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As diferentes matérias analisadas apontam ainda para alternativas que vão além da substituição do padrão tecnológico. Destaque para o pensamento elaborado em torno do planejamento e conceitos como o de Tecnologia Social e de Design.

Um personagem importante na história das fontes de energia renovável é José Goldemberg29, presidente do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE/USP), em entrevista cedida a Juliana Lopes e Ricardo Voltolini, o físico analisa os desafios e oportunidades relacionadas à questão energética no Brasil e no mundo. Para o físico, os países não precisam necessariamente continuar assumindo um paradigma tecnológico, na verdade, eles têm que assumir e cumprir metas de redução e emissão, portanto, é uma questão de planejamento e não de inovação (IDEIA, ed. 17, 2009a).

Para José Goldemberg, a crise econômica de 2008 fez o mundo refletir sobre o modelo financeiro e de produção, o que não deixou de ser uma oportunidade, visto que, esse evento fez com que os países assumissem com mais interesse a corrida para uma “economia verde”, com investimentos maciços em projetos de energia renovável ou medidas de eficiência energética, decisões políticas que mostram a preocupação real com o aquecimento global. Neste sentido, a crise serviu para tentar resolver os problemas ambientais e também o próprio problema econômico. Segundo o físico, as energias renováveis geram mais empregos do que as não renováveis:

(...) Pegue-se, por exemplo, a Petrobras, que produz dois milhões de barris de petróleo por dia. Dividindo essa quantidade de barris por 50 mil, o número de funcionários da companhia, cada empregado gera 40 barris. Fazendo a mesma conta para etanol, gerado a partir da cana de açúcar, o resultado é bem diferente. O Brasil produz 16 bilhões de litros por ano, ou 300 mil barris por dia de etanol. Em compensação, a indústria sucroalcooleira emprega 700 mil pessoas. Cada empregado produz meio barril. Conclui-se, portanto, que o setor de álcool produz menos que a Petrobras, mas gera mais emprego (IDEIA, ed. 17, 2009a, p. 50).

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Diretor da Eletro-Paulo na década de 80, presidiu a secretaria de Ciência e Tecnologia (1990-1992) no governo de Fernando Collor de Melo, foi articulador com a organização ECO 92 e responsável pela pasta de meio ambiente do governo de São Paulo (2002-2006). Em 2008, foi homenageado em âmbito internacional como um dos importantes prêmios ambientais, Blue Planet, oferecido pela fundação Japonesa Asahi Glass. O físico foi apontado pela revisa norte-americana Times como um dos heróis do meio ambiente (IDEIA, ed. 17, 2009a).

O físico deixa bem claro que as energias renováveis são uma nova opção para gerar empregos, muitos daqueles perdidos com a crise econômica financeira global de 2008. Portanto, os países investem em energias renováveis para recuperar a economia e ao mesmo tempo reduzir suas emissões. Mas em relação ao Brasil, a questão é um pouco diferente. De acordo com o físico, o país emite pouco carbono em relação aos países que querem se recuperar da crise, logo não faz muito sentido a corrida para energias renováveis, pois a maior parte produzida no Brasil é de origem hidrelétrica. Para José Goldemberg, o verdadeiro desafio do governo brasileiro é impedir o desmatamento da Amazônia, que com as queimadas emite três vezes mais do que todo o resto do Brasil.

Goldemberg é um defensor da expansão das hidrelétricas, tema polêmico no Brasil. Segundo o físico, o governo brasileiro se intimidou com as pressões ambientalistas e acabou tomando uma atitude pior do que construir usinas hidrelétricas:

(...) Diante da dificuldade na construção de usinas hidrelétricas, o governo em desespero, tem autorizado a realização de leilões para a produção de novas fontes de energia. Quem ganha com esses leilões são as usinas movidas a carvão e óleo diesel, excessivamente mais poluentes. Pelo modelo que o governo está seguindo, até o ano de 2017, a percentagem de fontes renováveis em nossa matriz energética, hoje de 85%, cairá para 75%, devido ao aumento das usinas termelétricas. Em sua defesa, o governo afirma que os ambientalistas não deixam construir, mas o motivo real é a falta de planejamento (IDEIA, ed. 17, 2009a, p. 50).

