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Participação das crianças no Desfile de Carnaval

CAPÍTULO VI: A criança e a política da cidade

6.1. O espaço da criança na política da cidade

6.1.1. Participação das crianças no Desfile de Carnaval

As festividades de carnaval são uma excelente oportunidade para as crianças, sobretudo os mais pequenos se fazerem ver e ouvir. Altura propícia para dar asas à imaginação e à

expressão dramática, mesmo porque como diz o ditado popular, “no carnaval ninguém leva a mal”, é no cenário de cores e musica popular que as crianças têm oportunidade de viverem, experienciarem a cidade e esta passa a ser palco da participação política dos mesmos. Óbvio está que essa participação apenas faz sentido com a contribuição das instituições educativas que por sua vez preparam, esquematizam e estruturam a participação infantil de forma cívica.

Proporcionar às crianças momentos de alegria, confraternização e diversão nas ruas do centro da cidade é um dos marcos desta época festiva que é o Carnaval.

Ao longo de uma semana, as crianças são levadas a realizar e a participar em actividades relacionadas com o Carnaval.

As salas são enfeitadas com palhaços, imagem quase icónica do Carnaval, máscaras, fitas, balões, mas o que mais as agita é a participação delas no desfile.

Durante os primeiros anos de abertura da Instituição, era prática comum aderir ao desfile proporcionado pela Câmara de Braga, geralmente realizado na sexta-feira da semana anterior ao Carnaval.

Essa participação deixou de se fazer sentir, por diversas Instituições de Solidariedade Social, pois a Câmara não proporcionava as mesmas regalias que aos Jardins de Infância e escolas do Concelho, sobretudo a nível do transporte, limitando a participação de algumas instituições que devido a carências muitas vezes de índole económica vêem-se impossibilitados de participarem nestes eventos culturais e sociais.

O dia começou muito agitado. Uma a uma as crianças iam chegando à sala alegres e bem-dispostas. Apenas duas mostraram algum desagrado.

A Instituição tem como lema fantasiar as crianças de acordo com o tema do Projecto Educativo e como este ano é sobre a expressão dramática, as fantasias escolhidas foram os Mimos. A intenção é a de sensibilizar os cidadãos que a expressão dramática é tão importante para o desenvolvimento da criança, como qualquer outra área de desenvolvimento.

Depois de estarem todas fantasiadas, era chegada a hora de sairmos da Instituição, rumo ao Centro da Cidade.

As crianças sentaram-se na camioneta, alugada, e imediatamente procuraram os cintos para sua segurança. Este hábito já está tão enraizado nelas, que logo que se sentam procuram o cinto de segurança e, se por acaso, alguma das colaboradoras não o coloca, são os primeiros a chamar a atenção para o facto.

A camioneta chegou à Praça Conde de Agrolongo e rapidamente as crianças começaram a ser colocadas em fila, pois estávamos atrasados, e este ano era a Instituição a estar à frente do desfile.

Quando chegamos à Praça do Município, algumas dezenas de crianças, aguardavam que o desfile começasse.

“- Tantos meninos… que giros que estão!”- apontou a Ema para a Praça. “ – É mesmo… que fixe…”- respondeu-lhe o Leonardo.

A conversa ia animada, e rapidamente as crianças da Instituição se juntaram às outras para iniciarem o desfile.

Apitos, canções, balões! Era quase impossível ouvir o que elas diziam. Umas olhavam para as ruas, outras cantavam, outras ainda iam apontando para alguma loja ou objectos que lhes chamavam a atenção.

O trajecto da praça do Município até à Avenida Central demorou cerca de 30 minutos. Apesar de observar que algumas já estavam um pouco cansadas, nenhuma o disse ou comentou. Ao longo do trajecto duas crianças da sala dirigiram-se à educadora e pediram-lhe a máquina Fotográfica.

“- Anabela, tu disseste que podíamos tirar Fotografias, emprestas a máquina Fotográfica?”- pediu

o David.

“- Claro que te deixo tirar Fotografias, mas vais tirar Fotografias a quem?”- questionou a

educadora, fingindo-se surpreendida.

“- Aos meninos no Carnaval. Deixas?!”- interrogou.

“- Tira lá as Fotografias, tens é que ter cuidado para não a deixares cair.”- respondeu a

educadora, explicando de seguida como é que ela funcionava.

