• Nenhum resultado encontrado

PARTE II ESTUDO EMPÍRICO

8. A PRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

8.2 Apresentação dos resultados

8.2.2 Participação no tratamento por parte dos familiares

Esta categoria diz respeito à opinião dos participantes quanto à participação dos seus familiares no tratamento e ao modo como estes podem ser envolvidos de forma mais ativa neste processo. Desta categoria fazem parte três subcategorias, descritas nos pontos a seguir, que expõem os diferentes tipos de participação dos familiares no tratamento descritos pelos entrevistados (subcategorias ajuda familiar e participação dos familiares

no tratamento) e as necessidades que os familiares têm, segundo os entrevistados, de

formação para poderem compreender melhor a perturbação mental (subcategoria

8.2.2.1Ajuda familiar

Esta subcategoria descreve a importância atribuída pelos entrevistados à família como elemento essencial para ajudar a lidar com a perturbação mental. Os participantes referiram que a família tem que estar envolvida principalmente nos momentos de crise (E1: “Eu saí do hospital mais cedo do que era necessário, porque ela sabia e a própria

médica também sabia que eu que tinha um grande apoio lá em casa e os meus irmãos e essas coisas todas apoiavam desde, por exemplo, sair comigo, porque eu estava muito tempo na cama e essas coisas todas, portanto.”; E2: “(…) ajudaram naquilo que tiveram que me ajudar, quando eu fui internada e assim… tiveram ali ao meu lado.”; E3: “Olhe, eu tenho esta doença há 11 anos e se não fosse a minha esposa ainda hoje eu se calhar não estava aqui a falar consigo muito sinceramente. E hoje por acaso eu vim sozinho à sessão, mas todas as vezes que venho à associação a minha mãe acompanha-me. Nunca estou sozinho e essas duas mulheres em questão e mais alguém da família têm-me dado muita força e têm sido o meu ex libris na doença que dura há muitos, muitos anos. A família é essencial na ajuda da doença.”; E6: “Tem de haver envolvimento da família, nem que seja para estar alerta. (…) é importante para quem tem um familiar seja com que perturbação for, é importante estar atento. Quer dizer, não é estar ali a fazer marcação cerrada, mas é importante haver envolvimento.”; E7: “É importante que tenham outras pessoas que se envolvam e nos apoiem porque a gente quando está a ter crises e está mais doente a gente acha que está boa e é só as pessoas de fora que reconhecem e a gente não. Se tivermos pessoas amigas e familiares que nos ajudem isso é muito bom.”).

8.2.2.2Participação dos familiares no tratamento

Esta subcategoria descreve o modo como os participantes abordam a participação dos familiares no processo de tratamento e a sua opinião de como esta participação pode ser realizada. Em primeiro lugar, é importante referir que nem todos os familiares dos participantes se envolvem mais ativamente no processo de tratamento. Com envolvimento ativo está-se a referir à participação dos familiares nas atividades disponibilizadas pelas instituições. Alguns entrevistados referiram apenas que os familiares ajudam, mas a ajuda resume-se à ajuda familiar referida na subcategoria anterior (E2: “Estou muito sozinha,

fora o facto de fazer a psicoterapia e o psiquiatra do Magalhães Lemos. Eu tenho as duas coisas. Mas a nível de família não tenho assim propriamente. Há grupos familiares daqui, mas eles não vêm. Isso não lhes interessa.”; E4: “Eu acho que a família não está

preparada e hoje em dia as pessoas não sabem lidar e não querem. Há pessoas que não querem, não sabem lidar mas também não querem informação.”).

No entanto, a maioria dos participantes consideram de extrema importância a participação dos familiares no processo de tratamento no que diz respeito à sua frequência em atividades terapêuticas e de formação (E1: “Acho importante. Sei que é muito difícil

enquanto eles não tiverem conhecimento do que é a doença, da forma como eles podem ajudar e às vezes tem a ver com o feitio das pessoas em saber lidar, porque isso é uma coisa nova, não é?”; E2: “Aquela partilha de experiências semelhantes, por isso é que é bom e benéfico para a pessoa e benéfico para o resto do grupo. Normalmente é por isso que os grupos existem e que se chamam autoajuda.”). Ainda sobre esta questão, E3 refere “Olhe, eu por acaso, por caso, agora nós aqui na ADEB estamos a fazer um ciclo de conferências, não é conferências que se diz, mas um grupo que nos estamos a reunir as últimas duas sextas-feiras de cada mês e falamos sobre a doença e eu acho que há aqui um erro. Já recebi o calendário com os vários temas e acho que há aqui um erro neste calendário que é não haver aqui um dia para a família. Acho que a família tinha direito a uma sessão, sem nós.”. Assim sendo, a participação dos familiares, segundo o discurso

dos participantes, não se deverá apenas resumir aos cuidados externos às estruturas de tratamento, mas também estes deverão ser, quando possível e se essa for a sua vontade, incluídos nessas estruturas.

8.2.2.3Formação dos familiares

Esta subcategoria apresenta a opinião dos participantes no que diz respeito à necessidade de formação dos familiares quanto à perturbação mental como componente essencial não só para que os familiares consigam lidar melhor com a doença mental, como também para ajudar as pessoas que sofrem de perturbação mental a lidar de modo mais adaptado com os seus problemas. (E1: “Portanto, acredito que é preciso que eles

também tenham informação e formação.”; E4: “Eu acho que é muito importante, principalmente no início de uma doença dessas a família estar alertada, saber o que é essa doença que a pessoa tem.”; E7: “A informação é sempre bom, aqui a ADEB achei que é como coisa boa para a minha filha porque a gente no início da doença acha que não precisa do medicamento e, deixa de o tomar, porque eu já fiz isso e, a minha filha já caiu na asneira de fazer isso também e depois entra numa crise profunda e, acho bom a informação. (…) A informação que a ADEB me dá tem sido útil para eu saber como é que

a minha filha se comporta, se ela está a ter crise se não, se precisa de tomar mais medicamentos se precisa de ir ao psiquiatra, como eu vivo sozinha com ela.”).

Os participantes entendem também que esta formação deve ser dada por parte das instituições e de profissionais qualificados (E4: “A família tinha que ser elucidada por

profissionais para estarem preparados para poderem ajudar a pessoas, porque enquanto não criamos estabilidade, nós temos muitas alterações.”).

Documentos relacionados