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CAPÍTULO II «ELE PRÓPRIO ERA UMA “CARTA” PERMANENTE»

1. PARA VÓS SOU BISPO, CONVOSCO SOU SACERDOTE

O Papa João Paulo II dirigiu a todos os sacerdotes as Cartas que servem de fonte a este trabalho. Contudo, sentiu a necessidade de referir que elas são para todos os sacerdotes, tanto diocesanos, como religiosos, mesmo para aqueles que não tenham a

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Adoptamos como título para este capítulo uma frase que o senhor Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, deixou no testemunho que lhe foi pedido.

36 actividade pastoral dos sacramentos120. É na comunhão de sacramento e de ministério que escreve e, adaptando as palavras de Santo Agostinho, diz: «Para vós sou bispo, convosco sou sacerdote»121. “Tu amas-me? Amas-me tu mais do que estes?” (cf. Jo 21,15-17) é a pergunta que deve marcar o dia-a-dia de cada sacerdote para um „sim‟ contínuo e verdadeiro.

«Quinta-Feira Santa, o dia da festa anual do nosso Sacerdócio»122 é recordado por João Paulo II, com estas ou outras palavras, em várias cartas123. Em dia de Quinta-Feira

Santa124, celebra-se a instituição da Eucaristia, juntamente com a instituição do sacerdócio ministerial125; além de ser a comemoração da instituição da „Fracção do Pão‟, é perceptível este nascer da Eucaristia todas as vezes que é celebrada, independente do dia, hora e local126. Diz o Papa: «Esta celebração invocativa recorda-nos o dia em que, juntamente com a Eucaristia, foi instituído por Cristo o sacerdócio ministerial. E este foi instituído para a Eucaristia e, portanto, para a Igreja que, enquanto Povo de Deus, se forma por meio da Eucaristia»127. Continuando com as palavras do Santo Padre, podemos dizer que «a Quinta-feira Santa é o dia natalício do nosso sacerdócio. Foi neste dia que nós nascemos. Assim como um filho nasce do seio de sua mãe, também nós, ó Cristo, nascemos do vosso único e eterno sacerdócio»128. Ele deu-nos o Seu Corpo e Sangue, recebidos de Sua Mãe129. Há uma íntima relação entre o sacerdócio ministerial e a Eucaristia. Ela é mesmo a principal e central razão do ministério, é a razão primeira do Sacerdócio; o „ser‟ do sacerdote realiza-se „a partir dela‟ e „para ela‟130. «Quinta-feira Santa, o dia do amor de

120 Cf. Carta de 1979, n. 1; Carta de 1980, n. 2; Carta de 1985, n. 2.

121 «Vobis enim sum episcopus, vobiscum Christianus» (Serm, 340, 1 - nota de roda pé (3) da Carta de 1979). 122

Carta de 1979, n. 1.

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Cf. Carta de 1982, n. 1. 9; Carta de 1985, n. 1; Carta de 1986, n. 1; Carta de 1987, n. 1; Carta de 1988, n. 8; Carta de 1995, n. 3. 8; Carta de 1997, n. 1.

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Neste primeiro ponto achamos por bem ter presente o que o Santo Padre diz acerca da Quinta-Feira Santa. Isto porque, remete, quase sempre, para a vivência deste dia junto do Bispo e em redor do Altar da Eucaristia.

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Cf. Carta de 1986, n. 1; Carta de 1987, n. 1; Carta de 1989, n. 1; Carta de 1993, n. 2; Carta de 1996, n. 8; Carta de 1997, n. 1; Carta de 2002, n. 11; Carta de 2004, n. 2; Carta de 2005, n. 1.

126 Cf. Carta de 1994, n. 1; Carta de 1998, n. 7. 127 Carta de 1983, n. 1. 128 Carta de 1982, n. 1. 129 Cf. Carta de 1995, n. 3. 130

Cf. Carta de 1980, n. 2. Aproveitamos para referir que neste ano a intenção do Santo Padre passou por dirigir esta Carta aos Bispos, mas também aos Sacerdotes e Diáconos, que tem como tema principal a Eucaristia: “Dominicae Cenae”.

