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3.4 Avaliação de Tecnologias

3.4.4 Parâmetros de análises das propostas de avaliação de mercado de tecnologias

A partir das análises de cada proposta de processo de avaliação ressalta-se alguns parâmetros em que pontos convergentes e divergentes são observados entre os modelos. De maneira geral, os processos são estruturados a partir de dois pilares: tecnologia e mercado. Porém, dentro dos processos propostos ocorrem desdobramentos de aspectos a partir desses pilares, podendo ser criadas outras categorias de critério para a avaliação. Como exemplo desses diferentes níveis de desdobramento, pode-se citar as questões relacionadas a propriedade intelectual. Nas propostas de Guemes-Castorena; Fierro-Cota; Uscanga-Castillo (2013), do “Quicklook” Cornwell (1998) e Rahal e Rabelo (2006), existe uma categoria específica para avaliação de aspectos da propriedade intelectual, enquanto em outros modelos esses são considerados junto com os aspectos técnicos ou de maturidade da tecnologia. O mesmo acontece com as questão relacionadas a aspectos legais, que

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Bandarian (2007) traz de forma independente enquanto as outras propostas normalmente vinculam esse aspecto às análises de barreira de mercado como é o caso de Ribeiro e Vasconcellos (2019) e do “Quicklook” Cornwell (1998). A Figura 25 evidencia os desdobramentos dos pilares técnicos e de mercado encontrados na literatura. Algumas dessas categoria não pertencem unicamente a um pilar, sendo posicionadas no meio da imagem.

Figura 25- Desdobramento dos critérios de avaliação do potencial de mercado de tecnologias

Fonte: Elaborado pelo autor

O que define se aquele conteúdo será um subitem de uma categoria ou se denominará um critério macro de avaliação é o nível de detalhe que se deseja trabalhar dentro daquela temática específica. Portanto, caracteriza-se como um dos parâmetros de um processo de avaliação de potencial de mercado o nível de aprofundamento e detalhamento do estudo, dentro dos pilares principais de tecnologia e mercado.

Atrelado ao nível de detalhes que será dado ao estudo, está a forma como a coleta de dados é realizada. A coleta de dados pode variar de formas menos interativas como a investigação de dados secundários até a coleta de dados primários. A proposta que apresenta como estratégia maior interatividade é a do I-Corps, pelo fato de utilizar os processos cíclicos de validação do “Customer Development”. Dentro dessa perspectiva de desenvolvimento de startups essa interação é representada pelo jargão “get out of the building” que incentiva os desenvolvedores de tecnologias a saírem de seus laboratórios para irem validar suas hipóteses de negócio com o mercado. Em contrapartida, as propostas de Guemes-castorena, Fierro-cota e Uscanga-Castillo (2013), Ribeiro e Vasconcellos (2019), Rahal e Rabelo (2006) utilizam como estratégia uma coleta de dados menos interativa, sendo que o próprio responsável pelo estudo, deve buscar as informações em dados secundários. Ressalta-se que em ambos os casos, existem momentos de interação entre a equipe

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para que alguns aspectos mais complexos em relação à tecnologia sejam discutidos melhorando o direcionamento do estudo.

Ressalta-se ainda, que a interação próxima com o desenvolver da tecnologia é dada como fundamental na maioria das propostas, sendo considerada fator chave para o sucesso da transferência da tecnologia. Dessa maneira, o parâmetro relacionado a coleta de dados é definido pela predominância do uso de estratégias mais ou menos interativas além do contato com o desenvolvedor da tecnologia. Percebe-se que a busca por essa proximidade com o desenvolvedor da tecnologia está relacionada a algo inerente ao processo de avaliação que é a preocupação, convergente em todas as propostas, em compreender e caracterizar a tecnologia que está sendo avaliada.

Existe ainda, as propostas em que a interação ao longo da coleta de dados pode ser considerada moderada. Pode-se citar como exemplo a proposta do “Quicklook” em que em uma das etapas do processo de avaliação existe uma prescrição de entrar em contato com especialistas de empresas. De maneira convergente, o trabalho de Santiago et al. (2015) utiliza como artifício para a formação dos times de avaliação das tecnologias convidados especialistas externos à organização. Ainda o trabalho de Bandarian (2007) envolve no processo de avaliação uma banca de especialistas e um critério específico de coleta de percepção de usuários, fornecedores e clientes. Portanto, as propostas de coleta de dados com características moderadas de interação são aquelas que contam com a participações pontuais de especialistas externos.

E por fim, pode-se observar ainda que o processo de avaliação do potencial de mercado de tecnologias pode ter diferentes contextos. Nas propostas analisadas, tem-se casos de aplicação em empresas, instituições de pesquisa e NIT‟s. Porém, ressalta-se os diferentes direcionamentos de objetivos e entregas mesmo dentro de um objetivo mais amplo de fazer com que as tecnologias desenvolvidas cheguem ao mercado. A proposta de Santiago et al. (2015), por exemplo, utiliza o processo de avaliação da tecnologia objetivando a sua valoração, ou seja, definindo valores e taxas para sua negociação. Os critérios definidos e avaliados por Shane (2004), objetivam trazer insumos para que se avalie se determinada tecnologia está mais propícia para ser transferida para um empresa consolidada ou para que seja utilizada como base para o desenvolvimento de uma spin-off. Outro direcionamento encontrado, diz respeito à avaliação da tecnologia para a identificação da viabilidade comercial ou a necessidade de desenvolvimento de alguns aspectos da tecnologia antes de prosseguir com o pedido de depósito da patente. Sendo assim, a metodologia do “Quicklook” pode ser aplicada para orientar a tomada de decisão em relação ao patenteamento ou não de uma tecnologia. E por fim, os outros modelos estudados, visam catalisar de maneira geral o processo de

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comercialização de uma tecnologia, não apresentando especificidades em termos de objetivos e direcionamentos e objetivos a serem abordados. O Quadro 10 apresenta os modelos estudados dentro de cada um desses objetivos.

Quadro 10- Modelos de avaliação de mercado de tecnologias e seus objetivos específicos

Objetivo Referências

Catalisar o processo de transferência de tecnologia Bandarian (2007)

Ribeiro e Vasconcellos (2019) Rahal e Rabelo (2006)

Valoração da Tecnologia Santiago et al. (2015)

Direcionar em relação à transferência de tecnologia ou criação de spin-offs acadêmicas

Shane (2004), I- CORPS

Decisão sobre Proteção da propriedade intelectual Cornwell, (1998)

Guemes-Castorena, Fierro-Cota e Uscanga-Castillo (2013)

Fonte: Elaborado pelo autor