• Nenhum resultado encontrado

1. INTRODUÇÃO

4.3 Parâmetros fluviomorfométricos

Os estudos que envolvem as deformações crustais têm sido uma preocupação nas chamadas Geociências. As perturbações recentes que remodelam o planeta, denominado Neotectônica, têm ganhado espaço na literatura, sobretudo nos últimos 30 anos. As deformações na crosta terrestre são dinâmicas e constantes. Algumas movimentações podem ser súbitas, como falhas acompanhadas de terremotos, ou de longa duração, tais como soerguimentos e subsidências, muitas vezes assísmicas. Independentemente da velocidade das deformações, são profundas as implicações na dinâmica superficial de cada porção do planeta, incluindo, no caso dos terremotos, altos riscos para a sociedade.

Ainda que as maiores incidências de terremotos estejam presentes nas faixas limítrofes das grandes placas tectônicas e que a maior concentração de epicentros estejam relacionadas com essas áreas, o interior da placa não está infenso aos processos de deformações, inclusive com a presença de terremotos significativos. Alguns trabalhos demonstram que estas áreas podem apresentar sismos de elevada magnitude, conquanto infrequentes, e de grande poder destrutivo (e.g., BURNETT; SCHUMM, 1983; JOHNSTON; KANTER, 1990; HAMILTON; JOHNSTON, 1990; ASSUMPÇÃO, 1992; MIOTO, 1993; BOYD; SCHUMM, 1995; CRONE; MACHETTE; BOWMAN, 1997; ETCHEBEHERE et al., 2004a; GUEDES, 2008; GUEDES, et al., 2009a; b).

Na intenção de contribuir com o entendimento da estrutura geológica regional e considerando a atuação da neotectônica na fisiografia da paisagem do Oeste Paulista, é que este trabalho propõe o uso da análise de parâmetros morfométricos das drenagens que compõem essa área, as quais podem fornecer valiosas informações sobre as deformações da superfície crustal. Não obstante, o melhor conhecimento da dinâmica geológica no território paulista pode servir de base para o

uso e ocupação do solo tanto no que se refere à fragilidade do terreno para a propagação de grandes erosões, quanto na prevenção às grandes construções que, se em lugar de alta vulnerabilidade, podem acarretar em desastres de grandes proporções resultando em grandes prejuízos financeiros e na perda de vidas.

A hipótese de trabalho se fundamenta no fato de que os fluxos de água reagem de modo imediato a qualquer tipo de deformação que se apresente na paisagem, seja antrópica ou natural, devido à ação da gravidade. As técnicas empregadas permitem investigar se essas deformações correspondem a um quadro neotectônico, ou não.

A utilização de parâmetros fluviomorfométricos com o objetivo de identificar possíveis anomalias que evidenciem atividades sísmicas tem sido objeto de estudo de diversos autores (e.g. ZERNITS, 1932; HORTON, 1945; STRAHLER, 1952, HOWARD, 1967; RIVEREAU, 1969). Os parâmetros morfométricos da rede de drenagem se mostram úteis para tais questões. Em território brasileiro, destaca-se o pioneirismo de Alfredo Björnberg (BJÖRNBERG, 1969a, b; 1992) no estudo de perfis longitudinais de drenagens.

Hack (1973) propôs o índice Slope Length, compreendido como a Relação entre a Declividade e a Extensão (RDE) dos canais de drenagens, tendo aplicado-o com sucesso na definição de fenômenos neotectônicos em diversos contextos geológicos do território norte-americano. Adiante, Adams (1980) estudou deformações crustais mediante evidências geomorfológicas; Seeber e Gornitz (1983) aplicaram a técnica dos índices RDEs nos Himalaias; McKeown et al. (1988) trabalharam no nordeste de Arkansas e sul do Missouri (USA); Merritts e Vincent (1989) atuaram, de modo similar, no limite tríplice entre as placas tectônicas Norte- Americana, do Pacífico e Gorda; Marple e Talwani (1993) estudaram a região de Charleston (South Carolina, USA); Cox (1994) também estudou drenagens com vistas às deformações crustais aplicando índices de simetria para detectar basculamentos de blocos; Hattingh e Goedhart (1997) estudaram o controle neotectônico na evolução da rede de drenagem na Província do Cabo, África do Sul. Em Gulf of Corinth, na Grécia, Verrios, Zygouri e Kokkalas (2004) aplicaram

