• Nenhum resultado encontrado

I. Enquadramento teórico

1.4. Papel Familiar e Social

Quando pensamos na pessoa, não nos podemos esquecer de incluir a família e o fato de estes estarem inseridos num meio social. Ao falarmos na gravidez, ainda mais quando ocorre precocemente, prevê-se que esta irá afectar, não só toda a estrutura familiar, como a sua dinâmica na sociedade.

1.4.1. Papel Familiar

O papel da família é imprescindível na vida do adolescente, é o ecossistema mais significativo do adolescente, visto que ela é a primeira célula social, no seu processo de viver. Esta contribui para a moldagem do seu futuro, preservando e transmitindo um conjunto de valores culturais e tradicionais, normas e conceitos. Para Lourenço (1998), a família deverá constituir uma base de segurança, compreensão, amor, alegria, confiança mútua, objectivos comuns, onde o diálogo será um instrumento privilegiado

Página 22 Setembro de 2012 UATLA Carlos Monteiro para resolver conflitos, e o bom humor será fonte de resolução para todo e qualquer ressentimento.

Segundo o ICNP®/CIPE (2010:15), a família diz respeito a um grupo com características específicas, assim é definida como uma:

unidade social ou um todo colectivo composto por pessoas ligadas através de consanguinidade, afinidade, relações emocionais ou legais, sendo a unidade ou o todo considerados como um sistema que é maior do que a soma das partes.

As tarefas da adolescência podem ser facilitadas ou dificultadas pelo sistema familiar. De acordo com Fonseca (2002) a adolescência dos filhos é considerada uma fase de vulnerabilidade e desorganização para o sistema familiar. Torna-se problemático quando os filhos adoptam comportamentos desviantes da norma instituída à nascença, comportamentos de risco decorrentes da procura da identidade, como a gravidez precoce.

Como tem sido descrito na literatura (Colman, L. & Colman, A. 1994; Lourenço, 1998 e Canavarro et al., 2001), o fenómeno da gravidez precoce está relacionada a famílias disfuncionais, numerosas e com problemas sócio-económicas, logo podemos inferir que uma estrutura familiar sólida pode estar na origem do sucesso para a redução deste problema, contudo existem outros factores inerentes, que determinam a complexidade deste problema. Canavarro et al. (2001), realçam que filhas de mães com história de gravidez na adolescência e com irmãs mães adolescentes, têm maior probabilidade de também virem a ser mães adolescentes.

O surgimento da gravidez precoce no seio familiar pode por em risco toda a estrutura familiar, visto que põe entrave às aspirações e projectos da família sobre o adolescente, bem como a estrutura funcional da adolescente, podendo “... estagnar ou mesmo regredir em termos de desenvolvimento...” (Lourenço, 1998:45). Contudo, as mães adolescentes tendem a considerar a relação com a família mais importante do que as relações com os pares.

Carlos Monteiro Setembro de 2012 UATLA Página 23 Como referimos anteriormente, em relação à entrave sobre as aspirações da família perante estas jovens, apesar da mãe ser habitualmente o elemento mais desaprovador em relação à gravidez, é aquela que oferece apoio mais significativo, sobretudo nos cuidados que o bebé necessita, ficando a jovem menos sobrecarregada pelas exigências inerentes à maternidade (Canavarro et al., 2001).

1.4.1.1.

Adaptação dos avós

Como é referido ao longo da literatura, todas as gestações afectam as relações familiares, implicando não só o companheiro, como também os futuros avós e descendentes do casal (irmãos caso estes existam). Os avós, como membros pertencentes à hierarquia familiar, assumem um papel relevante no apoio à adaptação no processo da gravidez. Essa importância atribuída ao papel de avô assume maior poder, quando maior for o grau de dependência e menor grau de maturidade da mulher que experienciao processo de maternidade.

De acordo com Lowdermilk e Perry (2008) para os futuros avós, uma primeira gravidez de um filho pode ser interpretada como sinal incontestável do seu envelhecimento. Por vezes, algumas pessoas experienciam esta condição aos 30 ou 40 anos de idade, na maior parte das vezes, não estando preparada para o novo estatuto, acabando por demonstrar comportamentos negativos. Não só não apoiam os futuros pais, como também utilizam meios subtis para lhes fazer diminuir a auto-estima, utilizando exemplos como: o elevado custo económico que significa criar um filho, a grande responsabilidade para educar os filhos, alteração dos projectos de vida e sonhos ambicionados.

