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Mapa 08. O Rio de Janeiro em

2.3. PARA SANT’ANNA DE CONSENZA

A pesquisa em diferentes corpos documentais evidenciou que o distrito majoritariamente italiano, desde 1872, foi Sant’Anna. Em segundo lugar, aparecem Santo Antonio e São José e, a partir de 1906, a Gamboa – correspondente ao antigo 2º distrito de Sant’Anna (ver anexo I e II) – surge com destaque, bem como o Espírito Santo.

Além disso, cabe lembrar que eles estiveram presentes nas freguesias mais afastadas e nas rurais desde 1872. Campo Grande, sobretudo, apresentou crescimento substancial destes imigrantes que, inicialmente, em 1872, contava com 04 indivíduos (0,23% do contingente geral de italianos na cidade do Rio) e, em 1920, contava com 524, correspondendo a 2,39% do total.

Como já nos referimos, os italianos, como outros imigrantes, esforçavam-se, por localizar-se próximo ao centro, para facilitar seu acesso aos locais de trabalho. A região central era constituída por seis distritos: Candelária, São José, Sacramento, Santo Antonio, Santa Rita e Sant’Anna (e posteriormente, Gamboa).

Em Sant’Anna, os imigrantes conviviam ativamente com os negros e migrantes internos, de diferentes regiões do país, sobretudo os nordestinos como os baianos e pernambucanos, mas também com aqueles provenientes de diferentes localidades da província, e depois, Estado do Rio de Janeiro. José Murilo de Carvalho (2000, 17), por exemplo, afirma que, em 1891, apenas 45% da cidade era nascida, no Rio de Janeiro.

Os migrantes internos de outras regiões do país, cujos números começam a aparecer nos censos, assumem nomes e sobrenomes nos registros paroquiais, fonte

riquíssima para estudo da participação destes elementos na composição populacional do Rio de Janeiro. Assim, os registros de casamento, por exemplo, fornecem, além dos dados individuais, a procedência ou origem dos envolvidos, permitindo uma avaliação deste fluxo.

A tabela 13, por exemplo, lista 34 cidades/municípios do Rio de Janeiro, identificados nas listagens matrimoniais da paróquia de Sant’Anna. Da mesma forma, a tabela 14, registra, a partir do mesmo fundo documental, 15 Províncias/Estados.

Tabela 13. Cidades do Estado do Rio de Janeiro de onde vinham muitos migrantes

Angra dos Reis Nova Friburgo

Araruama Parati

Barra Mansa Petrópolis

Cabo Frio Piraí

Cachoeira de Macacu (Santana de Macacu) Resende

Campos Rio Bonito

Cantagalo Rio Claro (Lídice)

Casemiro de Abreu (Barra de São João) São Fidelis

Guapimirim São Gonçalo

Iguassu São José do Vale do Rio Preto

Ilha Grande São João de Meriti

Itaboraí Silva Jardim (N. Sra. Da Lapa de Capivari)

Itacurrussá Saquarema

Itaguaí Sumidouro

Macaé Teresópolis

Magé Valença

Niterói Vassouras

Tabela 14. Principais Estados dos Migrantes Internos

Alagoas Minas Gerais Rio Grande do Norte

Bahia Pará Rio Grande do Sul

Ceará Paraíba Santa Catarina

Espírito Santo Pernambuco São Paulo

Maranhão Piauí Sergipe

(Arquivo Paroquial da Igreja de Santana)

O superpovoamento da região – onde eram numerosas as casas de cômodo e moradias de preços mais baixos – tornava o bairro sujo e desorganizado, além de carente de serviços urbanos. Esta condição era propícia para que houvesse a ocorrência de pequenos delitos, além de favorecer a promiscuidade no mundo da prostituição, que marcava Sant’Anna. Neste bairro, os registros policiais referentes à vadiagem e algazarra são recorrentes, sendo superado, no entanto, no que diz respeito às ocorrências criminais, por São José e Sacramento.

As características, acima apresentadas, tornavam Sant’Anna, um verdadeiro bairro de “má fama”, tal como descrito por Engels (2008: 70), em A Situação da Classe

Trabalhadora na Inglaterra, onde a miséria se abrigava permitando aos trabalhadores,

sempre expostos ao perigo do desemprego, apenas a sobrevivência cotidiana.

Por regra geral, as casas dos operários estão mal localizadas, são mal construídas, mal conservadas, mal arejadas, úmidas e insalubres; seus habitantes são confinados num espaço mínimo e, na maior parte dos casos,

num único cômodo vive uma família inteira (...). O vestuário dos operários

também é, por regra geral, muitíssimo pobre e, para uma grande maioria, as pecas estão esfarrapadas. A comida é frequentemente ruim (...). (ENGELS, 2008, 115)

O curioso deste trecho é que, apesar do pensador inglês referir-se à cidade de Londres, no século XIX, sua descrição cabe perfeitamente à qualidade do bairro de Sant’Anna. É claro que levamos em conta que o termo operário, acima empregado, encaixa-se a qualquer trabalhador superexplorado pelo sistema capitalista, mesmo que não fosse um empregado na indústria.

Com pequenas variações, a situação descrita acerca do bairro de Sant’Anna, reproduzia-se nos de Santo Antonio, São José, Gamboa e Espírito Santo, onde os italianos também se concentravam, conforme, o gráfico 03, a seguir, evidencia. Nota-se, também, que Sant’Anna e Santo Antonio, apresentam o maior número de italianos entre 1906 e 1920 e ressalta que Espírito Santo, em 1920, revela um aumento considerável.

No conjunto, há um decréscimo, no mesmo espaço temporal, de 15.281 para 11.813, entre 1906 e 1920. Ainda que os italianos tenham diminuído em números absolutos no último Censo, tal mudança nas referidas freguesias pode ser explicado pela mobilidade social alcançada por pequenos grupos que se dirigiram a outras localidades, como exemplo, o bairro da Glória.

Pode-se chegar a tal conclusão uma vez que o decréscimo do número total de italianos no Rio de Janeiro, de 1906 a 1920 foi de 14,2% e o decréscimo nas regiões centrais corresponde a 22,69%. Ademais, vale lembrar que dentre essas regiões, o distrito do Espírito Santo sofreu alta de 16,96%. O distrito que mais sofreu redução de italianos em números absolutos foi Santo Antonio, com perda de mais de mil indivíduos; e, em percentuais foi a Gamboa, com queda de 36,77%.

Gráfico 03. Os italianos e seus principais distritos

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 1872 1906 1920 Sant'Anna Santo Antonio São José Espírito Santo Gambôa (Recenseamento de 1872, 1906 e 1920)

O mapa 12 revela a dimensão do antigo distrito de Sant’Anna. Destaca-se, no limite à esquerda, próximo à região do Sacramento, a Praça da República. Sant’Anna, o

10º distrito, compreendia toda a região que corresponde à Avenida Presidente Vargas, à Central do Brasil, à Cidade Nova e parte do Estácio. Na parte superior, nota-se o limite com a região de Santo Antonio, que hoje corresponde à parte do Centro e da Lapa e, na parte inferior, localiza-se o porto.