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PARADIGMA E TIPOLOGIA DA PESQUISA

A presente investigação está inserida no Grupo de Pesquisa “Mal-estar e bem-estar na docência”, do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUCRS, atualmente coordenado professor Juan José Mouriño Mosquera. Em consonância com as pesquisas já realizadas por este grupo, esta foi de cunho quanti-qualitativo que, por estar inserida num paradigma naturalista, apresenta como características: o ambiente natural, como sua fonte direta de dados; o pesquisador, como seu principal instrumento; os dados coletados, que devem ser predominantemente descritivos; a preocupação com o processo, que é muito maior do que com o produto; a análise de dados, que tende a seguir um processo indutivo (LÜDKE e ANDRÉ, 1986).

Flick (2004) alerta para o fato de que os novos contextos, com objetos cada vez mais complexos, exigem dos pesquisadores um olhar mais acurado, que o paradigma quantitativo, historicamente, já não responde por si mesmo. Assim, emerge a proposta qualitativa, na qual “o objeto em estudo é o fator determinante para a escolha de um método, e não o contrário” (p. 21) – posição tomada por mim, para levar a cabo esta investigação. Por isso, como explico adiante, adoto um seqüenciamento quanti-qualitativo, ou seja, começo investigando o todo dos professores da escola, através de um instrumento quantitativo e posteriormente, escolhendo as amostras pré-determinadas, desenvolvo a parte qualitativa, de modo a compreender as especificidade do objeto pretendido.

A opção de manter uma pesquisa de cunho quanti-qualitativa converge com o pensamento de Goldenberg (2003) que afirma que a integração destas duas permite ao

pesquisador „cruzar‟ as suas conclusões de modo a ter maior confiança que seus dados não são produtos de um caso particular e que, através da interdependência entre aspectos quantificáveis e a vivência da realidade pode abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do objeto de estudo. Assim, o que considero como pesquisador é que ambos os métodos não são opostos, mas complementares.

Surge daí a triangulação, ou seja, o cruzamento dos dados, que para Flick (2004), permite que “as diferentes perspectivas metodológicas complementam-se no estudo do assunto, um processo que é entendido como a compensação complementar das deficiências e dos pontos obscuros de cada método isoladamente” (p. 274). A triangulação, para Stake (1994) serve também para esclarecer o significado através da identificação das diferentes maneiras pela qual o objeto pode ser observado.

A abordagem escolhida para esta pesquisa é o estudo de caso, ou nas palavras de Stake (1994) um estudo de caso intrínseco, que acontece quando se quer analisar um caso específico – neste caso o bem-estar no contexto da escola salesiana.

O estudo de caso tem se tornado a estratégia preferida quando os pesquisadores procuram responder às questões „como‟ e „por quê‟ certos fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de algum contexto da vida real. (GODOY, 2005, p. 25)

Outra justificativa para realizar esta pesquisa no formato de um estudo de caso está no fato de que é o pesquisador quem determina o quão complexo pode ser o objeto de análise. Por se tratar de um tema recente e ainda com poucos casos devidamente relatados, acredito que esta seja uma decisão prudente na pesquisa. Além disso, o estudo de caso permite que a pesquisa comece por uma visão mais ampla e se „afunile‟, conforme a necessidade:

O plano geral do estudo de caso pode ser representado com um funil. (...) O início do estudo é representado pela extremidade mais larga do funil: os investigadores procuram locais ou pessoas que possam ser objeto do estudo ou fontes de dados e, ao encontrarem aquilo que pensam interessar-lhes, organizam então uma malha larga, tentando avaliar o interesse do terreno ou das fontes de dados para os seus objetivos. (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p. 89)

Yin (2005) ainda acrescenta que, diferentemente do que se aceitava, em termos de metodologia, o estudo de caso pode incluir evidências quantitativas, sendo por isto uma alternativa a mais para a busca de dados. Buscando explicar o porquê de um estudo de caso único ou com poucos casos ser considerado um projeto apropriado em determinadas pesquisas, o mesmo autor elenca cinco fundamentos lógicos. A presente pesquisa na escola

salesiana pode ser considerada como um caso representativo ou típico, que corresponde ao terceiro fundamento lógico:

Um terceiro fundamento lógico para um caso único é o caso representativo ou típico. Aqui o objetivo é capturar as circunstâncias e condições de uma situação lugar-comum ou do dia-a-dia. O estudo de caso pode representar um “projeto” típico entre muitos projetos diferentes, uma empresa de manufatura considerada típica entre muitas outras empresas de manufatura no mesmo setor industrial, um bairro urbano típico, ou uma escola representativa, como exemplos. Parte-se do princípio de que as lições que se aprendem desses casos fornecem muitas experiências sobre as experiências da pessoa ou instituição usual. (YIN, 2005, p. 63)

Stake (1994) ainda classifica este como um estudo de caso múltiplo, não porque estuda um coletivo de casos, mas realiza um estudo estendido a diversos casos, que convergem em um único. Para pesquisar os fatores de bem-estar docente, escolhi os casos de duas escolas da Rede Salesiana, geridas pelos salesianos de Dom Bosco no território da província São Pio X (Região Sul do Brasil): o Colégio Salesiano de Itajaí e o Colégio Dom Bosco de Rio do Sul, cujos professores, como de outras escolas desta rede, mostram-se (e dizem-se) satisfeitos no contexto em que trabalham. A escolha destas duas escolas está relacionada ao acesso a ambas e às diferenças de contexto nas quais estão inseridas, sendo possível também distinguir mais claramente os fatores contextuais dos fatores intrínsecos à pedagogia salesiana.