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Participantes da pesquisa

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Por se caracterizar como pesquisa- ação que segundo Thiollent (2011, p. 22) “exige uma estrutura de relação entre pesquisadores e pessoas da situação investigada que seja de tipo participativo”, os participantes deste estudo são: professora-pesquisadora (PE), alunos do 9º ano da EMARS (AP), professora de língua portuguesa (PP) da escola em referência e representantes das Agrovilas que compõem o Projeto Pedra Branca, localizado no município de Curaçá, no estado da Bahia.

4.2.1 Alunos participantes

O grupo de alunos participantes deste estudo foi formado pela turma do 8º ano do Ensino Fundamental II, da Escola Municipal Antônio Ribeiro dos Santos, do turno vespertino, no ano de 2015. Esse grupo foi o mesmo que participou, em 2016, da segunda etapa, porém, agora, como alunos do 9º ano. O grupo era formado, em 2015, por 33 alunos, sendo 15 alunos e 18 alunas, com faixa etária entre 12 e 16 anos de idade. Em 2016, estão matriculados, no 9º ano da EMARS, 38 alunos, 16 alunos e 22 alunas, com faixa etária entre 13 e 17 anos de idade. Em relação ao grupo anterior, 33 são os mesmos e 5 passaram a fazer parte dessa turma. São 4 meninas e 1 menino, sendo que desses, 1 foi reprovado em 2015 e as 4 meninas foram remanejadas da turma delas e passaram a fazer parte do grupo de alunos que participa deste estudo, desde 2015. Possuem o mesmo perfil socioeconômico cultural dos demais alunos participantes. Portanto, nenhuma alteração substanciosa foi encontrada, nos resultados já analisados. Além disso, a próxima etapa pode ser considerada independente em relação à anterior, embora a vinculação entre elas se faça necessário, pois traz mais consistência empírica às discussões, conforme orientações teórico-metodológicas da pesquisa ação.

Os alunos participantes residem nas Agrovilas do Projeto Pedra Branca e nas fazendas24 circunvizinhas ao projeto, sendo elas: Fazenda Boa Esperança, Fazenda Ponta D‟água e Fazenda Pintadinho. Todos os alunos da escola dependem do transporte escolar para chegarem até a escola. Os residentes nas Agrovilas utilizam ônibus do “Programa Caminho da Escola” e os alunos das fazendas deslocam-se em carros alugados pelo município, alguns em um ônibus velho, com muitos vidros quebrados e outros em um caminhão. Os alunos das

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Algumas fazendas ficam distante cerca de 20km da escola e isso gera problemas tais como: ao percorrerem longos trechos de estradas de terra, eles chegam à escola sujos de poeira, além de muitos adoecerem por causa da alergia, gripe, dor de cabeça. Durante o período chuvoso, normalmente, perdem aula, pois as estradas ficam intransitáveis.

Agrovilas mais distantes, como a Agrovila 18, percorrem cerca de 14 km das residências à escola, que se situa no Núcleo Principal das Agrovilas25.

As 37 famílias desses alunos vivem da agricultura e muitos deles ajudam seus pais nos lotes familiares, contribuindo, assim, com a renda da família, especialmente os meninos. As meninas ocupam-se, em sua maioria, dos afazerem domésticos e do cuidado de irmãos menores, pois as mães também trabalham na lavoura. 85% das famílias recebem ajuda social do programa BOLSA FAMILIA26 o que complementa a renda familiar. Em relação ao nível de escolaridade dos pais: 13% não concluíram o Ensino Fundamental I; 18% concluíram o Ensino Fundamental I; 39% concluíram o Ensino Fundamental II e 30% concluíram o Ensino Médio, 0% concluíram a graduação ou pós-graduação. Esses dados chamam a atenção para o fato de que o letramento escolar dos pais dos alunos não ultrapassa o Ensino Médio, fato que é comum nessa comunidade rural, já que o ensino gratuito só é ofertado, pelo poder público, até o Ensino Médio. A baixa renda das famílias, que sobrevivem da agricultura aliada à falta de oferta de ensino superior, na localidade, também contribui para o baixo nível de escolaridade dos pais dos alunos participantes deste estudo.