diferentes técnicas para realizar suas análises. Das técnicas empregadas, destacam-se o Índice de Sinuosidade, a Razão Fundo/Altura de Vale (the valley floor

simetria das drenagens (Transverse topographic Symmetry Factor and Drainage

Basin Asymmetry [índice de COX, 1994]).

Na Índia, Biswas e Grasemann (2005), com o apoio das imagens SRTM, estudaram a Dauki Fault, reconhecendo lineamento das drenagens e do relevo, utilizando técnicas de índice de sinuosidade das montanhas, índice RDE, simetria das bacias de drenagens, densidade das drenagens, análise dos perfis longitudinais das drenagens e estudos de perfis em 3D e conseguiram delimitar quatro grandes zonas de falhas naquela região.

Em território nacional, além das contribuições de Alfredo Björnberg, conforme já dito, listam registros de aplicação de técnicas semelhantes, como na região amazônica (RODRIGUEZ; SUGUIO, 1992; RODRIGUEZ, 1993), na Bacia Sedimentar de São Paulo (TAKIYA, 1997), na bacia hidrográfica do Rio do Peixe (ETCHEBEHERE; SAAD, 1999; ETCHEBEHERE, 2000; ETCHEBEHERE et al., 2004a); no Município de Guarulhos-SP (ACKLAS Jr.; ETCHEBEHERE; CASADO, 2003); na bacia do rio Turvo (ITRI; SILVA; ETCHEBEHERE, 2004; SANTOS; GUEDES; ETCHEBEHERE, 2004); na bacia sedimentar de Curitiba (SALAMUNI; EBERT; HASUI, 2004).

Na bacia do rio Bonito, em Petrópolis-RJ, Mendes, Fernandes e Gontijo- Pascutti (2007) fizeram uso da identificação de lineamentos das drenagens e do relevo com a utilização de imagens SRTM, identificaram desnivelamentos topográficos, calcularam o índice de assimetria das drenagens e índice de RDE chegando a definir cinco compartimentos estruturais.

Outros trabalhos se seguiram na bacia do rio Santo Anastácio (SANTONI; ETCHEBEHERE; SAAD, 2004; GUEDES et al., 2006, GUEDES, 2008; GUEDES et al. 2009a, b), na bacia do rio Pirapó, noroeste paranaense (MARTINEZ, 2005), no sudoeste do Rio Grande do Sul (ANDRADES FILHO; GUASSELLI; SUERTEGARAY, 2008), na Soleira de Arujá, região nordeste do Estado de São Paulo (MACIEL, 2009), na bacia do rio Ivaí, estado do Paraná (FUJITA, 2009), na bacia hidrográfica do rio Jaguarí (SILVA, 2010), na região do Pontal do Paranapanema (SANTOS; GUEDES; ETCHEBEREHE, 2011), na bacia do rio Turvo (GUEDES; MORALES; ETCHEBEHERE, 2011), na bacia do rio Aguapeí (PORTO et al., 2013) e na bacia hidrográfica do Rio Guruji, litoral paraibano, (BARBOSA; FURRIER, 2011) .

Ainda que recente na literatura nacional, o crescimento do interesse de outros pesquisadores por esta prática tem ajudado a difundir as técnicas de investigações neotectônicas no contexto brasileiro, acreditando-se que tais métodos possam contribuir para o planejamento territorial e para melhor entendimento da atuação das deformações crustais em regiões intraplacas.

Documentos relacionados