisões responsáveis sobre o número de filhos e o intervalo entre o seu nascimento, bem como a sua reincidência.

Outro fato importante, é que a gravidez na adolescência parece agravar as dificuldades no prosseguimento da escolaridade. Segundo Canavarro e Pereira citados por Canavarro

et al. (2001) as mães adolescentes sentem-se muito pressionadas para abandonar a

escola, e quando decidem prosseguir com os estudos, enfrentam grandes dificuldades, sobretudo, no que diz respeito ao desempenhar simultaneamente as diferentes tarefas em que estão envolvidas.

Neste âmbito, em conformidade com algumas teóricas, dizemos que para percebermos este processo de integração à vida escolar é necessário ter em consideração determinados factores que estão ligados ao ambiente da pessoa, refira-se a título de exemplo, apoios sociais. Sabemos que estes factores têm grande influência sobre as jovens, sobretudo o seu meio familiar, “as mães adolescentes que provêm de ambientes familiares estáveis, com apoio financeiro e emocional, . . . apresentam uma taxa elevada de regresso à escola” (Canavarro & Pereira citado por Canavarro et al., 2001:243), comparativamente às mães adolescentes oriundas de famílias disfuncionais ou quando estão afastadas da sua família de origem, que apresentam baixa frequência escolar no pós-parto.

De forma a apoiar a reinserção escolar, na luta pelo não abandono da escola, o Estado português assegura benefícios especiais, decretadas pela lei, para as jovens grávidas, puérperas, lactentes e pais estudantes que se encontrem a frequentar ensino básico e secundário, o ensino profissional ou o ensino superior. Possuem direito (Art.º 2º e 3º da Lei 90/2001, de 20 de Agosto):

a) A realizar exames em época especial, a determinar com os serviços escolares, designadamente no caso de o parto coincidir com a época de exames;

Página 28 Setembro de 2012 UATLA Carlos Monteiro c) A inscreverem-se em estabelecimentos de ensino fora da área da sua residência;

d) Um regime especial de faltas, consideradas justificadas, sempre que devidamente comprovadas, para consultas pré-natais, período de parto, amamentação, doença e assistência a filhos;

e) Adiamento da apresentação ou da entrega de trabalhos e da realização em data posterior de testes sempre que, por algum dos factos indicados na alínea anterior, seja impossível o cumprimento dos prazos estabelecidos ou a comparência aos testes;

f) Isenção de cumprimento de mecanismos legais que façam depender o aproveitamento escolar da frequência de um número mínimo de aulas; g) Dispensa da obrigatoriedade de inscrição num mínimo de disciplinas no ensino superior.

Mediante estes direitos, com o objectivo de proteger e garantir a assistência à parentalidade, e enquanto profissionais e promotores da saúde, devemos conjugar a lei com a nossa prática no sentido de promovermos o mais alto nível de saúde, qualidade de vida e bem-estar. No âmbito da gravidez na adolescência devemos apoiar estas jovens mães, sem deixarmos de parte a figura paterna, na sua adaptação a este novo processo promovendo a sua reinserção no seu meio social e familiar o mais precocemente possível, por forma a evitar as mutações negativas decorrentes desse processo.

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