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Parâmetros técnicos adotados

A Microeconomia da Pecuária de Corte na Amazônia

4.3 Parâmetros técnicos adotados

Nesta subseção e nas próximas tenta-se sumariar os principais parâmetros técnicos e econômicos adotados nos painéis, apresentando-se uma breve explicação

de alguns parâmetros mais interessantes e/ou controversos. A Tabela 10 resume o tamanho da propriedade padrão e os usos do solo adotados nos seis municípios.

TABELA 10. Tamanho das propriedades e uso do solo adotados nos painéis

a – PF – Preço do hectare de áreas que contém apenas a floresta.

PI – Preço do hectare de áreas que possuem uma fazenda instalada com infra-estrutura para a atividade pecuária. PN – Preço do hectare de áreas desmatadas e sem infra-estrutura para pecuária (preço levantado só no estado de SP, por

não possuir áreas que contém apenas a floresta).

NOTA: O preço da terra é muito variável sendo influenciado pela distância da cidade, tipo de solo, relevo, uso a que se dispõe,

quantidade de área averbada, etc. Os preços da tabela acima são valores aproximados respectivos às propriedades típicas no raio de 30 a 40 Km das cidades mais próximas.

Observa-se que em Paragominas as propriedades são em geral de grande porte, com as áreas de reserva legal melhor preservadas. A maioria destas reservas não está intacta, pois as árvores cujas madeiras têm alto valor comercial já foram extraídas. Como a ocupação é mais antiga e a posse da terra mais consolidada, nota-se que a agricultura mecanizada começa a despontar, principalmente nos últimos 3 anos. A maior parte das pastagens foi formada há duas décadas e os grandes troncos remanescentes do

processo de desmatamento já foram queimados várias vezes ou degradaram com a ação da alta temperatura e umidade; com isto, o custo do enleivamento é menor, facilitando a implantação da agricultura em larga escala. Além disso, os pastos degradaram devido ao seu manejo incorreto, à superlotação, à baixa fertilidade do solo da região, levando à compactação da terra, redução da rebrota e, por conseqüência, à queda da produtividade das gramíneas. Este fator, aliado ao relevo plano e ao clima, tem propiciado o

Município Tamanho das

propriedades Uso do solo

Preço da terra (Reais/ha)a Painel –1 12.000 hectares 50% – Reserva 50% – Pastagem Paragominas –PA Painel –2 15.000 hectares 60% – Reserva 36% – Pastagem 4% – Agricultura PF – R$ 300 PI – R$ 1.250 Redenção – PA Painel – 3 4.800 hectares 50% – Reserva 50% – Pastagem PF – R$ 300 PI – R$ 1.300

Santana do Araguaia – PA Painel – 4

3.200 hectares 100% – Pastagem

PF – R$ 250 PI – R$ 2.000

Alta floresta – MT Painel – 5

1.200 hectares 50% – Reserva 50% – Pastagem PF – R$ 250 PI – R$ 1.200 Ji-Paraná – RO Painel – 6 1.700 hectares 50% – Reserva 50% – Pastagem PF – R$ 200 PI – R$ 1.250 Painel – 7 300 hectares 20% – Reserva 70% – Pastagem 10% – Agricultura Tupã – SP Painel – 8 300 hectares 20% – Reserva 70% – Pastagem 10% – Agricultura PN – R$ 2.500 PI – R$ 3.300

avanço da agricultura, especialmente os cultivos de arroz, milho e feijão (a soja ainda encontra dificuldades devido à alta pluviosidade, que gera problemas tanto no plantio como na colheita).

No caso de Santana do Araguaia, a área destinada à reserva florestal é nula e a declarada em Redenção equivale a 50%. Através da visualização da região, parece que apenas as grandes propriedades ainda têm taxas de 50% de reserva, enquanto as propriedades menores praticamente não as possuem. Como em Paragominas, a produtividade das gramíneas é também baixa, mas ao contrário da primeira, o relevo irregular e o solo pedregoso não têm estimulado o progresso da agricultura na região.

O processo de colonização de Alta Floresta tem pouco

mais de vinte anos. A ação do governo facilitou o acesso à terra, levando o tamanho médio das propriedades a ser menor que o observado no Pará. As taxas de preservação nas propriedades situam-se ao redor de 50%, em respeito ao Código Florestal. Finalmente, no município de Ji-Paraná as propriedades têm menor porte médio devido ao histórico do processo de colonização. A distribuição dos lotes ao longo da BR-364 foi realizada de forma organizada porém não racional, desrespeitando as limitações impostas pelas adversidades do relevo e da infertilidade do solo. Isto levou muitas das áreas desflorestadas a terem baixo aproveitamento, com algumas tendo sido abandonadas. A Tabela 11 apresenta os principais índices de produção animal conforme indicados em cada um dos painéis.

