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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.3 PARATEXTOS EDITORIAIS

Como dito na introdução, valer-nos-emos de discursos de acompanhamento para melhor situar as traduções brasileiras de La Fontaine na cultura de chegada. Para tanto, realizaremos uma análise de alguns desses elementos paratextuais. Buscaremos suporte teórico em Gérard Genette, no seu livro Paratextos Editoriais (2009). Referência para quem analisa textos de acompanhamento, essa obra foi traduzida no Brasil por Álvaro Faleiros e publicada pela editora Ateliê, de Cotia (SP). Segundo Genette (2009, p. 11), pode-se dizer que “[...] não existe, e que jamais existiu, um texto sem paratexto”. Com efeito, as

13 Tradução de Leandro de Ávila Braga, publicada na revista Translatio n. 3 (2012). Disponível

obras literárias nunca aparecem sozinhas, nunca se publica um texto nu, isolado, há sempre um aparato editorial em torno do texto. Esse aparato editorial constitui-se de diversos paratextos, entre eles estão: título, ilustração, prefácios, posfácios, notas, orelhas, quartas capas, dedicatórias, bibliografias, citações. No dizer de Genette (2009, p. 9), paratexto é “aquilo por meio de que um texto se torna livro e se propõe como tal para seus leitores, e de maneira mais geral ao público”. Embora um texto literário não exista sem paratexto, “[p]aradoxalmente, há em contrapartida, talvez por acidente, paratextos sem texto, pois existem muitas obras, desaparecidas ou abortadas, das quais conhecemos apenas o título” (GENETTE, 2009, p. 11). O autor classifica duas categorias de paratexto: o peritexto e o epitexto. A primeira categoria, foco deste trabalho, consiste numa mensagem materializada e necessita de uma localização,

[...] um lugar, que se pode situar em relação àquela do próprio texto: em torno do texto, no espaço do mesmo volume, como o título ou prefácio, e, às vezes, inserido nos interstícios do texto, como os títulos de capítulo ou certas notas (GENETTE, 2009, p. 12).

A segunda categoria também está voltada para o texto, porém a certa distância, trata-se de “todas as mensagens que se situam, pelo menos na origem, na parte externa do livro”, através de conversas, entrevistas ou, ainda, sob a forma de uma comunicação privada, como é o caso de correspondências e diários íntimos (GENETTE, 2009, p. 12).

Como bem resumiu Francisco Francimar de Sousa Alves:

[os] paratextos consistem, portanto, de elementos informativos e de relevante importância na construção de uma obra e caracterizam-se por serem facilitadores da leitura, ajudando a explicá- la. Logo, esses elementos mediadores entre o texto e o leitor, podem ser bastante variados, o que vai depender do nível da edição (ALVES, 2014, p. 117).

Além do mais, no caso de paratextos de obra traduzida, eles servem não somente como meio de localização da tradução dentro do sistema literário/cultural de chegada, mas também como um espaço em que o tradutor tem vez e voz.

A esse respeito, Germana Henriques Pereira de Souza, no prefácio da obra Traduzir o Brasil literário (2011), de Marie-Hélène Catherine Torres, declara que

[os] paratextos emolduram a obra traduzida e garantem um espaço de visibilidade à voz do tradutor, mas não só, os discursos de acompanhamento ancoram a obra no horizonte da crítica literária e definem parâmetros que conduzirão à leitura e recepção do texto traduzido na cultura de chegada (SOUZA in TORRES, 2011, p. 12).

Assim como na primeira edição francesa de 1668 (e nas que seguiram), os paratextos que sempre emolduram e acompanham as edições brasileiras das fábulas de La Fontaine são as ilustrações. Desde o início, a obra Fábulas é ilustrada. A primeira edição, esclarece Pierre Collinet (1991, LXIII), foi suntuosa, em formato in-quarto, ornada com vinhetas de François Chauveau, considerado o melhor especialista da época em gravuras de livros. No entanto, comenta o teórico, a prática de ilustrar obras literárias com vinhetas não representava uma inovação. Na França, já na Idade Média, os isopetos manuscritos eram ilustrados com miniaturas, cuja tradição foi perpetuada depois da invenção da imprensa por meio de xilogravuras.14

Além de ilustrações, outros paratextos compõem a obra original do fabulista francês (seja na coletânea de 1668, seja na de 1678-79 ou na de 1694): dedicatórias, prefácios e uma biografia de Esopo. As traduções brasileiras de La Fontaine também reúnem, geralmente, diversos paratextos, sem contar capa e quarta capa, é comum virem acompanhadas de apresentações de La Fontaine. Em edição voltada para o público adulto, é comum a tradução dos paratextos originais, de autoria de La Fontaine. E, ainda, como veremos mais adiante, há textos de acompanhamento que, de tão reeditados nas traduções, tornaram-se quase clássicos da obra lafontainiana no Brasil. Esse é o caso do texto

14 Original: « […] Il n`en va pas de même pour les Fables, qui se présentèrent d`emblée

comme une œuvre illustrée. Les vignettes dont s`ornaient celles des six premiers livres dans le somptueux in-quarto de 1668 ne constituaient nullement une innovation: en France, dès le ysopets manuscrits comportaient des miniatures, dont la tradition se perpétue, après l`invention de l`imprimerie, grâce à des gravures sur bois de fil […] On s`était adressé pour illustrer les Fables que La Fontaine dédiait au Dauphin, au meilleur spécialiste du temps dans le domaine des livres à gravure. François Chauveau […]. »

Processo artístico de La Fontaine, de Theophilo Braga, publicado pela

primeira vez no Brasil, segundo nossas pesquisas, em 1886.

Face ao grande número de elementos paratextuais e à limitação do espaço da tese, tornou-se necessário selecionar aqueles que seriam analisados. Essa seleção foi pautada pela frequência de aparição desses elementos na obra traduzida de La Fontaine no Brasil. Por conseguinte, iremos nos centrar na análise dos títulos, das quartas capas e dos prefácios e pósfácios. Embora no quarto capítulo já apresentemos, vez por outra, uma excerto de paratexto, é no quinto capítulo que serão analisados, de fato, os elementos paratextuais.

3 PERMANÊNCIA E RENOVAÇÃO DA OBRA DE LA

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