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1 – Metodologia e caracterização dos actores sociais

A problemática escolhida suscita várias dimensões de análise, pelo que neste ponto enuncia-se os principais objectivos pretendidos na investigação. Será privilegiada uma metodologia qualitativa que recorrerá a entrevistas de enfoque biográfico de desempregados licenciados ou a frequentar o ensino superior ou que se encontrem a trabalhar mas viveram o desemprego recentemente na faixa etária dos 35 aos 45 anos. Será, ainda, apresentado um perfil sociográfico dos entrevistados.

1. 1 – Questões de partida e hipóteses avançadas

Será feita uma caracterização sociográfica dos actores; analisar-se-á a sua distribuição por sexo, tendo em conta que no título do nosso estudo já indicamos a faixa etária que pretendemos estudar. Veremos também as habilitações literárias que possuem, e o percurso formativo e profissional dos intervenientes, levando em linha de conta que o nosso trabalho parte da base de estudo dos trabalhadores que estão no desemprego, ou que recentemente tenham estado nessa situação, e como é a vivência da situação de desemprego.

É ainda nosso objectivo conhecer as estratégias e as competências pessoais que cada um dos agentes mobiliza na procura de emprego, bem como que tipo de apoios tem à sua disposição para esse mesmo fim. Procuramos compreender que expectativas daí advêm através do levantamento do seu testemunho que incidirá sobre as suas experiências e vivências pessoais, as consequências do desemprego e quais são os principais obstáculos que dificultam uma reconversão profissional.

Após decidirmos a análise temática da vivência do desemprego por parte dos trabalhadores com idade compreendida entre os 35 e os 45 anos, foram formuladas algumas questões de partida e já enunciadas na nossa Introdução do presente estudo, pelas quais o investigador tenta exprimir o mais exactamente possível o que procura saber, elucidar, compreender melhor, pois é a melhor forma de começar um trabalho de investigação (Quivy & Campenhoudt, 2005).

Assim, o investigador iniciou o plano de trabalho, levando em consideração que «A organização de uma investigação em torno das hipóteses de trabalho constitui a melhor forma de a conduzir com ordem e rigor», considerando que «além disso, um trabalho não pode ser uma verdadeira investigação se não se estrutura em torno de uma ou várias hipóteses» (Quivy & Campenhoudt, 2005: 119). Com o propósito de avançar de uma forma clara nesta investigação, construímos as seguintes hipóteses:

Hipótese 1 – Apesar da experiência profissional, em regra, acompanhada de elevadas

qualificações literárias, os indivíduos que se situam na faixa etária dos 35 aos 45 anos não conseguem reentrar no mercado de trabalho.

Hipótese 2 – As expectativas de reconversão profissional dos desempregados não se

concretizam pelo facto dos serviços públicos de emprego não disporem de formação profissional para os indivíduos que se situam na faixa etária dos 35 aos 45 anos e com habilitações literárias superiores.

Para podermos confirmar ou não as nossas hipóteses, formulamos a nossas opções metodológicas para conseguirmos atingir os objectivos propostos nesta investigação.

1. 2 – Opções metodológicas

Optamos pela utilização da metodologia qualitativa, através da entrevista com enfoque biográfico. É nosso intuito aprofundar os constrangimentos que afectam os trabalhadores que caíram no desemprego, realçando as suas trajectórias biográficas; e destacar a trajectória do período em que ficaram desempregados.

Especulando sobre o que se pretenderia atingir com os objectivos acima referidos, escolheu-se como técnica principal, no âmbito da metodologia qualitativa, a entrevista semi-estruturada, pois, segundo Quivy e Campenhoudt (2005: 192), a entrevista é um processo que nos permite retirar «informações e elementos de reflexão muito ricos e matizados». Esta, pela sua flexibilidade, permite-nos precisamente recolher testemunhos e interpretações dos entrevistados, neste caso dos que se encontram em situação de desemprego e procura de emprego, uma vez que estes são capazes de descrever as suas experiências pessoais nesse âmbito.

