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3. Capítulo II – O Bairro de Moema

3.2.6. Parque do Ibirapuera

Segundo Anonucci (2005, p. 249):

[...]A partir da implantação do Parque do Ibirapuera, que ‘envolve’ o bairro, em 1954, a característica de local tranquilo e de boa qualidade, com casas térreas, sobrados, edifícios de até 4 pavimentos, situados em grandes terrenos desperta interesse de imobiliárias[...]

Mas onde começa a história do Parque Ibirapuera? O que se imagina é que a história do Parque date da década de 1950. Isso, porém,é um ledo engano.

Como diz Andrade (2006, p.63), “[...]O que não imaginávamos é que a história da formação do parque fosse tão longa e complicada[...]”.

Desde o século XIX, as terras da região conhecida como Várzea do Ibirapuera, eram consideradas devolutas, tendo sido passadas às mãos do Município pelo Estado em 1890, servindo “[...] de pastagens e descanso de rebanhos[...]”.

A sua localização ficava nas proximidades do caminho do gado e caminho do Mar, nas proximidades do Matadouro Municipal, no Distrito Sul da Sé e, já no início do século XX, começou a se configurar uma área de intensas disputas entre o poder municipal e particulares em função da grande valorização imobiliária da região.

Essa valorização,em parte devido ao lançamento, pela Cia City, em 1915, do loteamento Jardim América, valorizou e elitizou também toda a região do entorno. Isso leva o então prefeito Washington Luiz a “[...] ordenar o parcelamento de uma área de 993.630m² da antiga Várzea dos Pinheiros[...]” com a intenção de “[...] alienar terrenos municipais que vinham sendo objeto de recente valorização fundiária[...]”. (ANDRADE, 2006. p.50).

Assim, com essa crescente valorização, a região passou a ser “[...] objeto de intensas disputas legais entre a prefeitura e invasores[...]

Foi somente com o fim do processo judicial, que julgou que as terras eram devolutas desde 1660, é que ficou determinada legalmente a propriedade da área pelo Município. (OLIVEIRA, 2003).

Durante a gestão do Prefeito Pires do Rio, em 1926, é que, pela primeira vez, surgiu oficialmente a ideia da construção de um grande parque no local, com o pensamento,conforme Andrade (2006, p. 50), de ser um equipamento “útil à higiene da população urbana”. Para isso, foi feita a desapropriação de terrenos e uma permuta com uma parte da Invernada dos Bombeiros, por um terreno localizado na Avenida Água Branca, atual Francisco Matarazzo, o que levou à mudança do viveiro da prefeitura localizado no terreno da Água Branca para o terreno do futuro parque. (ANDRADE, 2006. p.51).

Nesse mesmo ano de 1926, Pires do Rio, determina:

[...] a Manoel Lopes de Oliveira, conhecido por Manequinho Lopes, funcionário importante da Prefeitura, o encargo de iniciar a drenagem da lodacenta área do Ibirapuera, preparando-a para uma futura ocupação do parque.

Com essa intenção Lopes realiza a plantação de inúmeros eucaliptos australianos. Na sequência, em 1928, inaugura o viveiro de mudas do Ibirapuera[...](OLIVEIRA, 2003).

O Plano de Avenida de Prestes Maia (1930) já tecia comentários sobre o primeiro projeto para o Parque do Ibirapuera, que foi contratado junto ao arquiteto- paisagista Reinaldo Dierberger em 1929. Assinalava a necessidade de se implantar o futuro Parque do Ibirapuera e, embora não tenha projetado o mesmo, traçou as suas diretrizes “[...] descrevendo partes de sua constituição e respectivas funções[...]” (OLIVEIRA, 2003 e ANDRADE, 2006. p. 52).

Com a Revolução de 1932 e a mudança de governo, o novo prefeito Godoffredo Teixeira da Silva Teles, aprovou, através do Ato nº 378, de 29 de julho de 1932, o projeto de Dierberger.

No entanto, Dierberger foi convidado pelo Prefeito a fazer um novo projeto para o Parque e apresentou, assim uma nova versão do seu projeto, na qual ele “[...] respeita o traçado viário existente, incorporando o prolongamento previsto da Avenida Brasil, mas desconsidera as construções existentes e o arruamento do loteamento de 1918[...]”. (OLIVEIRA, 2003 e ANDRADE, 2006. p. 52).

Pelo fato de o novo projeto não ter levado em consideração as novas redes de escoamento de águas pluviais e de esgoto, em janeiro de 1933, a Repartição de Águas e Esgoto de São Paulo (RAE) discordou dele.

Assim, durante o primeiro quadrimestre de 1933, “[...] a 7ª Seção Técnica ficou responsável pela elaboração de um novo plano[...]aprovado pelo Ato nº 459, de 1933 [...], o qual resultou em novas propostas de ocupação da área e em novos formatos dos edifícios[...]”.(Andrade, 2006. p. 53 e 54).

O novo projeto, assinado pelo Engenheiro Marcial Fleury de Oliveira, acatou o prolongamento da Rua Abílio Soares e da Avenida Brasil, resolveu a questão levantada pela RAE e limitou-se aos terrenos de propriedade da Prefeitura. (Andrade, 2006. p. 53 e 54).

Além desse primeiro projeto, outros foram elaborados para o parque e, assim como aquele, não foram realizados até que, em função do IV Centenário da Cidade de São Paulo que iria ocorrer em 1954, foi instituída em 1951, pelo Governador Lucas Nogueira Garcez e pelo Prefeito Armando de Arruda Pereira, a Comissão do IV Centenário inicialmente presidida por Cecillio Matarazzo que promoveu a criação de uma Equipe de Planejamento.

Esta, com “viés” Modernista, identifica como:

[...] essencial para o sucesso das comemorações e, principalmente, para a satisfação de futuras necessidades da cidade de São Paulo, a adequação do sistema viário existente aos grandes deslocamentos que estavam sendo previstos com a realização da Feira Mundial e das diversas atividades desportivas. Em relação a essa questão foi levantada como primordial a ligação da Avenida Itororó, atual 23 de Maio, com a Avenida Brasil e uma melhor solução do cruzamento da Avenida Brasil com a Avenida Brigadeiro Luíz Antonio[...]. (ANDRADE, 2006. p. 53-54)

A criação dessa comissão tinha por incumbência, conforme Oliveira (2003), “[...]conceber, organizar e preparar as festividades do IV Centenário de Fundação da Cidade de São Paulo e que acabou por definir o Parque Ibirapuera como centro que abrigaria tais comemorações[...]”.

Apesar de dentro da Comissão lavrarem discordâncias entre Christiano Stokler das Neves, que encaminhou em 1952 um projeto elaborado por ele ao Governador, e Matarazzo Sobrinho, este, com o apoio político do Prefeito,convidou um grupo de arquitetos que, liderados por Oscar Niemeyer, realizou o projeto do Parque a ser construído. (OLIVEIRA, 2003).

Assim, “[...]foi num contexto de grandes comemorações que o Parque Ibirapuera foi finalmente inaugurado em 21 de Agosto de 1954[...]”. (ANDRADE, 2006. p.63).

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