Mais duas crianças se dirigiram à educadora para lhes deixar tirar algumas Fotografias aos colegas.

Fotografia nº 31 Autor: David 4 anos

O desfile chegou à Avenida Central. Aí, as crianças tiveram a oportunidade de se sentarem na relva e descansarem um pouco.

Mas rapidamente a relva serviu de palco de correrias e brincadeiras. O cansaço havia desaparecido, dando espaço à brincadeira.

O maior problema surgiu quando algumas crianças calcaram excrementos dos animais.

“ – Olha, aqui tem cocó dos cães?!…”- exclamou o João Pedro, chamando os colegas

que se juntaram logo para observar.

A brincadeira teve de ser interrompida, pois constatou-se que aquele espaço verde estava demasiado sujo, para que as crianças pudessem continuar a suas brincadeiras.

Estas tiveram que ser colocadas nos passeios, onde novas brincadeiras surgiram. Os bancos serviam de esconderijos, e de escorregas.

“- Vamo-nos esconder, atrás daquele banco?”38 - convidou o Hernâni, apontando o banco aos

colegas, que imediatamente entraram no jogo.

Daí estarmos de acordo com Nochis (1994) quando afirma que “toda a rua, árvore, viatura, e fachada pode-se tornar no teatro de um evento em que ela participa sem preconceitos e que marcará a viagem da criança por uma série de emoções que verá comprovadas pelas interrogações suscitadas ou pela apreensão de uma série de emoções” (p.83)

A camioneta estava a chegar e as brincadeiras tiveram que ser interrompidas. Algumas ainda tentaram fazer mais umas brincadeiras, mas tiveram que “obedecer” aos adultos e um

pouco aborrecidas lá se juntaram ao comboio, para atravessarem a rua ordeiramente, pois todos têm a noção que apenas o devem fazer se o sinal verde estiver verde para os peões.

O desfile teve um impacto positivo nos transeuntes, pois pudemos ouvir e observar alguns dos comentários que iam fazendo, à medida que as crianças iam desfilando pelas ruas do centro da cidade.

Uma das preocupações da Unisol é a de alertar os cidadãos para questões importantes e pertinentes, daí que quando faz o convite às Instituições associadas, é que estas tenham a preocupação para além de sensibilizarem as crianças para algum assunto importante, também o promovam junto da comunidade.

O desfile também foi alvo de notícia, como podemos ler no Correio do Minho.

“Centenas de crianças oriundas de onze instituições de solidariedade social do concelho protagonizaram ontem momentos de alegria e diversão nas principais ruas do centro da cidade. O desfile de Carnaval da Uni-Sol primou, uma vez mais, pela criatividade e qualidade dos trabalhos e disfarces apresentados pelos mais novos. Os trabalhos demonstraram também a sensibilidade das instituições para temas da actualidade, como o ambiente, as expressões a multiculturalidade e a arte.

Através deste desfile, as crianças procuram ainda transmitir várias mensagens sobre a temática em que trabalharam.

Os ‘mimos’ do Centro Social da Paróquia de Ferreiros deram a conhecer uma das facetas da Expressão Dramática, tema escolhido pela referida instituição para este desfile. A concentração da pequenada teve lugar na Praça do Município. De seguida, e em desfile, os mais novos percorreram o centro da cidade em direcção à Avenida Central, onde decorreu a festa recheada de música, dança, foguetes.

Este foi um momento oportuno para os bracarenses apreciarem o excelente trabalho levado a cabo pelas várias instituições que levaram semanas a preparar os seus trabalhos. O resultado esteve, uma vez mais, à vista.” (Maia, 2010).

Como podemos ver, a participação das crianças foi também alvo de notícia pelos órgãos de comunicação social local. Mesmo com alguns obstáculos, como já referenciamos, as instituições educativas devem fazer por salvaguardar toda e qualquer intervenção infantil nas cidades, ainda que através do espectáculo ou do humor e até mesmo da fantasia, pois estas para além de serem características intrínsecas à condição infantil são também reconhecidas pelo adulto e muitas vezes utilizadas como sátiras aos organismos públicos. Ou seja, cabe também e

sobretudo às instituições educativas zelar pelo cumprimento dos direitos da criança, sobretudo os que dizem respeito à sua participação e intervenção no domínio público das cidades e convívio colectivo.