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PARTE I – O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA SAÚDE

2.10 PARTICIPAÇÃO POPULAR E CONTROLE SOCIAL

Permeando a construção do SUS está o controle social. A implantação do SUS é uma conquista de diversos movimentos sociais, especialmente do movimento de reforma sanitária, inserido no processo mais amplo de redemocratização vivenciado pelo País no início dos anos 1980.

A Lei Orgânica de Saúde62 (Anexo 3) estabelece para a população duas formas de participação na gestão do Sistema Único de Saúde: as Conferências e os Conselhos de Saúde. Em ambas as instâncias, a comunidade, através de seus representantes, pode opinar, definir, acompanhar a execução e fiscalizar as ações de saúde das três esferas de governo:

A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde (BRASIL, Lei 8142/90, Parágrafo 1º).

O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo (BRASIL, Lei 8142/90, Parágrafo 2º).

Destacamos algumas Conferências Nacionais de Saúde que foram locus de importantes diretrizes de reorganização da Saúde brasileira:63

62 Lei nº 8142, de 28 de dezembro de 1990.

63 BRASIL, MS. http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/area.cfm?id_area=1041. Acesso em: 23 out.

VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986 - Tema central: Saúde como direito; reformulação do sistema nacional de saúde e financiamento setorial. Esta conferência foi o grande marco nas histórias das conferências sobre saúde no Brasil. Foi a primeira vez que a população participou das discussões. Suas propostas foram contempladas tanto no texto da Constituição Federal/1988 como nas leis orgânicas da saúde, nº. 8.080/90 e nº. 8.142/90. Participaram dessa conferência mais de 4.000 delegados, impulsionados pelo movimento da Reforma Sanitária, os quais propuseram a criação de uma ação institucional correspondente ao conceito ampliado de saúde, que envolve promoção, proteção e recuperação.

IX Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1992 – Tema central: Municipalização é o caminho. Esta conferência aprofundou o processo de descentralização na gestão de serviços e ações de saúde no País.

X Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1996 – Tema central: Construção de modelo de atenção à saúde. Nesta conferência, o enfoque principal foi o fortalecimento da territorialização, fazendo com que as secretarias estaduais de Saúde investissem na regionalização, descentralizando suas instâncias administrativas e decisórias.

XI Conferência Nacional de Saúde, realizada em 2000 – Tema central: Efetivando o SUS: acesso, qualidade e humanização na atenção à saúde com controle social. Reforçou a necessidade de promover um debate efetivo entre os governos (federal e estaduais) e suas respectivas instâncias colegiadas sobre a regionalização da saúde, garantindo apoio das secretarias estaduais de Saúde aos municípios no levantamento de suas capacidades instaladas (leitos e diagnósticos), assegurando a responsabilização solidária dos gestores nas diversas esferas de governo quanto à resolutividade dos serviços de referência.

XII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 2003 - Tema central: Saúde um direito de todos e um dever do Estado. A saúde que temos, o SUS que queremos. Nesta conferência, foi consolidado um documento sobre a necessidade de aprimoramento da regionalização na saúde. Fortalecer a gestão regional passa pela garantia da implementação da regionalização e da hierarquização da atenção, de modo a ampliar o acesso à população, priorizando a atenção básica e a de média complexidade, respeitando as programações definidas nos planos diretores de regionalização e de investimentos.

XIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 2008 - Tema central: Políticas de Estado e desenvolvimento. Esta conferência aconteceu sob a égide do recente Pacto pela Saúde, lançado em 2006. Nesta conferência, buscou-se superar desafios de organização, de

conteúdo, de contextualização e de participação de todas as conferências nacionais, tendo por paradigma o exercício do controle social da política pública de saúde no Brasil. Esta conferência estimulou a retomada das políticas públicas e a participação da sociedade quanto aos desafios para a efetivação do direito humano à saúde no século 21 - o Sistema Único de Saúde (SUS) na seguridade social e o pacto pela saúde -.

A próxima conferência deve acontecer em 2011. Fóruns como esses são de suma importância para a consolidação da participação popular e para o exercício do controle social, uma vez que provocam também a realização de conferências estaduais e municipais precedentes.

Visando ao controle social, os conselhos de saúde desempenham um importante papel na formulação e proposição de estratégias e no controle da execução das políticas de Saúde, inclusive em seus aspectos econômicos e financeiros. A criação dos conselhos deve ser objeto de lei ou decreto, em âmbito municipal ou estadual. O Conselho Nacional de Saúde (regulado pelo Decreto n° 99.438, de 1990) estabeleceu recomendações para a constituição e estruturação dos conselhos estaduais e municipais de Saúde, quais sejam: garantia de representatividade, com a escolha dos representantes feita pelos próprios segmentos; distribuição da composição, sendo 50% usuários, 25% para trabalhadores de saúde e 25% para gestores e prestadores de serviços.

O Pacto pela Saúde64 apresenta as ações que devem ser desenvolvidas para fortalecer o processo de participação social:

- apoiar os Conselhos de Saúde, as Conferências de Saúde e os movimentos sociais que atuam no campo da saúde, com vistas ao seu fortalecimento para que os mesmos possam exercer plenamente seus papéis;

- apoiar o processo de formação dos conselheiros;

- estimular a participação e avaliação dos cidadãos nos serviços de saúde;

- apoiar os processos de educação popular na saúde, para ampliar e qualificar a participação social no SUS;

- apoiar a implantação e implementação de ouvidorias nos municípios e estados, com vistas ao fortalecimento da gestão estratégica do SUS;

- apoiar o processo de mobilização social e institucional em defesa do SUS e na discussão do Pacto (BRASIL, 2006a, p. 37).

64 Documento das Diretrizes do Pacto pela Saúde 2006- Consolidação do SUS, publicado na Portaria /GM nº