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A). Produzir / Fumac-P

3 POLÍTICAS PÚBLICAS ELIMITAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO

3.2 PARTICIPAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

Miguel Calmon teve a participação da população rural num grande nível de importância, apenas quando os PIMs estavam sendo elaborados. Depois da execução dos Planos e do fim de remessas de recurso, a população voltou a ter ―vez e voz‖ no Comacor, tendo apenas a Prefeitura Municipal como parceira para resolver as demandas das comunidades rurais.

Para promover desenvolvimento, o Comacor foi um modesto agente de participação cidadã na Gestão Pública Local. Para Teixeira, participação cidadã é um

Processo complexo e contraditório entre sociedade civil, Estado e Mercado, em que os papéis se redefinem pelo fortalecimento dessa sociedade civil mediante a atuação organizada dos indivíduos, grupos e associações. Esse fortalecimento dá-se, por um lado, com a assunção de deveres e responsabilidades políticas específicas e, por outro, com a criação e exercício de direitos. Implica também o controle social do Estado e do mercado, segundo parâmetros definidos e negociados nos espaços públicos pelos diversos atores sociais e políticos (TEIXEIRA, 2001, p.30).

Partindo desse pressuposto, constata-se que, o Programa Produzir, fomentou a participação nos conselhos, que orientou para gerir os recursos do Banco Mundial e do Estado, mas, não tem uma política que se volte para a efetiva participação cidadã da população, porque, em sua orientação, não convida a prefeitura a ter o Conselho como um órgão de consultoria e orientação no planejamento de investimentos a serem direcionados para a zona rural. Esse direcionamento poderia ter sido feito num modelo de gestão descentralizada, o que não é o caso de Miguel Calmon.

Nos anos anteriores, muitos líderes de associações dizem que há pouca participação de recursos da prefeitura resolução de questões básicas, demandadas nas reuniões mensais do

conselho.

Logo, se a participação ocorre de forma tímida, o desenvolvimento não acontece. Não há liberdades totais, não há parcerias e as demandas não são consideradas na regularidade que as associações rurais necessitam. Desse modo, faz-se com que, o Comacor seja visto por muitos como um órgão vinculado ao poder público, que quando assistido pela CAR, tinha maior importância, mas que, sem recursos da CAR, tem utilidade pontual para o gestor Público.

Considerando todas as variáveis das políticas públicas em Miguel Calmon, poder-se-ia falar em desenvolvimento rural, por simplesmente ter acontecido a devida aplicação dos recursos da CAR, sob a supervisão dos beneficiados?

O desenvolvimento rural é um processo que deve partir do local com a efetiva participação da comunidade, privilegiando as necessidades sociais e culturais da população e voltado para a conquista da cidadania, de acordo com a realidade local, visto que ―[...] ao bom conceito de desenvolvimento não se associa qualquer ideia de progresso ou de economicismo‖ (BRANDÃO, 2008, p.3).

Logo, onde a participação é fraca e os dados coletados não evidenciam desenvolvimento, percebe-se que há estruturas ainda marcadas pela heteronomia e centralização nas decisões referentes à gestão pública municipal. Portanto, o desenvolvimento ainda está longe de ser concretizar, uma vez que

O desenvolvimento, enquanto processo multifacetado de intensa transformação estrutural, resulta de variadas e complexas interações sociais que buscam o alargamento do horizonte de possibilidades de determinada sociedade. Deve promover a ativação de recursos materiais e simbólicos e a mobilização de sujeitos sociais e políticos buscando ampliar o campo de ação da coletividade, aumentando sua autodeterminação e liberdade de decisão. (BRANDÃO, 2008, p.3).

Partindo dos pressupostos de Brandão, o Produzir, poderia se tornar uma política pública comprometida com o desenvolvimento, no entanto, mobiliza os sujeitos sociais apenas para obtenção dos recursos oriundos do programa, confere liberdade de decisão às associações, mas, se o gestor público não se apropria dessa atividade e a estende ao planejamento dos orçamento públicos, há possibilidade de o Comacor — e do mesmo modo entidades assemelhadas —, gradativamente se diluir na história, de como podia ter dado certo, mas, que, por falta de recursos, perdeu sua funcionalidade. A percepção dessa perda de importância e funcionalidade fez com que muitas comunidades rurais, que, não mais o frequentem.

