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CAPÍTULO 4 - GEOLOGIA LOCAL E ANÁLISE ESTRUTURAL

4.1. Características macroscópicas das rochas e sedimentos aflorantes

4.1.2. Paragnaisses migmatíticos

Essa unidade ocupa 30% da área cartografada. Seguindo os critérios de Sawyer (2008) e Sawyer & Brown (2008), os paragnaisses migmatíticos foram divididos em metatexitos e diatexitos. Por sua vez, os diatexitos foram subdivididos em com granada e sem granada.

a) Metatexitos

Ocorrem distribuídos na porção centro-leste e oeste da área mapeada (Apêndice 1). O corpo da região centro-leste faz contato gradacional, irregular, com o ortognaisse, a oeste, e difuso, provavelmente por assimilação, com o granodiorito posicionado a leste (Foto 4.4). O corpo da região oeste do mapa, por sua vez, encontra-se em contatos difusos ou bruscos por zonas de cisalhamento com o diatexito com granada. Com base nas feições apresentadas por esses litotipos, em campo, foram distinguidos três tipos de migmatitos metatexíticos: (i) estromático; (ii) patch; (iii) net-estruturado; e (iv) com estrutura de dilatação. Essas rochas encontram-se mediamente a pouco alteradas pelo intemperismo.

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Foto 4.4: Contato do metatexito estromático com o granodiorito. Visada em seção para E.

No migmatito com estrutura estromática, o neossoma é constituído por múltiplos corpos de leucossoma (Fotos 4.5, 4.6 e 4.7) que ocorrem paralelamente a um bandamento gnáissico. Em sua maioria, nos migmatitos estromáticos o contato entre o leucossoma e o melanossoma é brusco, especialmente nas estruturas estromáticas (Foto 4.7).

Foto 4.5: Aspecto macroscópico do metatexito estromático. Notar melanossoma segregado na borda do leucossoma. Visada em planta. A bússola indica o norte.

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Foto 4.6: Metatexito estromático exibindo neossomas dobrados. Visada em planta. O martelo indica o norte.

Foto 4.7: Metatexito estromático com leucossomas paralelos à foliação principal. Visada em planta. Ponta da caneta indica o sul.

Nessas rochas leucossomas de biotita leucogranitos, com ou sem granada, também são encontrados associados com esses migmatitos (Foto 4.8), o que sugere uma associação genética entre esses litotipos, possivelmente relacionada com a fusão parcial dos últimos e geração dos primeiros. Nesses leucossomas, a granada ocorre de forma subordinada (Fotos 4.9 e 4.10).

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Foto 4.8: Leucogranito com granada associado ao migmatito estromático. Visada em planta. A bússola indica o norte.

Foto 4.9: Detalhe do leucossoma granítico com granada, que pode ser classificado como do tipo “na fonte (in

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Foto 4.10: Detalhe do leucossoma no migmatito metatexítico estromático com bordas ricas em melanossoma constituído por biotita, granada e minerais félsicos subordinadamente. Visada em planta.

Migmatitos metatexíticos patch são localmente observados, com leucossoma não segregado, descontínuos e pontuais. Formam corpos com comprimento e espessura em torno de 3 cm, em geral de composição quartzo-feldspática, podendo apresentar biotita (Foto 4.11).

Foto 4.11: Migmatito metatexítico patch com contatos difusos no migmatito estromático, indicado pela seta. Observar leucossoma na forma de estroma na parte superior da foto. Visada em planta. O martelo indica o norte.

70 Nos migmatitos metatexíticos, o leucossoma pode ocorrer na forma de diques que truncam o paleossoma, compondo o conjunto net-estruturado (Sensu SAWYER & BROWN, 2008). Nesse caso, o contato entre esses componentes do migmatito é brusco e bem marcado (Foto 4.12 e 4.13). O contato bem marcado, como diques, sugere que durante a colocação desses corpos a temperatura da encaixante estava próxima à do solidus (Sawyer, 2008). Nos locais em que os diques truncam a foliação da encaixante, o migmatito também pode ser classificado como estruturado em diques (Foto 4.14) segundo a terceira ordem de classificação de Sawyer & Brown (2008).

Foto 4.12: Dique leucocrático de leucossoma truncando o paleossoma do metatexito com contatos bruscos. Visada em planta. A bússola indica o norte.

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Foto 4.14: Metatexito estruturado em diques de acordo com a terceira ordem de classificação de Sawyer & Brown (2008). Notar dobras no paleossoma. Visada em planta. A bússola indica o norte.

