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Optamos por dar mais espaço, neste relatório, aos parceiros da Christian Aid em todo o mundo, porque, em última análise, é por intermédio deles e de suas parcerias que a mudança virá. A Christian Aid também trabalha globalmente com membros da ACT Alliance, que priorizaram quatro temas para a agenda de desenvolvimento pós-2015: desigualdade, sustentabilidade ambiental, conflito e fragilidade, e governança.39

Outros parceiros também precisam fazer sua parte, inclusive atores dos setores privados e com base na fé. A Christian Aid trabalha ativamente com muitas comunidades e líderes de fé, e a contribuição da INERELA+ enfatiza a importância do papel desempenhado por eles na luta contra o HIV e na promoção de saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos.

Até o momento, as comunidades de fé vêm sendo extremamente relevantes na entrega dos ODMs, não só em áreas como a saúde e o HIV. Por isso, ao prosseguirmos, será importante a inclusão de atores religiosos nas discussões da agenda pós-2015, aproveitando as redes que as

organizações baseadas em fé podem oferecer, trabalhando com elas em áreas fundamentais relacionadas a normas culturais e sociais, como, por exemplo, na questão da violência baseada em gênero.40

A agenda de desenvolvimento pós-2015 vai requerer, ainda, o engajamento de atores do setor privado. O assunto pode se tornar muito emotivo, e a destruição e exploração das comunidades por empresas privadas irresponsáveis, muitas delas grandes empresas, vão, inevitavelmente, e com muita razão, provocar reações de fúria. Seja o deslocamento dos grupos indígenas ou outras minorias devido à grilagem das terras, ou o desvio de receitas por empresas transnacionais, ou ainda a incapacidade de defesa de direitos trabalhistas, fica evidente que há muito mais a ser feito, para que se garanta um setor privado responsável, a elevação dos padrões e um melhor senso de responsabilidade.

Um modo de incrementar a prestação de contas seria a introdução de padrões de relatórios que exijam mais transparência das empresas, tornando as informações, financeiras ou não (relativas a impacto ambiental e direitos humanos), disponíveis para todos os envolvidos. Uma ênfase maior ao ambiente facilitador, que permita que as pequenas e médias empresas floresçam dentro de uma economia doméstica, também poderia ajudar a mudar o debate. Enquanto isso, a agenda de desenvolvimento sustentável pós-2015 poderia ser enriquecida pelo aproveitamento da experiência de cooperativas e de outros modelos alternativos de negócios.

‘Ninguém quer viver em uma sociedade em que

haja um crescente abismo entre ricos e pobres’.

Um enorme volume de trabalho já foi desenvolvido para a agenda de desenvolvimento pós-2015: agora, o importante é utilizar esse trabalho de consulta para garantir que as contribuições feitas pela sociedade civil até o momento não se percam no avanço do processo. Nesse sentido, os relatórios das consultas nacionais e temáticas são importantes e devem ser levados muito a sério pelos negociadores da nova estrutura. Segundo o relatório The Global Conversation Begins

(A Conversa Global Começa) do UNDG, até o momento, 200 mil pessoas participam 41, de 130 mil em diálogos

nacionais 42 . Nas palavras de Beyond 2015 (Para Além

de 2015), o processo precisa continuar ‘participativo’, inclusivo, e sensível ‘às vozes daqueles diretamente afetados pela pobreza e pela injustiça.’43

Algumas dessas vozes estão presentes neste relatório,

e uma série de pontos de vistas é expressa, vários deles apelos comuns à agenda de desenvolvimento sustentável pós-2015:

• uma abordagem clara e consistente baseada em direitos;

• uma agenda sustentada pelo desenvolvimento de baixo carbono e sustentabilidade ambiental;

• forte ênfase nas desigualdades sociais, ambientais e econômicas;

• uma agenda ousada que fortaleça mulheres e meninas;

• um compromisso com o fortalecimento da resiliência, com abordagem dos riscos e perigos que ameaçam os ganhos de desenvolvimento;

• um conjunto universal de objetivos, com metas definidas de acordo com responsabilidades comuns, mas diferenciadas.

À medida que o processo avança e as prioridades são consideradas pelos estados membros da ONU envolvidos no Grupo Aberto de Trabalho sobre os Objetivos de

Desenvolvimento Sustentável (ODSs) e outros, em potencial, será necessário que se façam escolhas políticas sobre as prioridades de desenvolvimento, além de ser preciso desenvolver um trabalho mais técnico sobre as metas e os indicadores.