Diante das possibilidades de articulação das comunidades em torno dos produtos oriundos das associações rurais, a CAR atua em municípios e, regionalmente, dentro de suas estratégias de fomento à participação. Todavia, nada produz para dinamizar a relação intermunicipal com o TI Piemonte da Diamantina, em que Miguel Calmon se insere, mesmo quando afirma na

revista do Produzir que promove o desenvolvimento atuando com exelência, como pode ser confirmado mediante informações da revista da CAR, onde afirma que

[...] os resultados e os avanços obtidos ao longo desse período (de aplicação do programa) demonstram o grau de excelência alcançado pela empresa no trato da questão regional e na gestão de programas multifuncionais que vem sendo executados em áreas críticas para o desenvolvimento social (CAR, 2002, p.78).

Deste modo, tendo possibilidades de atuar numa rede de cooperação regional, entre os municípios, o programa se limita às atuações locais, desarticuladas entre as unidades municipais contempladas, mas desarticuladas até na relação de separação que estabelece entre o rural e o urbano. Em Miguel Calmon, estender o associativismo rural para a melhor articulação das associações urbanas não teria sido um grande problema, pelo fato, de muitos dos residentes nas zonas rurais terem a vida divida entre residência rural e residência urbana.Contodo, a articulação não aconteceria pela atuação da CAR, que não direcionou nenhuma de suas ações para esta possibilidade de contribuição do programa.

Desse modo, municípios circunvizinhos, mesmo depois do Produzir, continuam com suas economias locais sem ligação entre si. O que evidencia que, muito do que foi exposto nas revistas Produr e Produzir não retratou todas as vertentes consequentes da atuação dos programas. A avaliação do artigo publicado revela uma visão de técnicos à distância, que pouco sabem sobre a dinâmica, ou a falta dela, nas políticas públicas que deveriam contribuir para o desenvolvimento local. Desenvolvimento almejado, mas que dificilmente ocorrerá dissociado de um eficiente e melhor investimento num planejamento regional na Bahia que vislumbre a redução das desigualdades.

As informações da revista dos programas foram produzidas apenas para as instituições financiadoras saberem que todos os recursos foram gastos e que, houve idoneidade na aplicação dos mesmos. Infelizmente, porém, não estão disponíveis, para pesquisa, os resultados efetivos de todos os municípios, que, segundo a revista somam um total de 383 e mais de 7.041 projetos.

Mas, que lições podem ser tiradas a partir da experiência dos Programas Produr e Produzir em Miguel Calmon? As políticas públicas seriam usadas para atender a interesses mais político=partidários que aqueles relacionados à vontade de reduzir as desigualdades

regionais?

Sem concluir efetivamente sobre os reais objetivos das políticas públicas coordenadas pela CAR, através de diversos programas, é possível dizer que em Miguel Calmon houve melhorias significativas no espaço rural, onde se possibilitou acesso a recursos básicos antes não existentes. O aprendizado sobre participação política é ganho imaterial e, portanto, o mais valioso ganho da experiência dos programas coordenados pela CAR no município. No entanto, mesmo sem a intervenção da CAR, a população rural, continua ativa em sua participação, em que pese o fato de a Prefeitura ainda insistir num modelo de gestão centralizador. Tal atuação gera muita insatisfação, especialmente na população rural, que não é mais vista e ouvida como aprendeu que deve ser e necessita, mas, que, não se expõe, por temer retaliações em torno da má interpretação de suas ―queixas‖. Queixas essas, cada dia mais frequentes, pela ―não consolidação‖ dos programas Produr e Produzir, que melhoraram muita coisa, mas, que deixaram as comunidades rurais de Miguel Calmon com muitos projetos a concluir.

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