• Nenhum resultado encontrado

As partes e o todo: refletindo sobre o fenômeno Após a descrição e interpretação do fenômeno da busca na terceira

No documento Elizabeth Thomaz Pereira.pdf (páginas 195-200)

DO APRENDER À BUSCA: AS VÁRIAS FACES DE UM ICEBERG

BUSCA NA TERCEIRA IDADE NA UNIVERSIDADE ABERTA Aprendizagem

4.1.5. As partes e o todo: refletindo sobre o fenômeno Após a descrição e interpretação do fenômeno da busca na terceira

idade na universidade aberta, fundamentadas pelas interpretações das experiências de professores e alunos adultos maduros e idosos que o vivem, pude chegar à essência do fenômeno que se constitui por: bem-estar, ocupação, relações e aprendizagem. Embora, inicialmente, eu tenha visado ao aprender na terceira idade, tomando-o como fenômeno, o trabalho de interpretação dos textos revelou um fenômeno diferente, como já expus anteriormente. O dilema que vivi para chegar ao entendimento da busca como fenômeno, foi solucionado por meio de um contato mais intenso com os textos coletados que, no processo de tematização, me permitiram atingir uma maior sensibilidade para o que havia nas entrelinhas, além da aparência.

Uma experiência vivida tem uma estrutura temporal que só é percebida quando olhada retrospectivamente. Ao descrever e interpretar o fenômeno da busca na terceira idade na universidade aberta, consegui compreender, por meio das construções lingüísticas presentes nos textos dos alunos, o que envolve essa busca. Como textos são socialmente construídos, o processo de apropriação reflexiva, de clarificação e explicitação envolvidos no entendimento da estrutura temática do fenômeno faz com novos significados emergissem dos meus textos. Justamente por serem multidimensionais, os aspectos temáticos dessa experiência vivida não emergiram de um processo regulamentado e inflexível, mas, sim, de um ato livre de construir os significados do fenômeno pesquisado, a partir dos textos, ou seja, os registros das interpretações de quem o vivencia.

Os temas são formas de capturar um fenômeno que se está tentando entender. Portanto, bem-estar, ocupação, relações e aprendizagem são a materialização do fenômeno da busca na terceira idade na universidade aberta. Esses temas sugerem focos de atenção e preocupação por parte daqueles que trabalham ou venham a trabalhar nas universidades abertas com o segmento etário que mais cresce na sociedade que vivemos.

Esta pesquisa forneceu subsídios para pensar a formação de professores e, especialmente, um currículo com um foco menos conteudista e mais humanista. Um currículo includente que possa saciar a ânsia por algumas das buscas aqui apresentadas e discutidas.

A minha pesquisa sinaliza a necessidade de uma formação docente profissional embasada em disciplinas que contemplem em questões educacionais da velhice e nas necessidades do aprendiz idoso. Os investimentos pautados na capacitação de recursos humanos, em questões que dizem respeito a esse alunado e à sua aprendizagem deveriam ser contemplados nos cursos de graduação, nas mais diversas áreas do conhecimento. Os docentes em formação poderiam receber informações multidisciplinares relativas a diversas áreas das ciências humanas, biológicas e sociais, uma vez que para se alcançar bem-estar, usufruir de um ambiente prazeroso que estimule trocas sociais e afetivas e ainda proporcionar espaços para construção de conhecimento a essa parcela da população que envelhece, é importante contar com uma formação especializada também na área da Gerontologia.

A formação pré-serviço, a formação continuada e a autoformação das pessoas envolvidas nos programas educacionais para idosos poderia ser uma opção para a capacitação educacional. As novas tecnologias que dispomos atualmente poderiam vir a ser grandes aliadas na melhoria e ampliação de possibilidades da construção do conhecimento e intercâmbio de saberes com os demais profissionais envolvidos na área do envelhecimento. Porém, para que isso aconteça é importante que esses educadores acreditem que a educação pode ser transformadora, como ressaltava Freire (1996:76).

Caberá, também, aos profissionais envolvidos nas universidades abertas da terceira idade rever seus próprios conceitos, repensar estilos e estratégias de aprendizagem para que possa ser dada a importância afetiva, motivacional e de valorização do idoso, orientada para a realidade individual e grupal. É a aprendizagem voltada para a transformação do indivíduo idoso, sem deixar de considerar a sua capacidade de auto-aprendizagem, de forma que seja

possível o seu desenvolvimento tanto intelectual quanto emocional, como ressaltava Rogers (1973).

Para concluir, é importante ressaltar que esta tese foi idealizada e desenvolvida também com o intuito de buscar subsídios para a formação de professores, oferecendo contribuições para o estudo e pesquisa em Educação, Lingüística Aplicada e Gerontologia. Seus resultados, portanto, também se localizam em território transdisciplinar que procura aliar pressupostos dessas áreas afins, articulá-los e transcendê-los, indo na direção de uma nova concepção de educação do idoso, visando contemplar as buscas que os levam à universidade aberta da terceira idade.

Para concluir, apresento no Diagrama 6, a estrutura integral do fenômeno, como se revelou a partir das interpretações dos participantes entrevistados. Essa representação gráfica destaca a constituição essencial do fenômeno estudado, revelando sua identidade:

BUSCA NA TERCEIRA IDADE NA UNIVERSIDADE ABERTA

Relações Aprendizagem Ocupação Bem-estar

Interpessoais Ambientais Interação Troca de saberes Inserção Lazer da Mente do Tempo do Espaço Motivação Para sair de casa Para se arrumar Satisfação Transformação Valorização Vida Auto-estima Realização Curiosidade Informação Continuida de Descoberta Aquisição Recordação Atualização Compartilhamento Rejeição

Diagrama 6. A estrutura do fenômeno, seus temas, subtemas e sub-subtemas

Os significados envolvidos na busca na terceira idade na universidade aberta foram revelados por alunos e professores adultos maduros e idosos e foram aqui registrados. A pesquisa em ciências humanas está relacionada à construção de significados, pois o ser humano tem em si o desejo pelo entendimento dos fenômenos da experiência. Talvez, eu não tenha sido tão bem sucedida na minha viagem como eu gostaria mas, como afirma van Manen (1990:89):

But there is the fact that life is never perfect and we must all battle our personal fears. Some battles are victorious, some

leave deep and permanent scars, and others end in irredeemable loss.

Porém, algumas das múltiplas faces escondidas do iceberg foram desveladas, possibilitando que parte da essência do fenômeno pudesse ser escrutinada. Escrevendo, pesquisando, lendo e refletindo pude, como pesquisadora, e professora vivenciar em mim o navegar. Nada foi melhor do que me lançar à descoberta e constatar que o mar é mesmo sem fim.

Passo agora às considerações finais, ao encerramento do meu diário de bordo, compartilhando desde a Introdução, expondo mais considerações e reflexões sobre o desafio de velejar e a satisfação de chegar a um destino, a um porto razoavelmente seguro.

No documento Elizabeth Thomaz Pereira.pdf (páginas 195-200)