É essencial acertar as prioridades. Se formos uma comunidade global seriamente comprometida com a erradicação da pobreza, com a luta contra as desigualdades e a obtenção de um desenvolvimento sustentável, não podemos nos abster em questões difíceis, como os fluxos financeiros ilícitos, a justiça fiscal ou as mudanças climáticas.

Outras áreas prioritárias potenciais sugeridas pelos colaboradores deste relatório incluem: empregos dignos; proteção social, da saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos; fortalecimento econômico e social das mulheres; melhorias dos sistemas de educação e saúde; redução do risco de desastres; agricultura sustentável; sistema tributário justo e progressivo; transparência financeira; consolidação da paz; luta contra a discriminação baseada em castas e etnias, e abordagem das desigualdades de renda.

A garantia de que haja mecanismos fortes de prestação de contas em operação, aplicáveis igualmente a países desenvolvidos e em desenvolvimento, também é fundamental para a entrega bem sucedida dos novos objetivos. As ideias apresentadas pelo Painel de Alto Nível sobre a agenda pós- 2015, como a proposta, a ser considerada e desenvolvida, de que todos os países se submetam a planos nacionais de desenvolvimento sustentável e participem de uma estrutura de revisão por pares regionais.

Finalmente, vale observar que um plano ambicioso de financiamento de desenvolvimento sustentável deve ser acordado para a concretização da agenda de desenvolvimento pós-2015, além de um acordo climático global justo em 2015. A mobilização coordenada das finanças globais continuará a ser importante para o futuro próximo, mas é também necessário considerar-se de que modo os países em desenvolvimentos poderão maximizar seus recursos domésticos, inclusive as receitas tributárias, e a prevenção do fluxo financeiro ilícito.44

Os desafios à nossa frente são imensos, mas não insuperáveis. Este relatório começou com uma análise da pobreza e

da riqueza em nosso mundo, bem como dos impactos potencialmente devastadores das alterações climáticas.

A tarefa moral é clara: a pobreza é uma afronta à

dignidade humana e precisa ser erradicada. O futuro não é tão claro: um mundo mais sustentável e equitativo é possível, mas somente se trabalharmos juntos e fizermos escolhas ousadas nos próximos anos, pelo bem das pessoas e do planeta.

1 Organização das Nações Unidas, Relatório de Objetivos de

Desenvolvimento do Milênio – 2013 , Nova York, 2013.

2 Christian Aid, The Rich, the Poor and the Future of the Earth: Equity in

a constrained world [Os Ricos e os Pobres e o Futuro da Terra: Igualdade num Mundo Constrangido], 2012, p2.

3 Boston Consulting Group, Global Wealth [Riqueza Global] 2013, 2013. 4 taxjustice.net

5 iff-update.gfintegrity.org

6 Banco Mundial, Turn Down the Heat: Why a 4°C warmer world must be

avoided [Reduza o aquecimento: Porque um mundo 4°C mais quente deve ser evitado], 2012.

7 Banco Mundial, Turn Down the Heat: Climate extremes, regional impacts

and the case for resilience [Reduza o Calor: Extremos Climáticos, Impactos Regionais e Casos para Resiliência], 2013.

8 UNDP, 2013 Human Development Report [Relatório do Desenvolvimento

Humano], 2013.

9 Indicadores do Desenvolvimento Mundial: http://data.worldbank.org/

indicator/ EN.ATM.CO2E.PC

10 Veja também em: Green, Hale and Lockwood, How Can a Post-2015

Agreement Drive Real Change? [Como um Acordo Pós-2015 impulsiona Mudanças Reais?] Oxfam Discussion Paper, 2012.

11 Vide nota 1, p.5.

12 Kenny and Sumner, More Money or More Development: What have

the ODMs achieved? [Mais Dinheiro ou Mais Desenvolvimento: O que Conseguimos com os ODMs?], Documento de Trabalho dos ODMs, 2011.

13 Ibid, p4.

14 Oxfam e Development Finance International, Putting Progress at Risk:

MDG spending in developing countries [Colocando o Progresso em Risco: gastos com os ODMs nos países em desenvolvimento], 2013.

15 www.imf.org/external/np/prsp/prsp.aspx

16 Veja por exemplo, as metas adicionais de “des-mineração” dos

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio do Camboja.(CODM).