Assim, a nossa entrevista assume-se como semi-estruturada, maioritariamente com questões semi-abertas. Esta entrevista está estruturada em cinco partes: na primeira parte pretende-se conhecer a caracterização de contexto e origem social do entrevistado; na segunda parte procuramos conhecer o percurso escolar e formativo, para aquilatar as experiências escolares bem como outras competências; numa terceira parte tentamos conhecer a entrada na “vida adulta” dos nossos entrevistados; na quarta parte procuramos entender a sua experiência do desemprego, a forma como o encarou; na quinta parte buscamos explorar a forma como os actores estão a “gerir” a vida após o desemprego.

A escolha da entrevista exploratória semi-estruturada é fundamental para esta investigação, para que possamos obter informação mais pormenorizada,

Foi elaborado um guião de entrevista que permitiu sequencializar as temáticas sobre as quais pretendíamos obter informação. A entrevista foi objecto de validação com a realização de duas entrevistas a dois protagonistas que não fazem parte da selecção e que preferiram que as entrevistas não fossem gravadas. No entanto, seguindo o guião das entrevistas e as respostas dos entrevistados, o investigador teve oportunidade de testar este guião e decidir avançar para o trabalho de investigação.

É um facto que o método que escolhemos particulariza situações que poderemos considerar como modelos de casos sociais, oferecendo-nos a possibilidade de conseguirmos aprofundar o fenómeno da vivência idiossincrática de cada um dos entrevistados. Todavia, este método intensivo não nos permite, ao contrário do método extensivo, obter uma conclusão mais abrangente para o universo dos desempregados, dado que se estuda mais aprofundadamente as situações sociais do entrevistado, cuja análise não nos permite generalizar as respectivas opiniões e sentimentos por populações mais bastas. Este método permite-nos pintar um quadro que nos possibilita reflectir sobre o facto de nos podermos sustentar num pretexto de que as «acções sociais são também acções de indivíduos» (Marques, 2009: 60), que indelevelmente nos presenteiam com a subjectividade própria, o que nos permite, com mais facilidade, esclarecer as inerentes estruturas humanas à sua volta, bem como a possibilidade de nos descrever as condições de vida de cada um num determinado espaço/tempo, que é o desemprego e as consequências que daí advém para todo o equilíbrio emocional daqueles que vivem esta situação.

Ao utilizarmos esta metodologia, ganhamos espaço para podermos ter um olhar muito mais aprofundado, através de uma multiplicidade de aspectos, ângulos e dimensões que nos ajudam a compreender as diversas variáveis que o fenómeno das vivências do desemprego – que é a centralidade da nossa investigação – nos possam surgir com o método escolhido.

É entendível que a metodologia de método qualitativo nos permite a utilização de várias técnicas de investigação que nos podem fornecer um leque de possibilidades diferentes, que nos permitirá estudar e contextualizar o fenómeno social que estudamos. Tendo em conta o objectivo a que nos propomos, esta metodologia poderá garantir-nos uma flexibilidade que permite, sempre que necessário ao longo da investigação, uma possibilidade de ajustamento às técnicas mais adequadas para a prossecução e êxito da investigação. Também este método permite que sejam recolhidos inúmeros dados, pelo que compete à capacidade do investigador a possibilidade de promover o processo de análise sustentado na interpretação dos dados recolhidos (Silva, 2012).

Relativamente à metodologia que escolhemos para a nossa investigação, há o contraponto das desvantagens que possam ser apontadas ao método escolhido, mormente por intermédio dos críticos desta metodologia, pois respaldados em defesa da metodologia quantitativa lançam uma luz frouxa sobre o método qualitativo, por entenderem que este não é verdadeiramente um método das ciências sociais e que este é um método impregnado de falta de objectividade, pouca precisão e rigor para a produção de conhecimento científico, que consideram provir das limitações que à capacidade interpretativa dos investigadores é imposta (Silva, 2012). Perante o quadro de dificuldades e de opiniões proporcionadas por cada um dos defensores de cada