Em relação ao nível de protagonismo nas questões sociais de sua comunidade, dos alunos participantes, podemos classificá-lo como uma participação manipulada ou operacional (COSTA, 2006), por restringirem-se, apenas, a ouvir o que os líderes fazem/reivindicam/alcançaram ou apenas executam ações determinadas pelos adultos, sem a participação efetiva nas discussões ou na tomada de decisões a respeito de uma questão social. Os dados revelaram que esse comportamento apresentado pelos alunos participantes é motivo de preocupação dos líderes comunitários, pois, segundo eles, é preciso que as novas gerações deem continuidade às lutas já empreendidas pela velha geração em prol dos direitos prometidos aos reassentados e, uma vez alfabetizados, julgam que a concretização disso poderia se tornar mais efetiva e mais rápida. Conforme colocações já feitas aqui, para vincularmos o letramento social ao letramento escolar, julgamos ser fundamental desenvolvermos essa característica nos APs, levando-os a dialogar com aquele conhecimento e uma vez conhecedores disso, adotarem um posicionamento frente aos problemas sociais específicos do contexto onde vivem.

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Local central do Perímetro do Projeto Pedra Branca, em que estão localizados as estruturas coletivas como a Escola Municipal Antônio Ribeiro dos Santos, o Posto Policial, o Posto de Saúde, o Centro administrativo. Nesse funcionam a sede dos Sindicatos, as Cooperativas e empresas que prestam serviço no projeto. Esse espaço também foi uma das reivindicações concretizadas pelos reassentados junto a CHESF.

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Programa do Governo Federal que atende às famílias que vivem em situação de pobreza que tenham renda per capita de R$ 77 mensais e filhos de 0 a 17 anos.

4.2.2 Professoras de língua portuguesa da EMARS

Na fase de observação e construção da situação problema deste estudo (2015), a professora de língua portuguesa da turma (8º ano), tinha 41 anos de idade, e exercia a docência há 17 anos. É concursada, formou-se em 2003, no Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco - CESVASF, em língua portuguesa e literatura. É pós–graduada em língua portuguesa, na mesma instituição. Constatamos que tinha um bom relacionamento com a turma e, segundo a mesma, “gosta de ser professora, apesar das dificuldades que enfrenta”. Ela reside na comunidade do Projeto Pedra Branca, na Agrovila 08, e conhece a maioria dos pais de seus alunos. Será denominada, aqui, como P1. Em 2016, entrou em licença e outra professora de língua portuguesa a substituiu.

Assim, em 2016, na fase de aplicação da intervenção/ação deste estudo, em relação à professora participante, denominada aqui de PP, já trabalha na EMARS, desde o primeiro ano de funcionamento desta escola, isto é, desde 1999. Foi efetivada em 2002, através de concurso público. Tem 40 anos de idade, com formação em língua portuguesa (graduação) e pós- graduação em psicopedagogia e, como a anterior, também reside na comunidade, na Agrovila 05 e conhece todas as famílias cujos alunos estão no 9º ano da EMARS. Quanto ao relacionamento com os alunos participantes, etapa 2, ela demonstra ter um bom relacionamento com eles e também com as respectivas famílias.

4.2.3 Representantes de Agrovilas

O grupo de representantes27 de Agrovilas foi formado pelos representantes das 19 Agrovilas. São 15 homens e 4 mulheres. As mulheres têm entre 18 e 40 anos; em relação aos homens, 6 estão na faixa etária entre 41 e 60 anos; 9 homens têm mais de 60 anos. Quanto à formação, apenas as 4 mulheres concluíram o Ensino Médio; os demais não concluíram o Ensino Fundamental I.

No entanto, mesmo com baixo letramento escolar, participam ativamente das reuniões que acontecem, aos finais de semana, ou em horário que não tenha aula, no espaço escolar, para discussão de temática inerente à situação dos reassentados. Nesses espaços de discussão conseguem posicionar-se, argumentando e contrapondo argumentos, durante as reuniões, nas

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- Os representantes das Agrovilas são os líderes comunitários que foram escolhidos no primeiro ano em que as famílias chegaram às Agrovilas e que, para facilitar a comunicação entre as diversas Agrovilas para tomada de decisão e repasse de informação, cada Agrovila escolheu dois representantes que são os mesmos há cerca de 30 anos. Não recebem nenhum tipo de remuneração e assumem a responsabilidade de conduzir as discussões e defender as posições e direitos dos reassentados.

assembleias, ou nas manifestações de que participam, constantemente, seja com um pequeno número de participantes, na própria comunidade, seja em grandes manifestações28 com a participação da grande maioria dos moradores do Projeto, autoridades ou técnicos especialistas.