De acordo com o pensamento do físico, o governo brasileiro deveria enfrentar as ONGs, pois ou são as hidrelétricas ou as usinas de carvão, ou mesmo as usinas nucleares. Goldemberg assume a preferência pelas hidrelétricas, mas para ele falta planejamento sério no governo brasileiro para permitir que os projetos existentes de novas hidrelétricas fossem aprovados com maior agilidade. Além disso, o físico fala sobre a importância da biomassa:

(...) O uso do bagaço para a produção de energia elétrica está virando uma grande atividade industrial e comercial. Em petróleo, o Brasil é auto- suficiente. E se o pré-sal for desenvolvido – o que ainda exigirá uma longa caminhada – ele pode ser exportado. Essa seria a trajetória natural. As alternativas vento e sol não são tão importantes no Brasil quanto na Europa, tanto que os europeus estão pensando seriamente em utilizar o deserto do Saara para colocar coletores solares, gerar energia elétrica e transportar para os seus países. Mas, claro, trata-se de um processo bastante caro (IDEIA, ed. 17, 2009a, p. 51).

Os mercados de energias possuem uma variedade de opções para serem estudadas, e muitas vão além da simples adoção de novas tecnologias. Mas não é somente o campo da energia que possui outras formas de pensamentos que não estão aliadas ao paradigma tecnológico. O setor da construção civil também tem outros pontos de vistas além da substituição ou adoção de tecnologia para dar prioridade à “sustentabilidade”. Em seu artigo, Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Departamento Intersindical do Dieese, fala dos desafios de corrigir as injustiças do setor da construção civil, pois não adianta só adotar “sustentabilidade” no setor, deve se priorizar a justiça social. São diversos problemas como a falta de reconhecimento legal do trabalho (muita mão-de-obra informal, o que também prejudica a arrecadação para previdência pública), a terceirização, os baixos rendimentos pagos aos trabalhadores, predominância de baixa escolaridade e de péssimas condições de trabalho. A verdadeira “sustentabilidade” deve começa por aí, e pouco se fez para mudar esses problemas diante dos investimentos que o Brasil irá realizar futuramente, tantos públicos como privados, como o PAC, “Minha casa minha vida”, programa habitacional do governo federal, Copa do Mundo 2014, investimentos em empresas estatais como Eletrobrás e Petrobras etc. (PRIMEIRO, ed. 14, 2009a).

Para Clemente Ganz Lúcio, a “sustentabilidade” deve incluir o social, a geração de emprego, a erradicação da pobreza, o respeito aos direitos humanos, a estabilização populacional e outros benefícios sociais. Os argumentos de Clemente Ganz Lúcio se aproximam do pensamento de Thomas Gladwin, autor do texto “Beyond eco-efficiency: towards socially sustainable business’. Sustainable Development”. Para este guru dos negócios, “desenvolvimento sustentável” é sinônimo de “desenvolvimento social”:

(...) para Gladwin o empresariado é a força mais poderosa na reversão da degradação social e ambiental do planeta, justamente por ser o responsável por essa degradação. No entanto, nem o empresariado nem o Estado são capazes de assumir isoladamente este projeto. O Estado por estar envolvido em questões transnacionais e, assim, não ser capaz de gerenciar as dimensões social, política, econômica e tecnológica, e o empresariado por não estar capacitado para tanto. Dessa forma, a sustentabilidade deve ser garantida em parceria com a sociedade e gerar benefícios sociais a esta. Em vista disso, Gladwin elabora a definição da empresa socialmente responsável, cujo comportamento deve estar baseado nos seguintes parâmetros: a) as empresas devem retornar para as comunidades nas quais operam os ganhos obtidos e envolver os stakeholders atingidos no planejamento e processos de tomada de decisões (princípio da reciprocidade); b) a empresa deve assegurar que

suas ações, diretas e indiretas, não prejudicarão os direitos civis e nem praticarão discriminação com relação às oportunidades econômicas (princípio da equalização ou igualdade); c) a empresa deve garantir que não haverá perda líquida de capital humano no âmbito da sua força de trabalho e nas operações junto às comunidades e, também, nenhuma perda líquida de emprego produtivo direto e indireto; d) a empresa deve demonstrar que está, direta e indiretamente, agindo no sentido de satisfazer as necessidades básicas da humanidade. Acertadamente, Gladwin reconhece que atender às exigências da sustentabilidade social, redirecionando e remodelando as empresas de modo a que estas sirvam à tais propósitos, é tarefa de grande magnitude e que implica numa transformação radical das partes envolvidas no processo, representando, por esse motivo, um grande obstáculo à mudanças (SANTOS, 2003, p.38).