No entanto, segundo Lowdermilk e Perry (2008), a maioria dos avós fica encantada com a perspectiva de um novo bebé na família. Isso faz-lhes reacender memórias da sua juventude, do entusiasmo de dar a luz e do comportamento dos seus filhos, quando ainda eram crianças. Estes comportamentos permitem estabelecer laços e garantir a continuidade entre o passado e o presente. A sua presença e apoio podem reforçar os sistemas familiares dado que permitem um alargamento do círculo de suporte e carinho.

Página 24 Setembro de 2012 UATLA Carlos Monteiro Ser avô significa ser capaz de transmitir um conjunto de normas e valores pré- estabelecidos e que socialmente é aceite como filosofia integrante da hierarquia familiar.

1.4.2. Recursos da Sociedade

Cada vez mais cedo os jovens iniciam relações sexuais e, evidentemente, fazem-no antes do casamento. Segundo Lourenço (1998:51) “... a este fenómeno não é indiferente a contextualização numa sociedade cada vez mais erotizada, nomeadamente pelos meios de comunicação social, e com a proliferação cultural de conteúdos e estímulos sexuais...”. o que aparece associado a outro factor que é o desaparecimento de tabus tradicionais sobre a sexualidade dos adolescentes.

Segundo Fonseca e Lourenço (1993) citados por Lourenço (1998) em algumas culturas «como a cigana ou cabo-verdiana» a maternidade precoce, para além de ser bem aceite socialmente, é mesmo desejada visto que valoriza a mulher. Mesmo nalgumas sociedades agrícolas tradicionais a gravidez precoce era característica de um sistema social, especialmente nos países subdesenvolvidos. Contudo, o crescimento do número de filhos de adolescentes não é uniforme para todas as classes socio-económicas. Baumrid (1981, cit. in Sprinthall & Collins, 1994) citado por Lourenço (1998) refere que tem-se verificado um decréscimo no número de crianças nascidas de mães adolescentes com um nível educacional e económico elevado. De acordo com Lourenço (1998:58), isto leva a um novo padrão social, uma nova casta, na qual “... os filhos de mães adolescentes serão afectados pela pobreza e pelas insuficiências sociais...”.

Pensando nos recursos que a sociedade tem para oferecer às mães adolescentes, podemos dizer que depende do contexto social. Na nossa sociedade, o recurso mais viável para as mães adolescentes é a família de origem, no entanto, na falta deste apoio surgem outras alternativas institucionais, como associações e casas de acolhimento, que apoiam estas jovens em risco e que lhes ensinam um conjunto de estratégias por forma a possibilitar o desenvolvimento de competências pessoais e sociais na arte do cuidar.

Carlos Monteiro Setembro de 2012 UATLA Página 25 Schellenbach, Whitman e Borrowski (1992), Spieker e Bensley (1994) referidos por Canavarro et al. (2001), afirmam que o apoio social aumenta as probabilidades de uma transição bem-sucedida para a parentalidade. Salientando que os apoios pré e pós natal reduzem a incidência da psicopatologia da mãe e torna o comportamento materno mais positivo, levando a um melhor ajustamento pós-parto.

De acordo com a legislação portuguesa de protecção da maternidade e paternidade, assentes na Constituição da República Portuguesa, o artigo 68º, Paternidade e Maternidade, refere que “os pais e as mães têm direito à protecção da sociedade e do Estado na realização da sua insubstituível acção em relação aos filhos...” (Governo de Portugal, 2011). Neste sentido, indo ao encontro do papel da família das jovens mães, a Direcção Geral da Saúde - DGS (2007) diz-nos que, a legislação, decreta que nos casos em que se é avô ou avó, pode faltar-se 30 dias consecutivos, a seguir ao nascimento dos netos, que sejam filhos de adolescentes com idade inferior a 16 anos, desde que consigo vivam em comunhão de mesa e habitação (Artigo 41.º da Lei nº 99/2003, de 27 de Agosto), isto com o intuito de envolver os avós no apoio às mães, contribuindo na sua reabilitação e adaptaçãoao novo papel, de mãe/cuidadora.

Documentos relacionados