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Paradigmas de Administração Pública: um breve olhar

2 ANÁLISE DA AÇÃO DO GERENTE PEDAGÓGICO: POLÍTICA DE

2.1.1 Paradigmas de Administração Pública: um breve olhar

Conforme aponta Oliveira (2013), a administração pública pode ser entendida e empregada em diferentes contextos. Os modelos de gestão são chamados por Oliveira (2009) como paradigmas de administração pública, que podem ser sintetizados em quatro formas de organização: patrimonialista, burocrático, gerencialista e societal.

A apresentação dos paradigmas da administração pública é o primeiro passo para o entendimento como esses modelos podem influenciar na atuação do Gerente Pedagógico. Conhecer esses modelos e suas principais características corresponde à finalidade de contextualizar o presente estudo, para que a análise acerca da ação dos Gerentes Pedagógicos em Belo Horizonte seja inserida e fundamentada por essa discussão, o que impõe a reflexão direta sobre como está organizado o processo de gestão dos referidos gerentes e quais paradigmas são considerados nessa organização.

O Modelo Patrimonialista fundamenta-se na pessoalidade, em detrimento da ausência de uma esfera pública, cuja consequência principal está na imprevisibilidade das decisões, uma vez que se centra apenas na opinião do gestor e na total ausência de participação popular.

Este modelo legitima a autoridade patriarcal e tradicional. Weber (1999, p. 238, apud OLIVEIRA, 2013, p. 18)9 argumenta que:

9 WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Ed.

[...] a este caso especial da estrutura de dominação patriarcal: o poder doméstico descentralizado, mediante a cessão de terras e eventualmente de utensílios a filhos, ou outros dependentes da comunidade doméstica, queremos chamar de dominação patrimonial.

Assim, o modelo Patrimonialista centra-se no poder pessoal e particular, marcado por um estado centralizador e administrado em prol de uma camada político-social.

O Modelo Burocrático, nasce a partir da necessidade de redesenhar o modelo patrimonialista, a começar essencialmente pela adoção da impessoalidade no processo gerencial. Ao contrário do senso comum, esse modelo não está marcado pela “lentidão”, mas por parâmetros racionais, divisão de funções e unidade de comando. Vai ao encontro da racionalização da ação administrativa, acompanhado da interpretação unívoca das questões públicas, bem como a delimitação clara e objetiva de funções, cargos e atribuições. Oliveira (2013, p. 22), cita:

A administração burocrática reflete os princípios da dominação racional- legal e, como modelo de gestão, pode contrapor-se a um dos vícios da administração patrimonial: a arbitrariedade. Concebida para promover a impessoalidade e a eficiência, ela revelou, com o tempo, suas limitações. A impessoalidade converteu-se em indiferença e os interesses da elite burocrática foram colocados à frente das demandas dos cidadãos (esse desvio denomina-se fisiologismo). A eficiência foi subvertida e transformou- se em morosidade e formalismo. Justamente por isso, “burocracia” sugere, hoje, o inverso do que designava quando foi concebida.

Como se pode perceber, o modelo Burocrático remete a uma organização do trabalho e da gestão. Entretanto, o excessivo arcabouço regulatório, acompanhado de demasiada padronização, autoridade e formalismo, constituem disfunções desse modelo e precisam ser revistos na atualidade.

O Modelo Gerencialista (ou Nova Administração Pública), que será melhor detalhado neste tópico, retrabalha algumas distorções da burocracia, buscando ampliar a sua eficácia. Fundamenta-se na descentralização da gestão pública, por meio de contratos de gestão. A lógica/ O raciocínio é tornar o Estado menor para que ele responda de forma mais efetiva às demandas sociais. Oliveira (2013, p. 26), descreve que:

A administração pública gerencial promoveu a revisão das atribuições estatais e prezou pela eficiência do setor público. No entanto, premissas do modelo burocrático foram preservadas, como a impessoalidade, a

meritocracia e a fidelidade às prescrições de cargos e regulamentos. Como resultado, melhorias estruturais, gerenciais e orçamentárias foram obtidas. Todavia, descompassos entre o discurso e a prática foram observados, principalmente em relação à participação popular e ao controle social democrático.

Mesmo diante dos desafios, cabe destacar que a Administração Pública Gerencial traz consigo elementos importantes para a gestão da atualidade, como o trabalho com a figura do Estado (enquanto promotor dos bens e serviços e não apenas um provedor) e a inserção dos elementos eficiência, eficácia e produtividade. Além do trabalho com a implementação dos conceitos de governança e governabilidade.

O Modelo Societal surge da necessidade de se aproximar o Estado do cidadão. É um modelo ideal, demarcado pela formação de lideranças populares e sua participação na vida política. O gestor, neste modelo, deve estar preparado para a mediação de conflitos e interesses. Paula (2005) descreve que o referido modelo se relaciona à tradição mobilizatória do Brasil da década de 1960. Apresenta quatro eixos que o fundamentam: a visão alternativa do desenvolvimento; a noção participativo-deliberativa da democracia; o processo de reinvenção político- institucional; o novo perfil de gestor público.

Percebe-se, em Belo Horizonte, a presença dos modelos Burocrático, Gerencialista e Societal. Na organização político-administrativa das atividades dos Gerentes Pedagógicos, pode-se dizer que transparece um esforço em se priorizar o modelo Societal por meio do fortalecimento do diálogo e da busca por uma prática reflexiva, democrática e participativa, cujas ações implicam em um compromisso constante com as práticas sociais e a construção de espaços deliberativos.

Entretanto, ao mesmo tempo, há forte predominância do modelo burocrático e de suas disfunções, que são demarcadas pelo excesso de formalismo, que provoca a lentidão das atividades e não cumpre o objetivo fundamental da racionalização dos processos administrativos.

O Modelo Gerencialista também permanece presente na atuação dos Gerentes Pedagógicos, devido à importância dada aos resultados educacionais e à mensuração dos mesmos, como também devido à determinação de objetivos para o trabalho, o estabelecimento de metas para as escolas e, consequentemente, para a atuação dos gerentes. Esses elementos podem ser identificados por meio do SIMGE, ferramenta estratégica que compila os principais indicadores e metas

educacionais das escolas do município, por meio da disponibilização dos dados em plataforma eletrônica.

Nas duas subseções a seguir, haverá o detalhamento das características da Administração Pública Gerencial e Societal. Isto porque esses modelos de gestão vão ao encontro da política educacional do município e da perspectiva de atuação preconizada para os Gerentes Pedagógicos. Essa atuação volta-se para gestores que se preocupam não apenas com as metas e os resultados, mas com o engajamento social e reorganização institucional por meio, por exemplo, dos colegiados escolares, dos conselhos de pais, dos conselhos escolares, ou fóruns de debates. Neste caso, os Gerentes Pedagógicos atuam como mediadores, orientadores e implementadores de todas essas atividades junto às escolas.