O tipo de pensamento exposto no trecho acima abriu caminhos para o surgimento de novos conceitos dentro do ambientalismo empresarial. SANTOS (2003) comenta que John Elkington30, seguidor das ideias de Gladwin, buscou integrar as dimensões sociais e ambientais nas estratégias econômicas. Assim surgiu o termo “Triple Bottom Line”, prosperidade econômica, qualidade ambiental e justiça social, que define que “desenvolvimento sustentável” só seria atingido quando os três fatores fossem levados em consideração. Para Elkington, o empresariado seria a liderança capaz de levar ao processo de mudança, pois a transição da “sustentabilidade" depende dos mercados, e estes do governo (SANTOS, 2003).

Já Ignacy Sachs tem outra proposta para a “sustentabilidade”, que abrange a tecnológica, mas não se restringe a ela. Em entrevista31 realizada pelo jornalista Vinícius Carvalho, do Portal da Rede de Tecnologia Social (RTS), o diretor do Centro de Pesquisas do Brasil Contemporâneo, na Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais, em Paris, o economista francopolonês Ignacy Sachs fala sobre os rumos e desafios das tecnológicas para o “desenvolvimento sustentável”.

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ELKINGTON, John. Cannibals With Fork: the triple bottom line of 21st century busines s.Oxford.

Capstone Publishing, 1997.

31 Esta entrevista foi retirada da matéria “Tecnologias sociais: Impactos positivos no meio ambiente e na sociedade” (PRIMEIRO, ed. 14, 2009a, p. 49).

Figura 13 - Ignácio Sachs. Fotografia de Cláudio Reis Fonte: Revista Primeiro Plano (edição 14, 2009, p. 49)

De acordo com SCOTTO et. al. (2009), Ignacy Sachs foi o principal personagem na idealização do conceito ecodesenvovimento, termo apresentado pela primeira vez no ano de 1973, por Maurice Strong. Ecodesenvolvimento surgiu como proposta alternativa, uma via intermediária entres posições inconciliáveis: de um lado os defensores do crescimento econômico; do outro, os que advertiam sobre os perigos da industrialização, anunciavam o fim dos recursos naturais e as possibilidades de fenômenos catastróficos. Ignacy Sachs definiu o ecodesenvolvimento baseado em princípios de justiça social em harmonia com a natureza, com ajuda de técnicas ecológicas que possibilitam diminuir o desperdício dos recursos, cuidando da satisfação das necessidades da sociedade. Por conseguinte, ecodesenvolvimento contribuiria para ajudar as populações envolvidas a se organizarem e se educarem para enfrentar seus problemas. O termo depois contribuiu para reflexões sobre desenvolvimento durável ou viável, e foi tema central na Cúpula da Terra e Agenda 21.

Na entrevista para Vinícius Carvalho, o economista destaca as oportunidades que as chamadas “Tecnologias Sociais” podem criar neste momento de crise. Segundo Ignacy Sachs, alguns pontos são fundamentais para “sustentabilidade” da economia. O primeiro tem a ver com o papel do Estado que, no seu ponto de vista deve ser mais enxuto, sem deixar de ser proativo na economia, nas questões sociais e consciente dos perigos que ameaçam a natureza. Para isso, são necessárias políticas públicas que gerem soluções, principalmente para satisfazer as necessidades das populações locais. Políticas como as de acesso à terra, de capacitação, de assistência técnica permanente, de créditos preferenciais e acesso

