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CAPÍTULO II: Crianças, culturas infantis e a pesquisa na escola

2.3 As parcerias dentro e fora da escola

A presente pesquisa desde o seu início, foi sendo construída por meio de parcerias, porque pensávamos que esta pesquisa não poderia ser construída de maneira fechada, mas pelo contrário, aberta, em parceria com outras pessoas. Práticas coletivas são fundamentais no âmbito da escola. Estabelecemos parceria com o Subgrupo de Pesquisa Infâncias Populares do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Culturas Populares (GEPECPOP), tanto com a ajuda dos bolsistas13 deste grupo realizamos muitas atividades com as crianças; também obtivemos desse grupo o apoio financeiro que nos permitiu comprar de brinquedos, livros, materiais escolares e lanches para as crianças.

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As bolsistas do GEPECPOP que atuam no Grupo Infâncias Populares são: Alessany Teixeira Barbosa, Kátia Lourenço Alves, Nayara Paula de Oliveira, Ana Flávia Bezerra da Silva. Nesse Grupo, contamos com a professora do Curso de Teatro da UFU, Mariene Hundertmarck Perobelli e com a professora Myrtes Dias da Cunha da Faculdade de Educação da UFU.

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O professor João14 de Educação Física, a professora Sandra15 de Literatura e Linguagens e o professor Roberto16 de Artes, todos eram professores da turma Crianças Maravilhosas e com suas parcerias, compartilharam conosco momentos importantes na presente pesquisa. O professor João nos ajudou cedendo alguns de seus horários de aula para realizarmos as ações com as crianças, nos apoios técnicos com a TV e o DVD da escola e por ser afetuoso com as crianças. O professor Roberto, que também nos auxiliou nos apoios técnicos, informações gerais sobre a escola e cedendo alguns horários de aula para as atividades com as crianças.

A professora Sandra, num primeiro momento, quase não deu crédito ao nosso trabalho, chegando a considerar pedir a diretora para que não participássemos de suas aulas. No excerto de Nota de Campo apresentado a seguir, é possível percebermos como essa relação se iniciou:

NOTA DE CAMPO 07 - Aula especializada e falta d'água 22 DE FEVEREIRO DE 2013 - sexta-feira

[...] Logo chegou outra professora de literatura, ela veio até mim e se apresentou como professora de Literatura e Linguagens, disse ainda que nunca havia trabalhado em escola, tendo se formado recentemente em pedagogia.

OBS: Quando a professora de literatura veio ao meu encontro nem um sorriso saiu dos

seus lábios. Uma cara fechada, mal olhou para as crianças, exigia o tempo todo bom comportamento, bom comportamento, bom comportamento, bom comportamento, bom comportamento... Que tristeza!É uma pena começar uma profissão com tanto mal humor. Gostaria de fazer outras observações: em um momento, algumas crianças, 3 ou 4 crianças vieram até ao meu encontro para me questionar se eu havia montado todos os quebra- cabeças que tinha levado no 1º dia de Oficina da Imaginação. Disse-lhes que estava tentando ainda, e que agora tinha outro desafio, montar um quebra-cabeça com 500 peças. Os olhos das crianças se arregalaram e uma delas disse: "Nossa tia! 500 peças? É muita coisa!" Estava esperando os pais das crianças virem buscá-las na sala, e me aproximei de um estudante que estava vendo um livro de uma história do alienígena. Fiquei junto dele vendo o livro e fazendo alguns comentários como "Nossa que imagem bacana, que cor bonita!" Li algumas partes para ele e a professora se aproximou e disse: "Eles tem muita dificuldade, não conseguem fazer nada! Então eu disse: "Eles são muito inteligentes, vão conseguir sim!". Ela desviou o olhar e saiu.

Depois desse episódio, não participamos mais, como observadoras, das aulas da professora Sandra. No entanto, após algumas semanas, a professora Sandra, durante o recreio, na sala dos professores, questionou-me onde havíamos comprado os livros em 3D que emprestávamos para as crianças, pois tinha gostado muito dos livros e então elogiou essa ação. Em outra oportunidade pedimos para usar o horário de aula dela para passarmos o filme

14 Nome fictício. 15 Nome fictício. 16 Nome fictício.

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"Em Busca da Terra do Nunca" para as crianças. Ela concordou e depois da atividade, pediu- nos o filme emprestado para passar para as crianças de outras salas e fez elogios ao nosso trabalho.

De maneira geral, percebemos que a presente pesquisa foi se construindo na medida em que o trabalho junto com as crianças foi se transformando. Analiso essas modificações em três grandes momentos, aqui nomeados conforme as principais ações desenvolvidas: a primeira parte denominamos como Teimosias da Imaginação, a qual envolveu um momento de observação participante na escola e na sala de aula da turma Crianças Maravilhosas e as primeiras ações planejadas por mim com o objetivo de prover momentos com as crianças que permitissem ouvir o que elas poderiam informar sobre si mesmas e suas vidas na escola e fora dela; também organizei esses momentos com as crianças em função de constatar que seria impossível falar com elas e conhecê-las no espaço-tempo da sala de aula, pois em grande parte, estando com a professora obedeciam regras e executavam, bem ou mal, o que era determinado pela docente. Nesses momentos de aula as ações das crianças, suas possibilidades culturais, eram mínimas e prevalecia a repetição, a obediência delas e também o desinteresse.

A segunda parte do trabalho com as crianças denominamos de 15 Minutos de Alegrias, que foi marcada por uma grande mudança na pesquisa: a ausência da professora Bela no momento das atividades com as crianças que foram realizadas no horário do recreio escolar. A terceira parte do trabalho, denominada como 30 Minutos de Alegrias quando as atividades continuaram a ser realizadas sem a presença da professora, mas fora do horário do recreio escolar, em horário previamente combinado com a professora, com o estrago do notebook e a combinação prévia de regras com as crianças para o desenvolvimento de brincadeiras. Nesta parte do trabalho enfatizou-se o empréstimo e a troca de revistinhas e livros para as crianças levarem para casa para serem lidas.

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