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A). A razão do PProdur

1.2.2 Produzir

De acordo com periódicos da CAR referentes ao Produzir, esta é a última versão de uma geração de programas que foram executados na região Nordeste do Brasil. Tal operação teve início pioneiro no estado da Bahia, em junho de 1996, exatamente um Miguel Calmon, com o objetivo de combater a pobreza rural. Utilizando-se das lições aprendidas no curso da execução de outros modelos, de acordo com artigo escrito por técnicos da CAR, na revista do Programa Produzir publicada em 2002, ―[...] o programa tinha como objetivo corrigir os desvios oriundos dos anteriores e avançou na concepção de uma estrutura orgânica operada de

dentro para fora‖, o que foi questionado por técnicos da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA).

É importante lembrar que os recursos, oriundos de qualquer programa, chegavam ao município com especificações sobre onde seriam aplicados. O que a CAR considera uma inovação é o fato de os recursos do Fumac-P chegarem sem especificação de onde deveriam ser aplicados. Essa especificação seria decidida na localidade, em assembleia dos conselhos. Contudo, os recursos chegavam em montante pouco significativo, quando se calculam aqueles destinados às áreas economicamente dinamizadas da Bahia, pelo poder estatal, aquele que determina onde avanços e atrasos se perpetuarão.

O programa teve como ponto de partida o beneficiário (ator/sujeito), para construir os mecanismos de implementação centrados na organização das comunidades e descentralização na gestão e aplicação dos recursos, dimensões estruturadoras do processo de participação efetiva dos beneficiados, o que de fato ocorreu e será descrito posteriormente.

A presença de uma insistente preocupação com o processo de organização, como componente dos programas, orientados para o pequeno produtor rural, em suas diferentes versões assumiu, no curso da história do programa, características marcadamente metodológicas.

A nova proposta do Produzir, segundo a CAR, coincide com um momento de transformações importantes no conteúdo do discurso político em relação à pobreza. Enquanto política pública e/ ou ação orientada para redução da pobreza saiu da indiferença para o centro do debate social, sob a orientação do Banco Mundial.

Porém o Banco Mundial nunca apresentou uma proposta de combate radical à pobreza. Seus investimentos decorrem de relações políticas de dependência que o Brasil possui com essa corporação internacional. O debate sobre o Banco Mundial, no Brasil e na Bahia, não ganhou visibilidade para o Governo do Estado da Bahia, que não mensurou as potencialidades de continuar a assistir às comunidades urbanas e rurais, anteriormente orientadas pela CAR na execução dos programas. O que comprovou que, não há um projeto de desenvolvimento para o Brasil, muito menos para a Bahia, levando em conta a execução de programas, como esses que ora estudamos.

Para a CAR esta política pública passou a ser vista como elemento indispensável às ações programadas, de médio e longo prazo. Sua institucionalização ganhou visibilidade e mudou de trajetória, saindo das estruturas burocráticas para a sociedade. Contudo, na realidade, os programas tiveram participação dos beneficiados que não tiveram uma perspectiva de ―longo prazo‖, uma vez que, não há acompanhamento das atividades do Conselho Municipal, depois de cessado o envio de recursos oriundos do Banco Mundial, que foram pontuais.

Os avanços no reconhecimento do papel das organizações sociais e do exercício da participação popular não decorreram da adoção de uma nova teoria, mas da constatação, pelo Banco Mundial, da importância de os beneficiados por qualquer programa participarem do processo de gestão de recursos, que tem como finalidade reduzir a pobreza rural. Porém, o Banco Mundial não deixou clara a concepção que tem de pobreza rural. Desta forma, houve efetiva participação e, através dela, melhorias, mas, não é simples mensurar a redução da pobreza, como o Banco Mundial e CAR tentaram fazer.

Para entender a ação participativa, no novo desenho do Produzir era necessário analisar o processo de operacionalização que se efetivou de fora pra dentro, a partir do estudo da proposta do Banco Mundial, da CAR e da prefeitura. E, posteriormente, analisar de dentro para fora, observando como os beneficiados se organizariam para que o Produzir fosse efetivamente implantado.Os mecanismos de implantação eram estruturas organizadas, cuja diferença não era apenas de grau, mas de conteúdo e, principalmente, de autonomia na gestão dos meios para o desenvolvimento dos projetos.

As organizações associativas se aproveitaram da carência das comunidades rurais e da natureza do programa, para estabelecer que qualquer benefício para uma referida área só aconteceria via associação. Nisto se identificou o potencial para realização bem sucedida do programa, uma vez que, as carências das comunidades rurais eram tão grandes que não foi difícil articular a orientação sobre como, nelas formalizar as associações. Assim, se determinou que, apenas via Comacor, as comunidades rurais poderiam ser beneficiadas, já que os recursos do Banco Mundial seriam geridos coletivamente, através do referido conselho.

Os mecanismos de implantação eram considerados, também, instrumentos de gestão, atribuindo ao programa forma e conteúdo. No nível operativo foram criados espaços públicos

para estabelecer critérios de seleção e análise das demandas oriundas das comunidades. Tratava-se de estruturas sobre as quais residia não apenas uma proposta metodológica implícita, mas, também, o cerne da nova concepção do programa, que teve a eficácia assegurada, na constatação de maior participação dos beneficiados.

O Produzir trabalhou com três modelos de projetos também chamados de programas:o PAC, o Fumac e o Fumac-P. Em Miguel Calmon foram implantados o PAC, mas, não há registros das ações oriundas dele. Sobre o Fumac existe apenas uma menção, numa primeira e única ata do Conselho de Associações, em 1996. Portanto, o Fumac-P foi escolhido para o estudo, por haver registros de sua implantação. Desse modo, destaca-se aqui, a execução do Fumac-P, originado do Produzir.

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