organizado ao mercado. Neste caso, o economista aponta para a necessidade de focar em mercados institucionais, com a inclusão de novas tecnologias. No segundo ponto, Sachs fala de tecnologias que priorizem mão-de-obra, em vez de a excluir, como tem sido o caminho do progresso. Ao mesmo tempo, poupar os recursos naturais, que são cada fez mais escassos, por exemplo, dos solos agricultáveis e da água. Além disso, ele argumenta que essas novas tecnologias devem ser capazes de assegurar uma remuneração digna às pessoas que dela dependem e serem de fácil aplicação na produção em pequena escala, para favorecer agricultores familiares e micro-empreendimentos. De certa forma o economista defende que não devemos priorizar somente a grande escala produtiva. O pensamento de Ignacy Sachs se aproxima dos argumentos de Paul Hawken, empresário que se tornou guru dos negócios. Este guru dos negócios não acredita na “sustentabilidade” ambiental promovida pelas grandes multinacionais. Conforme SANTOS (2003), Paul Hawken considera as grandes empresas como as principais responsáveis pelos problemas envolvendo o meio ambiente, por isso ele acha insuficiente a criação de novas entidades de defesa ambiental e os investimentos destinados aos programas de preservação. Paul Hawken defende as pequenas empresas32, pois considera que

são as mais éticas, idealistas e inovadoras.

Em relação ao mercado, Ignacy Sachs comenta:

(...) É importante que essas tecnologias não fiquem unicamente no que é comercial e gera mercado, mas atuem diretamente sobre o nível de vida das populações por meio de tecnologias domésticas. Como reduzir o número de horas que as mulheres gastam para buscar lenha e água? Como melhorar as condições de habitação? São questões que requerem insumos tecnológicos de enorme impacto social, embora não se traduzem pela criação de mercados para produtos (PRIMEIRO, ed. 14, 2009a, p. 49).

Ignacy Sachs aponta para o enfrentamento de novos desafios do século XXI, o primeiro é o desafio das mudanças climáticas e o segundo é o social. Uma economia baseada no “desenvolvimento sustentável” deverá reduzir as emissões de gases geradores de efeito estufa para conter os riscos que podem ocorrer. Na questão social, o principal foco é a criação de novos postos de trabalho com os critérios da OIT, o que, de acordo com o depoimento do economista, não vem ocorrendo nos últimos anos numa economia mundial. Portanto, o desafio principal é

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O que já se observa em edições de revistas especializadas em pequena empresa, como é o caso da Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios, editora Globo.

aliar medidas de caráter ambiental com a luta contra a pobreza. Ao ver do economista, aí é que deve se inserir as novas tecnologias.

A inovação é necessária, pois ganharemos mais se revermos muitas técnicas, do que somente falando em abstrato, como no caso da energia eólica. Entretanto, a solução não se limita à disseminação de tecnologias existentes, para Ignacy Sachs é também importante estimular invenções de novas tecnologias, aliada à colaboração de uma Rede de Tecnologia Social, universidades e institutos de pesquisa.

No campo do design, temos outra forma de pensamento sustentável que vai além da dimensão tecnológica. A reportagem “Coçar a orelha com a mão certa” (BRASIL, ed. 25, 2009a), de Regina Scharf, é uma entrevista com John Thackara, design, filósofo e comunicador inglês, que propõe uma reinvenção do cotidiano para tornar nossas vidas mais “sustentáveis”.

John Thackara é um dos idealizadores que vai à contramão do que vem sendo proposto como sociedade ou “economia sustentável”. Se para a maioria a “sustentabilidade” só é possível com a adoção de um novo padrão tecnológico, para John Thackara, ao contrário, a vida deve ser desacelerada33 e com menos tecnologia:

Na sua percepção, é hora de reduzir a circulação de pessoas e materiais no mundo e de criar uma sociedade menos veloz e mais acessível. Para tanto, propõe soluções que usam a inteligência e a observação, e que geralmente dispensam a alta tecnologia (BRASIL, ed. 25, 2009a, p. 35).

John Thackara é um tipo liderança empreendedora engajada nas questões ambientais. Ele acumula ações em prol do meio ambiente pelo mundo. Ele vem criando pelo mundo redes de projetos colaborativos que envolvem gente comum e designers sociais, que sirvam para simplificar a vida das pessoas. Na Inglaterra, Thackara construiu hortas comunitárias para poupar a população de deslocamentos para adquirir alimentos. São as chamadas “Paisagens Comestíveis”. Em Hong Kong, criou fóruns para discutir mudanças na economia chinesa, principalmente, a transferência do trabalho de produção de bens para o trabalho de oferta de serviços.

