• Nenhum resultado encontrado

3.1 Controle judicial de constitucionalidade no modelo brasileiro

3.1.3 Parâmetro para controle judicial de constitucionalidade

O parâmetro é a norma constitucional que está sendo utilizada para o controle, diferente do objeto, que diz respeito à lei questionada quanto à sua constitucionalidade. Parâmetro também é chamado de norma de referência. No Brasil, o parâmetro para o controle de constitucionalidade incide sobre as normas permanentes (arts. 1 a 250, da CFB), normas transitórias (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT - arts. 1º ao 97) e convenções internacionais que tenham status de norma constitucional, com o respeito ao quórum de aprovação previsto no art. 5º, §3º da CFB.

Apesar da divergência existente, prevalece na jurisprudência do STF51 que o preâmbulo não é considerado norma jurídica, sendo concebido apenas como uma diretriz hermenêutica, ou seja, ele diz como a Constituição deve ser interpretada, mas não é uma norma jurídica. Por tal razão, o controle de constitucionalidade não incide sobre o preâmbulo, diante da inexistência neste de caráter normativo.

Todas as demais normas, sejam elas feitas pelo poder constituinte originário, pelo poder reformador (art. 60, CFB) ou pelo poder revisor (art. 3º, ADCT), servem como parâmetro de controle de constitucionalidade. Deve-se estender também aos princípios implícitos na Constituição, que também servem como parâmetros para o controle (ex.: princípio da proporcionalidade, que não está expresso na Constituição, mas é abstraído da cláusula do devido processo legal substantivo - art. 5º, LIV da CFB).

A Emenda Constitucional nº 45/04 introduziu na Constituição Federal o art. 5º, § 3º, que criou um novo parâmetro para os tratados internacionais. De acordo com esse dispositivo, os tratados internacionais servirão como parâmetro de controle se atender a

51 ADI 2076 / AC - ACRE Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO Julgamento: 15/08/2002 Órgão Julgador: Tribunal Pleno Publicação: DJ 08-08-2003. EMENTA: CONSTITUCIONAL. CONSTITUIÇÃO: PREÂMBULO. NORMAS CENTRAIS. Constituição do Acre. I. - Normas centrais da Constituição Federal: essas normas são de reprodução obrigatória na Constituição do Estado-membro, mesmo porque, reproduzidas, ou não, incidirão sobre a ordem local. Reclamações 370-MT e 383-SP (RTJ 147/404). II. -Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus: não se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo força normativa. III. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (...) O preâmbulo não se situa no âmbito do Direito, mas no domínio da política, refletindo posição ideológica do constituinte. (...) Não contém o preâmbulo, portanto, relevância jurídica. Disponível em: <http://www.stf.jus.br. Acesso em 25 de julho de 2.012.

dois requisitos, quais sejam: requisito material - tem que ser um tratado internacional de direitos humanos; requisito formal - o tratado deve ser aprovado da mesma forma que as emendas constitucionais, ou seja, ser aprovado, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros. Atendidos tais requisitos, serão equivalentes às emendas constitucionais, servindo de norma de referência para controle de constitucionalidade.

A expressão bloco de constitucionalidade refere-se a todas as normas do ordenamento jurídico que tenham status de norma constitucional. Trata-se de processo de aferição de compatibilidade vertical das normas extraconstitucionais em relação ao paradigma de confronto que se encontra na redoma do que for considerado modelo constitucional. O STF52 tem utilizado essa expressão, em algumas de suas decisões, como sinônimo de parâmetro para o exercício do controle de constitucionalidade.

Numa perspectiva restritiva, bloco de constitucionalidade constitui-se somente das normas e princípios expressos da constituição escrita e positivada. O ministro do STF Celso de Mello, no julgamento da ADI 595-ES53, numa visão ampliativa, considerou como bloco de constitucionalidade:

(...) não apenas os preceitos de índole positiva, expressamente proclamados em documento formal (que consubstancia o texto escrito da Constituição, mas, sobretudo, que sejam havidos, igualmente, por relevantes, em face de sua transcendência mesma, os valores de caráter suprapositivo, os princípios cujas raízes mergulham no direito natural e o próprio espírito que informa e dá sentido à Lei Fundamental do Estado.

Analisando a ideia de bloco de constitucionalidade para o Direito português, José Joaquim Gomes Canotinho (1992, p. 997-998) leciona que:

Todos os actos normativos devem estar em conformidade com a Constituição (art. 3.º/3). Significa isto que os actos legislativos e restantes actos normativos devem estar subordinados, formal, procedimental e substancialmente, ao parâmetro constitucional. Mas qual é o estalão normativo de acordo com o qual se deve controlar a conformidade dos actos

52

HC 87585 / TO - TOCANTINS - Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO - Julgamento: 03/12/2008 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Disponível em: <http://www.stf.jus.br. Acesso em 25 de julho de 2.012. 53 Disponível em: <http://www.stf.jus.br//arquivo/informativo/documento/informativo258.htm#ADIn:> Bloco de Constitucionalidade (Transcrições). Acesso em 18 de fevereiro de 2013.

normativos? As respostas a este problema oscilam fundamentalmente entre duas posições:

(1) parâmetro constitucional equivale à constituição escrita ou leis com valor constitucional formal, e daí que a conformidade dos actos normativos só possa ser aferida, sob o ponto de vista da sua constitucionalidade ou inconstitucionalidade, segundo as normas e princípios escritos da constituição (ou de outras leis formalmente constitucionais);

(2) parâmetro constitucional é a ordem constitucional global, e, por isso, o juízo de legitimidade constitucional dos actos normativos deve fazer-se não apenas segundo as normas e princípios escritos das leis constitucionais, mas também tendo em conta princípios não escritos integrantes da ordem constitucional global.

Denota-se que a visão ampliativa de bloco de constitucionalidade coaduna-se aos anseios de proteção eficiente dos direitos fundamentais ao dinamizar o parâmetro para que se possa realizar a confrontação e aferir a constitucionalidade. Todavia, em atenção à supremacia formal e rigidez constitucional, a jurisprudência brasileira mostra- se ainda pouco ambientada à extensão do parâmetro para controle de constitucionalidade. Imprescindível reiterar que a inserção do art. 5º, §3º, da CFB, com o advento da Emenda Constitucional nº 45/2004, constitui sinalização de que a tendência ampliativa seja gradativamente adotada.