37 Cristo levado “até ao extremo” (cf. Jo 13,1), o dia da Eucaristia, o dia do nosso sacerdócio»131; do amor de Cristo “obediente até à morte” (Fl 2,8)132.

Neste mesmo dia, é de importância capital descobrir que entre a instituição da Eucaristia e a sua realização na Cruz está a oração de Cristo133; bem como que o sacrifício da Cruz está ligado ao Mistério da Encarnação. Por sua vez, o sacrifício da Nova Aliança liga-se à instituição da Eucaristia, que é sacramento do sacerdócio e que na realidade é a mesma Encarnação134.

Continuando a deter-nos em Quinta-Feira Santa, sigamos de perto as palavras do Papa:

«Sim, nós hoje abrimos os nossos corações – estes corações que ele novamente “criou”, pela sua acção divina. Pela graça da vocação sacerdotal, Ele os “re-criou” e neles age constantemente. Não há dia em que Ele não crie. Cria em nós, e “re-cria” sem cessar a realidade que constitui a essência do nosso Sacerdócio: aquilo que confere a cada um de nós a plena identidade e a autenticidade no serviço sacerdotal; e que nos dá a possibilidade de “ir e dar fruto” e a força para que este fruto “seja duradouro” (cf. Jo 15,16)»135

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Convidou-os a viver a renovação sacerdotal, de Quinta-feira Santa, tendo presente a agonia, a Paixão, a Morte e Ressurreição de Jesus136. Nesta mesma ideia, referiu que a Última Ceia é como que a antecipação da Paixão, Morte e Ressurreição; o „isto é‟ e o „fazei isto‟ realiza-se definitivamente no «tudo está consumado» (Jo 19,30)137

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«Ao entardecer, vejo-vos entrar no Cenáculo para iniciar o „Tríduo Pascal‟. É precisamente naquela “sala mobilada, no andar de cima” (Lc 22,12) que Jesus nos convida a retornar em cada Quinta-Feira Santa, e onde mais me apraz «encontrar-me convosco, amados irmãos no sacerdócio»138, diz o Santo Padre. Recorda a invocação do Espírito Santo – Vem, Espírito Criador – do dia da ordenação de cada sacerdote. Relembrou, igualmente, que no início do Tríduo Pascal, o convite a que todos os sacerdotes se dirigissem para o Cenáculo onde Cristo, juntamente com os seus, instituiu a Eucaristia e o

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Carta de 2005, n. 1.

132 Cf. Carta de 1998. 133

Cf. Carta de 1987, n. 9; Carta de 2001, n. 16; Carta de 2003, n. 21.

134 Cf. Carta de 1988, n. 1. 135 Carta de 1990, n. 2. 136 Cf. Carta de 1999, n. 7. 137 Cf. Carta de 1998, n. 2; Carta de 2003, n. 3. 138 Carta de 2004, n. 1.

38 sacerdócio que foi herdado por eles. Isto porque, em dia de Quinta-feira Santa, volta-se à origem do sacerdócio da Nova e Eterna Aliança e cada sacerdote recorda em especial o início de sacerdócio na sua vida139 porque «este é o nosso dia com Ele»140.

1.1. Unidade dos sacerdotes com o seu bispo

É importante o vínculo da fraternidade e unidade entre os sacerdotes e o seu bispo141 numa união colegial142; o Papa exortou à comunhão com o papado, entre o episcopado e presbiterado143 e a viver na unidade do Espírito Santo144. Esta mesma união entre os bispos e sacerdotes, na celebração e na vida da Igreja, tem a sua renovação em cada missa crismal145, dia em que, reunidos em redor do bispo, se ouvem as palavras de Jesus na sinagoga (cf. Lc 4,18), as quais se adaptam a cada um; unem-se, na mesma celebração, a renovação sacerdotal e a bênção dos Óleos Santos que são usados em alguns sacramentos146; é o momento de acção de graças a Deus, pelo dom da Eucaristia, da sua vocação. Porém, os sacerdotes devem ter presente a disponibilidade nas suas vidas para a acção do Espírito Santo147; unem-se ao Pentecostes, em que foi enviado o Espírito Santo Paráclito que como dom que agrega ao Único Sacerdote; isto porque é pelo Espírito Santo que o sacerdote age „in persona Christi‟ em todo o seu ministério148.