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Parâmetros Curriculares Nacionais: Eixo Transversal Orientação Sexual

O Ministério da Educação elaborou, em 1998, um conjunto de documentos intitulados Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), com seus Temas Transversais. Os Temas se constituem de seis assuntos que não devem ser trabalhados em uma disciplina, mas permeiam

todos os demais conteúdos. Entre eles, temos a Orientação Sexual e, no que diz respeito à educação sexual, associada a ele, Altman (2001, p. 579) comenta que:

a educação sexual não surge na escola a partir dos PCNs. Todavia, há de se identificar de que maneira este tema é reinscrito na escola dentro do contexto histórico e demandas atuais. A reinserção da orientação sexual na escola parece estar associada, por um lado, a uma dimensão epidêmica – como fora no passado em relação à sífilis – e, por outro, a uma mudança nos padrões de comportamento sexual. Este quadro evoca, portanto, intervenções em escala populacional, bem como individual.

É preciso reconhecer que a discussão sobre a inclusão da temática da sexualidade nos PCNs surge a partir de movimentos sociais ocorridos na década de 70, justificando-se que a sexualidade faz parte da formação global do sujeito. Já na década de 80, com o aumento significativo da gravidez na adolescência e gravidez não planejada, incluindo o aumento dos casos notificados de HIV, viu-se a necessidade de se abordar a sexualidade não somente no contexto familiar, mas também no espaço escolar.

Os PCNs propunham que a educação sexual nas escolas de ensino médio deveria ser realizada por todos os professores dentro do espaço escolar. Mas temos verificado que isso não condiz com a realidade das escolas e dos professores. Inúmeras barreiras ainda persistem ao abordar a sexualidade dentro da sala de aula e a essas barreiras acrescentamos os tabus, os preconceitos e os comportamentos decorrentes de diferentes interpretações religiosas. Para o indivíduo falar sobre sexualidade é necessário fazer uma releitura de si mesmo, fato que ainda persiste como barreira e bloqueio que dificultam a abordagem (BRASIL, 1998). Em relação a isso, Bonato (1996, p. 118-119) declara que:

a educação sexual no âmbito da instituição educativa tem de ser aceita primeiro pelo professor, que precisa quebrar barreiras sociais e pessoais a ele impostas. Falar sobre sexualidade não é uma tarefa fácil para qualquer pessoa. Falar da sexualidade do outro é falar de si, é se colocar dúvidas, é repensar suas concepções, valores e preconceitos.

Contribuindo com a prática de educação sexual na escola, Batista (2008, p. 127-128) esclarece que ―a família educa sexualmente os filhos de diferentes formas, um simples olhar, uma conversa, um abraço, assim como o afastamento, o silencio ou até mesmo a repressão são modos de ensinar‖. Sobre isso assunto, consta no documento (BRASIL, 2009, p.181):

A publicação dos PCNs em 1996 foi um marco importante na consolidação da educação sexual como uma questão escolar. Porém, isto não significa que alguma

forma de educação sexual seja desenvolvida, de fato, em todas as escolas, nem que haja um consenso acerca do que quer dizer fazer educação sexual, ainda menos que esta traduza, antes de tudo, educar para a cidadania.

Mesmo com um tema amplo como orientação sexual, o documento apresenta uma forma de currículo oculto quando o assunto é educação sexual, pois se analisarmos mais a fundo, observamos que ele evidencia o sistema reprodutor (expresso como tema central do trabalho, enfatizando o pênis, vagina, testículos etc.). Nessa perspectiva, o documento corrobora a reprodução heterossexual e oculta que a sexualidade não se constitui apenas na genitalidade, mas, é uma fonte para qual o desejo, o prazer e a construção de si mesmo se fazem necessários. Em relação ao currículo oculto expresso nos PCNs, Rosemberg (1985, p.11-19) descreve que:

por muito tempo, um dos grandes problemas para a implementação da educação sexual nas escolas era o fato de este ser considerado um assunto privado, de responsabilidade das famílias. A ele podemos adicionar interferências religiosas no campo educacional, com um discurso contrário à utilização de métodos anticoncepcionais.

Outro ponto que merece destaque nesse documento é relacionado à família tradicional, denominada heterossexual e para a qual a reprodução é o ponto de destaque, seguido da hierarquização dos gêneros, anulando assim, as demais construções pessoais, sociais e políticas que permeiam os gêneros e as orientações sexuais:

O fato de a família ter valores conservadores, liberais ou progressistas, professar alguma crença religiosa ou não, e a forma como o faz, determina em grande parte a educação das crianças e jovens. Pode-se afirmar que é no espaço privado, portanto, que a criança recebe com maior intensidade as noções a partir das quais vai construindo e expressando a sua sexualidade.

Na análise desse documento, observamos que ele reproduz o discurso de sexualidade, de gênero e das diversidades, apresentadas nos capítulos anteriores, reafirmando o sistema patriarcal, a função reprodutiva do sexo e as repressões. Vianna e Unbehaum (2004, p. 96) salientam que ―os PCN, porém, não estão impregnados de uma perspectiva de gênero, a qual, a nosso ver, deveria perpassar todas as áreas do conhecimento e não estar atrelada estritamente à orientação sexual‖. Temos aqui uma indicação de uma possível abordagem transdisciplinar.

Ao verificarmos as matrizes curriculares dos cursos de licenciatura da UFT, observamos uma organização disciplinar e, por isso, rígida na sua estrutura, indicando uma

proposta de abordagem também disciplinar para as escolas. Essa organização disciplinar que vai formar o professor, também de perfil disciplinar, vai dificultar o reconhecimento da transversalidade dos temas e, com isso, priorizar a disciplinaridade na formação dos alunos. Dessa maneira, temas muitos amplos, como as categorias propostas nessa dissertação, deveriam ser ―incluídas em alguma disciplina‖ caso contrário, não teria como ser abordadas na escola devido à sua rígida organização curricular.