método de investigação, temos de ter sempre em atenção que, não obstante toda a abordagem qualitativa em que assenta o método biográfico, que a abordagem quantitativa também permite, há um conjunto de opções e cautelas inerentes à metodologia que se estriba na própria especificidade do quadro teórico que temos vindo a expor. Como em toda e qualquer investigação no âmbito das ciências sociais, temos de actuar em função dos objectivos e das hipóteses de trabalho, para além da facilidade ou dificuldade de “acesso” ao objectivo empírico que procuramos e poderemos definir os instrumentos que melhor se possam coadunar ao apuramento dos factos que pretendemos extrair da nossa investigação, sendo, por isso, necessário que privilegiemos a utilização «flexível das técnicas existentes» (Marques, 2009: 61). Portanto, o desafio que se levanta ao investigador no início da sua investigação, e mesmo no seu decurso, é encontrar as formas mais ajustadas, para heuristicamente adaptar o campo teórico e empírico da sua investigação (Marques, 2009).

Na análise do corpo das entrevistas optamos pela construção de grelhas de análise, onde pretendemos descodificar o corpo constituído e compreender o seu sentido (Marques, 2009: 65), da forma seguinte: i) procedemos à leitura, classificação e transcrição do texto oral; ii) clarificação do corpo da entrevista a partir de informações sobre acontecimentos subjectivos tendo em conta os perfis biográficos; iii) elaboramos grelhas temáticas a fim de facilitar a compreensão e organização do corpo da entrevista; iv) comparação e distinção das histórias, tendo por objectivo a obtenção de uma visão do conjunto de entrevistados.

Para a prossecução desta investigação, iniciamos um processo que nos permitisse proceder à selecção dos entrevistados que obedecessem aos critérios definidos.

1. 3 – Critérios de selecção

Para podermos aceder aos entrevistados que fazem parte da nossa investigação, lançamos o desafio no sítio da internet do programa MeIntegra da Universidade do Minho. Os interessados deram a sua resposta por E-mail.

Recebemos, via E-mail, a informação de nove elementos, três homens e seis mulheres, que se mostravam interessados em participar no nosso projecto de investigação. Após a recepção do E-mail, e passado um tempo que achamos pertinente aguardar, dado que poderiam surgir mais candidaturas, iniciamos o processo de contacto com os intervenientes. Esse contacto foi efectuado pelo próprio investigador via telefone, e para os que não foi possível estabelecer o contacto telefónico fizemo-lo por E-mail. Das noves candidaturas obtivemos a confirmação de seis, que foram cinco mulheres e um homem.

Procuramos entrevistados que tivessem um perfil que correspondesse à nossa base de estudo, essencialmente encontrarem-se dentro do escalão etário dos 35 aos 45 anos, estarem ou terem estado desempregados; encontrarem-se em procura activa de

trabalho ou terem regressado à escola, nomeadamente ao ensino superior, quer em licenciatura quer em pós-graduações.

Estatisticamente a maior percentagem de desempregados à data em que iniciamos o nosso projecto, sendo hoje a realidade diferente, são mulheres, pelo que procuramos dentro deste género conseguir o maior número de entrevistas, o que se concretizou. Das seis entrevistas realizadas, cinco são a mulheres. Porém, na percentagem da nossa amostra o sexo não é tão relevante.

Tendo em conta a nossa aposta no método intensivo, é aceite que a abordagem qualitativa, que pressupõe o método biográfico, não dispense o desenho de uma investigação que resolva as questões da representatividade, fiabilidade e informação (Marques, 2009: 62). A pertinência dos critérios seguidos na selecção das nossas entrevistas teve em linha de conta o facto de se obter uma saturação na informação. Ao fim das seis entrevistas entendemos que não seria necessário efectuar mais entrevistas pelo facto de nestes relatos termos obtido, na quase totalidade das mesmas, as respostas que pretendíamos reportar para a conclusão desta investigação. Por isso, encontramos respostas para a dificuldade do regresso ao mundo do trabalho, bem como à inépcia dos organismos públicos competentes, neste caso os centros de emprego, no acompanhamento, na ajuda e no encaminhamento deste tipo de desempregados que, para além da idade, tinham habilitações superiores, ao nível da licenciatura e pós-graduações.