• Nenhum resultado encontrado

A importância da privatização da OGMA para o Estado português tem na sua génese uma avaliação puramente economicista, em que se verificou a existência de resultados negativos que sobrecarregavam o erário público, o

que determinou a avaliação da sua viabilidade e de qual a orientação a seguir, com vista ao saneamento da situação.

Tendo sido aferido, através da avaliação dos indicadores da empresa, que a mesma teria viabilidade operando a título de empresa privada nos mercados civil e militar, entendeu-se que o melhor caminho a seguir para apoiar o seu desenvolvimento seria a opção pela privatização, tendo como parceiro um grande construtor ou um grupo que integrasse grandes construtores de aeronaves ou de material aeronáutico.

Concomitantemente, a ligação que se criou, decorrente do resultado da privatização, potenciou a manutenção do conhecimento especializado numa área de tecnologia intensiva e que, não sendo o fator decisivo para a implementação de uma fábrica da EMBRAER em Évora, foi, no entanto, mais um elemento a pesar a favor de Portugal, porquanto já existia no nosso país uma área de negócio relevante para a EMBRAER.

Todas as condições facultadas para potenciar e facilitar a instalação desta grande empresa em Portugal proporcionou retorno ao Estado português garantindo emprego especializado e não especializado, desenvolvimento de tecnologias de ponta, investigação e novas empresas associadas a este tipo de projetos. Acresce que este novo núcleo empresarial se tem desenvolvido gradualmente e vem consolidando a sua posição no mercado, o que leva a assumir a existência no nosso país de um “cluster” no âmbito da aeronáutica, com todas as consequências daí decorrentes.

7 Conclusões

Os resultados obtidos com a análise efetuada à informação recolhida (dados disponibilizados pela OGMA, entrevistas efetuadas e resposta às solicitações a diversas entidades) confirmam uma estratégia de desenvolvimento de longo prazo bem definida para a OGMA, fruto da sua integração numa empresa com implantação mundial e conhecedora do mercado (EMBRAER), e validam a opção de alienação de parte do capital da OGMA por parte do Estado português, enquanto principal interessado na viabilidade económica e salvaguarda dos interesses nacionais no âmbito da segurança e defesa nacional.

As consequências para a OGMA, conforme demonstrado na análise efetuada ao longo do trabalho, comprovam que, do ponto de vista da sua viabilidade financeira, a privatização veio melhorar todos os indicadores económicos, de desempenho dos seus trabalhadores e, inclusivamente, melhorando as qualificações destes.

Senão vejamos: temos a considerar o aumento do volume de negócios, a passagem de uma margem operacional com valores negativos para valores sempre positivos (à exceção de 2005) e a tender aproximadamente para 10%, o incremento do valor relativo à exportação a consolidar-se acima dos 90%, confirmando o mercado externo (em especial, o comunitário) como o suporte à atividade da empresa e, atualmente, o cliente civil que, em 2012, inverteu a situação existente, passando a representar mais de 50% das vendas do respetivo ano.

Cumulativamente aos dados financeiros, podemos verificar o evoluir do desempenho do capital humano que, apesar de ver diminuído o seu número, viu aumentar o valor das vendas por empregado em cerca de 35,14%, reduzir a taxa de absentismo em 3,7%, o número de acidentes de trabalho em 82,54% e aumentar o nível médio de escolaridade mantendo a performance que se verificava anteriormente em valores superiores ao nível genericamente apresentado pela população ativa de Portugal.

Mas o elemento de maior relevo na transformação ocorrida na OGMA é o patente nos indicadores de âmbito operacional, seja o resultado operacional seja a margem operacional.

A análise efetuada aos dados recolhidos demonstra uma efetiva alteração da estrutura de custos. A alteração ao CMVMC, vem comprovar a rigidez do mercado dos componentes para a indústria aeronáutica, em consequência da notória falta de concorrência, o que leva a empresa a ser mera tomadora de preços e a não conseguir uma maior redução deste fator. Já as variações verificadas nos FSE, de montante muito significativo (cerca de 50%), prendem- se com a redução das despesas de subcontratação, através do aproveitamento de recursos já existentes e que representavam encargos fixos que, com pouca variação nos custos com o CMVMC e o pessoal, permitiram a incorporação de novos processos produtivos na OGMA. A preponderância dos fatores anteriores em conjugação com outros fatores, dos quais destacamos o volume de vendas, tem levado a OGMA a resultados e margens operacionais crescentes e positivas que já atingiram alguma maturidade e se encontram

estabilizados, permitindo-lhe desenvolver o core business para que este se adapte constantemente às alterações dos mercados.