Na porção oeste da área, também foi observada uma estrutura de dilatação (Foto 4.15) nesses migmatitos onde a distribuição dos leucossomas é controlada pelas estruturas dilatantes, locais de mais baixa pressão.

72 O paleossoma dos migmatitos estromático, patch e net-estruturado apresenta coloração cinza escuro, por vezes, azulado ao creme. São rochas de granulação média a fina, com estrutura bandada. Os minerais observados nessas rochas são quartzo, granada, biotita, plagioclásio, clinopiroxênio, cianita e minerais opacos. De acordo com o conteúdo de biotita e granada, em campo, foram reconhecidos os seguintes litotipos: biotita-quartzo gnaisse, biotita-quartzo gnaisse com granada, granada-biotita-quartzo gnaisse e biotita-granada-quartzo gnaisse com cianita. A presença ou ausência de granada foi controlada, principalmente, pela composição mineralógica/química do protólito e pelas condições de pressão e temperatura que atuaram durante o metamorfismo. Baseado na mineralogia, essas rochas foram consideradas de natureza paraderivada. Provavelmente seus protólitos foram de rochas sedimentares como grauvacas podendo estar presentes pelitos impuros com quartzo e/ou feldspatos e/ou arcóseos intercalados, semelhantes a pacotes turbidíticos.

Localmente ocorrem encraves máficos, faneríticos muito finos a afaníticos, compostos por hornblenda, plagioclásio, clinopiroxênio, minerais opacos e quartzo. Além disso, rochas quartzíticas, com ou sem biotita, podem ocorrer na forma de encraves (Foto 4.16).

Estruturalmente, o paleossoma desses migmatitos possui uma xistosidade marcada pelo alinhamento preferencial de biotita, bem como um bandamento. O bandamento que comporta essas estruturas está dobrado e truncado por zonas de cisalhamento com orientação geral NE e movimento aparente dextral, além de diques máficos e félsicos. Veios de quartzo em torno de 1cm, discordantes, em relação ao bandamento gnáissico dobrado do paleossoma, ocorrem distribuídos nos afloramentos.

Foto 4.16: Domínio quartzítico (limites em amarelo) com biotita encravado no paragnaisse migmatítico próximo ao granodiorito. Visada em perfil para E.

73 b) Diatexitos

b.1) Diatexitos com granada

Ocorre predominantemente na porção centro-oeste da área cartografada (Apêndice 1). Os contatos dessas rochas com os metatexitos são transicionais ou por zonas de cisalhamento. Com as outras unidades, a visualização do contato é impossibilitada devido à presença das coberturas recentes. Alguma dificuldade é encontrada na caracterização dessa unidade, pois a alteração intempérica oblitera muitas vezes as estruturas.

Nesse migmatito o neossoma é representado por corpos de granitoides, por vezes porfiríticos, com fenocristais de feldspatos que podem atingir em torno de 2 cm. Esses fenocristais podem ocorrer orientados segundo uma foliação de fluxo magmático (Foto 4.17). A análise de uma lâmina permitiu identificar granada, biotita, plagioclásio, microclina, mesopertita, quartzo, clorita, epidoto e minerais opacos. A granada ocorre em concentrações de até 20% na rocha (Foto 4.18), ao passo que o volume estimado de biotita varia entre 15 e 25% (Foto 4.19). O melanossona é representado por domínios de granulação fina, compostos por biotita e anfibólio (?), que estão alongados segundo a direção principal da foliação deformacional dessas rochas (Foto 4.20).

Foto 4.17: Neossoma com pórfiros de feldspatos em diatexitos. Notar melanossoma. Visada em planta. O martelo indica o norte.

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Foto 4.18: Neossoma com granada em diatexito. Visada em perfil para E.

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Foto 4.20: Melanossoma representado por corpo máfico alongado segundo a foliação principal (Seta amarela) em diatexito com granada. O martelo indica o norte.

Predominam migmatitos schlieren (Foto 4.21). Em alguns locais, diques leucocráticos ocorrem truncando esse litotipo, o que pode caracterizá-los como migmatito estruturado em diques, de acordo com a terceira ordem de classificação proposta por Sawyer & Brown (2008) (Foto 4.22). Nessas rochas, quando presentes, o paleossoma é representado por fragmentos do metatexito estromático (Foto 4.22).

Foto 4.21: Concentrações de minerais máficos (biotita, anfibólio?) formando estrutura schlieren em migmatito diatexítico. Visada em planta para ESE.