TABELA 11. Principais índices de produção animal determinados nos painéis

Pará M. Grosso Rondônia S. Paulo

Índices Paragominas S.Araguaia Redenção Alta

Floresta Ji-Paraná Tupã

Tipo de sistema (a) CRE E RE CRE CRE CRE CRE E

U.A. por hectare (b) 0,71 1,53 0,86 0,83 1,18 0,91 1,14 1,08

Taxa de Mortalidade

(animais jovens) 4% - - 4% 3% 3% 2% -

Taxa de Mortalidade

(animais adultos) 2% 2% 2% 2% 1% 2% 1% 1%

IEP – (Intervalo entre

partos, meses) 15 - - 16 14 14 17 -

Taxa de Prenhez 75% - - 87% 88% 85% 75% -

Ganho diário de peso

em Kg (média anual) 0,47 0,50 0,42 0,42 0,43 0,45 0,37 0,33

(a) – Tipos de sistema declarado nos painéis:

CRE – Cria, recria e engorda, ou seja, a propriedade possui matrizes para gerar seus próprios bezerros e áreas destinadas ao

crescimento e a terminação de bovinos

RE – Propriedade executando as etapas de recria e engorda, necessitando comprar bezerros E – Propriedade executando apenas a engorda, necessitando comprar bezerros ou bois magros

(b) – Unidade animal

FONTE: Dados da pesquisa de campo.

Comparando os índices, observa-se que o melhor desempenho foi obtido no painel de Alta Floresta – para os painéis de cria, recria e engorda – e de Paragominas – para os painéis de recria e engorda.

Na região de Paragominas, observou-se um empenho maior para desenvolver e aprimorar as tecnologias referentes ao manejo e a recuperação de pastagens. A região de Alta Floresta caracteriza-se por ser uma área

de colonização muito nova que possui áreas privilegiadas. Existem grupos de pecuaristas bem organizados que buscam tecnologias de manejo de pasto.

Como mencionado anteriormente, os parâmetros técnicos obtidos a partir dos painéis foram confrontados com os mesmos parâmetros constantes dos censos agropecuários do IBGE. Os parâmetros comparáveis e seus valores estão sumariados na Tabela 12.

TABELA 12. Comparação dos parâmetros dos painéis com os dados do IBGE, município de Paragominas – PA

Painel IBGE

Tamanho da Propriedade 12.000 7.352

Mortalidade animais jovens 4% 10,2%

Mortalidade animais adultos 2% 0,7%

Taxa de Prenhez 75% 82,8%

UA por hectare 0,7 3,0

Com relação ao tamanho da propriedade, não seria possível ajustar a planilha para outros valores pois não haveria como reavaliar as benfeitorias e maquinários de uma propriedade de tamanho diferente do mencionado na pesquisa de campo. Qualquer redução proporcional não afetaria a receita por hectare. Com relação às taxas de mortalidade, é importante notar que os dados do IBGE referem-se ao Censo Agropecuário de 1996, de modo que os dados devem ter sido coletados por volta de 1994-95. Esta diferença de 7-8 anos em relação aos dados coletados no presente estudo é vital: a taxa de mortalidade é um dos parâmetros chaves para os pecuaristas, sendo portanto onde muitos dos ganhos de produtividade recentes ocorreram, com a disseminação de técnicas como a inseminação artificial. Quanto à taxa de UA, os dados dos painéis dos quatro outros municípios são quase integralmente coincidentes com os do IBGE. No caso de Paragominas parece haver um erro de medição nos dados do IBGE, superestimando o número de animais por hectare. Caso se alterasse este parâmetro, a rentabilidade subiria drasticamente e não pareceria realista, tendo-se optado pela manutenção do parâmetro da pesquisa de campo.

Clima

Dentre os fatores ambientais que mais afetam a atividade da pecuária extensiva estão a freqüência e a extensão do período de seca e a luminosidade. Eles podem ser considerados os principais elementos que deter minam o crescimento das pastagens e, conseqüentemente, o melhor desempenho da produtividade.

Observa-se que o período de seca é muito mais longo na região sudeste, enquanto as áreas próximas à floresta amazônica, além de apresentarem períodos de seca mais curtos, possuem elevados índices pluviométricos, alta temperatura e elevada umidade relativa do ar, fatores que promovem a redução dos custos na época da seca. Este parece ser o ponto mais favorável à

produção pecuária na região, embora seja importante destacar que as variedades de capim utilizadas na região são as mesmas das utilizadas em outras regiões do Brasil. O desenvolvimento de variedades mais adaptadas a esta região poderia elevar ainda mais a produtividade e prevenir contra pragas e plantas invasoras.