Concomitantemente ao contributo da privatização para o desempenho da empresa ao nível do mercado, o que concorreu para a sua viabilidade financeira e económica, importa também verificar se a relação existente com o Estado português (entenda-se, no essencial, a Força Aérea Portuguesa), no sentido da garantia da manutenção das aeronaves deste ramo das forças armadas e da manutenção de um relacionamento privilegiado, também tem contribuído para o bom desempenho da empresa. A visão da OGMA50 face à relação de reciprocidade que deveria existir é que reconhece no cliente Força Aérea Portuguesa o seu cliente mais importante, apesar de, atualmente, o volume de negócios a este inerente ser um valor pequeno face ao volume total de vendas. Igualmente, a OGMA lamenta não sentir uma postura recíproca do lado da Força Aérea Portuguesa, não sabendo se esse sentimento é decorrente de falta de estratégia para o desenvolvimento deste sector, ou se, existindo estratégia, a mesma é ignorada, eventualmente por força da atual situação económica em que o país se encontra.

Já as consequências para o Estado português, analisadas segundo as vertentes financeira, de satisfação pelo trabalho desenvolvido e outros contributos, apresentam-se de seguida.

Do ponto de vista financeiro, e concretizando um grande objetivo pretendido com a privatização da OGMA, a mesma deixou de representar um encargo para o Estado português, contribuindo ainda com a distribuição de dividendos

50

Resposta a solicitação efetuada à OGMA através do Sr MGen Saúl Pascoal, responsável pelo Relacionamento Governamental

relativos ao seu bom desempenho económico e financeiro no mercado em que opera e de que o Estado também aproveita. Já quanto aos resultados relativos à satisfação em relação ao cumprimento das obrigações para com as solicitações efetuadas pela Força Aérea Portuguesa, não nos é possível concretizar um grau de satisfação, dado não se ter obtido qualquer resposta à solicitação efetuada a esse ramo das Forças Armadas. Não explícitos, mas de fácil apreensão, há ainda a considerar outros benefícios indiretos, como é o caso da manutenção de postos de trabalho, o contributo para a manutenção de conhecimentos especializados (por se tratar de uma indústria de tecnologia intensiva), o aumento dos níveis de escolaridade da sua população ativa e o contributo para a balança de pagamentos, dados os seus elevados montantes de exportação.

Visivelmente, o caso da OGMA é uma situação em que a indústria de defesa no modo de governação privado consegue, genericamente, resultados mais benéficos do que no modo de governação pública.

A maior flexibilidade na gestão dos recursos humanos, a não sujeição aos ciclos políticos e à incerteza adveniente das alterações constantes de políticas, potenciam o desenvolvimento de estratégias sustentadas de longo prazo. Por outro lado, a não sujeição dos trabalhadores à “síndrome do bem comum” em que os recursos humanos não se identificam com a atividade desenvolvida e recorrem ao argumento de “isto não é meu”, não compreendendo que o que é do Estado é de todos, pois o Estado somos todos nós, o redireccionamento da atividade para a componente de duplo uso e aplicação (civil/militar) e o apoio/interesse de um dos principais intervenientes neste tipo de mercado

(EMBRAER), permitem que sejam acomodadas nesta empresa todas as especificações relativas aos bens de defesa, o que lhe permite vingar num mercado muito competitivo e muito bem conhecido de todos os intervenientes no mesmo.

As conclusões e o trabalho anteriormente apresentado poderiam ter um desenvolvimento mais pormenorizado e permitir uma análise mais vasta e com outros pontos de vista caso os processos de privatização fossem mais transparentes e públicos. A falta de informação e de respostas às solicitações às entidades envolvidas no processo de privatização concorreram igualmente para as dificuldades de desenvolvimento do tema.

Um desenvolvimento mais aprofundado conseguindo a colaboração ativa das entidades do âmbito público (essencialmente a EMPORDEF enquanto entidade condutora do processo e representante dos interesses do Estado e a Força Aérea Portuguesa enquanto maior potencial beneficiário) permitiria um aprofundamento das bases que poderão levar a considerar o mesmo tipo de atuação para outras indústrias do âmbito da defesa.

8 Referências bibliográficas

Documentos relacionados