17 Painel de Alto Nível sobre a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015,

Nova Parceria: Erradicação da pobreza e transformação das economias por meio de desenvolvimento sustentável. 2013

18 Organização das Nações Unidas, Relatório do Painel de Nível de

Pessoas Eminentes para a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015, 2013

19 DWD está presente no Nepal, Bangladesh, Paquistão, Sri Lanka e

Japão, além de diferentes regiões da África. Atinge ainda as comunidades da diáspora do sul da Ásia – o que levou recentemente a Câmara dos Comuns do Reino Unido a votar a introdução do tratamento das castas como foco de discriminação, o que é proibido pela Lei de Igualdade de 2010.

20 NDW/NCDHR (National Dalit Watch – Observância Nacional de Dalit/

National Campaign on Dalit Human Rights – Campanha Nacional de Direitos Humanos de Dalit), Ensuring Inclusion of Biodiversity-dependent Communities in all Preparedness, Adaptation and Mitigation Measures, [Garantia de inclusão das comunidades dependentes da biodiversidade em todas as medidas de mitigação, adaptação e prontidão] 2012, ncdhr. org.in/latestinterventions/report%20on%2015th%20side%20 event.pdf

21 Ibid.

22 Veja a nota 20.

23 PNUD Colômbia, Informe Rural Colômbia, 2011.

24 Unicef, Tacro, Cepal, Pobreza Infantil en América Latina y el Caribe,

2010, unicef.org/lac/Libro-pobreza-infantil-America-Latina-2010(1).pdf

25 Perfil Demográfico da Colômbia, 2013, indexmundi.com/colombia/

demographics_profile.html

26 A pesquisa participativa foi financiada pela Participate, por meio da

CAFOD (Agência Católica para o Desenvolvimento Exterior), detalhada em Setting the Post-2015 Development Compass: Voices from the ground [Definindo o ritmo de desenvolvimento na Pós-2015: Vozes do solo], CAFOD, 2013

27 ‘Bolivia and Gas: Where is the revolution?’ (Bolívia e o Gás: Onde está

a revolução?), Upside Down World (O Mundo de Ponta Cabeça), 2013, upsidedownworld.org/main/bolivia-archives-31/4319-bolivia-amid-gas- where-is-the-revolution

28 ‘Agenda Post-2015’, América Latina en Movimiento, 2012, alainet.org/

active/62941&lang=es

29 Christian Aid, Low-Carbon Africa: Leapfrogging to a green future [Baixo

Carbono na África: um salto para um futuro verde], 2011.

30 Ibid, p.43. 31 Veja nota 2, p.14.

32 Para mais informações sobre a abordagem da Christian Aid da

agricultura sustentável, visite-nos em: christianaid.org.uk/images/time- for-climate-justice-10.pdf

33 Christian Aid, The Scandal of Inequality in Latin America and the

Caribbean [O Escândalo da desigualdade na América Latina e no Caribe], 2012, christianaid.org.uk/images/scandal-of-inequality-in-latin- america- and-the-caribbean.pdf

34 A Christian Aid é membro da Rede de Gênero e Desenvolvimento do

Reino Unido, que publicou o relatório em defesa da eleição de um objetivo isolado sobre igualdade de gênero e promoção das mulheres.: www. gadnetwork.org.uk/gadn-post-2015-report

35 Synthesis Report on the Global Thematic Consultation on Addressing

Inequalities [Relatório síntese da Consulta Temática Global sobre o tratamento das Desigualdades], 2013, p55, www.worldwewant2015.org/ node/299198

36 Ibid, p79.

37 Sustainable Development Solutions Network (Rede de Soluções

de Desenvolvimento Sustentável), An Action Agenda for Sustainable Development, [Uma Agenda de2013 de Ações para o Desenvolvimento Sustentável], p14.

38 UN Global Compact (Pacto Global da ONU), Corporate Sustainability

and the United Nations Post-2015 Development Agenda [Sustentabilidade Corporativa e a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 das Nações Unidas], 2013, p15.

39 actalliance.org/what-we-do/issues/post-mdg

40 A Christian Aid é membro da We Will Speak Out, coalisão global de

organizações cristãs que trabalham unidas para acabar com a violência sexual: wewillspeakout.org

41 PNUD, The Global Conversation Begins [A Conversa Global Começa],

2013, p.9.

42 Ibid, p10.

43 http://beyond2015.org/what-we-want

44 Para mais informações sobre tributação e a pós-2015, visite-nos em :

christianaid.org.uk/images/tax-and-the-post-2015-agenda.pdf

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