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Foto 4.22: Diatexito com granada estruturado em dique. Notar paleossoma do metatexito estromático (apontado pela seta). Visada em planta. O martelo indica o norte.

b.2) Diatexitos sem granada

Essas rochas localizam-se na porção central da área de trabalho e fazem contato brusco com o ortognaisse, a leste, e gradacional ou por zonas de cisalhamento com o diatexito com granada, a oeste (Apêndice 1). Elas foram divididas em diatexitos do tipo

schlieren (Fotos 4.23, 4.24, 4.25), schöllen (Fotos 4.26 e 4.27) e nebulítico (Foto 4.28), além

de estruturado em diques (Foto 4.29). A estrutura schlieren é marcada pela presença de níveis orientados de biotita imersos no neossoma. Os aglomerados de encraves máficos e/ou ultramáficos imersos no neossoma constituem uma estrutura schöllen.

Nessas rochas o neossoma é constituído por: (i) leucossoma, que representa a porção granítica, fanerítica média a fina, com biotita, por vezes, porfirítica, compostas por grãos euédricos a subédricos de feldspato potássico (microclina), bem como por plagioclásio, quartzo, mesopertita e minerais opacos. Os pórfiros do feldspato potássico podem atingir tamanhos maiores que 2cm. Alguns deles apresentam inclusões de biotita e orientação de fluxo magmático marcada principalmente pela orientação preferencial do feldspato alcalino (Foto 4.24). Em alguns corpos desse leucossoma é possível observar agregados de magnetita (Foto 4.30), que ocorre também em diques leucocráticos (Foto 4.31); e (ii) melanossoma, de coloração preta, composto por concentrados de biotita (Foto 4.23).

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Foto 4.23: Matacão do diatexito sem granada com neossoma composto por leucossoma com mesoestrutura pegmatoidal e por schlieres de biotita marcando o paleossoma. Visada em perfil para NE.

Foto 4.24: Neossoma do diatexito sem granada exibindo um leucossoma com pórfiros euédricos a subédricos de feldspato potássico. Notar orientação de fluxo magmático. Observar no canto esquerdo da rocha o aspecto de

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Foto 4.25: Schlieres de biotita, acima do martelo, em migmatito diatexítico sem granada. Notar presença de porções pegmatoidais, além da orientação dos constituintes em matacão do migmatito. Visada em perfil para SE.

Foto 4.26: Estrutura schöllen em migmatito diatexítico sem granada. Observar no canto direito contato brusco com o augen gnaisse. Visada em planta. O martelo indica o W.

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Foto 4.27: Migmatito diatexítico sem granada com estrutura schöllen. Visada em planta para SSW.

Foto 4.28: Estrutura nebulítica, acima da ponta do martelo, no migmatito diatexítico sem granada evidenciando uma alta intensidade de fusão. Observar, no canto inferior direito, margem difusa entre o neossoma granítico porfirítico e o paleossoma, o que sugere fusão parcial in situ de acordo com Sawyer (2008). Encraves máficos ocorrem com frequência. Visada em perfil para SW.

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Foto 4.29: Migmatito diatexítico sem granada com neossoma estruturado em diques. Visada em planta.

Foto 4.30: Agregado de magnetita em leucossoma granítico porfirítico no diatexito sem granada. Visada em planta.

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Foto 4.31: Dique leucocrático com magnetita em diatexito sem granada. Observar zoneamento concentrando o metálico no centro da intrusão. Visada em planta. A ponta da bússola indica o norte.

Em alguns locais, apesar do elevado grau de anatexia, que dá um aspecto nebulítico à rocha, o paleossoma ainda é visível (Fotos 4.28 e 4.33). Esse componente é um gnaisse paraderivado (Foto 4.32) e é encontrado distribuído em meio ao neossoma. O bandamento, nesse caso, é marcado pela alternância de níveis milimétricos a centimétricos, claros e escuros. Os claros são compostos por feldspatos, quartzo e, de forma subordinada, biotita. Por sua vez, os escuros apresentam a biotita como o mineral mais representativo seguido pelos félsicos. Encraves máficos também são encontrados dispersos e rotacionados de forma assimétrica em meio ao neossoma, o que sugere que os mesmos passaram por estágios de tensão e deformação (Foto 4.26).

Nessa rocha pode ser observada uma foliação deformacional, que é marcada pela orientação dos encraves máficos ou pela presença de finas faixas de biotita (Foto 4.23). Além disso, zonas de cisalhamento com movimento cisalhante aparente dextral e diques félsicos aplíticos e pegmatoidais truncam essa unidade.

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Foto 4.32: Aspecto do paleossoma do diatexito sem granada. Biotita gnaisse. Visada em planta. A bússola indica o norte.

Foto 4.33: Diatexito sem granada com estrutura nebulítica. O neossoma ocorre bem distribuído por toda a rocha. Visada em planta. O martelo indica o norte.

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