33 A crise financeira global e o aumento do preço do petróleo ajudaram a diminuir em 50% as emissões, de acordo com os dados da agência Netherlands Environmental Assessment (NEAA), que avaliou a quantidade de emissões globais de CO2. (IDEIA, ed. 17, 2009a). A crise significou uma breve desaceleração do crescimento econômico, além disso, a pesquisa apontou mais dois fenômenos que contribuíram para a diminuição de gases poluentes lançados na atmosfera. O primeiro foi a adoção de alguns países no uso de novas fontes de energia renovável, como biocombustíveis e energia eólica e o segundo foi a queda de consumo global de petróleo.

Na França, organizou a City Eco Lab, show-room de projetos de criação de moedas alternativas, permacultura e agricultura comunitária. No Brasil, Thackara está envolvido no projeto “Momento Monumento”, um tipo de empreendimento social para dar utilidade a um prédio abandonado no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo, transformando-o num Centro Cultural. Ele também está em contato com uma rede de escolas, que conecta uma empresa brasileira de design, localizada em São Paulo, que trabalha com artesanato, e com a rede de reciclagem, que propõe a reaproveitamento da tecnologia, como a dos velhos computadores. Contudo, o mais importante dos seus projetos é a série de conferências Doors of Perception (Portas da Percepção), promovidas a cada dois anos, desde 1993, um evento que reúne pessoas que criam inovações que exploram o uso da tecnologia da informação e do design para construir cenários mais “sustentáveis”.

Para John Thackara, o futuro não será uma ficção cientifica, ou seja, não será muito diferente do que é agora, porém menos enlouquecido e destrutivo:

(...) a ideia de que temos de consumir ainda e construir ainda mais, sempre mais, já não se sustenta. Precisamos de um modelo de desenvolvimento que esteja mais atento ao contexto em que vivemos e que leve em consideração o capital social e os serviços prestados pelos sistemas ambientais. Só assim substituiremos o desenvolvimento insensível pelo design consciente (BRASIL, ed. 25, 2009a, p. 35).

Algumas coisas deixarão de existir, como viagens aéreas, fast food e spas de saúde no alto de arranha-céus. Neste novo mundo, o design e a criatividade possuem um papel importante. “Cerca de 80% do impacto ambiental dos produtos, dos serviços e das infraestruturas que temos hoje são determinados pelo seu design” (BRASIL, ed. 25, 2009a, p. 26). Segundo John Thackara, o design provoca um impacto enorme no meio ambiente, pois é responsável pela definição dos materiais e da energia necessários para sua confecção. Neste sentido, o design tem que ser pensado de maneira eficiente, com o melhor uso dos recursos. Mas para Thackara, as soluções não podem ser encontradas sozinhas, mas achadas em discussões coletivas. Grupos são mais criativos, portanto, devem encontrar formas de conectar as pessoas e organizações. Um bom exemplo para Thackara são as Transition Towns. Um movimento criado pelo permaculturista Rob Hopkins, que defende a implementação de comunidades autossuficientes, que são mais resistentes a crises ambientais e financeiras. Hoje, esse movimento cresce tanto que já chegou a 14 países, com 8 mil iniciativas de transição.

Parece que a substituição da rapidez pela proximidade é a principal mensagem que Thackara passa. Entendendo que os seres humanos não irão deixar de se mover, devem fazê-lo com eficiência, por exemplo, a utilização de transporte urbano, que é mais eficiente até mesmo em relação ao carro elétrico, que utiliza muitos metais pesados nas baterias de energia. Segundo Thackara: “Se você usa uma tecnologia inteligente num produto sem sentido, terá um produto idiota”. Portanto, por mais que a indústria produza carros elétricos, as cidades continuam com problemas de tráfego.

John Thackara expressa seu desejo de que as pessoas busquem objetivos realmente significativos para suas vidas diárias. Somente deste modo é possível criar condições para que a vida continue e com mais qualidade:

Não é minha função tornar as pessoas felizes, mas tenho observado que a participação em atividades de design lhes traz felicidade (BRASIL, ed. 25, 2009a, p. 30).