As reuniões ou assembleias acontecem, predominantemente, na comunidade, mas também em outros locais como em Recife, Salvador ou Brasília. Quando manifestações dessa natureza acontecem no contexto em estudo, uma organização prévia se faz necessário e isso é efetivado pelos representantes das agrovilas. Assim, através de uma reunião prévia e após decidirem-se por uma assembleia geral, dividem-se as tarefas de convocação e organização do evento. Um grupo fica responsável pela elaboração de convocatória por escrito29, ou se for alguma coisa urgente grava-se o conteúdo em áudio30 e divulga-se em todas as agrovilas. Ambos os textos são compostos coletivamente, na própria reunião. Escolas, igrejas, associações, sindicatos, todos são comunicados31.

De um modo geral, a convocatória, na agrovila, é feita pelo próprio representante, que vai de casa em casa divulgando, ou faz reunião previa com os moradores daquela agrovila a fim de mobilizá-los a participarem da assembleia. Nas escolas, quando recebem os comunicados, repassam as informações aos alunos e pede-se a eles que avisem seus pais. Dependendo da seriedade do problema, quando é necessária a participação de todos, as escolas suspendem as aulas, possibilitando, assim que toda comunidade escolar participe desse evento.

A escola não participa dessas assembleias e não tem representante nem discente, nem docente, bem como não utiliza, em nenhum momento, toda essa produção textual, esse

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A última grande manifestação ocorreu no dia 12 de maio de 2015, quando mais de 5 mil reassentados acamparam em frente a barragem de Itaparica, agora nomeada Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga, no sertão de Pernambuco. O fato teve repercussão Nacional e culminou com agenda de reuniões entre os trabalhadores e o Governo Federal.

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Geralmente, quem escreve/digita e distribui esse texto, é uma das representantes do sexo feminino, principalmente quando se faz necessário convidar prefeitos e outras autoridades, externas ao Projeto; quando não se trata de um assunto urgente ou de muita gravidade, um dos filhos dos representantes redige este texto, ou ainda, um dos representantes vai até uma das escolas existentes na comunidade e solicita para que digitem e imprimam o texto da convocatória, ou seja, há uma coparticipação de vários segmentos desta comunidade que participa da fase de organização das assembleias e ninguém se nega a fazer esse trabalho. Quando o convite é escrito, ele vai em nome dos representantes/sindicato/cooperativa.

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A gravação é feita em uma cidade vizinha ao Projeto e a divulgação faz-se por autofalante, em uma moto que circula em todas as agrovilas. Convoca-se para a assembleia e diz-se o motivo.

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Embora todos sejam convidados/convocados, questionei a um dos representantes mais antigos por que não tinha representante das instituições nessas assembleias, como, por exemplo, a escola. Ele respondeu que “a representação é por agrovila”, e complementou afirmando que “as decisões têm que ser tomadas pelo povo e não pelas instituições” (T.J.S, 83 anos). Disse também que isso foi decidido porque, nas primeiras discussões feitas em assembleias, na comunidade, algumas pessoas tomaram decisões em nome do povo, porque representavam instituições como sindicatos, igreja, escola, ou eram líderes políticos, sem consultar a população. Muitas dessas decisões tomadas por esses representantes de instituições, em nome do grupo, prejudicaram o povo.

letramento social construído durante a constituição da comunidade dos reassentados da barragem de Itaparica, conforme conteúdo apresentado no referencial histórico (seção 2). Esse estado de coisas também foi um dos motivos que nos levou a propor e desenvolver essa pesquisa. Enquanto professora pesquisadora, observei, de modo assistemático, esses eventos e constatei que utilizam os recursos linguísticos e não linguísticos com propriedade, inclusive tomando por base documentos escritos para fundamentar os argumentos, enfim debater de modo convincente, conforme requer o gênero, corroborando com essa afirmação de Bentes (2010, p. 137)

(...) o fato de que os falantes, ao falarem, inevitavelmente combinam a fala com outras linguagens que ocorrem ao mesmo tempo que se fala(...) confere à fala e as práticas orais uma força performática única e de enorme impacto na manutenção e condução das interações sociais.

Portanto, o uso da oralidade por esses sujeitos tem sido, ao longo de mais de trinta anos, a principal modalidade discursiva utilizada pela comunidade local, adquirida e aprimorada no decorrer das discussões coletivas, dos embates sociais de que participam, porém, conforme já afirmamos acima, sem uma reflexão didática no espaço escolar, embora haja vários espaços de interação entre o letramento social e o letramento escolar.

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